Atos 2,42: "Eles
perseveravam no ensino dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas
orações".
Atos 5,4: "E, todos os
dias no templo, bem como de casa em casa, não deixavam de pregar e ensinar que
Jesus Cristo é o Messias..."
Atos 20,7: "No primeiro dia da semana nos reunimos com a finalidade de partir o pão"
Para
que a Santa Eucaristia não se constitua em um mero rito mecânico, onde as
pessoas só “copiam” o que as outras fazem (gestos, sinal da cruz, genuflexão,
etc.) sem entender exatamente o que está acontecendo, é bom que cada fiel
católico entenda melhor a Santa Missa, pois só amamos aquilo que conhecemos. A
missa é igual para toda a Assembléia mas a maneira de cada um participar pode
ser diferente pois depende da fé que as pessoas têm e também do grau de
formação na religião. As vezes vamos fazendo muitas coisas sem saber por quê e para que? Para participar da missa com fé e alegria, além da sua formação catequética
básica, o fiel deve conhecer todas as etapas da liturgia da missa pois ninguém
ama o que não conhece. O artigo 29 da Instrução Geral do Missal Romano (IGMR)
apresenta as leituras das Sagradas Escrituras como “elemento da grande importância”.
Note-se que é o primeiro elemento apresentado pelo Missal. A mudança de foco
faz-se sentir. Se antes do Concílio Vaticano II a mesa da Palavra era chamada
de “missa didática”, ou pior, de “ante missa”, pelo novo missal é considerada
como elemento da missa mesmo e, sendo da maior importância, indispensável. A
reforma não foi apenas na compreensão. O novo lecionário é indiscutivelmente
mais rico e abundante em leituras, o que facilita o maior acesso dos fiéis à
Palavra de Deus. É o próprio Cristo o anunciador do Evangelho e a proclamação
da Palavra, a fala de Deus a seu povo. A IGMR evoca o princípio conciliar (SC
7) que apresenta a Palavra de Deus como sinal da sua presença real. Deus,
quando nos fala, merece ser escutado. Sua Palavra goza de eficácia, tem caráter
performativo: é realização. Por isso, todos, sem distinção entre ministros e
fiéis, devem escutar esta Palavra. A escuta é a atitude que se requer dos que
celebram a Palavra de Deus na Eucaristia. É a atitude do discípulo, aquele que
se dispõe a humildemente aprender. A escuta é, ainda, a atitude própria da Aliança; escutar
e obedecer são verbos complementares. Escuta bem quem obedece, cumpre, realiza.
O desobediente não escuta em sentido profundo. Por isso é infiel, resiste à
vontade de Deus, se recusa a cumprir a Aliança. A homilia, como parte da ação
litúrgica, torna a Palavra de Deus acessível e a situa no contexto celebrativo
e histórico. Sua função é favorecer a inteligibilidade da Palavra, isto é,
torná-la acessível e compreensível a todos. Neste ponto, o artigo deve
articular-se com o anterior (n. 28), pois lá fora dito que a Eucaristia está
estruturada em duas mesas e um só ato de culto memorial. As leituras incidem nas demais
partes da celebração, de tal forma que elementos como a oração eucarística, os
prefácios, os cantos, são escolhidos a partir das leituras bíblicas. Também a
homilia, chamada de “comentário vivo” deve ter essa dupla referência: a Palavra
de Deus e o sentido sacramental da ação litúrgica. Ela explicita a unidade das
duas mesas e demonstra como a Palavra se realiza na Eucaristia. Dada a
importância dessas considerações seria importante corrigir algumas atitudes que
não colaboram com a celebração da Palavra na missa: A Palavra de Deus deve ser
escutada por todos. É um ato comunitário. O povo, em comunhão, ouve a voz de
Deus e de seu Cristo. Pena que muitos ainda continuam com a atenção
completamente voltada para os subsídios (folhetos e caderninhos de leitura). Chega de celebrações desconexas,
onde as leituras falam de uma coisa, o canto de outra e a homilia de outra! Que
os cantos, as preces e comentários, homilia se inclinem diante da Palavra do
Senhor. Não faz sentido participar
da mesa eucarística sem participar da mesa da Palavra. Não prolonguemos a
mentalidade pré-conciliar, quando era permitido comungar sem ter ao menos
escutado as leituras.
qual A parte mais importante da Missa?
Por *Pe. Antônio Queiroz - C.Ss.R
Certa vez, numa sala de catequese, a catequista perguntou para as crianças: “Qual é a parte mais importante da Missa?” Um menino, que era bastante levado, respondeu:
“É quando termina a Missa!”
Os colegas deram uma pequena vaia nele,
como quem diz: “Você assiste à Missa doido para que ela
termine logo, hein?” - A catequista interveio e lhe perguntou por quê?
Ele se levantou e explicou com toda firmeza:
“A parte mais importante da Missa é quando ela termina, e o padre diz IDE! Porque aí começa a nossa Missa, eucaristizados, como um outro Cristo!
Esta foi a maior lição que os alunos
receberam naquela aula de catecismo! De nada adianta participar da Missa, e
depois não viver no dia a dia o que celebramos. Nesse sentido nos alertou o
próprio Cristo:
“Nem todo aquele que me diz: Senhor!
Senhor! Entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos
céus”...Quem ouve as minhas palavras e não
as põe em prática é como um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a
areia...” (Mateus 7,21- 26).
*Pe. Antônio Queiroz, C.Ss.R – Era mais
conhecido como Padre Queiróz (in memoriam) recolheu ao longo de seu ministério
centenas de histórias que falam de forma simples e popular da fé e das
realidades do povo de Deus.
O Sacramento da Eucaristia é a
fonte e o ápice da vida cristã
Por *Padre Reinaldo Cazumbá – Canção Nova
“Cristo está presente na Eucaristia para
dar-se de forma gratuita e amorosa em alimento para o homem!”
A Santa Missa é o lugar em que se esconde o
abismo da santidade de Deus, que se derrama na alma e na vida de cada fiel ao receber
o Senhor da Eucaristia. O encontro da pequenez de cada
homem com o abismo de amor de um Deus tão grande que se rebaixa para entrar na
vida do ser humano e possuí-lo por inteiro. Somos capazes de nos perder
nesse abismo de amor para sermos encontrados por Ele. Em Jesus descobrimos as
profundezas da nossa própria humanidade, mesmo nos sentindo abismados diante do
mistério que é a real presença de Cristo na Eucaristia.
presença Real e sobrenatural
Na Celebração Eucarística, precisamos ter
uma atitude interior de devoção, porque não experimentamos algo simples ou
fantasioso, mas algo real e totalmente sobrenatural. Por
isso, precisa acontecer uma mudança de mentalidade e uma atitude interior de
profunda gratidão a Deus por tão grande presente a cada um de nós de
participarmos da Sua vida divina. A Eucaristia precisa ser a fonte e o
ápice da nossa vida como seguidores de Cristo, pois Ele nos dá a oportunidade
de participarmos de Bodas Eternas d’Ele. Ao entrar em
uma Missa entramos no tabernáculo de Deus e temos a oportunidade de vê-Lo face
a face. Nessa celebração [Santa Missa], precisamos sentir o enlevo o dom
do deslumbre e da admiração.
“O pão e o vinho consagrados na Eucaristia
sempre constituíram para a Igreja uma genuína parusia. O Advento de Cristo a
Seu povo, na Sagrada Hóstia e no Precioso Sangue, é uma vinda na glória, ainda
que esta glória não deslumbre nossos sentidos físicos” (Scott Hahn).
É retirado o véu do Santuário, pois somente
são capazes de compreender com os sentidos da fé aqueles que se deixam ser
envolvidos pela presença do céu e do seu Divino Salvador. Cristo está presente na Eucaristia, sobre o altar, vindo para
dar-se gratuita e amorosamente em alimento para o homem; a única
resposta é aceitar e prestar-Lhe uma adequada adoração.
Vinda de Jesus
O fiel não pode parar no enunciado de
palavras, mas no ato de fé, na realidade que chega, o Cristo se faz presente de
maneira gloriosa, pois a Eucaristia é a vinda de Jesus. Por isso, a segunda
vinda de Cristo e a Eucaristia têm uma ligação estreita. A Eucaristia é a esperada parusia de Cristo; claro que não a
parusia final, porém ela é a parusia aqui e agora. O Sacrifício
Eucarístico é cheio da Glória de Deus: “Que toda carne mortal silencie e
imobilize-se de medo e temor, e medite sobre tudo isso com o coração totalmente
voltado para o Céu, pois o Rei dos reis e Senhor dos Exércitos, o Cristo, nosso
Senhor e Deus vem adiante de nós” (São Tiago de Jerusalém).Diante de tudo isso, precisamos tomar uma atitude concreta na
nossa participação da Santa Missa. Não estamos participando de qualquer coisa
ou algo simbólico, mas experimentando o mais importante da nossa vida: a
Eucaristia. Que resposta podemos dar para Deus a partir dessa leitura? O
Senhor quer que demos o nosso melhor para Ele ao vivenciarmos a Santa Missa.
*Padre Reinaldo Cazumbá - Sacerdote membro
da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI
e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da
comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.
Pe. Paulo Ricardo: “Participar da
Missa - você está fazendo isso errado!”
Recebemos nas redes sociais, alguns meses
atrás, o seguinte comentário, como resposta ao nosso último texto sobre o latim
na liturgia:
Sim! Você certamente já ouviu, também,
algum comentário do gênero (inclusive até de padres,
sim, ou não?). Infelizmente, é essa a impressão que muitas pessoas, se
não a maioria, têm sobre como era rezada a Santa Missa antes da reforma
litúrgica após o Concílio Vaticano II. Não é raro que se ouça aqui e ali,
inclusive a respeito das mudanças que sofreu o rito romano, alguém comparar a
Missa de São Pio V a uma espécie de “Velho Testamento” da liturgia católica. Antes, o povo inteiro estava “à espera”, ansiando pelo acesso
“pleno” aos mistérios sagrados, que se ocultavam sob uma língua incompreensível,
um sacerdócio afastado do povo, uma Igreja “fria” e “imobilizada”, que não se
comunicava efetivamente com os fiéis... Até que veio o Novus Ordo. Por
trás desse preconceito com a antiga liturgia e os antigos costumes católicos
está uma visão de progresso “malsã”, que não raro pode colocar em xeque a própria
infalibilidade da Igreja! Afinal, se Pentecostes foi
“adiado” até 1969, por assim dizer, onde estava o Espírito Santo nesse meio
tempo? Como fica a promessa de Nosso Senhor de que estaria com seus discípulos
omnibus diebus, “todos os dias”, usque ad consummationem saeculi, “até a consumação
dos séculos” (Mt 28, 20)? - O Papa emérito Bento XVI se manifestou
diversas vezes contra essa visão, primeiro como Cardeal — em O Sal da Terra,
por exemplo:
“Uma comunidade põe-se a si mesma em xeque
quando declara como estritamente proibido o que até então tinha tido como o
mais sagrado e o mais elevado, e quando considera, por assim dizer, impróprio o
desejo desse elemento” (Rio: Imago, 2005, p. 141).
E também depois, já Pontífice, ao autorizar
amplamente a celebração da Missa no rito tridentino:
Noutras palavras, se não conseguimos
apreciar a liturgia antiga, o problema não era com a Igreja; é conosco. Nossos antepassados conviveram por mais de 400 anos com a
liturgia do Concílio de Trento e, considerando a quantidade de santos que se
formaram na escola dessa divina liturgia, chega a soar como um insulto a
acusação de que, ao longo desse tempo, as pessoas “não participavam de nada do
mistério da missa”. Comece-se pelo fato de que o conceito que temos de
participação [1] na liturgia é muitíssimo deficiente, quando não completamente
equivocado. É deficiente porque, hoje, tendemos a
pensar que só participa bem a pessoa que sabe todas as respostas da Missa de
cor, que sabe entoar todos os cantos que o ministério de música puxar, que sabe
a hora certa de ficar de pé, sentar e ajoelhar-se etc., quando, na verdade, uma
pessoa pode estar fazendo tudo isso sem adentrar minimamente o mistério que
está diante dela. A esse respeito, valeria a pena recordar, retomando
uma lição de Santo Tomás de Aquino (cf. STh II-II 83, 13), que:
“Na oração a atenção às palavras é menos importante que a atenção à "presença de Deus". Na liturgia, que é a oração pública da Igreja, deve dar-se o mesmo: a ideia é que estejamos concentrados no Senhor; todo o resto é acessório, e subordina-se a isso”
Mas, tantas vezes nosso conceito de
participação na liturgia é também equivocado!
Quando a Constituição Sacrosanctum
Concilium, do Vaticano II, fez referência “àquela plena, consciente e ativa
participação (actuosam participationem) nas celebrações litúrgicas que a
própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e
um dever do povo cristão” (n. 14), é difícil imaginar que os Padres conciliares
tenham pensado, por exemplo, em palminhas efusivas, performances coreográficas
e uma assembleia dialogante, a todo o tempo respondendo ao sacerdote como num
programa de auditório.Não, esse nunca foi o sentir da Igreja a respeito da
divina liturgia. Tomar parte nos santos mistérios não
significa posicionar-se como uma Marta agitada ao redor do altar, procurando
algo que fazer. A atividade dos fiéis na igreja consiste muito mais na
atitude contemplativa de Maria, que se põe “aos pés do Senhor para ouvi-lo
falar” (Lc 10, 39). Aqui é importante destacar o seguinte: cada um participa da Missa na medida de sua capacidade e da
forma que lhe for mais conveniente. Não é correto impor a todo o povo fiel uma
forma única de tomar parte nos mistérios sagrados, como se todas as outras
fossem erradas. O respeito e a reverência, evidentemente, são devidos
sempre, mas eles não se manifestam apenas no fiel que, com o Missal ou um
folheto em mãos, responde ao padre, acompanha todas as orações e penetra-lhes o
significado.Antigamente, era mesmo muito comum que as
pessoas recitassem o Rosário durante a Missa ou praticassem outra forma de
devoção que as ajudasse a acompanhar os santos mistérios. Sim, nossa
visão atual de participação litúrgica deplora isso (o ar escandalizado do
comentário que transcrevemos acima não nos deixa mentir), mas o costume era
encarado com bastante naturalidade há não muito tempo. Fosse a Via-Sacra, algo
sobre a Paixão do Senhor ou orações afins, o importante é que os fiéis, na
quietude de seus bancos, se unissem ao sacerdote que oferecia o santo
Sacrifício, oferecendo-se a si mesmos “em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus” (Rm 12, 1). Com a palavra a esse respeito, o Papa Pio XII:
“Não
poucos fiéis, com efeito, são incapazes de usar o “Missal Romano” ainda quando escrito em língua vulgar; nem todos são capazes
de compreender corretamente, como convém, os ritos e as cerimônias litúrgicas.
A inteligência, o caráter e a índole dos homens são tão vários e dissemelhantes
que nem todos podem igualmente impressionar-se e serem guiados pelas orações,
pelos cantos ou pelas ações sagradas feitas em comum. Além disso, as
necessidades e as disposições das almas não são iguais em todos, nem ficam
sempre as mesmas em cada um. Quem, pois, poderá dizer,
levado por tal preconceito, que tantos cristãos não podem participar do
sacrifício eucarístico e aproveitar-lhe os benefícios? Certamente que o
podem fazer de outra maneira, e para alguns mais fácil: por exemplo, meditando
piamente os mistérios de Jesus Cristo ou fazendo exercícios de piedade e outras
orações que, embora na forma difiram dos sagrados ritos, a eles todavia
correspondem pela sua natureza (Mediator Dei, n. 98).
Essas práticas de piedade a que Pio XII faz
referência, muito comuns no rito antigo, só floresceram
graças a uma atmosfera de silêncio sagrado que agora, infeliz e tragicamente,
já não existe na maior parte das liturgias católicas — seja como consequência
de aspectos da própria reforma de 1969, seja como efeito da dissipação geral em
que nos encontramos.O que fazer, então? Pedir ao Papa que baixe um decreto
mandando todos “fecharem a matraca” durante a Missa? De acordo com o
Cardeal Robert Sarah, em seu livro “O Poder
do Silêncio”, essa está muito longe de ser a solução para a nossa crise
atual:
“O
silêncio é uma atitude da alma. Ele não pode ser imposto por decreto sem
parecer exagerado, vazio e artificial. Nas liturgias da
Igreja, o silêncio não pode ser uma pausa entre dois rituais; ele em si é um
ritual por completo, que a tudo envolve. Trata-se do tecido a partir do qual
devem ser feitas todas as nossas liturgias. Nada nelas deve interromper
a atmosfera silenciosa que constitui sua configuração natural” (n. 250).
