O Concílio Vaticano II foi realmente
profético - (Parte 1)
POR PROF. FELIPE AQUINO (9 DE OUTUBRO DE 2012)
Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da
Congregação para o Clero concede entrevista exclusiva - Roma, segunda-feira, 08
de outubro de 2012 (ZENIT) – Publicamos a seguir entrevista exclusiva concedida
à ZENIT pelo Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero, em
vista do 50° aniversario da abertura do Concilio Vaticano II.
ZENIT: Eminência, com esta entrevista a
Zenit pretende inaugurar uma série de contribuições para o Ano da Fé, tendo em
vista o Concílio Vaticano II, em ocasião do seu 50º aniversário. Por que tanto
debate sobre este evento eclesial?
Card.Piacenza:O debate é sempre positivo,
porque é um sinal de vitalidade e vontade de aprofundar; e se o tema do debate
não é exclusivamente humano, mas um Concílio Ecumênico, ou seja, um evento
humano e sobrenatural, pois é o Espírito Santo que conduz a Igreja à
progressiva e plena compreensão da única Verdade revelada, então não surpreende
que a compreensão dos ditames conciliares requeiram décadas de discussões – e
até mesmo de debates – sempre no sulco da escuta daquilo que o Espírito Santo
quis dizer à Igreja naquele extraordinário momento.
ZENIT: Qual deveria ser um justo posicionamento
diante do Concílio?
Card.Piacenza: Aquele de escuta! O Concílio
Ecumênico Vaticano II foi o primeiro Concílio da “mídia”, cujas dinâmicas
fisiológicas de confronto e respectivos textos foram imediatamente divulgados
pelos meios de comunicação, que não captou sempre a sua verdadeira expressão e,
com frequência, orientou para uma compreensão mundanizante. Creio que seja
particularmente interessante – e, talvez, necessário – retomar, ou melhor,
buscar uma autêntica escuta daquilo que o Espírito Santo quis dizer à toda a
Igreja através dos Padres conciliares. Tal dinâmica de aprofundamento, este
“justo posicionamento” realiza-se através da leitura direta dos textos. É a
partir desta leitura que se pode inferir o autêntico espírito do Concílio, a
sua exata localização dentro da história eclesial e a gênese editorial.
ZENIT: Algumas escolhas, também do
Magistério, às vezes parecem que vão “contra” o Concílio.
Card.Piacenza:Basta considerar os
pronunciamentos do Magistério autêntico pós-Conciliar, em sua dimensão
universal, para constatar que isto não ocorreu! Entretanto, outra questão é
favorecer uma correta recepção das decisões conciliares, esclarecer o significado
de determinadas afirmações e, às vezes, corrigir devidamente interpretações
unilaterais, ou até mesmo erradas, artificialmente introduzidas por quem lê os
eventos pneumáticos eclesiais com lentes exclusivamente humanas e
historicistas. O serviço eclesial do Magistério, que tem suas próprias raízes
na explícita Vontade divina, prepara os Concílios Ecumênicos, neles atua com
sua máxima expressão e, nas intervenções sucessivas, a eles obedecem,
favorecendo uma correta recepção.
ZENIT: O que realmente significa a
“hermenêutica da continuidade” de que tanto fala o Santo Padre?
Card.Piacenza: Segundo aquilo que foi explicitamente indicado pelo Santo Padre, é o único modo de ler e de interpretar todo Concílio Ecumênico e, portanto, também o Concílio Vaticano II. A continuidade do único Corpo eclesial, antes de ser um critério hermenêutico, ou seja, de interpretação dos textos, é uma realidade teológica que tem suas raízes no ato de fé que nos faz professar: “Creio na Igreja Una”. Por esta razão não é possível pensar numa espécie de dicotomia entre o pré e o pós Concílio Vaticano II. Certamente deve ser reprovado o posicionamento de quem vê no Concílio Ecumênico Vaticano II um “novo início” da Igreja e também daqueles que vêem a “verdadeira Igreja” somente antes deste Concílio histórico. Ninguém pode, arbitrariamente, decidir se e quando inicia a “verdadeira Igreja”. Nascida do costado de Cristo e corroborada pela efusão do Espírito em Pentecostes, a Igreja é Una e Única, até a consumação da história, e a comunhão que nela se realiza é para a eternidade. Alguns sustentam que a hermenêutica da reforma na continuidade seja somente uma das possíveis hermenêuticas, juntamente com aquela da descontinuidade e da ruptura. O Santo Padre recentemente definiu como inaceitável a hermenêutica da descontinuidade (Audiência à Assembléia Geral da Conferência Episcopal Italiana, 24 de maio de 2012). Além disso, trata-se de algo óbvio, caso contrário não se seria católicos e se injetaria como que um germe de infecção e de uma progressiva decadência; se provocaria, igualmente, um grave dano ao ecumenismo.
ZENIT: Mas é possível que seja tão difícil
compreender esta realidade?