O Prefeito do Culto Divino fala aqui a partir de sua consciência de fé, pois o silêncio brota naturalmente dos corações que se sabem na presença de Deus — e aqui está o grande segredo de tudo. Silenciar, para os animais, pode ser muito bem um simples “calar a boca”; para os seres humanos, porém, a ausência de barulho não quer dizer muita coisa. Quantas vezes, por exemplo, mesmo mudos, não nos encontramos interiormente agitados, com um sem-número de sons e imagens na cabeça? Se não houver um treinamento contínuo fora da liturgia, um verdadeiro cultivo da vida interior, nem sacerdotes nem o povo fiel serão capazes de reproduzir um silêncio autêntico e sagrado na Santa Missa. É preciso também ter ao menos uma noção básica do que acontece na liturgia — coisa que, infelizmente, muita gente não tem. Curiosa e paradoxalmente, um pretexto muito difundido para se acabar com o latim na liturgia era de que o povo não entendia nada da Missa — ou, como colocou nosso comentarista, as pessoas “não participavam de nada do mistério”. Cabe-nos perguntar, porém, se agora, “rasgado o véu do templo”, alguma coisa realmente mudou. Será que passamos a entender mais, a participar melhor da Missa? O Pe. João Batista Reus reagia a esse argumento em seu Curso de Liturgia dizendo o seguinte:
“A missa é uma ação, não um curso de instrução religiosa. No Calvário não havia explicações. O altar é um Calvário. Todo cristão sabe o que significa: imolar-se” (3.ª ed. Petrópolis: Vozes, 1952, p. 53).
Pois bem, é disso que se trata. Sabemos o
que significa imolar-se? Ou nos animalizamos a ponto de perder até isso? Acerquemo-nos
do altar de nossas igrejas como quem se aproxima do Calvário, da Cruz de
Cristo, da solene imolação que nos deu a salvação. É dessa consciência que
precisamos para participar bem da liturgia e comportar-nos melhor na igreja.
Todo o resto, principalmente o “auê”, pode ficar muito bem, obrigado, mas, do
lado de fora...
Notas
i. Há
quem se pergunte se o correto é assistir ou participar da Santa Missa. Sobre isso, leia-se esse artigo do site Veritatis Splendor.
De qualquer modo, há uma miríade de verbos que podem ser usados nesse
contexto: a Missa se reza, se diz (no caso do padre),
se escuta ou se ouve (no caso dos fiéis), dela se participa e a ela se assiste,
e não há problema no uso de nenhum desses verbos, desde que sejam entendidos em
um sentido concorde com o que orienta a Igreja sobre a santa liturgia.
Catecismo da Santa Missa
*Micrólogo - Baseado em livro de autor
anônimo do Século XIX, publicado em 1975 pela EDICIONES RIALP - Madrid,
NIHIL OBSTAT de D. José Larrabe Orbegozo,
Madrid, 27 de outubro de 1975
IMPRIMA-SE: Dr. D. José Maria Martim
Patino, Pro-Vigário Geral
Apresentação de Angel Garcia Y Garcia
Glossário
LITURGIA: palavra grega composta de leiton,
que significa público, e de ergon, que significa obra ou ato público, o que em
português chamamos de serviço divino. Os livros que contêm o modo de celebrar
os santos mistérios denominam-se liturgias.
Litúrgico: que pertence ou se refere às
liturgias.
Liturgistas: escritores ou estudiosos de
liturgia.
RITO: em latim ritus, significa um uso ou
uma cerimônia que segue uma ordem determinada. Diz-se também rite ou recte para
indicar o que está bem feito, com ordem, segundo o costume. Assim se diz rito
romano ou milanês conforme prescrito em Roma ou Milão.
Ritual: livro que prescreve o modo de
administrar os sacramentos.
RITO MOÇÁRABE: rito utilizado nas igrejas
de Espanha desde o início do século VIII até o final do século XI. A palavra
moçárabe se refere aos espanhóis que subsistiram ao domínio dos árabes quando
estes se apoderaram da Espanha em 712, e significa árabes externos,
diferenciando-os dos de origem árabe. Este rito chamava-se normalmente de rito
gótico, por ter sido seguido pelos godos cristianizados.
SACRAMENTAL: livro que continha as orações
e as palavras que os bispos ou sacerdotes recitavam quando celebravam a Missa
ou administravam os sacramentos. Posteriormente o específico dos bispos
denominou-se pontifical, enquanto que o dos sacerdotes passou a ser sacerdotal,
ritual ou manual.
MISSAL: livro que contém tudo o que se diz
na Missa no decorrer do ano.
ANTIFONÁRIO: assim era chamado o livro que
continha tudo o que se devia cantar no coro durante a Missa devido aos
intróitos que tinham por título Antiphona ad introitum; mas há tempo se utiliza
esse termo para indicar o livro que contem as antífonas das matinas, laudes e
demais horas canônicas.
ORDO ROMANO: livro que continha a maneira
de celebrar as missas e os ofícios dos principais dias do ano, em especial os
dos 4 dias da Semana Santa e da oitava da Páscoa. Este ORDO posteriormente foi
aumentado e denominado cerimonial.
ORDINÁRIO: assim é chamado há 600 anos o
livro que determina o que se diz e se faz, cada dia, no altar e no coro.
ORDINÁRIO DA MISSA: reúne o que se diz na
Missa comum, para distingui-lo do que é próprio para as festas e demais dias do
ano.
*MICRÓLOGO: palavra grega, composta de
microse de logos; significa breve discurso. Um escritor do século XI compôs um
tratado sobre a Missa e demais ofícios litúrgicos com este título: Micrologos
de ecclesiasticis observationibus, e como se ignora quem seja ele, diz-se o nome Micrólogo ou o Micrólogo. Sabe-se que ele foi
contemporâneo do papa Gregório VII; mas o tratado foi escrito após a morte
deste Pontífice, motivo pelo qual a obra é colocada no ano 1090.
Introdução
1 – Definição
P1. Que é a Santa Missa?
R. A Santa Missa é a renovação incruenta do
Sacrifício do Calvário. É o mesmo e único sacrifício infinito de Cristo na
Cruz, que foi solenemente instituído na Última Ceia. Nesta cerimônia ímpar,
Cristo é ao mesmo tempo vítima e sacerdote, se oferecendo a Deus para pagamento
dos pecados, e aplicando a cada fiel seus méritos infinitos.
P2. Por que dizemos que a Missa é
a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário?
R. Porque na Missa Nosso Senhor Jesus
Cristo se imola novamente para nossa salvação, como Ele fizera no Calvário,
embora na Missa seja sem sofrimento físico.
P3. Por que a Missa é chamada de
"Santa"?
R. Porque nela é o próprio autor da
santidade que se oferece como vítima, num sacrifício perfeito a Deus, e como
alimento espiritual aos fiéis na Eucaristia, ou seja, a transubstanciação real
do pão e do vinho no corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo
P4. Em que momento da Missa se
realiza a transubstanciação das espécies de pão e vinho no corpo e sangue de
Nosso Senhor Jesus Cristo?
R. A transubstanciação se realiza no
momento da consagração, quando o celebrante repete as palavras que Nosso Senhor
pronunciou na última Ceia, ao consagrar o pão e o vinho, instituindo, assim, o
sacramento da Eucaristia.
2 - Prática freqüente do Santo Sacrifício
da Missa
P5. Qual é a cerimônia religiosa e solene
mais comum entre os católicos?
R. É a santa Missa.
P6. Por que a santa Missa é a cerimônia
mais comum entre os católicos?
R. Porque, além de ser celebrada nos
domingos e dias santos, quando há obrigação rigorosa de assisti-la, ela é
celebrada diariamente e fortalece a piedade do cristão zeloso, em especial
quando ele tem a graça de comungar.
P7. Além dos domingos e dias santos,
podemos assistir a Missa em outras ocasiões?
R. Sim, e é proveitoso à alma também
assisti-la em certas ocasiões especiais tais como:
a - nos aniversários de graças importantes
recebidas;
b - nos dias da quaresma;
c - na quinzena pascal.
P8. Podemos assistir Missa diariamente?
R. Sim. Sempre que o fiel tiver a
possibilidade e principalmente aqueles que receberam mais bênçãos dos céus e
favores terrenos devem entender que seria até uma ingratidão não participar do
oferecimento diário da grande vítima de ação de graças.
P9. Por que é conveniente e salutar assistir
a Missa sempre que possível?
R. Porque todo o cristão, desejoso de
ordenar sábia e piedosamente sua conduta, encontra na Missa o meio de consagrar
pela oblação do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo os trabalhos e
fadigas de cada dia, sem esquecer as obrigações do próprio estado. Além disto,
a assistência freqüente implica em maior aproveitamento dos méritos de Cristo.
P10. Além da piedade e do fervor, que
outros motivos nos levam a assistir a Missa?
R. Além da piedade e do fervor os cristãos
se reúnem com prazer ao redor do altar do sacrifício por muitos motivos, como:
a - no início de cada ano, para agradecer e
renovar os votos desta época;
b - em certas festas religiosas, para
estreitar os laços de família e a piedade filial;
c - no dia dos mortos, para resgatar os
pecados do passado com as esperanças de melhor porvir;
d - para conseguir êxito em determinado
empreendimento;
e - para a saúde de uma pessoa;
f - para que se difunde a graça de Deus na
união dos esposos;
g - para oferecer ao Senhor uma criança que
acaba de nascer e a mãe que deu a luz;
h - para acompanhar diante dos altares os
despojos mortais de nossos irmãos, antes de sepultá-los.
P11. A Missa, então, é motivo para tudo?
R. Sim. Resumindo, podemos dizer que a
Missa é a consagração e santificação de todos os momentos graves, solenes e
importantes da nossa vida.
3 - Necessidade de se entender as orações e
as cerimônias da Santa Missa
P12. É necessário conhecer profundamente a
Missa?
R. Um ato de religião praticado com tanta
freqüência, tão precioso em suas graças, e tão consolador em seus frutos, é
desejoso que se conheça o mais possível, na medida das nossas capacidades.
P13. Como podemos conhecer mais
profundamente a Santa Missa?
R. Podemos conhece-la mais profundamente
estudando seus mistérios, seus dogmas, a moral que ela encerra, e até os
menores detalhes de suas cerimônias e orações.
P14. Para que devemos conhecer tudo isto?
R. Para que a Missa, que é o centro do
culto católico, desperte os mais vivos sentimentos de religião e de piedade.
P15. Que mais devemos conhecer da Missa?
R. Devemos conhecer suas palavras sagradas
em que encontramos todo o sabor da unção de que estão repletas; cada ação e
cada movimento do sacerdote; cada palavra que ele pronuncia para lembrar nossa
alma e nosso coração que um Deus se imola para nós, e que nós também devemos
nos imolar com Ele e por Ele.
P16. Com que estado de espírito devemos
assistir a Santa Missa?
R. Devemos deixar fora do santuário a
indiferença e o tédio, a dissipação e o escândalo, e sermos, no templo,
adoradores em espírito e verdade. (Ioh 1 - 4)
P17. Deus exige de todos os fiéis uma
instrução profunda e detalhada da Missa?
R. Não. Deus supre a sensibilidade da fé ao
conhecimento que não foi possível adquirir e jamais irá desprezar o sacrifício
de um coração arrependido e humilhado. (Sl 50, 19)
P18. Quais as disposições essenciais e
suficientes para aproveitarmos do santo sacrifício da Missa?
R. Devemos assistir a Santa Missa com a
alma penetrada de dor pelas faltas cometidas, e nos aproximarmos confiadamente
deste trono da graça, unindo-nos à vítima, Nosso Senhor Jesus Cristo, e à
intenção da Igreja, na pessoa do sacerdote, e por seu ministério.
P19. Que mais é salutar conhecer?
R. Devemos saber as grandes vantagens espirituais
que um conhecimento mais íntimo da Santa Missa proporciona aos fiéis, com a
explicação literal de suas orações e cerimônias.
P20. A Igreja, acaso, ocultaria aos fiéis
algum mistério da Santa Missa?
R. Não. Na Igreja nada há de oculto e ela
jamais pretendeu ocultar qualquer mistério aos fiéis, seja da Santa Missa, como
de qualquer outra cerimônia litúrgica, como será demonstrado neste Catecismo.
P21. Qual a principal preocupação da Igreja
quanto aos mistérios da Missa?
R. A Igreja somente teme que o pouco
discernimento sobre os mistérios possa causar má interpretação às palavras
neles contidas.
P22. Como a Igreja procura evitar possíveis
más interpretações?
R. Apresentando sempre explicações claras
dos mistérios aos fiéis.
P23. Há orientação explícita da Igreja para
explicar os mistérios da Missa aos fiéis?
R. Sim. Os Concílios de Mogúncia,de Colônia
e de Trento, como mais adiante veremos, ordenaram claramente que se prestassem
aos fiéis as explicações necessárias para o melhor entendimento possível dos
mistérios da Santa Missa, evitando, assim, más interpretações.
P24. Que outras medidas tomou a Igreja para
facilitar o entendimento dos mistérios da Missa?
R. A Igreja colocou à disposição de todos
os fiéis o ordinário da Missa, e impôs como dever dos sacerdotes a explicação
das orações e das cerimônias da Santa Missa.
P25. Além do ordinário da Missa, há outras
obras específicas sobre o Santo Sacrifício?
R. Sim; há inúmeras obras ao alcance dos
fiéis sobre a Santa Missa, publicadas através dos séculos.
P26. A explicação da Missa é dever somente
dos sacerdotes?
R. Não. Além dos sacerdotes é dever também
dos fiéis, e seremos felizes mesmo se, com pouco conhecimento, colocarmos
algumas pedras nos muros de Jerusalém, enquanto outros manejam com mão hábil a
espada da palavra santa para cuidar da sua defesa.
P27. Qual o melhor método para nos
aprofundarmos no conhecimento da Santa Missa?
R. Para compreendermos exatamente o
verdadeiro sentido das orações da Santa Missa, é necessário conhecermos todas,
palavra por palavra, o significado de cada termo, dos dogmas e dos mistérios
nelas contidos.
P28. Que mais é necessário conhecer sobre
as orações?
R. É preciso, também, conhecer os objetivos
da Igreja ao estabelecer as orações, bem como deduzir ao máximo possível as
intenções dos santos padres, dos antigos escritos eclesiásticos e da tradição.
Para isto torna-se necessária também uma explicação histórica, literal e
dogmática de tudo o que constitui a Missa.
P29. A que se propõe este Catecismo?
R. Este Catecismo se propõe a colocar em
prática os mesmos objetivos da Igreja, de alimentar os mesmos sentimentos que
ela quer infundir nos nossos corações para que possamos orar e oferecer com
ela, e não perder o fruto produzido pelo reto conhecimento das palavras repletas
de sentimento e de mistérios que ela nos coloca nos lábios.
4 - Regras para a celebração do Santo
Sacrifício da Missa
P30. Por que é necessário conhecermos as
ações e as cerimônias da Missa?
R. Porque, por meio das ações e das
cerimônias expressam-se mais vivamente as idéias do que por palavras. Além
disso, elas foram estabelecidas pela Igreja para nos edificar, nos instruir e
despertar nossa atenção, bem como Deus lhes atribuiu graças particulares.
P31. Há exemplos bíblicos de atitudes que
Deus atribuiu algum favor especial?
R. Sim; por exemplo, a Escritura nos diz
que Moisés rogou com as mãos erguidas ao céu, e, nesta cerimônia, o Senhor
estabeleceu a vitória dos judeus. (Ex 17, 11)
P32. Em que se fundamentam as cerimônias da
Missa?
R. As cerimônias da Missa se fundamentam
ora na necessidade, ora na comodidade ou em outros motivos simbólicos e
místicos. Na pesquisa de todas elas, precisamos recorrer a uma infinidade de
escritos em que se acham espalhados, procurando sempre suas origens.
P33. Poderia esclarecer com um exemplo?
R. Sim. Todos sabemos que lavamos com água
as mãos e o corpo, por asseio; mas, a água usada no batismo não é para lavar o
corpo pois, como diz S. Paulo: Non carnis depositio sordium (1 Ped 3, 21). A
origem da água no batismo é puramente simbólica, ou seja, emprega-se aquele
elemento tão próprio para lavar todas as coisas, para mostrar que, por meio do
seu contato com o corpo, Deus purifica a alma de todas as manchas.
P34. Que é preciso fazer para se pesquisar
devidamente a origem das cerimônias?
R. É preciso investigar também os tempos e
os lugares em que elas passaram a ser usadas, verificar seus escritores
contemporâneos e, nas orações contidas nos livros eclesiásticos mais antigos,
analisar os objetivos da Igreja naquelas cerimônias, porque muitas vezes as
próprias orações revelam seu verdadeiro sentido.
P35. Que mais devemos levar em conta para
conhecer os motivos da Igreja no uso de determinadas ações que vemos na Santa
Missa?
P. Além da pesquisa aludida anteriormente,
devemos levar em conta o discernimento e bom senso que a Igreja empregou para
estabelecer as razões das ações e das cerimônias da Missa.
P36. Como se classificam as razões em que a
Igreja se baseou para estabelecer as ações e cerimônias da Missa?
R. Podemos classificar em seis razões.
P37. Qual é a primeira razão? Exemplifique.
R. A primeira razão é de conveniência ou
comodidade. Há costumes que só podem ter como causa, estes fatores.
Exemplo: o motivo pelo qual se cobre o
cálice depois da oblação é por pura precaução, para que nele não caia nada; e
se o Micrólogo, que reconhece este motivo, acrescenta outros, é mais por sua
conta que da Igreja.
P38. Qual é a segunda? Exemplifique.
R. Há usos que se fundamentam em duas
causas: comodidade e simbolismo.
Exemplo: A primeira razão do uso do cíngulo
sobre a alba é para impedir que esta caia e se arraste pelo chão; e esta razão
física não impede a Igreja de determinar aos sacerdotes de cingirem-se como
símbolo da pureza, pois S. Pedro nos recomenda a nos cingirmos espiritualmente:
Succinti lumbos mentis vestrae (1 Pet 1, 13).
Outro exemplo: a fração da Hóstia se faz
também, naturalmente, para imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo que partiu o pão,
e porque é preciso distribuí-la; mas, algumas Igrejas deram a esta fração um
sentido espiritual, dividindo a Hóstia em três partes (Itália e França), em
quatro partes (Grécia), e em nove partes (rito moçárabe).
P39. Qual a terceira causa? Exemplifique.
R. Às vezes uma causa de necessidade física
foi substituída por uma razão mística.
Exemplo: o manípulo, inicialmente, era um
paninho utilizado pelos que trabalhavam na igreja para enxugar as mãos. Há seis
ou sete séculos que não se o utiliza mais para aquele fim original; no entanto,
a Igreja continua a usa-lo para lembrar seus ministros que devem trabalhar e
sofrer para merecer a devida recompensa (Ut recipiant mercedem laboris).
P40. Qual a quarta razão? Exemplifique.
R. Às vezes um uso estabelecido
anteriormente por uma razão de conveniência foi substituído por razão simbólica.
Exemplo: até o final do século IX, quando o
diácono cantava o Evangelho, voltava-se para o Norte, onde se encontravam os
homens, porque convinha anunciar-lhes a palavra santa preferivelmente às
mulheres, que se achavam no lado oposto. Porém, desde o final daquele século,
em algumas igrejas, o diácono voltava-se ao Norte, mesmo sem a presença
masculina, por uma razão puramente espiritual, que será exposta mais adiante.
P41. Qual a quinta razão? Exemplifique.
R. As vezes uma razão baseada no asseio fez
desaparecer um costume introduzido anteriormente, como um símbolo de pureza
interior.
Exemplo: Na Igreja grega o sacerdote lava
as mãos no início da Missa, enquanto que na Igreja latina ele as lava também
antes da oblação.
"Este uso havia desaparecido, diz S.
Cirilo de Jerusalém, não por necessidade, pois os sacerdotes se lavam antes de
entrar na Igreja, mas para salientar a pureza interior que convém aos santos
mistérios".
Posteriormente, segundo S. Amalrico e a
Sexta Ordem Romana, o bispo e o sacerdote lavavam as mãos entre a oferenda dos
fiéis e a oblação do altar pois poderiam conter vestígios de pão comum
distribuído aos leigos; e, como segundo esta ordem se incensavam as oblações,
estabeleceu-se em fim a ablução dos dedos, após esta operação para maior
asseio, sem abandonar, porém, a razão espiritual primitiva.
P42. Qual a sexta razão? Exemplifique.
R. Há usos que sempre tiveram razões
simbólicas e místicas. Alguns põem em dúvida que elas tenham sido assim desde o
princípio; porém será fácil nos persuadirmos disto, se considerarmos que os
primeiros cristãos tinham sempre por objetivo elevar suas almas e seu
pensamento aos céus, que neles tudo era simbólico, e que, como os sacramentos
foram instituídos sob símbolos, eles se acostumaram a espiritualizar todas as
coisas, como vemos nas epístolas de S. Paulo, nos escritos de S. Bernardo, de
S. Clemente, de Justino, de Tertuliano, de Orígines, etc.
Exemplo: S. Paulo dá razões místicas ao
povo, quanto ao costume seguido pelos homens nas igrejas, de rezar com a cabeça
descoberta; o mesmo acontece com as explicações dos santos padres sobre as
razões de S. Paulo.
Outro exemplo: Por razão simbólica, também,
durante muitos séculos os novos batizados se trajavam de branco, indicando a
inocência. Assim aconteceu com Constantino que cobriu seu leito e revestiu seu
quarto de branco depois de ter recebido o batismo.
Mais um exemplo: quando os primeiros
cristãos se voltavam para o Oriente para rezar, era porque viam o Oriente como
a figura de Nosso Senhor Jesus Cristo; e, quando rezavam em lugares elevados e
bem iluminados, era porque a luz exterior representava o Espírito Santo, como
nos diz Tertuliano (Lib. adv. Valent, c. 3).
Ainda: Todas as cerimônias que precedem ao
batismo são outros tantos atos simbólicos. S. Ambrósio, que as explica para os
que se preparavam para receber o sacramento, diz que se faz com que os
catecúmenos se voltem para o Ocidente, para indicar que renunciam as obras de
Satanás e as resistem de frente, e que, em seguida, voltam-se ao Oriente para olhar
a Jesus Cristo, a verdadeira luz.
P43. Qual a postura recomendada para a
oração na Missa durante os quatro primeiros séculos?
R. Recomendava-se a rezar em pé nos
domingos e em todo o tempo pascal, e Tertuliano diz que era uma espécie de
falta rezar de joelhos e jejuar em tais dias (Die dominico jejunium nefas
ducimos vel de geniculis adorare, Tertuliano, Lib. de Cor., c. 3).
P44. Houve alguma recomendação conciliar
sobre tal postura?
R. Sim. Sobre tal postura o primeiro
Concílio geral estabeleceu até uma lei no cânon 25, e S. Jeronimo e Sto.
Agostinho, apesar de ignorarem este cânon, falavam do referido costume sempre
com muita veneração. Para S. Jeronimo, tratava-se de tradição com força de lei
e Sto. Agostinho somente colocava em dúvida, se ele era seguido em todo o orbe
católico.
P45. Qual a origem desse costume segundo
alguns doutores?
R. Sto. Hilário, S. Basílio, Sto. Ambrósio,
e muitos outros doutores, julgavam que o costume de rezar em pé nos domingos e
no tempo pascal provinha dos apóstolos; porém os cânones e os Concílios, e
todas as obras antigas que encontramos sobre isso, apresentam razões místicas.
P46. Que razão mais adequada podemos
encontrar naquele costume?
R. Segundo S. Jeronimo, os fiéis assim
procediam para honrar a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo pois, eretos,
demostravam a esperança que tinham de participar da sua ressurreição e ascensão
(Nec curvamur, sed cum Domino coelorum alta sustullimur, S. Jeronimo, Prol. In
Ep. Ad Ephes.).
P47. Por que devemos penetrar nas razões e
origens misteriosas dos costumes que envolvem as cerimônias da Missa?
R. Porque afastarmo-nos de tais razões e
origens seria um afastamento do espírito e dos objetivos da Igreja, que
claramente pede aos seus filhos que se apliquem a penetrar nos mistérios que
envolvem as cerimônias.
P48. Há algum exemplo concreto desse desejo
da Igreja?
R. Sim, como prova a oração que se lê nos
antigos sacramentais, repetida todos os anos na cerimônia da benção das palmas:
"Fazei, Senhor, que os corações piedosos dos vossos fiéis compreendam com
fruto o que significa misteriosamente esta cerimônia".
5 - Objetivos e Esquema deste Catecismo
P49. Quais são os objetivos deste
Catecismo?
R. O objetivo deste Catecismo é de formar
um conjunto de ensinamentos que conserve o texto da liturgia, que explique suas
cerimônias e que auxilie os fiéis a saborear por si próprios o sentido da
oração pública, a amar sua majestosa sensibilidade, e fazer brotar dela todos
os princípios e sentimentos que ela encerra.
P50. Qual é o esquema geral deste Catecismo
para atingir seus objetivos?
R. Para melhor conseguir seus objetivos,
este Catecismo seguirá um plano geral dividido em duas partes, como segue:
A - Primeira Parte: Instruções Preliminares
sobre o Santo Sacrifício da Missa e as Preparações Prescritas para oferecê-lo.
B - Segunda Parte: Explicação das Orações e
Cerimônias da Santa Missa.
P51. Em linhas gerais, de que trata a
Primeira Parte deste Catecismo?
R. A Primeira Parte é constituída de onze
Capítulos, apresentando:
• A
sublimidade e a excelência do sacrifício da nova lei e suas relações com todo o
culto público;
• A
necessidade, o valor e os frutos da Santa Missa;
• A
celebração da santa liturgia através dos séculos, desde Jesus Cristo até a o
Novo Ordo Missalis Romani* (imposto por Paulo VI em 1970), verificando tanto a
tradição como os documentos oficiais promulgados pela Igreja;
• O
material utilizado no serviço divino;
• A
imensa preparação que o precede;
• Os
sentimentos que a Igreja exige do sacerdote que o celebra e dos fiéis que o
acompanham.
* O caráter histórico da obra em que se
baseia este Catecismo exime qualquer adaptação ao Novo Ordo de 1970.
P52. De que trata a Segunda Parte?
R. A Segunda Parte deste Catecismo,
constituída de seis Capítulos, expõe:
• Palavra
por palavra e rito por rito de todo o conteúdo do Ordinário da Missa;
• Explicação
própria para instruir os fiéis bem como para nutrir sua piedade;
• A
relação palpável entre as orações e as cerimônias do altar com o que aconteceu
no Cenáculo e no Calvário, e o que se verifica no sublime altar do Céu.
PRIMEIRA PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missa e as preparações prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO ICAPÍTULO I
Da excelência do Sacrifício da Missa, e
suas relações com toda a religião e com o culto
P53. Qual é o maior e o mais central culto
da Igreja católica?
P. O maior e o mais central culto da Igreja
católica é a oblação do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, sob as
espécies do pão e do vinho, que constituem o sacrifício da Missa.
P54. Por que a Missa é o maior e o mais
central culto da Igreja católica?
R. Porque na Missa, não só imolamos a Deus
eterno, vivo e verdadeiro, que a revelação nos fez conhecer e adorar
perfeitamente, mas também porque neste sacrifício temos o próprio Deus por
sacerdote e por vítima.
P55. Que mais encontramos reunidas no santo
sacrifício da Missa?
R. Encontramos reunidas todas as grandezas
da pessoa de Jesus Cristo:
•
seu poder como Deus;
•
seu estado de imolação como homem;
•
vivo, para interceder por nós;
•
sob os símbolos da morte para nos aplicar o preço dos seus padecimentos;
•
pontífice santo e sem mancha, mais elevado que os céus;
•
cordeiro imolado, cujo sangue correrá até a consumação dos séculos, para
lavar todos os pecados;
•
sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque com um sacerdócio eterno;
•
oblação pura oferecida desde o ocaso até a aurora;
•
pontífice e vítima convenientes à santidade de Deus.
P56. Além das grandezas da pessoa de
Cristo, que outros benefícios relativos a Nosso Senhor a Missa nos propicia?
R. A Missa, já tão excelsa por quem a
oferece e a quem é oferecida, renova todos os prodígios da vida do Salvador e
revive a história solene dos seus mistérios e da sua doutrina, todos os dias.
P57. Como a Missa nos apresenta o mistério
da encarnação do Verbo?
R. Através da Fé contemplamos o Filho de
Deus no altar, concebido no segredo do santuário pela mesma potestade, como nos
esplendores da eternidade, encarnado pela sua fecunda palavra nas mãos do
sacerdote, como no seio de Maria.
P58. Que virtudes de Nosso Senhor a Missa
nos lembra, seguindo sua vida?
R. A Missa nos renova as seguintes virtudes
que acompanharam a vida de Nosso Senhor:
1 - a obediência e as virtudes de sua vida
oculta;
2 - a misericórdia e toda a bondade do seu
ministério público;
P59. Que méritos a Missa aplica aos fiéis
dos últimos acontecimentos da vida de Cristo?
R. A Missa aplica aos fiéis:
1 - o preço do seu sangue derramado na sua
paixão e morte;
2 - a glória e a vida nova da sua
ressurreição, por meio da oferenda do seu corpo imortal e a benção da sua
ascensão.
P60. Que relação há entre a Missa e a
ascensão de Nosso Senhor?
R. Assim como Nosso Senhor subiu da Terra
aos céus, assim também do altar sublime da Igreja sobe ao altar sublime do céu
a oferenda santa, que é o próprio corpo e sangue de Cristo. Do alto dos céus, e
na Missa, Nosso Salvador difunde graças, luz (entendimento da verdade) força e
santidade em nossas almas.
P61. A Missa nos lembra também o juízo
final?
R. Sim, trazendo-nos as primeiras palavras
da sentença do último dia pela separação antecipada do fiel e do infiel,
apresentando um pão que dá a vida eterna ao justo, e o juízo e condenação ao
pecador.
P62. Em resumo, o que nos deixou Cristo na
Missa?
R. Aos que o temem, Cristo deixou uma
lembrança das suas maravilhas cheia de misericórdia e bondade (Sl 110)
P63. Que contemplamos no santo sacrifício
da Missa?
R. Neste santo sacrifício contemplamos, com
o sacerdote mais santo e a vítima mais digna, com a renovação de todos os
mistérios e a contínua pregação da doutrina de Cristo, o livro mais perfeito da
moral evangélica, e a lição mais sublime da santidade necessária a um cristão.
P64. Que vemos na Missa?
R. Na Missa vemos um Deus infinitamente
adorável a quem devemos o sacrifício, e formamos do Senhor a idéia mais justa
que se possa conceber, pela excelência do dom que a Ele se apresenta.
P65. Há na Missa referências ao Antigo
Testamento?
R. Sim. O segredo de quatro mil anos de
promessas e de profecias se revela aos nossos olhos; a verdade sucede à sombra,
a plenitude dos tempos se desenvolve com a abundância da graça, um manancial
puro que, reluzindo da cruz, atinge a vida eterna, dando nascimento e ressurreição,
força e alento, saúde e santidade aos cristãos de todas as idades.
P66. Esta fonte de graças vindas da cruz só
se aplica ao Novo Testamento?
R. Não. Esta fonte de graças surgida da
cruz, como um sol, alcança os primeiros dias do mundo para santificar todos os
eleitos, e da cruz ainda estende sua luz e calor até a consumação dos séculos,
para salvar todos os filhos de Deus.
P67. Que afirmou Tertuliano sobre a Missa?
R. Tertuliano, um dos padres da Igreja,
disse que a Missa, mais que um banquete de religião, é uma escola de todas as
virtudes, apresentando aos fiéis o grande exemplo de imolação contínua de um
Deus, para incentivá-los em todos os deveres e ampará-los em todos os
sacrifícios, ainda com a participação da vítima que neles se incorpora pela
comunhão.
P68. Em que culto da Igreja encontramos a
união mais íntima com Deus?
R. Na celebração do santo sacrifício da
Missa, porque nela encontramos a mesa onde todos podemos comer ( Heb 13) o
alimento que é o próprio Deus, e nela há, ainda, a união mais desejada pelos
homens entre si, pois todos, sem distinção, podem sentar-se à mesma mesa, como
filhos de um mesmo pai.
P69. Haveria algum outro sacrifício
equivalente?
R. Não, porque não há outro sacrifício tão
sublime como a Missa em que, com Deus, se oferece a um Deus por um sacerdote
Deus; em que cada ato da oblação recorda a doutrina de um Deus e a santidade
que ela exige, bem como a religião deste Deus em toda a sua extensão com todos
os meios de santificação.
P70. Que visão do Antigo Testamento é
figura da Missa?
R. A Missa é, na realidade, aquela escada
misteriosa que Jacó viu em sonhos (Gen 28, 12), em que uma extremidade tocava a
terra e a outra atingia o céu, na qual subiam e desciam os anjos e,
principalmente, o Santo de Deus, o Anjo de Deus por excelência, o Mediador
Supremo, para levar ao Senhor nossos votos e sacrifícios, e para nos trazer sua
graça e sua benção.
P71. Que representa ainda a Missa?
R. A Missa é uma imagem antecipada do céu;
nela se adora o mesmo Deus; em seu santuário se reúnem seus filhos: nela vemos
o mesmo que é visto no céu, as orações, os cânticos, os perfumes; anjos
circundando o altar, santos que o sustentam, toda a Igreja, toda a cidade de
Deus oferecida por Jesus Cristo e unindo-se a Deus. Numa palavra, Deus presente
ainda que coberto por véus, o mesmo Deus que veremos face a face, Deus
convertido em manjar sob a aparência de um pão que já não mais existe, o mesmo
que nos confortará eternamente com sua glória pela verdade e felicidade.
P72. Podemos, então, dizer que o santo
sacrifício da Missa transforma nossas igrejas em céu?
R. Sim, porque nele o divino cordeiro é
imolado e adorado no templo como no-lo apresenta S. João no meio do santuário
celestial.