Card.Piacenza: Sabes melhor do que como a
compreensão, também de realidades evidentes, possa ser condicionada por aspectos
emotivos, biográficos, culturais e, até mesmo, ideológicos. É humanamente
compreensível que quem viveu durante sua juventude, o legítimo entusiasmo que
gerou o Concílio, desejoso de superar certas “obstruções” – que deveriam
necessária e urgentemente serem tiradas da Igreja – possa interpretar como
perigo de “traição” do Concílio toda expressão que não coadune com o mesmo
“estado emotivo”. É necessário, para todos, um salto radical de qualidade na
aproximação dos textos conciliares, para que se compreenda, depois de meio
século daquele evento extraordinário, o que realmente o Espírito Santo sugeriu
e sugere à Igreja. Cristalizar o Concílio na sua necessária, mas insuficiente,
“dimensão entusiástica” equivale a não desenvolver um bom serviço ao trabalho
de recepção do Concílio, que permanece quase paralisada, pois com o passar dos
anos pode-se afrontar e se podem compartilhar avaliações sobre os textos
objetivos, mas não sobre os estados emotivos e sobre os entusiasmos
historicamente assinalados.
Antonio Gaspari - Zenit
O Concílio Vaticano II foi realmente
profético (Parte 2)
POR
PROF. FELIPE AQUINO
Roma, terça-feira, 09 de outubro de 2012
(ZENIT) – Apresentamos a parte 2 da entrevista exclusiva concedida à ZENIT pelo
Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero, em vista do 50°
aniversario da abertura do Concilio Vaticano II.
ZENIT: Sabe-se que Vossa Eminência sempre falou
com grande entusiasmo do Concílio Vaticano II. O que ele representou para Vossa
Eminência?
Card.Piacenza: Como não se entusiasmar com um evento tão extraordinário como um Concílio Ecumênico! Nele, a Igreja refulge em toda a sua beleza: Pedro e todos os Bispos em comunhão com ele, colocam-se em atitude de escuta do Espírito Santo, daquilo que Deus tem a dizer à Sua Esposa, procurando explicitar – segundo os auspícios do Beato João XXIII – no hoje da história, as imutáveis verdades reveladas e lendo os sinais de Deus nos sinais dos tempos, e os sinais dos tempos à luz de Deus! Dizia o mesmo Pontífice na solene alocução de abertura do Concílio, no dia 11 de outubro de 1962: “Transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios […] esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo”. Nos anos do Concílio eu era um jovem estudante, depois, seminarista e o meu ministério sacerdotal, desde os primeiros passos desenvolveu-se à luz do Concílio e das suas reformas. De fato, fui ordenado sacerdote em 1969. Não posso negar que sou filho do Concílio que, também graças aos meus mestres, procurei acolher, desde o início, as indicações conciliares segundo a hermenêutica da unidade e continuidade. Esta reforma na continuidade pessoalmente sempre a senti, vivi e, também como docente, ensinei.
ZENIT: Como Prefeito da Congregação para o
Clero, acredita que os Sacerdotes receberam bem o Concílio?
Card.Piacenza: Certamente, como porção
eleita do Povo de Deus, os sacerdotes são aqueles que, na Igreja, melhor
conhecem e mais aprofundaram os ensinamentos conciliares. Entretanto, parece-me
que não faltaram as mesmas problemáticas que antes evidenciei, seja em relação
a uma justa hermenêutica da reforma na continuidade, seja no que diz respeito à
devida aproximação não predominantemente emotiva ao evento conciliar. Se, neste
Ano da Fé, todos tivéssemos a humildade e a boa vontade de tomar em mãos os
textos do Concílio, naquilo que realmente disseram e não na “vulgata”, que teve
uma certa propagação, descobriríamos como o Concílio Vaticano II foi realmente
profético e muitas das suas indicações estejam ainda diante de nós, como um horizonte a ser contemplado e
uma meta a ser alcançada, com a ajuda da Graça. Certamente, para que tal obra
se realize, é necessária uma grande dose de humildade e uma certa capacidade de
superação de um juízo pré-constituído, para que se possa acolher de novo uma
verdade que, por muito tempo, foi concebida de modo diverso.
ZENIT: Sobre quais pontos poder-se-ia
focalizar a recepção dos documentos conciliares?
Card.Piacenza: Evidenciaria um ponto de particular tensão, que representa a reforma litúrgica, mesmo porque constitui o elemento de maior visibilidade da Igreja. O Servo de Deus Paulo VI, o Beato João Paulo II e o Santo Padre Bento XVI, em vários momentos sublinharam a importância da liturgia como lugar no qual se realiza plenamente o ser da Igreja. Mas infelizmente, como se pode notar em vários casos, que ainda estamos longe de um equilíbrio mútuo a este respeito.Certamente, uma liturgia dessacralizada ou reduzida a “representação humana”, em que se desvanece até ao ponto de perder a dimensão cristológica e teológica, não é aquilo que a letra e o espírito da Sacrosantum Concilium desejava. Entretanto, isto não justifica o posicionamento daqueles que, adotando a hermenêutica da descontinuidade, recusam a reforma conciliar, considerando-a como uma “traição” da “verdadeira Igreja”.