P73. Os anjos também participam da adoração
do cordeiro imolado na Missa, como eles o adoram no céu?
R. Sim; os espíritos bem aventurados,
sabedores do que se opera em nossos altares, deles se aproximam para
assisti-los com o temor inspirado pelo mais profundo respeito.
P74. A Igreja admite a presença dos anjos
na Missa?
R. Sim, a Igreja admitiu sempre e tanto
esta verdade que S. Crisóstomo não duvidava em dizer: "Que fiel poderá
duvidar que, à voz do sacerdote no momento da consagração, o céu se abre e os
coros dos anjos descem para assistir ao mistério de Jesus Cristo, e as
criaturas celestes e terrestres, visíveis e invisíveis, se reúnem em tão solene
instante?".
P75. Então, fazemos nas igrejas, o mesmo
que os santos fazem continuamente no céu?
R. Sim, nós adoramos a vítima santa e
imolada nas mãos do sacerdote, e todos os santos adoram no céu esta mesma
vítima, o Cordeiro sem mancha representado em pé, porém como sacrificado*, em
sinal da sua imolação e da sua vida gloriosa.
* Agnum stantem quasi occisum (Apoc. 5, 6).
P76. Rezamos na Missa como os santos rezam
nos céus?
R. Sim. Todas as orações e todos os méritos
dos santos se elevam dos altares das igrejas ao trono de Deus, como um suave e
agradável perfume; assim expressou-se S. João no Apocalípse (8, 3-4) ao
descrever um anjo, com um turíbulo de ouro na mão e junto ao altar, de onde se
elevavam a Deus as orações dos santos.
P77. Por que incensa-se o altar?
R. Incensa-se o altar como um sinal visível
das adorações e súplicas a Deus, feitas por todos os santos que estão na terra
ou na glória eterna.
P78. Que conclusões deduzimos destas
verdades da Missa?
R. Entendendo estas verdades da Missa,
podemos concluir que a Missa é:
a - o centro do culto religioso da Igreja,
pois reúne tudo o que se relaciona com a religião;
b - o ponto de apoio em que se unena cruz o
homem com seus destinos gloriosos;
c - o ponto de partida de onde nos vêm,
como da cruz, a graça com todos os meios de salvação.
P79. Que considerações piedosas nos vêm à
alma ao passarmos diante de inúmeras igrejas?
R. Ao passarmos diante de majestosas catedrais
ou basílicas, ou mesmo diante de simples igrejas e capelas, lembramos que todas
elas foram erguidas pela fé católica através dos séculos, para nelas se
oferecer o santo sacrifício da Missa. A cruz que as encima é o sinal da
imolação que nelas se perpetua, e os altares nelas erigidos são para depositar
a vítima sagrada.
P80. Tudo o que vemos nas igrejas se
relaciona ao santo sacrifício do altar?
R. Sim, tudo que há nas igrejas se
relaciona à Missa. Assim, por exemplo:
1 - a pia batismal e de água benta e os
confessionários nos lembram que devemos lavar nossas mãos com os justos ( Sl
20, ...) para entrar no santuário;
2 - a cátedra e o púlpito nos instruem e
exortam ao sacrifício;
3 - a mesa da comunhão, que separa o
presbitério da nave, onde recebemos a Hóstia Santa;
4 - os tecidos que revestem o altar, os
paramentos dos sacerdotes, a luz das velas, o incenso que se eleva, a
disposição dos bancos e genuflexórios, tudo fala do sacrifício, tudo é para o
sacrifício.
P81. Os Sacramentos também se relacionam
com a Missa?
R. Sim e do seguinte modo:
1 - o Batismo: dá o direito de assistir a
Missa e de receber a sagrada Hóstia;
2 - a Penitência ou Confissão: repara
aquele direito perdido ou debilitado;
3 - a Eucaristia: se realiza e é
distribuída na Missa;
4 - o Crisma ou Confirmação: fortifica o
fiel para a união misteriosa da comunhão e o fortalece para sua imolação moral
e contínua;
5 - a Extrema Unção: durante a celebração
da Missa o sacerdote benze o Óleo Santo para os enfermos e para outras unções;
6 - a Ordem: perpetua o sacerdócio;
7 - o Matrimônio: recebe na Missa sua
ratificação e benção particular.
P82. Há relação entre os Ofícios Litúrgicos
e a Missa?
R. Sim, os três Ofícios se relacionam à
Missa. Assim :
1 - o Ofício da Noite: serve de preparação
remota para o sacrifício;
2 - o Ofício da Manhã: serve de preparação
imediata;
3 - o Ofício da Tarde: serve de conclusão e
de ação de graças.
P83. Como podemos resumir a relação entre a
Santa Missa e a igreja, local da sua celebração?
R. Assim como na Missa se reúnem as
maravilhas e as graças de Deus, assim a igreja reúne na Missa todo o objeto e
fruto da sua celebração.
P84. Que prescrição impôs o Concílio de
Trento aos sacerdotes quanto ao ensinamento da Missa aos fiéis?
R. O Concílio de Trento, com alta sabedoria,
ordenou aos sacerdotes a explicar com freqüência os mistérios da Missa e o que
nela se lê, para que os fiéis sejam instruídos na verdade dos seus mistérios e
no sentido das suas orações e cerimônias, objetivo deste Catecismo.
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missa e as preparações prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO II
Do sacrifício da Missa em geral e da sua
necessidade
P85. Que laços unem os homens a Deus?
R. Dois laços nos unem a Deus:
1 - o ser criatura de Deus;
2 - a religião.
P86. Explique o primeiro laço que nos liga
a Deus.
R. O primeiro fator que nos liga a Deus é o
de sermos criatura ¾ e isto é um fator necessário e sem nosso mérito: trata-se
da relação de causa e efeito, ou seja do Criador e de sua criatura. Neste
sentido, todo o universo está incluído e tudo canta a glória do Criador, tudo
proclama sua sabedoria, seu poder e sua bondade.
P87. Explique o segundo laço que nos liga a
Deus.
R. O segundo fator que nos liga a Deus é a
religião. Dentre todas as criaturas, o homem é a única dotada de corpo com alma
imortal, com inteligência e livre arbítrio, que pode se oferecer a Deus por
meio da oblação voluntária de seus pensamentos e da sua vontade.
P88. Que é religião?
Denominamos religião a determinação da vontade
livre do homem, iluminada pela sua inteligência, do reconhecimento dos seus
deveres de criatura para com seu Criador, de fé e de obediência às suas leis,
de adoração e amor a Ele devidos, do agradecimento a todos os benefícios
recebidos e do arrependimento pelos pecados cometidos. O homem manifesta toda
esta disposição de união com Deus através de atos íntimos ou públicos,
denominados cultos religiosos.
P89. Que é culto religioso?
R. É a expressão pública da religião
através de cerimônias instituídas e celebradas pela Igreja, instituição fundada
pelo próprio Cristo Nosso Senhor.
P90. Como o homem manifesta sua
determinação religiosa?
R. O homem manifesta sua determinação
religiosa principalmente através do sacrifício. Como o homem é composto de corpo
e alma, o sacrifício individual pode ser pode ser interior ou exterior, e
manifestado publicamente através de ação pública.
P91. Em que consiste o sacrifício
espiritual ou interior?
R. O sacrifício espiritual, ou interior,
consiste no oferecimento e imolação da própria alma a Deus, pois Deus é puro
espírito e quer ser adorado em espírito.
P92. Em que consiste o sacrifício material
ou exterior?
R. O sacrifício material, ou exterior,
consiste no oferecimento e imolação do próprio corpo a Deus, como reconhecimento
e homenagem da criatura ao Criador, demonstrando, assim, as disposições
interiores de gratidão e dependência para com a Divina Majestade.
P93. Por que é necessária a oblação, ou
oferenda, material ou externa?
R. Porque o sacrifício exterior do corpo ou
dos bens que a providência nos colocou à nossa disposição é um sinal sensível
da oblação íntima de nós mesmos. Sem esta imolação íntima ele seria um
sacrifício vazio e inútil. Assim, através do sacrifício exterior, manifestamos
a íntima união do corpo e da alma, penetrados do espírito de adoração devido ao
nosso Criador.
P94. Em que consiste a ação pública do
sacrifício?
R. É a demonstração pública dos sacrifícios
internos e externos que a sociedade presta a Deus. Como o homem vive em
sociedade é natural que esta também manifeste este sacrifício interior e
exterior dos seus membros, unidos na mesma ação pública.
P95. Qual é a finalidade desta ação
pública?
R. A finalidade da ação pública,como
manifestação de sacrifício ao Criador, é de reunir os homens nos testemunhos
que prestam a Deus, da sua servidão e do seu amor, em nome da sociedade.
P96. O que é sacrifício?
R. Sacrifício é a oblação exterior de uma
coisa sensível, feita somente a Deus por um ministro legítimo ( sacerdote), com
destruição, consumação ou mudança da mesma, como reconhecimento do soberano
domínio de Deus, e para as demais finalidades ao que o mesmo sacrifício é
oferecido.
P97. Explique esta definição.
R. Para haver sacrifício é necessário:
1 - sacerdote: celebrante legítimo, consagrado
a Deus, como intermediário entre Deus e os homens;
2 - feito a Deus : a quem se deve adoração
e toda a dependência;
3 - a oblação: ato de renúncia ao domínio
de um determinado bem relativo, que podemos normalmente usufruir;
4 - destruição, consumação, ou mudança da
matéria oferecida: como a imolação de um animal, a efusão de um licor, a
evaporação de um perfume, para:
5 - reconhecer, atestar e publicar por meio
desta renúncia exterior do domínio do uso, o domínio soberano de Deus, a quem
pertence a propriedade real.
P98. O que significa destruição ou mudança
da vítima?
R. Por destruição ou mudança da vítima
reconhecemos o direito de vida ou morte que Deus tem sobre nós, ou seja, a
morte que merecemos pelo pecado, e a obrigação de nos imolarmos e de nos
dedicarmos totalmente ao seu amor e ao seu serviço.
P99. Qual é a finalidade primordial da
oblação?
R. A finalidade primordial da oblação é o
reconhecimento da absoluta dependência da criatura ao Criador, denominada
sacrifício de adoração ou de latria.
P100. Quais as finalidades secundárias da
oblação?
R. As finalidades secundárias, embora de
grande utilidade e importância, da oblação são:
1 - agradecer a Deus pelos benefícios dele
recebidos;
2 - pedir perdão pelas nossas culpas;
3 - implorar as graças de que necessitamos.
Sob estes diversos aspectos, há o
sacrifício eucarístico, ou de ação de graças, propiciatório (aplacar a justiça
divina) e impetratório (súplica a Deus).
P101. Há outras formas de sacrifício?
R. Sim; por extensão, chamamos também de
sacrifício, as orações, as esmolas, a obediência, as boas obras, a dor pelos
pecados cometidos porque, de certa forma através delas, fazemos uma oblação a
Deus por todos estes atos de religião.
P102. Há nas Sagradas Escrituras alguma
referência a estas formas de sacrifício?
R. Sim, nas Sagradas Escrituras encontramos
inúmeras referências a estas formas de sacrifício, tais como:
1 - "Oferece ao Senhor sacrifícios de
justiça" (Sl 4, 6);
2 - "Oferece a Deus um sacrifício de
louvore paga ao Altíssimo os teus votos" (Sl, 49, 14);
3 - "Um coração despedaçado pelo
arrependimento é o sacrifício que agrada a Deus e que Ele jamais
desprezará"(Sl, 50, 19 );
4 - "É um sacrifício saudável observar
os mandamentos" (Eccl. 35, 2);
5 - "A obediência é melhor que as
vítimas dos insensatos" (Eccl. 4, 17 );
6 - "Não esqueceis a esmola e a
beneficência porque Deus se aplaca com estas hóstias" (Heb. 13, 16)
PRIMEIRA PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missa e as preparações prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO III
Os sacrifícios antigos no tempo dos Patriarcas, na Lei Mosaica, e dos povos pagãos
P103. Quais seriam os deveres religiosos do
homem no estado de inocência, antes do pecado de Adão?
R. Os deveres religiosos do homem naquele
estado seriam:
1 - Adorar a Deus como seu Senhor, soberano
e absoluto;
2 - Manifestar seu reconhecimento a Deus
como seu Criador e autor absoluto de todos os seus bens, e manter sua vida numa
perpétua ação de graças, para que Ele conserve e aumente seus benefícios, a
cada dia;
3 - Implorar a Deus graças e auxílio com
oração humilde, fervorosa e perseverante.
P104. Que afirmou Sto. Agostinho sobre os
deveres religiosos dos homens se tivessem perseverado naquele estado de
inocência?
R. Nesta hipótese, sem mancha de pecado,
Sto. Agostinho afirmou que os homens deveriam se oferecer a Deus, como vítimas
puras (Cidade de Deus, 1. I, c. 26).
P105. Que conseqüências derivaram do pecado
original sobre aqueles deveres religiosos dos homens para Deus?
R. Desde que o pecado nos despojou dos
nossos privilégios originais, tornou-se necessário acrescentar, àquelas grandes
obrigações religiosas, a obrigação de apaziguar a justiça divina, ultrajada por
nosso orgulho e nossa ingratidão, bem como de conhecer mais profundamente nossa
miséria e nossa contínua dependência dos socorros celestes, em todas as nossas
necessidades espirituais e materiais.
P106. Quais são, portanto, as finalidades
do sacrifício após a queda do homem?
R. Após o pecado original, as finalidades
do sacrifício a Deus são:
1 - adorá-lo;
2 - agradecer as graças recebidas;
3 - implorar a remissão dos pecados;
4 - implorar sua benção.
P107. Por que o homem, após a queda,
edificou templos para imolar as vítimas do sacrifício?
R. Porque, no estado de degradação e de miséria
em que se encontrou devido ao pecado original, o coração do homem não podia
mais servir de altar e vítima. Assim, incapaz de reparar o pecado, apesar da
penitência feita, foi preciso pedir à natureza um templo, ou edificá-lo
mediante ordem expressa, para sacrificar suas vítimas.
P108. Por que a vítima era imolada sobre
uma pedra?
R. Porque uma pedra fria, e sem adornos,
era menos indigna que o coração do homem, para sustentar a hóstia de
propiciação.
P109. Por que se utilizavam outros
elementos materiais nos sacrifícios?
R. Simples elementos da natureza, como o
sangue de animais, deviam substituir, exteriormente no holocausto, os
pensamentos e os afetos do homem culpável, e extrair o mérito da grande vítima
do mundo que representavam, bem como a fé dos sacrificadores, elevada à
esperança do cordeiro de Deus.
P110. Que nos diz S. Paulo sobre o
holocausto destas hóstias ineficazes pela sua própria natureza?
R. S. Paulo nos diz que tais hóstias eram
utilizadas como perpétua lembrança da impotência e da nulidade dos homens,
imposta até o tempo fixado para o grande restabelecimento, e abolido na
plenitude dos tempos, quando apareceu Jesus Cristo oferecendo-se, a si mesmo,
em sacrifício, dando ao homem o direito de unir-se a Deus, não somente com um
coração puro, como no dia da inocência, como também com um coração redimido,
que apresenta um Deus como vítima de adoração, de expiação e de ação de graças.
P111. Antes da vinda de Cristo, que era
oferecido a Deus como vítima do sacrifício a Ele devido?
R. Como conseqüência da degradação do
homem, que não podia oferecer seu coração no altar, a não ser unindo-o a rudes
e impotentes símbolos da natureza, até que viesse o cordeiro de Deus, imolado
em promessa e em figura (Apoc. 13), desde a origem do mundo, houve as seguintes
ofertas:
1 - Abel oferece o melhor cordeiro do seu
rebanho e, Caim, os frutos da terra que cultiva;
2 - Noé, ao sair da arca, oferece pássaros
e animais;
3 - Melquisedeque, sacerdote e rei de
justiça e de paz, oferece ao Senhor pão e vinho no altar de Deus dos exércitos,
para distribuí-lo aos soldados vitoriosos;
4 - Abraão e os patriarcas imolam hóstias
solenes, conforme o número de famílias e das tribos.
P112. Por que Deus mandou que Abraão
sacrificasse seu próprio filho?
R. Para mostrar, de uma vez por todas, até
onde vai o Seu direito nos sacrifícios que Ele exige das suas criaturas, e até
onde chegará um dia a misericórdia divina, o Senhor manda Abraão imolar Isaac,
seu único filho, se bem que se contente com a obediência do santo patriarca, e
aceita a imolação de um cordeiro em seu lugar.
P113. A noção da necessidade de sacrifício
a Deus era prerrogativa só dos judeus?
R. Não; mesmo os povos que se esqueceram de
Deus, da sua fé e do seu culto, para prostituir seus corações na idolatria, conservaram
sempre, e por toda parte, a oblação dos sacrifícios, como um dogma primitivo.
P114. Que diz Sto. Agostinho sobre o
sacrifício dos pagãos?