ZENIT: Existem inovações mais importantes
que as litúrgicas?
Card.Piacenza:Vista a centralidade da
Liturgia, “fonte e centro” da vida da Igreja (cf. SC,10), não falaria de maior
importância. Certamente o Concílio procurou valorizar as verdades evangélicas,
que hoje representam um patrimônio comum da catolicidade. Em tal sentido,
bastaria pensar a feliz evidência que se dá à vocação universal à santidade de
todos os batizados, que favoreceu o nascimento e o desenvolvimento de tantas
novas experiências. Além disto, é preciso recordar a abertura em relação aos
cristãos de outras confissões, que fez emergir o valor da unidade, com toda a
sua beleza, como um necessário atributo da Igreja e como um dom gratuitamente
oferecido por Cristo. Este dom deve ser acolhido sempre, através de uma
purificação contínua dos que a Ele pertencem. A importância da colegialidade
episcopal, que está entre as expressões mais eficazes da comunhão eclesial e
mostra ao mundo como a Igreja é necessariamente um corpo unido. A compreensão
orgânica do Ministério Ordenado, a serviço do sacerdócio batismal, que concebe
presbíteros e diáconos intimamente unidos ao próprio Bispo, como expressão de
uma comunhão sacramental no serviço à Igreja e aos homens, representou um
objetivo e feliz desenvolvimento da compreensão da face da Igreja tal como
Nosso Senhor quis delinear.
ZENIT: Eminência, neste momento a Igreja
dedica-se ao Sínodo sobre a nova Evangelização e o Ano da Fé. Se tivesse que
dizer uma palavra sintética aos sacerdotes, o que diria?
Card.Piacenza: À luz da fé: Sacerdote,
torne-se a cada dia aquilo que és!
O Concílio Vaticano II e o "Diálogo" Interreligioso
O Concílio Vaticano II (1962-1965) representa um dos eventos mais importantes na dinâmica do cristianismo contemporâneo. Trata-se de um acontecimento pioneiro e de originalidade única, que provocou “a mais vasta operação de reforma” realizada no âmbito da igreja católica romana.Ao contrário de concílios anteriores, envolvidos por dinâmica apologética e de controvérsia doutrinal, o Vaticano II move-se por preocupação eminentemente pastoral.
O discurso de João XXIII, por ocasião da abertura do Vaticano II, marca uma mudança de perspectiva decisiva. O fundamental agora não era mais a luta contra o erro e o uso da severidade, que pontuaram o catolicismo romano no período anterior, mas a “medicina da misericórdia”, a busca de “aggiornamento”.
1. Um Clima de abertura e Diálogo
Esta sensibilidade de abertura foi
essencial para a instauração de um clima de diálogo não só com o mundo moderno,
mas também de retomada das instâncias ecumênica e inter-religiosa. A igreja católica estava
agora envolvida por uma nova solicitação, marcada pela tônica da busca e o
imperativo da comunhão. A renovação profética exigia a superação de
posicionamentos cerrados, de certezas dogmáticas, de insulamentos surdos aos
apelos da alteridade. Instaurava-se com o concílio as premissas em favor da
“superação do eclesiocentrismo” e de “relativização da eclesiologia”. A igreja
católica se reconhece agora como “mistério”, distinta do horizonte mais amplo
do Reino de Deus e fiel servidora de seus valores na história.
Esta convocação à abertura presente no evento conciliar não aconteceu sem dificuldades, tensões, embaraços e resistências. Já a decisão de João XXIII de anunciar a convocação do concílio em janeiro de 1959 causara vivo mal-estar. Tratava-se de um “ato inesperado, imprevisto e surpreendente para quase todos os ambientes, tomados que estavam pelo clima de “guerra fria” e acomodados na aceitação de um catolicismo imóvel nas suas certezas”. Em ato de grande alcance histórico, João XXIII manifesta sua intenção em favor de um “concílio novo”, realizado em horizonte de liberdade, e não uma mera continuação do Vaticano I. As intenções pastoral e ecumênica estavam já presentes na sua proposta de “dar um salto para frente” e “dilatar os espaços da caridade” até os confins da humanidade.Nem todos, porém, partilhavam do mesmo sonho. Havia na cúria romana uma “alergia institucional” e uma resistência significativa à proposta e aos caminhos do concílio. Pesava igualmente em certos ambientes acadêmicos de Roma uma situação de dificuldade e suspeição, fruto do clima de censura da Humani generis ( Pio XII – 1950) ainda reinante. Todos os 72 esquemas preparatórios do concílio traduziam o estrito controle da cúria romana e da teologia romana, já que realizados pelos peritos e teólogos dos dicastérios e universidades romanas. A linha geral de reflexão traduzia o espírito de continuidade das condenações anteriores. A sequência da dinâmica conciliar rompe com esta tendência, apesar da resistência permanente da minoria conciliar, e instaura um novo clima: abre espaço para a voz teológica anteriormente reprimida e acolhe o vigor pastoral dos bispos vindos a Roma, muitos dos quais manifestavam perspectivas distintas dos caminhos curiais.É neste complexo contexto da dinâmica conciliar, marcado pela tensão entre o desejo de renovação e a resistência de setores da minoria contra a mesma que deve ser situada a questão do posicionamento do concílio com respeito às demais tradições religiosas e aos caminhos do diálogo inter-religioso.