R. Sto. Agostinho diz que, se os homens
puderam se enganar sobre a unidade e natureza de Deus, não se enganaram neste
ponto da religião; se suas falsas divindades exigiam, com orgulho, uma profusão
de vítimas, era porque o demônio sabia que se devia oferecê-las ao verdadeiro
Deus; e se as imolações dos gentios foram ridículas e bárbaras, como os
sacrifícios humanos, foi porque era necessário acomodá-las às extravagâncias e
às desordens da teogonia pagã.
P115. O sacrifício físico da vida do homem
poderia aplacar a justiça divina?
R. Não, porque, como a ofensa é
proporcional ao ofendido, o homem sendo criatura, portanto contingente, jamais
poderia aplacar a ofensa feita ao seu Criador, eterno e infinito.
P116. Então, só Deus poderia aplacar sua
justiça devida ao pecado do homem?
R. Sim; através da morte de Nosso Senhor
Jesus Cristo, Homem Deus, Cordeiro de Deus, como canta a Igreja, contenta-se
Deus com a imolação moral do homem, e das suas paixões, aceitando-a com
misericórdia quando unida ao sacrifício do seu Deus.
P117. Deus exigiu explicitamente
sacrifícios do povo eleito?
R. Sim, quando o Senhor, elegendo para seu
povo os filhos de Israel, os separou das nações idólatras, para conservar sua
aliança e suas promessas, estabeleceu, nos mandamentos ditados a Moisés, a
sucessão e a perpetuidade do sacerdócio de Aarão, a forma do seu tabernáculo, o
lugar do seu templo, o número de vítimas e os ritos de cada oblação.
P118. Que ordenou Deus ao seu povo, durante
a caminhada no deserto em direção à terra prometida, após o jugo egípcio?
R. Deus ordenou que cada família imolasse e
comesse um cordeiro, observando várias cerimônias simbólicas, e que
assinalassem suas moradas com o sangue do cordeiro pascal, e renovassem esta
imolação solene de ano em ano.
P119. Até quando durou este rito?
R. Este rito vingou até a última páscoa,
quando Jesus ceou com seus discípulos, e em que instituiu o verdadeiro Cordeiro
Pascal, ou seja, seu sangue e seu corpo, cuja aplicação por nossas almas, nos
livra da escravidão do pecado, e nos faz obter o céu, verdadeira terra
prometida aos filhos de Deus.
P120. Quando começou o sacerdócio da tribo
de Levi, escolhida por Deus, para oferecer os sacrifícios?
R. Desde o sacrifício geral da nação
ordenado por Deus, em que Ele estabeleceu que se multiplicasse o número de
vítimas, devido à própria imperfeição das oblações, para atender, quanto
possível, os fins do sacrifício, e para representar os méritos super abundantes
da hóstia única que deveria, posteriormente, substituí-las.
P121. Quais eram os sacrifícios sangrentos
da lei mosaica?
R. Na lei mosaica havia os seguintes
sacrifícios sangrentos:
1 - O sacrifício de latria, ou holocausto:
nesta imolação a vítima era totalmente consumida no fogo, como reconhecimento
do absoluto domínio de Deus, prestando-lhe, assim, o culto de latria ou de
adoração e dependência;
2 - O sacrifício de impetração ou hóstias
pacíficas: esta hóstia eucarística, ou impetratória, era oferecida para
agradecer a Deus por todos os bens recebidos ou pedir-lhe graças, para a vida,
a saúde, a paz, etc.
3 - O sacrifício de propiciação pelo pecado: instituído para expiar as faltas cometidas e obter o correspondente perdão. Era oferecido por particulares, pelos sacerdotes, ou por todo o povo; e, quando oferecido por toda a nação, como sacrifício único, além de se retirar o sangue das vítimas no Santo, sobre o altar dos perfumes e dos holocaustos, faziam-no no Santo dos Santos, como figura que o sangue de Cristo se apresentaria ao céu, abrindo-nos, assim, suas portas.Cada uma destas oblações eram cheias de símbolos e de esperanças.
P122. Que era o Santo dos Santos?
R. Assim era denominado o local do Templo
dos judeus, onde se encontravam o altar de ouro para o incenso, e a arca da
aliança, toda recoberta de ouro, na qual havia uma urna de ouro que continha o
maná, o bastão de Aarão, que tinha brotado, e as tábuas da aliança. Nesse local
entrava somente o sumo sacerdote, uma vez por ano, levando o sangue que ele
oferecia por si mesmo e pelos pecados que o povo cometera por ignorância (Heb
9, 3-7).
P123. Havia sacrifícios incruentos na
Antiga Lei?
R. Sim, havia, também, os seguintes sacrifícios
incruentos na Antiga Lei:
1 - A oferenda da flor de farinha,
misturada ao azeite e incenso, queimada no altar dos holocaustos;
2 - O sacrifício do bode expiatório: na
festa da expiação solene o povo apresentava dois bodes, embora um fosse
degolado, o outro era oferecido vivo. O sacerdote impunha suas mãos na cabeça
da vítima, confessava os pecados da nação, carregava-os no animal imundo e
lançava-o no deserto.
3 - O sacrifício do pássaro posto em
liberdade: para purificar uma casa infestada pela lepra, tomavam-se dois
pássaros puros; imolava-se um num vaso cheio de água, no qual se vertia seu
sangue, e, o outro, era imerso até a cabeça na água misturada com sangue, com
um madeiro de cedro, hissopo e púrpura; após espargir a água, soltava-se o
pássaro puro, livremente.
P124. Que significavam estes sacrifícios da
lei mosaica?
R. Facilmente se compreenderá que todas
estes sacrifícios e cerimônias da lei mosaica eram figuras vivas do sacrifício
de Jesus Cristo e dos frutos que deles resultariam aos homens para sua
salvação.
P125. Que méritos havia naquelas oferendas
imperfeitas?
R. Embora imperfeitas, todo o mérito
daquelas oferendas se baseava na obediência à ordem divina que as havia
prescrito, e na fé e nas disposições interiores dos que as ofereciam, principalmente
na esperança de hóstia perfeita, que tira os pecados do mundo (Jo 1, 29).
P126. Como Deus sustentava a fé e a
esperança do sacrifício futuro do Seu Filho em tais oblações?
R. Por meio de fortes e expressivas figuras
como a do sacrifício de Isaac, de Melquisedeque, do cordeiro pascal, do bode
expiatório sobre o qual se descarregavam os pecados de todos, e da ave pura,
cujo sangue libertava a outra.
P127. Que papel tiveram os profetas na
expectativa da futura oblação?
R. Todos os profetas solenemente
anunciavam, de século em século, a grande vítima que deveria chegar, e
clamavam, sem cessar, contra a impotência das hóstias representativas.
P128. Que dizia o profeta Davi sobre os
sacerdotes do Antigo Testamento?
R. Nossos sacerdotes, dizia Davi, são
conforme a ordem de Aarão; sucedem-se e substituem-se quando a morte os
arrebata; porém virá outro pontífice que é o meu Senhor, a quem disse Deus:
"Tu és sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque" (Sl 109,
4).
P129. Que disse Davi sobre os holocaustos?
R. "Escuta Israel e entende o que diz
este celeste pontífice pela boca de um dos seus enviados: os holocaustos, ainda
que ordenados por Vós, Senhor, não lhes são agradáveis, mas Vós me destes um
corpo para Vos oferecer e eu disse: "eis que eu venho" (Sl, 39, 8).
P130. Que disse o profeta Malaquias sobre o
sacrifício prometido?
R. Disse Malaquias:
1 - "A glória do segundo templo
apagará o esplendor do templo erigido por Salomão" porque eu nele
aparecerei para começar meu sacrifício.
2 - Finalmente, eu "não receberei mais
vítimas de vossas mãos; meu nome não só será conhecido na Judéia, mas será
grande entre todos os povos da terra, porque desde o "ocaso até a aurora,
e em todo lugar se sacrifica e se oferece uma oblação pura em meu nome. Parece
que já vejo esta oblação, e os tempos em que ela será oferecida não estão
distantes (Mal 1, 10 -11).
CAPÍTULO IV
Do sacrifício da Nova Lei, instituído e
oferecido por Nosso Senhor Jesus Cristo
P131. Que significa a expressão
"plenitude dos tempos" encontrada nas Sagradas Escrituras?
R. "Plenitude dos tempos"
significa a época em que a espera e a preparação da salvação dos homens fixada
por Deus, está totalmente cumprida. Assim, depois de 4.000 anos de promessas,
de figuras e de profecias, a terra ouviu este feliz anuncio de S. João Batista:
"Eis o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo" (Jo 1, 29).
P132. Quando se iniciou o sacrifício da
nova lei?
R. Podemos dizer que o sacrifício da nova
lei começou no mesmo instante da Encarnação do Verbo em Maria, ou seja, na
Anunciação feita pelo anjo Gabriel, quando ela lhe respondeu: "Eis aqui a
serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Luc. 1, 38).
P133. Que nos ensina S. Paulo sobre inicio
do sacrifício de Cristo?
R. Segundo S. Paulo (Heb 10, 5 - 6) Jesus
Cristo ao vir ao mundo aplicou a si as palavras do Salmo 39 e disse a Deus seu
Pai: "Não quisestes hóstias nem oblações. Em vez disso, me destes um
corpo. Os holocaustos não vos agradam, mas unistes à minha natureza divina um
corpo no qual posso padecer e imolar-me à vossa santa vontade, que pede
semelhante vítima; e eu disse: Eis que venho cumprir esta grande vontade, que
não só esta escrita no livro da vossa aliança, com também desde este momento
está gravado no meio do meu coração".
P134. O nascimento de Cristo foi um
prelúdio do seu grande sacrifício?
R. Sim. No nascimento do Homem Deus, hóstia
já oferecida para a nossa salvação, ao nada a que se reduz, a privação por que
passa, as lágrimas que derrama, são prelúdios do seu sacrifício final.
P135. Que figuram o estábulo de Belém e o
presépio?
R. O estábulo de Belém figura um templo, e
o presépio, um altar; e as lágrimas deste Deus Menino já teriam sido oblação
suficiente para salvar o universo, se o que bastava para o nosso resgate teria
bastado à caridade e à misericórdia do nosso Deus.
P136. Quando o Menino Jesus recebe o nome
de Salvador, referência direta ao seu sacrifício?
R. Oito dias depois do venturoso
nascimento, o Menino Jesus recebe o nome de Salvador: começa a exercer suas
funções aos olhos dos homens, e, derramando as primeiras gotas do seu sangue,
se obriga, por estas sagradas primícias, a derramá-las abundantemente no altar
da Cruz.
P137. Que relação há entre a
"Apresentação de Jesus no Templo" e o sacrifício do Calvário?
R. O Menino Jesus é conduzido ao Templo nos
braços de Maria, em obediência à Lei; lá é colocado no altar do Deus verdadeiro
e renova a solene promessa de morrer para a salvação do mundo. Eis aqui a
oferenda do sacrifício cuja imolação irá se realizar no Calvário, e sua
participação no Cenáculo e na Missa.
P138. A vida inteira de Nosso Senhor Jesus
Cristo é considerada como oblação?
R. Sim. Toda a vida do Salvador, tanto no
período obscuro de Nazaré, como no esplendor do seu ministério, foi uma
seqüência desta oblação: os desejos do seu coração ansiavam, sem cessar, a
consagração da vítima, até que se cumprisse o batismo de dor e de sangue em que
devia ser imerso, para consumar o holocausto e abrasar as almas que se uniram
ao seu sacrifício.
P139. Como manifestou Nosso Senhor seu
desejo pela consumação do seu sacrifício?
R. Quando chegou a hora tão ansiada por Ele
para passar deste mundo à mansão de seu Pai celestial, Jesus declara aos seus
apóstolos: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes
da paixão"(Lc. 22, 15), porque aquela Páscoa devia ser a última de Israel
segundo a carne, bem como o verdadeiro cordeiro pascal seria substituído para
os verdadeiros filhos de Abraão.
P140. Por que a última Páscoa, ou última
Ceia de Nosso Senhor é marco entre a Antiga e a Nova Lei?
R. Porque na última Ceia, estando à mesa
com seus discípulos, Nosso Senhor observa totalmente o preceito legal imposto
por Moisés, quanto aos alimentos a serem consumidos naquela celebração, e, após
cumprir plenamente ao estabelecido pela Antiga Aliança, institui o excelso
sacrifício da Nova Aliança, ou da Nova Lei.
P141. Que fez Nosso Senhor, porém, na
última Páscoa, pouco antes da instituição do Novo Sacrifício?
R. Nosso Senhor, cingindo-se com uma toalha
derramou água numa bacia, e lavou os pés dos seus discípulos, enxugando-os com
a toalha com que estava cingido. Esta cerimônia ficou para sempre conhecida
como "Lava-pés".
P142. Que significado tem a cerimônia do
Lava-pés, antes da instituição do Novo Sacrifício?
R. O Lava-pés é a preparação próxima e
pública do sacrifício que estava preste a ser instituído, e as palavras
empregadas por Nosso Senhor, cheias de afeto e força, são a instrução que o
precede.
P143. Que fez Jesus após o Lava-pés?
R. Após o Lava-pés, Nosso Senhor tomou em
suas santas e veneráveis mãos o pão e o vinho:eis aqui a oferenda.
P144. Como Nosso Senhor instituiu o
sacrifício da Nova Lei?
R. Segurando o pão e o vinho abençoou-os,
deu graças ao seu Pai Celeste e, com suas bênçãos eucarísticas, ouvem-se estas
palavras pronunciadas pelos lábios de quem criou o céu e a terra: ISTO É O MEU
CORPO, meu corpo dado, entregue e morto por vós; ISTO É O MEU SANGUE, o sangue
da Nova Aliança, derramado para a remissão dos pecados. TOMAI E COMEI; TOMAI E
BEBEI. Eis as palavras da consagração!
P145. Que fez Nosso Senhor em seguida?
R. Nosso Senhor partiu o pão da vida eterna
e o distribui; apresentou o cálice da salvação e o deu de beber aos seus
discípulos. Eis a COMUNHÃO no SACRIFÍCIO.
P146. Que disse Nosso Senhor após aquelas
sagradas palavras?
R. Nosso Senhor disse: FAZEI ISTO EM
MEMÓRIA DE MIM (Lc. 22, 19).
P147. Que afirmou Cristo com tais palavras?
R. Ao pronunciar Fazei isto em memória de
mim, Nosso Senhor transmitiu seu próprio poder aos apóstolos e sucessores,
instituindo e estabelecendo a ordem do novo sacerdócio.
P148. Em suma, que cerimônias Cristo
estabeleceu na última Ceia?
R. Na Última Ceia, Nosso Senhor estabeleceu
a s cerimônias da Nova Aliança, ou Nova Lei, também denominada Santa Missa, ou
seja:
1 - Com o Lava-pés,a preparação para a
consagração;
2 - Com a benção do pão e do vinho, a
própria consagração da oferenda;
3 - Com a distribuição do pão da vida e do
sangue da salvação, a comunhão.
P149. Que Sacramentos Cristo instituiu na
última Ceia?
R. Na última Ceia Nosso Senhor instituiu
dois sacramentos:
1 - a Eucaristia; e
2 - a Ordem.
P150. Por que a Eucaristia precedeu a
imolação de Cristo na Cruz?
R. A Eucaristia, sob as espécies de pão e
de vinho, precedeu a imolação de Cristo na Cruz para sustentar a fé dos
discípulos.
P151. Qual a relação entre o sacrifício da
Missa e o do Calvário?
R. Assim como a Eucaristia precedeu a imolação
de Cristo na Cruz, assim o sacrifício da Missa devia seguir e perpetuar a
imolação do Calvário, como sinal de que o sacrifício de Cristo foi, e sempre
será, o único sacrifício propiciatório, instituído no Cenáculo, consumado no
Calvário e perpetuado nos nossos altares.
P152. Que nos revela a oblação da Cruz?
R. Na oblação da Cruz, tudo nos é sensível
e patente: a escolha da vítima, sua oferta a Deus pelas mãos do sacerdote
eterno e sua imolação sangrenta.
P153. Que encontramos, ainda, na oblação da
Cruz?
R. Esta oblação encerra, ainda, o
holocausto de adoração, a hóstia dos pacíficos e a expiação dos pecados.
P154. Podemos também ver a realização das
figuras dos antigos holocaustos?
R. Sim, neste holocausto vemos a verdade
das figuras antigas, como a do pássaro ou ave pura sacrificada para libertar a
outra ave com seu sangue; a do bode expiatóriolançado fora de Jerusalém, com as
prevaricações de todo o povo; o sangue da hóstia levada ao céu, verdadeiro
Santo dos Santos, não feito pelas mãos dos homens; e, no lugar das vítimas
prescritas pela lei, que somente figuravam a salvação sem nunca poder nos dar,
temos na Cruz a única oblação de um Deus que, numa única hóstia, estabelece
para sempre a santificação dos homens (Heb 10, 14), pelo precioso manancial que
dela emanaaté a consumação dos séculos.
P155. Que conclui S. Paulo sobre este
sacrifício da Cruz?