2. A questão das religiões e do diálogo
interreligioso
As grandes mudanças ocorridas no âmbito da igreja católica romana nunca aconteceram de cima para baixo, mas foram sempre precedidas de movimentos que a partir da base foram se afirmando e sendo reconhecidos e acolhidos. Assim também aconteceu com o concílio Vaticano II, que soube catalizar e legitimar inovações teológicas, litúrgicas e pastorais que já estavam em andamento na igreja. Mas foi sobretudo um “começo de renovação”, um ponto de partida e não de chegada para novas e ricas elaborações doutrinais, abertas ao desafio hermenêutico. Esta nova sensibilidade pode ser percebida no âmbito do desafio ecumênico e da abertura às religiões. Movido pelo intento pastoral, o concílio propicia um clima de estima e diálogo, favorável à recíproca compreensão entre as diversas religiões.A propósito do tema das religiões, o contexto teológico católico do período refletia de forma dominante uma perspectiva particular de abordagem que considerava o cristianismo como ponto culminante, de remate, dos valores positivos presentes nas outras tradições religiosas. Trata-se do que se convencionou chamar de teologia do cumprimento ou do acabamento. Há um reconhecimento positivo das demais religiões, que deixam de ser consideradas, como antes, obstáculos a vencer, mas no plano da pedagogia divina devem ser situadas como preparação ao Evangelho. Nesta perspectiva, só o cristianismo poderia ser considerado a única e verdadeira religião revelada. Alguns dos importantes teólogos que atuaram como peritos no Vaticano II partilhavam claramente, com diferentes matizes, desta perspectiva, entre os quais Jean Daniélou, Henri de Lubac e Yves Congar. Há que registrar, por exemplo, o empenho particular de Henri de Lubac enquanto consultor do Secretariado para as religiões não cristãs e do Secretariado para os não crentes de resistência contra as teses favoráveis ao reconhecimento do valor salvífico das outras religiões. Em importante obra sobre o pensamento de Henri de Lubac, a teóloga Ilaria Morali reconstitui a posição de De Lubac sobre o tema e traz à tona o importante conteúdo de uma carta escrita pelo autor a Jean Daniélou em julho de 1965 onde confirma sua “luta” particular contra as pressões presentes em reunião do Secretariado para os não cristãos em favor do valor salvífico das diversas religiões como tais. Segundo Ilaria Morali, ao adotar o tema da “praeparatio evangelica” o concílio define ainda que de forma implícita uma posição que exclui a tese do valor salvífico das outras religiões, acolhendo a visão de Henri de Lubac, que nos anos anteriores ao concílio trabalhou em favor da “fixação dos motivos teológicos que estão na base desta doutrina”.