R. S. Paulo conclui não ser mais necessário
que Jesus Cristo reitere seu sacrifício sangrento para a remissão dos pecados,
como se reiteravam os sacrifícios da lei mosaica, bastando somente que os atos
repetidos desta oblação, perpetuada na Missa, apliquem seu valor e seus méritos
a cada fiel em particular.
P156. Que nos ensina, sobre isto, o
Concílio de Trento?
R. Baseado na doutrina de S. Paulo, o Concílio
de Trento claramente nos ensina: "Ainda que bastasse Nosso Senhor se
oferecer uma só vez ao seu Pai, unindo-se no altar da Cruz para realizar a
redenção eterna, Ele quis deixar à sua Igreja um sacrifício visível, tal como
requer a natureza dos homens, pelo qual se aplicasse, de geração em geração,
para a remissão dos pecados, a virtude deste sangrento sacrifício, que devia
cumprir-se somente uma vez na Cruz; na última ceia, na mesma noite em que foi
entregue, declarando-se sacerdote eterno, conforme a ordem de Melquisedeque,
Ele ofereceu, a Deus Pai, seu corpo e seu sangue, sob as espécies de pão e de
vinho, os deu aos seus apóstolos, a quem os tornou, então, sacerdotes do Novo
Testamento, com estas palavras: Fazei isto em memória de mim, investindo-os,
assim, e aos seus sucessores, no sacerdócio, para que oferecessem a mesma
hóstia" (Sessão XXII, I).
P157. Portanto, porque se instituiu o
sacrifício da Missa?
R. O sacrifício da Missa foi instituído,
portanto, para nos aplicar o preço do sangue derramado na Cruz, para tornar a
oblação única de Jesus Cristo, eficaz e proveitosa para cada um de nós, e para
nos comunicar, pela sua própria virtude, o mérito geral e superabundante da fé
e da penitência que conduzem aos sacramentos, nos quais aperfeiçoamos a justificação
que a graça do altar começou.
CAPÍTULO V
Da
celebração da Missa: da sua instituição aos nossos dias
P158. Quando foi celebrada a primeira
Missa?
R. Ainda que o Filho de Deus seja sacerdote
eterno, por decisão que se impôs como vítima dos homens, tornando-se para
sempre pontífice da Nova e Eterna Aliança; ainda que, de fato, tenha começado o
sacrifício com o primeiro batimento do seu coração, no instante da Encarnação,
para cumprir-se na Ceia e no Calvário e receber sua perfeição nos mistérios da
ressurreição e ascensão e na efusão do Espírito Santo, pode-se e deve-se crer
que a primeira Missa foi celebrada no Cenáculo, à véspera da morte do Salvador.
P159. Que nos diz a Igreja sobre isto, no
prefácio da Missa de Quinta-feira Santa?
R. A Igreja nos diz: "Jesus Cristo,
verdadeiro e eterno pontífice, único sacerdote puro e sem mancha, ao
estabelecer na última ceia, com seus discípulos, seu sacrifício verdadeiro e
permanente, se ofereceu primeiro como vítima, ensinando aos seus apóstolos o
modo de oferecê-lo". Eis a idéia que se pode formar desta primeira Missa.
P160. Que paralelo podemos estabelecer
entre o Cenáculo e a Santa Missa?
R. Podemos estabelecer o seguinte paralelo:
Cenáculo Santa
Missa
1 - Jesus dirige-se ao Cenáculo:
acompanhado dos seus discípulos, chega ao Cenáculo, onde estava preparada a
mesa do sacrifício e da comunhão; 1 - O
sacerdote dirige-se ao altar: precedido dos seus ministros, onde tudo está
disposto para o sacrifício da Santa Missa;
2 - Jesus deixa a mesa depois da ceia
prescrita pela lei, humilha -se, ao lavar os pés dos apóstolos, e os manda que
se os lavem mutuamente, voltando, depois, a ocupar o seu lugar à mesa; 2 - O sacerdote desce ao pé do altar: mesmo
purificado de faltas graves, para lavar-se e purificar-se das faltas mais
leves, o sacerdote faz a confissão mútua com os assistentes, subindo, depois,
ao altar;
3 - Jesus senta-se à mesa eucarística:
instrui seus apóstolos, e lhes dá o resumo da sua doutrina, dizendo: "Eu
vos dei o exemplo para que façais como eu fiz" (Jo, 13...) 3 - O sacerdote faz no altar a instrução
pública e preparatória, com o objetivo de explanar estes dizeres profundos de S.
Justino ( Apol. 2 ...): "Só pode participar da eucaristia aquele que crê
que nossa doutrina é verdadeira, que recebeu a remissão dos pecados e que vive
como Jesus ensina".
4 - Jesus toma o pão e o vinho num cálice,
e os abençoa; 4 - O sacerdote toma o
pão e o vinho num cálice: eis a oblação, as orações e bênçãos que a acompanham;
5 - Jesus deu graças, elevando os olhos aos
céus: embora os evangelistas não registrem as palavras de que Jesus se serviu
nesta ação de graças, sabemos, pela tradição, que Ele enumerou os benefícios da
criação, da providência e da redenção, que iriam se concentrar nesta vítima
adorável; depois, o Senhor partiu o pão e o deu aos seus discípulos, dizendo:
"isto é o meu corpo"; em seguido os deu também o cálice, dizendo: "isto
é o meu sangue".
Eis a fórmula da consagração: "Tomai e
comei, tomai e bebei"; esta é a Comunhão do Cenáculo. 5 - O sacerdote emprega as mesmas palavras e
gestos no Cânon da Missa, repetindo a fórmula da Consagração.:"Tomai e
comei, tomai e bebei". Esta é a comunhão na Missa.
6 - Jesus pronuncia um hino de
reconhecimento. 6 - O sacerdote termina
o sacrifício com a ação de graças.
P161. Que fizeram Jesus e os apóstolos após
a Ceia?
R. Os apóstolos saíram do Cenáculo com seu
Mestre, e se dirigiram ao Horto das Oliveiras, para serem testemunhas da
renovação e da consumação do grande sacrifício da Cruz, da mesma forma que o
sacerdote se dirige ao santuário, subindo ao altar.
P162. Que paralelo podemos estabelecer
entre a paixão, morte e ressurreição de Cristo e a Santa Missa?
R. Podemos estabelecer o seguinte paralelo:
Cenas da Paixão, morte e ressurreição de
Nosso Senhor Jesus Cristo Cenas da Missa
1 - Jesus ora no Horto, com o rosto
prostrado na terra; 1 - O sacerdote,
ao pé do altar, recita o Confiteor, em humilde postura;
2 - Jesus, amarrado, sobe a Jerusalém; 2 - O sacerdote, cingido com todos os
paramentos, sobe ao altar;
3 - Jesus foi, de tribunal em tribunal,
instruindo o povo, seus acusadores e seus juizes; 3 - O sacerdote vai de um ao outro lado do altar, para multiplicar
e difundir a instrução preparatória;
4 - Jesus Cristo, assim que sentenciado e
despojado de suas roupas, oferece seu corpo à flagelação, prelúdio da sua
execução e morte; 4 - O sacerdote
descobre as oblações, retirando o véu que cobre o cálice e a hóstia, ainda não
consagrados, e faz a oferenda do pão e do vinho, que vão ser consagrados, e
cuja substância vai ser consumida;
5 - Jesus é pregado na cruz; 5 - Da mesma forma como Ele se fixa no
altar com as palavras da Consagração;
6 - Jesus é suspenso na Cruz, entre o céu e
a terra; 6 - Como no momento da
Elevação, na Missa;
7 - Jesus expira na cruz; 7 - O sacerdote parte a Hóstia, indicando,
sensivelmente, esta morte;
8 - Jesus é colocado no sepulcro; 8 - Na Comunhão, Jesus é colocado no coração
do sacrificador e dos cristãos;
9 - Jesus ressuscita glorioso; 9 - A ressurreição é significada pelo
lançamento de um fragmento da hóstia consagrada ( o corpo de Cristo) no cálice
que contém o sangue de Cristo, na hora em que o sacerdote diz a oração “Pax
Domini sit semper vobiscum”, fazendo cinco cruzes sobre o cálice e fora dele. O
sacerdote pede o efeito desta vida nova através das orações após a Comunhão;
10 - Jesus sobe aos céus, abençoando sua Igreja;
10 - O sacerdote se despede dos
fiéis e os abençoa;
11 - Jesus envia seu espírito ao coração
dos discípulos; 11 - No final da missa, é
lido o início do Evangelho de S. João, que nos exorta a tornar-nos filhos de
Deus (Jo, 1, ...), dirigidos e movidos pelo seu espírito, conforme estas
palavras do apóstolo S. Paulo: "aqueles que são conduzidos pelo Espírito
de Deus, são filhos de Deus" ( Rom 8, 14).
P163. Podemos considerar a Ceia e a Paixão
de Cristo como as duas primeiras Missas?
R. Sim. Podemos considerá-las como as duas
primeiras Missas, celebradas pelo Salvador, cuja oblação Ele renovou com seus
discípulos durante os 40 dias que precederam sua ascensão aos céus, como
deduzimos da história dos discípulos de Emaús e das divinas aparições em que o
Senhor era reconhecido pela fração do pão (Lc 24, 30).
P164. Que relação há entre a Missa atual e
as palavras de Cristo após a última Ceia?
R. Nosso Senhor instituiu, após a última
Ceia, a parte essencial das orações e cerimônias da Missa atual.
P165. Quem estabeleceu as orações e as
cerimônias das outras partes?
R. As orações e cerimônias das outras
partes foram estabelecidas pelos apóstolos, pela Tradição, e pela Igreja, que
acrescentaram o conveniente à dignidade do sacrifício, em nada alterando o
substancial da Instituição Divina.
P166. Como podemos ter certeza disto?
R. Porque notamos, tanto nas orações como
nas cerimônias introduzidas, transcrições de circunstâncias ocorridas no
Cenáculo e no Calvário, observando-se cuidadosamente o que as felizes
testemunhas destas cenas viram e conservaram, através da tradição.
P167. A Igreja utilizou a tradição somente
para o sacrifício da Missa?
R. Não. Também em relação às cerimônias e
orações dos sacramentos, a Igreja faz como fizeram os apóstolos, acrescentando
orações costumeiras. No batismo, por exemplo, Nosso Senhor simplesmente mandou
que se batizasse com água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; as
orações acessórias, que expressam seus efeitos e as obrigações que dele
derivam, nos vêm da tradição e da piedade de todos os séculos.
P168. Quando os apóstolos começaram a
celebrar os santos mistérios?
R. Os apóstolos começaram a celebrar os
santos mistérios depois da ascensão de Nosso Senhor, como constatamos em muitas
passagens dos Atos, escritos por S. Lucas, como, por exemplo:
1 - Os cristãos perseveravam na doutrina
dos apóstolos, na comunhão da fração do pão e na oração (At 2, 42) enquanto
faziam o serviço público do Senhor (At 13, 2);
2 - No primeiro dia depois do sábado (que
corresponde ao Domingo), nome já dado por S. João (Apoc. 1, 10), estando
reunidos, diz S. Paulo, para partir o pão (At. 20,7)...
P169. Destas afirmações, que idéia podemos
formar da Missa e da liturgia dos tempos apostólicos?
R. Podemos deduzir:
1 - No primeiro dia da semana, em especial,
e o mais freqüente possível, os fiéis se reuniam, sob a direção dos apóstolos,
ou de pastores que eles haviam eleitos, na casa de algum cristão, ou em lugares
bem ocultos, devido à perseguição dos judeus e dos gentios;
2 - Iniciava-se a oblação com a leitura dos
profetas, das epístolas dos apóstolos, das cartas que dirigiam às igrejas, ou
mesmo das cartas que estas mutuamente trocavam;
3 - É muito provável que, quando se
escreveu o Evangelho, este passou a ser lido nas reuniões cristãs,
principalmente para prevenir os fiéis contra a grande quantidade de Evangelhos
apócrifos, que muitos se apressavam em escrever, para confundir a doutrina que
Cristo nos deixara com seus apóstolos.
Estas leituras eram explicadas, conforme se
lê em S. João, que, sendo conduzido a Éfeso em avançada idade, e não podendo
mais discursar, limitou-se a esta curta exortação, digna do discípulo mais
amado: "Meus filhos, amai-vos uns aos outros".
4 - Em seguida benzia- se o pão e o vinho;
esta oferenda era seguida de orações e de súplicas, por todos os homens, pelas
necessidades públicas e particulares, e de ações de graças.
5 - No momento mais solene destas ações de
graças, se consagravam o pão e o vinho, com as mesmas palavras usadas por Nosso
Senhor.
6 - Seguia-se a oração dominical e o ósculo
da paz, que todos trocavam mutuamente, partindo-se os dons sagrados para
comunhão, depois da qual, sob juramento, se obrigavam a evitar todo o crime, a
fugir de todo o pecado, e a morrer com Jesus Cristo e pela fé de Jesus Cristo.
Finalmente, os fiéis eram despedidos com a saudação da paz de Deus e da graça
de Nosso Senhor.
P170. Que outras testemunhas temos da
oblação da Eucaristia nos primeiros séculos?
R. Temos diversas, tais como:
1 - S. Inácio, terceiro bispo de Antioquía,
sucessor de S. Pedro e de Evódio, nesta cátedra, contemporâneo dos apóstolos, e
que declarou ter visto Nosso Senhor ressuscitado, nos apresenta alguns detalhes
sobre a oblação da Eucaristia, na sua primeira carta aos cristãos de Esmirna.
2 - Nos meados do segundo século, e pouco
depois da morte do último apóstolo, S. Justino, célebre filósofo pagão que se
convertera aos trinta anos de idade, tornando-se sacerdote e mártir,
contemporâneo de Simeão (que havia ouvido Nosso Senhor), de S. Inácio, de
Clemente, companheiro de S. Paulo na pregação, de Potino e de Irineu,
discípulos de Policarpo, dirigiu uma apologia a Antônio , o Piedoso, para
justificar as reuniões cristãs. É um antigo e precioso monumento da tradição
dos primeiros séculos.
P171. Que nos diz, este precioso documento
de S. Justino?
R. S. Justino, na sua famosa Apologia 2,
escreve:
"No chamado dia do Sol (primeiro dia
da semana, que corresponde ao nosso Domingo; o segundo dia era o dia da Lua,
dies lunae, etc) todos os fiéis das vilas e do campo se reúnem num mesmo lugar:
em todas as oblações que fazemos, bendizemos e louvamos o Criador de todas as
coisas, por Jesus Cristo, seu Filho, e pelo Espírito Santo".
"Lêem-se os escritos dos profetas e os
comentários dos apóstolos. Concluídas as leituras, o sacerdote faz um discurso
em que instrui e exorta o povo a imitar tão belos exemplos".
"Em seguida, nos erguemos, recitamos
várias orações, e oferecemos pão, vinho e água".
"O sacerdote pronuncia claramente
várias orações e ações de graças, que são acompanhadas pelo povo, com a
aclamação Amem!".
"Distribui-se os dons oferecidos,
comunga-se desta oferenda, sobre a qual pronunciara-se a ação de graças, e os
diáconos levam esta comunhão aos ausentes".
"Os que possuem bens e riquezas, dão
uma esmola, conforme sua vontade, que é coletada e levada ao sacerdote que, com
ela, socorre órfãos, viúvas, prisioneiros e forasteiros, pois ele é o
encarregado de aliviar todas as necessidades".
"Celebramos nossas reuniões no dia do
Sol, porque ele é o primeiro dia da criação em que Deus separou a luz das
trevas, e em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos".
P172. Que notamos neste documento que conta
18 séculos de existência?
R. Nesta descrição do Santo Sacrifício da
Missa, feita por S. Justino em meados do século II, notamos claramente os
principais traços do serviço divino, tal como se conserva nos nossos dias, e
como é praticado em todas as igrejas.
P173. Por que a liturgia da Missa
resplandece hoje com tanto brilho?
R. Porque, se acrescentarmos àquela
descrição de S. Justino, em si já tão luminosa contendo o corpo principal da
Missa, os brilhantes escritos de Sto. Irineu, dos Clementes, dos Tertulianos,
dos Cirilos, dos Ciprianos e Agostinhos, só com acréscimos acidentais, teremos
a resplandecente liturgia da Santa Missa de hoje, sempre enriquecida, mas nunca
alterada, através dos séculos, renovando sempre, e em todas as partes do mundo,
na mesma forma e na mesma língua, o mesmo sacrifício propiciatório do Calvário.
P174. Por que até a fase da paz, concedida
por Constantino à Igreja, havia poucas orações e cerimônias no sacrifício da
Missa?
R. Porque assim exigia o perigo vivido
pelos cristãos naqueles tempos. Porém, tanto as orações como as cerimônias
estabelecidas, deviam ser observadas religiosamente e com muito mais cuidado,
visto serem tradições orais referentes a uma prática rigorosa e solene.
P175. Quando foram introduzidas outras
orações e a majestade do culto?