Em relação aos outros temas trabalhados pelo concílio, a questão das religiões estava ainda em estado embrionário na reflexão teológica, marcada sobretudo pela temática da salvação dos “infiéis”. Alguns teólogos mais abertos já vislumbravam perspectivas alternativas, mas o pensamento dominante era mais cauteloso, mesmo entre os teólogos considerados avançados e que atuavam como peritos no concílio. No âmbito, porém, da cúria romana e da teologia romana a visão era bem mais restritiva, e isto refletiu nos esquemas preparatórios do concílio, elaborados sob o controle da primeira. Tais esquemas decepcionaram pelo fechamento e restrição aos questionamentos ecumênicos, como expressou Congar em seu diário do concílio. Durante todas as sessões do concílio, as resistências da minoria estarão presentes, dificultando ou bloqueando os avanços na reflexão de abertura ecumênica e inter-religiosa. Ao sinalizar a visão mais geral do concílio sobre o tema das religiões, e antes de entrar na análise um pouco mais detalhada de alguns documentos, há que sublinhar que o intento geral do Vaticano II foi pastoral, traduzindo uma visão mais aberta sobre o mundo e mais otimista com respeito à dinâmica de salvação. Sob esta sintonia pastoral, a preocupação do concílio não era tanto doutrinal, mas de promover uma mudança de perspectiva com respeito às religiões, no sentido de uma “recíproca compreensão, estima, diálogo e cooperação”. Pela primeira vez na história dos concílios verifica-se uma perspectiva positiva da igreja católica romana com respeito às religiões, ainda que os procedimentos adotados estivessem resguardados por cuidadosa cautela.Com respeito à questão da salvação individual, o concílio inaugura um posicionamento de singular abertura, revelando uma novidade com respeito ao passado. Não se fala mais em possibilidade de salvação, mas afirma-se sua realidade em virtude da presença operativa universal do Espírito, que atua no coração de todo ser humano de boa vontade (GS 22). Como expressou muito bem Karl Rahner, a propósito desta passagem da Gaudium et Spes, não seria possível encontrar no século anterior teólogos católicos capazes de tamanha ousadia. Mas o traço talvez mais inovador foi o reconhecimento nos documentos do concílio da positividade de elementos das outras tradições religiosas, como se verá mais adiante. Diante da estreiteza de horizontes do eclesiocentrismo dominante no período, o Vaticano II inaugura um novo momento de abertura e de reconhecimento da positividade das religiões, mas evitou de forma deliberada um juízo teológico positivo sobre o pluralismo religioso. O que ocorre em realidade é o reconhecimento do pluralismo religioso “de fato”, mas não “de direito”. Apenas aflorava, na ocasião, a tomada de consciência de que “a “esfera espiritual” da humanidade não é totalmente ocupada pela igreja e que existem também as outras religiões” em sua irredutível identidade.
Um dado que complexifica bastante a
reflexão do concílio sobre o tema das religiões é a dinâmica de compromisso
entre perspectivas teológicas distintas que vigora em muitos dos textos
aprovados. Há casos de acréscimo de passagens ou parágrafos que tensionam com a
linha geral do documento, bem como de acréscimos de “advérbios, preposições,
adjetivos e substantivos que pontualmente reduzem o alcance das afirmações
positivas”. Tais mudanças ocorreram normalmente por pressão da minoria
conciliar, que ao longo de todas as sessões do concílio reagira de forma viva
contra as posições mais abertas sobre o tema das religiões, da missão e da
liberdade religiosa. Esta questão está associada de modo particular a uma
preocupação prioritária de Paulo VI em buscar sempre o máximo de consenso na
aprovação dos documentos conciliares. Sua intenção era alcançar sempre que
possível a unanimidade nas votações, ainda que a preço de redução da clareza ou
coerência dos textos aprovados.
3. Análise dos textos
O tema das outras tradições religiosas está presente de forma explícita em dez documentos do concílio, com cerca de 34 referências. O maior número de recorrências ocorre nos Decretos sobre a atividade missionária da igreja (Ad Gentes) e do apostolado dos leigos (Apostolicam Actuositatem), bem como na totalidade da Declaração sobre as relações da igreja com as religiões não cristãs (Nostra Aetate). Há igualmente passagens importantes sobre o tema, direta ou indiretamente, na Constituição dogmática sobre a igreja (Lumen Gentium), na Constituição pastoral sobre a igreja no mundo de hoje (Gaudium et Spes) e na Declaração sobre a liberdade religiosa (Dignitatis Humanae). Verifica-se na análise de muitas referências às religiões uma tendência a defini-las ainda com locuções negativas: “religiões não cristãs”, “não batizados”, “aqueles que não acolheram o Evangelho”, “culturas não cristãs” etc. Isto pode ser verificado inclusive no título da Declaração específica do concílio sobre o tema. Não há a intenção aqui de proceder uma análise extensiva sobre todas as passagens sobre o tema, mas em particular aquelas mais significativas para a questão do diálogo inter-religioso.Na Lumen Gentium, o tema estará presente nos números 16 e 17. Os membros das outras tradições vêm definidos aqui como “os que ainda não receberam o Evangelho”, estando, assim, “ordenados ao povo de Deus” (LG 16). Há na LG um cuidado em acentuar a gradualidade da pertença à igreja: os fiéis católicos são a ela incorporados plenamente; os cristãos não católicos gozam de “certa união” verdadeira no Espírito Santo; os não