R. Quando foi possível erigir grandes
basílicas e oficiar publicamente, com grande afluência do povo.
P176. Quando surgiram as primeiras redações
litúrgicas?
R. No final do século IV, e início do
século V, redigiu-se o corpo das tradições litúrgicas existentes.
P177. Quais foram as primeiras redações
litúrgicas referidas ao santo sacrifício da Missa?
R. As primeiras redações litúrgicas
relativas ao santo sacrifício da Missa foram:
1 – Liturgia de Jerusalém: também
denominada de S. Tiago, visto esta igreja ter recebido e conservado a liturgia
daquele seu primeiro bispo.
2 – Liturgia de Alexandria: conhecida
também como de S. Marcos, cuja tradição fora deixada por este santo bispo
àquela cidade.
3 – Constituições apostólicas: atribuídas
ao Papa S. Clemente I, se bem que os autores destas diferentes obras compostas
no século V, foram testemunhas e redatores dos veneráveis usos das igrejas mais
antigas.
4 - Liturgia de S. Basílio, no Oriente,
conhecida sob o nome de S. João Crisóstomo, e ainda hoje utilizada pelos
orientais.
P178. Quem ordenou a liturgia no Ocidente?
R. A liturgia no Ocidente foi ordenada por
Sto. Ambrósio e por outros escritores.
P179. A liturgia de Sto. Ambrósio foi
totalmente seguida?
R. Essencialmente, sim. Porém, entre os
latinos, houve muita variedade tanto nas orações acessórias como nas cerimônias
não essenciais.
P180. Quem unificou as orações acessórias e
as cerimônias não essenciais?
R. Foi S. Gregório, no século VI, através
do famoso Sacramental que leva seu nome.
P181. Que estabeleceu o Sacramental de S.
Gregório?
R. O Sacramental de S. Gregório
estabeleceu: intróitos, o Kyrie eleison, o Gloria in excelsis, as coletas, o
tema da epístola e do Evangelho, as orações para as oblações, o prefácio comum
e o cânon até o Agnus Dei, exatamente como o recitamos hoje.
P182. O Sacramental de S. Gregório permitia
ainda alguma variedade nas orações acessórias?
R. Sim. Como cada província tinha santos bispos
que acrescentavam algo ao acessório do sacrifício, por muito tempo se respeitou
esta variedade, pela antigüidade das orações e pela santidade dos seus autores.
P183. Que resultou desta variedade
acessória ao sacrifício?
R. Como conseqüência daquela variedade,
surgiram os diferentes missais e sacramentais da Igreja romana e das Igrejas
particulares do Ocidente. Porém, o essencial do sacrifício para a oblação, a
consagração e comunhão, era rigoroso e invariável em todo o mundo cristão, e a
regra secundária da liturgia manteve sua variedade até o século XIII.
P184. Que houve nesse século?
R. No século XIII foi fixado o Ordinário da
Missa, tal qual permanece em nossos dias.
P185. O Ordinário da Missa manteve algumas
variantes secundárias?
P. Sim. O Ordinário da Missa do século XIII
manteve algumas variantes secundárias adotadas pelas diferentes dioceses, como,
por exemplo, a antífona e o salmo do intróito, no rito romano, não é o mesmo
empregado nas outras Igrejas. Porém, esta diferença, tolerada pela autoridade
eclesiástica, não prejudicou em nada a unidade essencial da liturgia.
P186. Houve, naquele período, alguma
assimilação de orações e cerimônias secundárias entre os diversos ritos?
R. Sim; em especial no que de edificante
tinham. Roma, por exemplo, depois de haver extinguido o rito galicano e o rito
gótico, da Espanha, não duvidou em deles tomar algumas orações e cerimônias
secundárias e inseri-las no Ordinário da Missa.
P187. Naquele tempo, todo o povo dispunha
do Ordinário da Missa?
R. Do século XIII ao século XV, o Ordinário
da Missa permaneceu em poder do clero. A invenção da imprensa, porém, permitiu
maior difusão entre os fiéis.
P188. Além da invenção da imprensa, que
outro acontecimento colaborou para maior difusão do Ordinário da Missa entre os
fiéis?
R. Foi a Reforma Protestante. A Igreja deu
aos seus ritos a mais augusta publicidade, para auxiliar aos leigos a examinar
as orações da Missa, visando combater as heresias de Lutero e de Calvino, que
negavam, em especial, o caráter propiciatório do divino sacrifício. Ou seja,
Lutero e Calvino afirmavam que a Missa era somente a representação da última
Ceia, uma cerimônia só de agradecimento e louvor ao Senhor, negando seu caráter
fundamental de renovação incruenta do sacrifício do Calvário, estabelecido por
Nosso Senhor Jesus Cristo e sempre ensinado e defendido pela sua Igreja.
P189. Houve determinação oficial da Igreja
para maior divulgação dos textos da Missa?
R. Sim. Os Concílios de Magúncia e de
Colônia, em 1547, determinaram que as orações do Ordinário da Missa fossem
explicadas ao povo, mostrando sua unidade em relação às suas finalidades, ou
seja, de adorar a Deus, de agradecer-Lhe pelos benefícios recebidos
(impetração), e pedir-Lhe o perdão pelos pecados cometidos (propiciação).
P190. Que outra determinação oficial houve
para isso?
P. O Concílio de Trento (1570) determinou
aos párocos que, nos domingos e dias santos, explicassem aos fiéis as orações
da Santa Missa e as fórmulas sacramentais, para instrui-los, não só na verdade
dos seus mistérios, mas também no significado das suas orações e cerimônias.
P200. O sacrifício da Missa recitado em
nossos dias é o mesmo sacrifício estabelecido por Jesus Cristo?
R. Sim é o mesmo sacrifício de Jesus Cristo
que recebemos dos apóstolos, dos santos doutores e dos nossos pais na Fé, os
Padres Apostólicos.
P201. Não houve alterações essenciais entre
o estabelecido por Cristo e o que é recitado hoje na Santa Missa?
R. Não. Essencialmente, Cristo tomou o pão
e o vinho, nós tomamos a mesma matéria de oblação; Cristo a abençoou, o
sacerdote a abençoa; Cristo deu graças, nós as damos; Cristo as consagrou pelas
palavras onipotentes relatadas no Evangelho, o padre repete as mesmas palavras
por sua ordem, a Ele unido, in persona Christi, e em Sua memória.
P202. As orações acessórias da Missa,
introduzidas pelos apóstolos e pela Igreja, não alteraram a ação de Cristo?
R. Não. As orações acessórias, introduzidas
no decorrer dos tempos, em nada alteraram a ação de Cristo porque, em relação a
esta, tais orações somente estabeleceram:
1 - a preparação pública ao santo
sacrifício, com a introdução de salmos e do Kyrie (Senhor, tende piedade);
2 - a entoação, no altar, do hino da
redenção (Gloria), cantado pelos anjos no nascimento de Jesus Cristo;
3 - o preceder e a seqüência das leituras,
com orações e reflexões;
4 - o hino cantado pelos serafins
(Sanctus), para que ressoe no momento em que a vítima vai abrir os céus;
5 - o invocar por três vezes o Agnus Deis
(Cordeiro de Deus), com sua misericórdia e paz;
6 - os sinais exteriores de humildade, de
esperança, de respeito e de amor.
Trata-se, portanto, do mesmo sacrifício de
Jesus Cristo, acompanhado de orações e ritos para expressar a piedade diante de
tão excelsa maravilha.
P203. Que outros fatores concretos nos certificam
daquela verdade?
R. Bastaria lembrar que a Igreja recolheu
as orações e cerimônias acessórias da missa:
1 - das lembranças apostólicas e da mais
remota tradição do tempo e dos usos estabelecidos por S. João, testemunha da
dupla imolação, a da Ceia e a da Cruz;
2 - das regras e disposições de S. Paulo,
instruído neste mistério pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor;
3 - das meditações de Sto. Agostinho, da
unção de Sto. Ambrósio, de S. Basílio e de S. Gregório;
4 - da piedade e sabedoria dos seus santos
pontífices e doutores, manifestadas no decorrer de 13 séculos.
A Igreja as reuniu no mais feliz e santo
modelo para regrar definitivamente sua liturgia, cujas palavras são a aplicação
maravilhosa da Sagrada Escritura, nos infundindo admiração e respeito profundos.
P204. Por que, além das orações e
cerimônias acessórias, a Igreja também regulamentou os templos, os altares, os
adornos, os trajes e as atitudes do sacrificador?
R. Porque a Missa representa perfeitamente
aquela rainha que está de pé, à direita do trono de Deus, com manto de ouro de
Ofir, realçada pela variedade das mais ricas cores, como diz o Salmo 44. Assim,
como a Igreja não deveria regrar, para o sacrifício, também seus templos, seus
altares e seus adornos, bem como, as vestes e os movimentos do corpo, dos olhos
e das mãos do seu sacrificador?
P205. Que preocupação teve a Igreja quanto
à língua em que os santos mistérios deveriam ser celebrados?
R. Embora a Igreja jamais tivesse afirmado
que o serviço divino fosse celebrado em língua ininteligível ao povo, tão pouco
ela julgou conveniente o emprego de língua vulgar, para não submeter a Missa às
vicissitudes deste.
Assim, na celebração da santa Missa, onde
estão consignados a maior parte dos nossos dogmas, a Igreja se preocupou com o
uso de língua vulgar e, genericamente, nunca a recomendou, -- até, no
Concíliode Trento, a proibiu -- para evitar o grave inconveniente do surgimento
de erros doutrinários, que poderiam advir das variações de sentido, comuns na
linguagem viva.
P206. Inicialmente, que línguas foram
empregadas na celebração da santa liturgia?
R. Nos tempos apostólicos foi utilizado o
siríaco, idioma de Jerusalém de então, como o grego e o latim, muito divulgadas
naquela época, as quais foram conservados como língua litúrgica, mesmo quando
deixaram de ser utilizadas vulgarmente. Assim como no quirógrafo da Cruz estava
escrita a sentença de morte de Cristo em latim , grego e hebraico -- Jesus
Nazareno Rei dos Judeus -- assim, na Missa, que renova o sacrifício do
Calvário, a Igreja usa palavras em latim, grego e hebraico.
P207. A Igreja do Oriente e do Ocidente
utilizaram a mesma língua na celebração da santa liturgia?
R. Não. A Igreja do Oriente utiliza, até
hoje, tanto o grego antigo como o moderno, enquanto a Igreja do Ocidente adotou
o latim, que era a língua mais usual e mais universal.
P208. Que outros inconvenientes traria o
uso da língua vulgar na celebração dos mistérios litúrgicos?
R. Além dos já apontados, quem não
compreende que seria necessário multiplicar a publicação dos livros sagrados,
não só para cada povo, mas para cada idioma de cada nação, e em todos os
dialetos de cada língua; que seria necessário substituir as palavras conforme
elas tomassem outro sentido ou se tornassem ridículas e inconvenientes; que a
expressão da doutrina se alteraria infalivelmente em todas estas correções (lex
orandi, lex credendi); que os fiéis que se deslocassem de uma província, ou de
um país para outro, não entenderiam, absolutamente, nada; que poderiam ser
introduzidos costumes e atitudes locais, quebrando a universalidade de
expressão do sacrifício; e que, si se utilizassem línguas modernas, sem
submetê-las às suas alterações e aos perigos delas provenientes, com o tempo
voltaria a surgir a dificuldade que se pretendia solucionar, pois a própria
língua pátria chegaria a ser ininteligível, como acontece, por exemplo, com o
castelhano antigo ? Em suma, o uso do latim na Liturgia favorece a unidade da
Igreja. O uso do vernáculo na Missa, além dos inconvenientes já apontados, de
certo modo, faria da Liturgia da Igreja, uma torre de Babel.
P209. Por que a Igreja conserva o uso do
latim em seus ofícios litúrgicos?
R. A Igreja conserva em seus ofícios, e com
suma prudência, sua antiga linguagem para manter e preservar, não só a unidade
e a universalidade do santo sacrifício em si, mas também a doutrina nele
contida e por ele ensinada, que é uma, invariável e eterna, como o próprio Deus
que a instituiu. Os fiéis, que facilmente dispõem de traduções, e que recebem
explicações em língua vulgar, com o constante e contínuo acompanhamento da
liturgia em latim, irão se familiarizar com os textos sagrados e o entenderão
perfeitamente. Ademais, o culto divino, em língua vulgar, perderia algo de sua
misteriosa dignidade, por cuja única razão não seria, de forma alguma,
conveniente que a Missa fosse celebrada em língua vulgar.
CAPÍTULO VI
Dos
diferentes nomes e da divisão da Missa
P210. Quem institui o santo sacrifício da
Missa?
R. O santo sacrifício da Missa foi
instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, como vimos.
P211. Ao instituir este santo sacrifício,
deu-lhe, Jesus, um nome específico?
R. Não. Ao instituir o santo sacrifício,
Nosso Senhor não o designou com nenhum nome específico, pois somente disse aos
apóstolos: «Fazei isto em minha memória».
P212. Como este santo sacrifício era
denominado no início da era cristã?
R. Segundo a tradição, o santo sacrifício
era designado com diversos nomes, tais como: sinaxe, ou assembléia; colecta, ou
reunião; sacrifício, oblação, súplica, e eucaristia, ou seja, ação de graças,
porque nela se realiza a solene ação de graças que Jesus Cristo presta a Deus
Pai, bem como nela se expressam todos os benefícios que lhe são inerentes e
todas as graças dela provenientes.
Também foi conhecido por expressões, como:
ofícios dos divinos sacramentos, os santos, os veneráveis, os terríveis
mistérios.
[Vide: Dionísio Aeropagita – (pseudo
Dionísio) - De Hier, eccl. c. 5. Anastácio, Sin. De Sinaxe. Hilário, In Psalms
65. Tertuliano, libro 1 De Anima. S. Cypriano e Eusébio, Dem. Evang., lib.1.
Conc. Laod. Can 19 e 58].
P213. Que nomes surgiram posteriormente?
R. No século VI, o santo sacrifício era
denominado no plural, Missas e Missarum solemnia. Porém, há mais de 1500 anos,
a Igreja grega o chama de liturgia, ou serviço público, e a Igreja latina de
Missa.
P214. Que significa Missa?
R. Missa ou Missio significa despedida.
Naquela divina ação, após a leitura do Evangelho despedia-se dos catecúmenos,
ou seja, dos que ainda não tinham recebido o sacramento do Batismo, e dos
penitentes, que haviam perdido a graça publicamente.
P215. Por que no século VI denominavam-no
Missas, no plural?
R. Porque, naquela época, havia duas
despedidas: a dos catecúmenos, antes da oblação, e a dos fiéis, depois da
consumação do sacrifício, conforme claramente indicado por Sto. Agostinho e
Sto. Isidoro de Sevilha (Sto. Agostinho, Sermonis 49 a 237; e Sto. Isidoro,
Orig. 1.6, c. 19).
P216. Como eram ditas as despedidas
(Missas) naquela época?
R. Após a leitura do Evangelho, o diácono
dizia em alta voz: Ide, as coisas santas são para os santos; e depois da
comunhão: Ide, a hóstia acaba de ser elevada deste altar ao trono da
misericórdia, acompanhada dos vossos votos, Ite Missa est.
P217. Quem passou a designar com a palavra
Missa o sacrifício do Altar?
R. Era difícil uma palavra que
representasse melhor o sacrifício da Igreja, pois, Missa, significava o ofício
em que só podiam ser admitidos aqueles que haviam sido batizados e conservavam
sua graça. O próprio povo, marcado pela impressão causada pela palavra
empregada pelo diácono, dita no início e no fim do ofício, passou a chamar o
sacrifício do Altar de Missa (despedida), chegando até os nossos dias.
P218. Por que os ainda não batizados
(catecúmenos) eram despedidos do santo sacrifício após a leitura do Evangelho?
R. A Igreja assim fazia para lembrar a
muitos que, casualmente, merecem ser despedidos do ato a que só lhes permite
assistir a indulgência da disciplina, e neles excitar a mais profunda
humildade, dor e resolução de recorrer às fontes da graça, para que Deus não os
desaloje do seu santuário eterno, quando a Igreja os admite no altar da terra,
bem como para merecer o nome de fiéis com que ela os honra.
P219. Por que damos alguns nomes
complementares à Missa?
R. Embora, em sua essência, a Missa seja
uma só, isto é, a renovação do sacrifício do Calvário, algumas circunstâncias
propiciaram o surgimento de nomes complementares. Assim, chamamos de Missa
solene, quando celebrada com toda a majestade do cerimonial; de Missa
pontifícia ou ordinária, conforme celebrada por um bispo ou por sacerdote.
Missa cantada, quando recitada com coro; Missa rezada, sem coro.
P220. Que designa a Missa paroquial?
R. A Missa paroquial é acompanhada da
benção da água e do pão, de orações, de proclamas e de admoestações, com
práticas (sermão, pregação) feitas pelo próprio pároco aos seus paroquianos.