cristãos estão “ordenados” ao povo de Deus. Toda a reflexão vem presidida pela ideia central de que somente a igreja católica possui a plenitude dos meios de salvação, enquanto “sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo gênero humano” (LG 1). Há na LG 16 uma decisiva preocupação eclesiológica, mas ao definir a igreja como sacramento abre-se espaço para a ação invisível da graça, que supera as fronteiras visíveis da igreja. Privilegia-se o otimismo da vontade salvífica universal de Deus. Retomando o tema da “ignorância invencível”, a LG 16 afirma que aqueles que “buscam a Deus com o coração sincero”, mesmo ignorando sem culpa o Evangelho, podem sob o influxo da graça “conseguir a salvação eterna”. Não há aqui a intenção de um juízo teológico sobre as religiões, mas de abordar a questão da salvação dos singulares fiéis que “sem culpa ainda não chegaram ao conhecimento expresso de Deus e se esforçam, não sem a divina graça, por levar uma vida reta”. É nítida a proximidade com a linha de reflexão da teologia do acabamento, em particular com o pensamento de Congar e Henri de Lubac. Predomina a ideia da “busca” de Deus, da ausência de um “conhecimento expresso de Deus”. Segundo a LG, o que existe nas outras religiões é uma “preparação evangélica”. Não se desconhece o que há de bom nos corações, mentes e mesmo ritos e culturas dos povos, mas cabe à igreja sanar, elevar e aperfeiçoar tudo isto em favor da glória de Deus (LG 17). Tal reconhecimento não pode, porém, segundo a LG, minimizar a índole missionária da igreja. Como horizonte do desejo da igreja está a entrada da “plenitude do mundo” no “grêmio do Povo de Deus” (LG 17). A mesma ideia de “preparação evangélica”, ou de “pedagogia para o Deus verdadeiro” aparece na Ad Gentes, no momento em que se aborda o plano salvífico universal de Deus (AG 3). O Decreto reconhece que mesmo antes da glorificação de Cristo, acontecia a operação do Espírito Santo (AG 4) e que uma “secreta presença de Deus” habitava as nações. Há no documento um reconhecimento das ocultas “sementes do Verbo” e das inúmeras “riquezas” prodigalizadas aos povos pelo Deus munificiente (AG11). Este plano realiza-se não somente no interior secreto dos seres humanos, mas igualmente no dado objetivo das iniciativas religiosas (incepta, etiam religiosa) (AG 3), nos “ritos e culturas dos povos” (AG9). O documento reconhece aqui um dado de extrema importância, e que ultrapassa a visão dominante anterior de “religião natural”. Admite-se a presença de “verdade”e “graça” nas religiões. Mas tudo isso deve ser “sanado, elevado e consumado” pela atividade missionária, que “tende à plenitude escatológica” (AG 9).
REFERÊNCIAS:
-René LATOURELLE. Introduzione. In: (Dir.)
Vaticano II: bilancio e prospettive
venticinque anni dopo (1962-1987). 2 ed. v. 1. Assisi, Cittadella
Editrice, 1988, p. 9.
-Giuseppe ALBERIGO. “Del palo a la
misericordia”: el magisterio en el catolicismo contemporaneo (1830-1980).
Selecciones de Teologia, v. 22, n. 87, pp.201-216, 1983.
-Giuseppe ALBERIGO. Il Vaticano II e la sua
eredità. Il Regno-Documenti, v. 17, n. 756, p.575, 1995; id. Transizione
epocale? A quarant´anni dall´inizio del concilio (1962-2002). Concilium, v. 38,
n. 5, pp. 174-176, 2002; Claude GEFFRÉ. Croire et interpréter. La tournant
herméneutique de la théologie. Paris, Cerf, 2001, p. 92.
-Giuseppe ALBERIGO. João XXIII e o Vaticano II. In. José Oscar BEOZZO & Giuseppe ALBERIGO (Orgs). Herança espiritual de João XXIII: olhar posto no amanhã. São Paulo: Paulinas, 1993, p. 13.Ibidem, pp. 16-21.
-Como indica Alberigo, durante o pontificado de Pio XII afirmou-se um monopólio da cúria e da teologia romana e uma resistência precisa contra qualquer dinâmica renovadora: “fermentos, sensibilidades, orientações pastorais, doutrinais, organizacionais não podiam sobreviver senão aceitando uma humilhante e asfixiante marginalidade ou tentando obter a escuta benévola nos restritos círculos autorizados de Roma”: Giuseppe ALBERIGO. La condizione cristiana dopo il Vaticano II. In: & J.-P. JOSSUA. Il Vaticano II e la chiesa. Brescia, Paideia, 1985, p. 19. Com exceção do esquema sobre a liturgia, que respirava o clima renovador do movimento litúrgico, todos os outros esquemas, de perfil escolástico, conservador e jurídico, foram posteriormente rechaçados pelo concílio. Há que sublinhar a presença de uma nítida defasagem entre tais esquemas e o horizonte aberto pelas mensagens de João XXIII no início do concílio. Daí ser infundada e inaceitável, como bem sublinhou Alberigo, o aceno feito por Ratzinger em seu livro de entrevista Rapporto sulla fede de que João XXIII não contava com a possibilidade da rejeição de tais esquemas e de que os teria lido e acolhido favoravelmente. De fato, como lembrou Gustavo Gutiérrez, os dois discursos de João XXIII (o inaugural e o de sua radiomensagem) abrem o caminho para a rejeição dos esquemas. Para maiores detalhes cf. Giuseppe ALBERIGO. João XXIII e o Vaticano II. Op.cit., p. 25; Gustavo GUTIÉRREZ. La chiesa e i poveri, visti dall´America Latina. In: G.ALBERIGO & J.-P. JOSSUA. Il Vaticano II e la chiesa. Op.cit., p. 235; Vittório MESSORI. Rapporto sulla fede. Cinisello Balsamo, Paoline, 1985, p. 39 (a coloquio com Joseph Ratzinger).Para o teólogo Edward Schillebeeckx, as três grandes novidades do concílio foram: a contribuição dos teólogos antes condenados, o anti-curialismo dos bispos vindos a Roma e o discurso de abertura de João XXIII, Cf. Edward SCHILLEBEECKX. Sono un teologo felice. Bologna, EDB, 1993, p. 30.
-Claude GEFFRÉ. Verso una nuova teologia delle religioni. In: Rosino GIBELLINI (Ed.) Prospettive teologiche pel il XXI secolo. Brescia, Queriniana, 2003, p. 357. Para Geffré, esta perspectiva está subjacente em importantes documentos do Vaticano II como a declaração Nostra Aetate e o decreto Ad Gentes. Em sua visão, mesmo Karl Rahner estaria vinculado à mesma lógica da teologia do acabamento. Neste particular, tendo mais a concordar com Jacques Dupuis, para o qual a teologia de Rahner significa um passo mais avançado, rompendo com a visão comum entre os teólogos do acabamento de considerar as outras religiões como religiões naturais.Sua nomeação para os dois Secretariados ocorreu em 1965, ainda durante o concílio.
-Ilaria MORALLI. La salvezza dei non
cristiani. L´influsso di Henri de Lubac sulla dottrina del Vaticano II. Bologna,
EDB, 1999, p. 257-258 e também 98-100. Segundo Moralli, igualmente Daniélou
manifestou permanentemente semelhante posicionamento: para ele a tese das
religiões como caminhos de salvação era inadmissível. cf. ibidem, p.130-131,
142 e 134. Ainda que de forma mais aberta, também Yves Congar manifestou
dificuldade com a justificação das religiões como tais. Para ele, o que ocorre
é a possibilidade de salvação das pessoas religiosas e não das religiões em si,
o que garantiria para ele a manutenção do valor absoluto do cristianismo: Yves
CONGAR. Saggi ecumenici. Il movimento, gli uomini, i problemi. Roma, Città
Nuova, 1986, p. 247 e 254; Id. Diálogos de outono. São Paulo, Loyola, 1990, p.
17.
-Yves CONGAR. Mon Journal du concile I.
Paris, Cerf, 2002, p. 57-58. Ver ainda a introdução geral da obra, feita por
Éric Mahieu: Ibidem, p. XXXII.
-Jacques DUPUIS. Il cristianesimo e le
religioni. Dallo scontro all´incontro. Brescia, Queriniana, 2001, p. 123.
-Karl RAHNER. Confessare la fede nel tempo
dell´atesa. Roma, Città Nuova, 1994, p. 106. Para Rahner esta passagem da GS
abre também a dinâmica salvífica para os ateus, “desde que no seu ateísmo não
tenham agido contra a sua consciência moral”: Karl RAHNER. A doutrina do
Vaticano II sobre o ateísmo. Concilium, v. 3, p. 12, 1967.
-Daniele RACCA. Il dialogo interreligioso
nel magistero dopo il concilio Vaticano II. Rassegna di Teologia, v. 43, n. 4,
p. 512, 2002; Jacques DUPUIS. Il cristianesimo e le religioni. Op.cit., p. 127.
-Claude GEFFRÉ. Verso una nuova teologia
delle religioni. In: Op.cit., p. 359. Para Geffré uma possível sugestão de
abertura ao pluralismo religioso estaria no texto mencionado da GS 22, que
aborda a ação salvífica do Espírito, operada no
“modo conhecido por Deus” (“modo Deo cognito”): Ibidem, p. 361.
-Miguel Marcelo QUATRA. Regno di Dio e missone della Chiesa nel contesto asiatico. Uno studio dei documenti della FABC (1970-1995). Dissertatio ad Doctoratum in Facultate Missiologiae Pontificiae Universitatis Gregorianae. Roma, 1998, pp. 96-97. Quatra relata em nota a intervenção do cardeal Journet, durante o debate conciliar de 07 de outubro de 1965 em torno do segundo esquema do documento sobre a missão da igreja, onde defende o pluralismo religioso “de fato”, mas não “de direito”: Ibidem, p. 97 n, 227.Veja os inúmeros exemplos apontados por Daniele Racca: Il dialogo interreligioso nel concilio Vaticano II: aperture e limiti. Rassegna di Teologia, v. 38, n. 5, p. 648, 1997.
-Giusepe ALBERIGO. Transizione epocale ?
Art.cit., p. 181-182. Como bem lembrou Beozzo, a busca da unanimidade teve seu
preço. A busca de um equilíbrio entre o caminho da ruptura e o da continuidade
provocou em muitos casos impasses, tensões e incoerência temática. Além de
textos de compromisso interno, sobretudo durante a terceira e quarta sessão do
concílio, há também a solução de mera justaposição de posições heterogêneas.
Cf. Oscar BEOZZO. Indícios de uma reação conservadora: do concílio Vaticano II
à eleição de João Paulo II. In: ISER. Estação de seca na igreja. Comunicações
do ISER, v. 9, n. 39, pp. 7-9, 1990. Os próprios peritos do concílio,
encarregados de preparar os esquemas para a apresentação na assembléia acabaram
captando e assumindo o espírito de compromisso desejado por Paulo VI, como o
caso de Congar e outros, e por razões óbvias destinadas a conseguir o apoio e
aceitação. Cf. Éric MAHIEU. Introduction. In: Yves CONGAR. Mon journal du
concile I. Op.cit., p. XLVII; Giuseppe ALBERIGO. Storia del concilio Vaticano
II . v. 5. Op.cit., p. 134.
-Daniele Racca. Il dialogo interreligioso nel concilio Vaticano II: aperture e limiti. Rassegna di Teologia, v. 38, n. 5, pp. 637-663, 1997.Ibidem, p. 638-639. De acordo com Racca, mesmo predominando as locuções negativas (19 vezes), há também outras locuções mais positivas ou neutras, num total de 15, entre as quais: “outras religiões”, “ritos”, “várias religiões”, “tradições religiosas”, “grandes religiões”. Há igualmente, em certas passagens, uma referência explícita a determinadas religiões como judaísmo (LG 16 e NA 4), budismo e hinduísmo (NA 2). Com respeito ao islã, prefere-se falar não da religião, mas de seus seguidores, os muçulmanos (LG 16 e NA 2).Como fonte de referência para os textos citados cf. Enchiridion Vaticanum 1. Documenti ufficiali del concilio Vaticano II (1962-1965). Bologna, EDB, 1993. E também Compêndio do Vaticano II . 6 ed. Petrópolis, Vozes, 1968.A Lumen Gentium evita, cuidadosamente, de assinalar a presença de uma comunhão dos cristãos não católicos com os fiéis católicos. Em primeiro plano situam-se os vínculos sacramentais e místicos (o batismo e a união no Espírito) e não o vínculo intencional do “voto”. No Decreto sobre o ecumenismo a relação entre os católicos e os “irmãos separados” será indicada pela expressão “certa comunhão” (UR 3). Cf. Antonio ACERBI. Due ecclesiologie. Bologna: EDB, 1975, p. 503.Ao tratar os membros das outras tradições religiosas a LG 16 assinala, em primeiro lugar, os judeus, um “povo caríssimo segundo a eleição”. Em seguida fala dos muçulmanos, “que adoram conosco o Deus único, misericordioso”. E, por fim, dos outros que “procuram o Deus desconhecido em sombras e imagens”. Na passagem sobre os muçulmanos pode-se perceber, claramente, a influência do orientalista Louis Massignon, um dos pioneiros da abertura dialogal da igreja católica para com o Islã.Trata-se de um tema introduzido por Pio IX, em encíclica de 1863 (DH 2866) e retomado na carta enviada pelo Santo Ofício ao arcebispo de Boston, que condenava a posição rígida de Leonard Feeney, que exigia como condição para a salvação a pertença à igreja (DH 3870). As citações foram tomadas da nova versão do Denzinger. Heinrich DENZINGER. Enchiridion symbolorum. Bologna, EDB, 1995 (Organizado por Peter Hunermann). As referências a tal versão serão aqui sigladas com a forma DH.Ver também AG 7.Em seu diário do concílio, Congar indica que foi ele o autor da primeira redação da LG 16 e 17: Yves CONGAR. Mon Journal du Concile II. Op.cit., p. 511. Cooperou de forma decisiva também na redação do proemium e dos números da parte teológica da Declaração sobre a liberdade religiosa e na introdução e conclusão da Nostra Aetate.Na AG 18 há também um reconhecimento do valor das tradições ascéticas e contemplativas presentes nas outras tradições, e que “poderão ser assumidas na vida religiosa cristã”.O influxo de Karl Rahner manifesta-se claramente nesta passagem. Retoma-se aqui a ideia defendida por Rahner em artigo de 1961, onde rebate a ideia comum de que as outras religiões expressariam simplesmente uma natural crença em Deus, e reconhece de forma novidadeira a presença nelas de “traços sobrenaturais da graça”: Karl RAHNER. Cristianesimo e religioni non cristiane. In: Saggi di antropologia soprannaturali. Roma, Paoline, 1965, p. 545.
BIBLIOGRAFIA:
https://cleofas.com.br/o-concilio-vaticano-ii-foi-realmente-profetico-parte-1/
https://cleofas.com.br/o-concilio-vaticano-ii-e-o-dialogo-interreligioso/
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