P221. Que é Missa privada?
R. É a celebrada fora ou dentro da paróquia
com intenções particulares, sem a solenidade das bênçãos, sem admoestações e
práticas.
P222. Quantas partes há na Missa?
R. Na Missa há seis partes:
1 – a preparação pública: da entrada do
sacerdote ao altar, até a coleta;
2 – o intróito e instrução: da coleta até o
final do Credo;
3 – a oblação: do Credo ao prefácio;
4 – o cânon, ou a regra da consagração: do
prefácio ao Pater Noster;
5 – a consumação: do Pater Noster à
comunhão;
6 – a ação de graças: da pós-comunhão ao
último Evangelho.»
CAPÍTULO VII
Da natureza e da existência do sacrifício da Missa (Recapitulação)
P223. O que é Missa?
R. Missa é, pois, o sacrifício do corpo e
do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, imolado desde o princípio do mundo
pelas promessas feitas por Deus e pela fé dos justos, aos quais se aplicavam,
antecipadamente, seus frutos.
P224. Há figuras do santo sacrifício no
livro do Gênesis?
R. Sim. No Gênesis encontramos figuras do
santo sacrifício, como, por exemplo, as ofertas de Abel, de Abraão e de
Melquisedec.
P225. E na lei de Moisés?
R. Encontramos, também, figuras daquele
sacrifício na lei de Moisés, como no cordeiro pascal, e na variedade de tantos
outros sacrifícios por ele estabelecidos, cujos diferentes objetos convergem
para a única imolação de valor infinito, a Missa, anunciada pelos profetas.
P226. Quando se iniciou o santo sacrifício?
R. Podemos afirmar que aquele santo
sacrifício se iniciou na Encarnação do Verbo, passando pelo nascimento de
Cristo e pela apresentação no templo.
P227. Quando Nosso Senhor Jesus Cristo
instituiu o santo sacrifício?
R. O santo sacrifício foi instituído por
Nosso Senhor Jesus Cristo na véspera da sua morte, consumado no Calvário de
modo cruento, e continuado nos nossos altares para ser, até o fim dos tempos, o
único e verdadeiro sacrifício, que pessoalmente nos aplica o preço do sangue
divino derramado na cruz, para oferecer perpetuamente Deus (Filho) a Deus (Pai)
pelo ministério dos sacerdotes legítimos, a quem Cristo designou este poder.
P228. Como é oferecido o santo sacrifício
do corpo e do sangue de Cristo?
R. Este sacrifício é oferecido sob as
espécies de pão e de vinho, que mantém suas aparências como a cor e o sabor.
Estas aparências, ou acidentes, permanecem e subsistem mesmo depois que a
substância de pão e de vinho se convertem, realmente, no corpo e sangue do
nosso Salvador.
P229. Por que Nosso Senhor Jesus Cristo
utilizou o pão e o vinho ao instituir este santo sacrifício?
R. Porque, conforme diz a Escritura, o pão
é o fundamento da vida (Ps 103), e o vinho é o símbolo de tudo que encanta e
alegra o coração do homem. Assim Nosso Senhor, ao fazer deles a matéria do seu
sacrifício, quis nos ensinar a imolar, com ele e nele, a nossa vida e tudo
quanto dela nos é grato e querido.
P230. Poderia haver melhor símbolo para
este santo sacrifício?
R. Não. Nenhum outro símbolo seria mais
próprio, para nos dar a justa idéia do Deus que se sacrifica, que é o autor dos
nossos bens, o conservador do nosso ser, o Senhor da vida e da morte, e o
dispensador das nossas alegrias e dos nossos pesares. Assim, nenhum outro sinal
poderia inspirar melhor o elevado pensamento da imolação do homem, que deve
unir-se a esta vítima, e de pertencer a Nosso Senhor na vida e na morte.
P231. Que mais nos ensinam o pão e o vinho?
R. Como os alimentos nos foram concedidos
por Deus, para o indispensável sustento da nossa vida, ao consagrá-los ao
Senhor reconhecemos exteriormente que a Ele pertence nossa existência e que Ele
é o dono absoluto dos nossos dias.
P232. Há na Sagrada Escritura outras
referências a ocasiões em que os homens sacrificaram alimentos a Deus, como
símbolo da Eucaristia?
R. Sim. Conforme relata a Escritura, Abel
oferecia ao Senhor o leite das suas ovelhas; Caím, os frutos da terra; depois
do dilúvio, Noé e seus descendentes sacrificavam animais que lhes eram
permitido comer; Melquisedec, imagem de Nosso Senhor, oferecia o pão e o vinho,
para expressar o reconhecimento dos soldados preservados dos perigos da guerra.
Vimos, também, a oferta da flor de farinha, o vinho, o sal e o azeite sendo
consumidos no altar judaico, as primeiras colheitaslevadas com solenidade ao
templo, e Jesus Cristo, em fim, escolher o pão e o vinho como matéria do seu
sacrifício, e conservar estas aparências, mesmo depois de ter consumado a
misteriosa mudança ( a transubstanciação).
P233. O que é a Eucaristia?
R. A Eucaristia é, ao mesmo tempo,
sacrifício enquanto oferecida a Deus, e alimento sacramental enquanto recebida
pelo homem, conforme no-lo explica S. Thomas. Portanto, dom de união do homem
com Deus, e dos homens entre si. Que mais ditosa imagem deste alimento
espiritual e desta união inefável, que é a participação da vítima sob as
espécies de pão e de vinho!
P234. A Missa é o sacrifício da nova lei?
R. A celebração e a consagração da
Eucaristia, que normalmente denominamos Missa,é o sacrifício verdadeiro, real e
propriamente dito, da nova lei.
P235. Por que a Missa é sacrifício da nova
lei?
R. Porque nela se encontram todas as
condições do sacrifício instituído pelo Nosso Salvador, para todo o sempre.
P236. Quais são as condições do sacrifício?
R. No sacrifício feito a Deus há: a
oblação, o holocausto, a Eucaristia, a hóstia de propiciação devido ao pecado,
e a impetração.
P237. O que é oblação?
R. É a oferta de algo sensível, do corpo e
sangue de Cristo, sob as espécies de pão e de vinho, que são percebidas pelos
nossos sentidos.
P238. A quem é feita a oblação?
R. A oblação da Missa é feita somente a
Deus, conforme estabelecido dogmaticamente pela Igreja.
P239. Quem realiza a oblação?
R. A oblação é feita por um ministro
legítimo, por Jesus Cristo, pontífice supremo, que fala por si mesmo e em seu
nome, e por um sacerdote canonicamente ordenado – o padre - que fala em nome de
Jesus Cristo, a quem empresta sua voz e o representa, e por toda a Igreja, da
qual o sacerdote é o verdadeiro e legítimo embaixador junto a Deus, para
oferecer o sacrifício em nome dos fiéis.
P240. A oblação pode ser feita pelos fiéis?
R. Não. A oblação é oferecida a Deus
somente pelo sacerdote, ministro legítimo, que fala na pessoa de Cristo.
P241. Por que se diz que a Missa é um
holocausto?
R. Porque na Missa rendemos a Deus o culto
de latria, ou seja, adoração suprema e de total dependência a Deus, a quem
oferecemos a adoração do próprio Deus (Cristo), de quem reconhecemos supremo
domínio, a quem apresentamos a morte de Deus (Cristo), unindo o culto da nossa
alma e do nosso coração à adoração de Deus sacerdote (Cristo) e à morte de Deus
vítima (Cristo).
P242. Por que a Missa é Eucaristia?
R. Diz-se que a Missa é Eucaristia, ou ação
de graças, porque nela elevamos a Deus não só os dons que recebemos da
plenitude da sua misericórdia, como também o mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo,
manancial desta plenitude de graças.
P243. Por que dizemos que a Missa é uma
hóstia de propiciação, devido ao pecado, oferecida a Deus?
R. Porque, através dessa hóstia de
propiciação, imploramos à misericórdia divina para apaziguar sua justiça,
oferecendo a imolação de Cristo (o próprio Deus) que se dignou tomar sobre si
todas as nossas iniqüidades e reunir nossa fraca e insuficiente dor de
arrependimento à sua satisfação infinita.
P244. Por que a Missa é também um
sacrifício de impetração?
R. Porque na Missa pedimos e recebemos
todos os bens necessários à salvação do corpo e da alma.
P245. Não pedimos e recebemos esses bens em
outras orações?
R. Sim, porém a diferença é que, na Missa,
não somos nós quem os suplica, mas o próprio Deus (Cristo) quem pede e quem
ouve; nós somente unimos nossa fraqueza às suas orações. Assim, por meio deste
divino intercessor nossas orações sobem aos céus, chegam ao Nosso Pai celestial
e são por Ele acolhidas favoravelmente.
P246. Como podemos nos certificar que
nossas orações na Missa são favoravelmente acolhidas pelo nosso Pai celestial?
R. S. Paulo apóstolo no-lo garante ao nos
dizer: "Como Deus não nos dará todos os bens, depois de nos ter dado seu
próprio Filho para ser o oferecimento do nosso sacrifício"?
P247. Que conclusão principal chegamos do
que foi explicado acima?
R. Conclui-se que a Missa é o verdadeiro
sacrifício estabelecido por Jesus Cristo para a nova aliança.
P248. Há alguma referência no Antigo
Testamento sobre a Missa, como sacrifício da nova lei a ser estabelecido por
Cristo?
R. Sim, e o profeta Malaquias anuncia (I,
11):
1º - A revogação dos sacrifícios antigos:
"Eu não receberei mais oblações das vossas mãos", disse o Senhor aos
judeus;
2º - A substituição do dos sacrifícios antigos,
por um novo e excelente sacrifício: "Em todo o lugar se oferece em
sacrifício ao meu nome, uma hóstia pura"; quer dizer, será oferecida,
porque, na linguagem profética o futuro se anuncia como presente.
P249. Por que as palavras do profeta
Malaquias, acima citadas, referem-se ao santo sacrifício da Missa?
R. As palavras do profeta Malaquias
referem-se ao santo sacrifício da Missa, pois:
1º - afirmam que Deus não mais receberá
nenhum sacrifício oferecido anteriormente:
a – dos judeus, nem mesmo as vítimas legais
dos seus sacrifícios, pois Deus quer substituí-las por uma nova e excelente
hóstia;
b – dos pagãos, com maior razão sacrifício
algum, que nunca os aceitara, pois seus altares impuros serviam aos demônios.
2º - afirmando que "em todo o lugar se
oferece em sacrifício uma hóstia pura", Deus também não se refere
diretamente nem mesmo à imolação da cruz, que ocorreu só uma vez no Calvário;
mas refere-se claramente ao Santo Sacrifício da Missa, que oferece a hóstia
pura, e que ocorre em todo lugar;
3º - afirmam que não será um sacrifício nem
mesmo espiritual, da alma e do coração, de agradecimento e de boas obras, que
havia sido sempre praticado, pois o texto da profecia expressa um sacrifício
exterior propriamente dito.
Seu sentido claramente nos indica um
sacrifício novo, de uma vítima pura a Ele oferecida em todo o lugar, que é
exatamente a oblação da Eucaristia na Missa, ou seja, o puro e próprio
sacrifício de Deus (Cristo) vítima, oferecido à majestade do seu nome por todos
os povos e em todos os lugares.
P250. A profecia de Malaquias foi realmente
cumprida?
R. Sim; e para nos certificarmos disto,
basta ler os Evangelistas e S. Paulo.
P251. Que nos dizem os Evangelistas e S.
Paulo?
R. Os Evangelhos de S. Mateus (26), de S.
Marcos (14) e de S. Lucas (22) e São Paulo nos dizem que, estando com seus
discípulos na noite em que Nosso Senhor foi entregue, e após terminar a ceia da
antiga páscoa, que ia ser abolida com todos os sacrifícios da lei antiga, para
ser substituída pela oblação pura e universal do verdadeiro cordeiro pascal:
(S. Mateus, XXVI (26-28)): "Estando, eles, porém, ceando, tomou Jesus o
pão e o benzeu, e partiu-o e deu-o aos seus discípulos e disse: Tomai e comei,
ISTO É O MEU CORPO." "E tomando o cálice, deu graças e deu-lho
dizendo: Bebei dele todos." "Porque este é o meu SANGUE do novo
testamento, que será derramado por muitos, para remissão dos pecados.";
(S. Marcos, XIV (22-24)): "E quando eles estavam comendo, tomou Jesus o
pão; e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lho, e disse: Tomai, ISTO É O MEU
CORPO." "E tendo tomado o cálice, depois que deu graças, lho deu: e
todos beberam dele." "E Jesus lhes disse: ESTE É O MEU SANGUE do novo
testamento, que será derramado por muitos."; (S. Lucas, XXII (23-25)): "Também
depois de tomar o pão deu graças e partiu-o e deu-lho, dizendo: ISTO É O MEU
CORPO que se dá por vós; fazei isto em memória de mim." "Tomou também
da mesma sorte o cálice, depois de cear, dizendo: Este cálice é o novo
testamento em MEU SANGUE, que será derramado por vós.;( I Coríntios, XI,
23-29): ""Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei a vós,
que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão, e dando graças,
o partiu, e disse: recebei e comei; isto é o meu corpo, que será entregue por
vós; fazei isto em memória de mim. Igualmente depois de ter ceado, (tomou) o
cálice, dizendo: este cálice, é o novo testamento no meu sangue, fazei isto em
memória de mim todas as vezes que o beberdes. Porque todas as vezes que
comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a morte do Senhor, até
que ele venha. Portanto todo aquele que comer este pão ou beber este vinho
indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, a si
mesmo o homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque aquele que o
come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo o
corpo do Senhor"
P252. No decorrer de sua pregação fez,
Nosso Senhor, alguma referência a esta instituição?
R. Sim. Aos seus discípulos, em Cafarnaum,
Jesus lhes dissera que era necessário comer sua carne e beber seu sangue, para
se alcançar a vida eterna.
Para efetuar esse milagre, disse
simplesmente após a Ceia: Tomai e comei, isto é o meu corpo; tomai e bebei,
este é o meu sangue. Eis a consumação deste divino sacrifício no cumprimento de
todos os mistérios.
Nele Cristo renova sua morte, sua
ressurreição e sua vida gloriosa. Através dele Cristo alimenta sua Igreja com
seu próprio corpo para torná-la um corpo santo, sempre vivo, e dar-lhe a graça
da imortalidade gloriosa. Seria possível imaginar palavras mais significativas,
termos mais fortes, mais enérgicos em sua sensibilidade, ou mais expressivos em
seu sentido do que os que Ele empregou? –Este é o meu corpo, este é o meu
sangue; fazei isto. Estas palavras de Jesus são absolutamente decisivas.
P253. Por que as palavras empregadas por
Nosso Senhor "Tomai e comei, isto é o meu corpo; tomai e bebei, este é o
meu sangue" são decisivas?
R. As palavras empregadas por Nosso Senhor
são decisivas porque foram proferidas pelo próprio Deus (Filho); portanto, ao
mesmo Deus onipotente que dissera "faça-se a luz" (Gen) e a luz foi
feita, reconhecemos o infinito valor daquelas sublimes palavras.
P254. Não encontramos referência à
instituição da Eucaristia no Evangelho de S. João?
R. Apesar de não descrever a Santa Ceia, S.
João penetra no coração do Salvador e nos expõe os sentimentos que dirigiam a
ação de Nosso Senhor naquela ocasião, dizendo: "tendo Jesus amado os seus,
os amou até o fim" (Jo 13) e, podemos acrescentar, até em excesso.
P255. Por que S. João fez aquela afirmação?
R. Para nos revelar que Jesus, Deus
onipotente, na Ceia, nos deu a maior prova do seu amor, nos deixando seu
próprio corpo e seu próprio sangue, como alimento espiritual.
P256. Como essa dádiva de Jesus chega a
nós?
P. Através do poder de oferecer o
sacrifício instituído no Cenáculo, pois, Nosso Salvador deu claramente aos
apóstolos, e sucessores, este poder, por meio destas palavras:"Fazei isto
em minha memória".
P257. Que significa essa ordem dada aos
apóstolos e sucessores por Nosso Senhor?
R. Através dessa expressão Nosso Senhor
ordena aos apóstolos e sucessores que não devem fazê-lo somente como lembrança
e simples representação do que Ele fizera, mas sim, "Fazei isto", que
Ele mesmo fizera e como realmente fizera.
P258. Além do significado vital acima
exposto, que mais podemos deduzir daquela ordem?
R. Pelas palavras empregadas por Nosso
Senhor deduz-se que Ele ordena aos apóstolos que não façam outro sacrifício,
distinto ou separado da oblação que Ele fizera, mas sim o mesmo que Ele
ofereceu: "Tomai e comei, pois isto é o meu corpo; tomai e bebei, pois
este é o cálice do meu sangue".
P259. Que significa "em minha
memória"?
R. A expressão final da ordem de Nosso
Senhor quer dizer:
a – Fazei em minha memória, porque sou
vosso Deus e Senhor;
b – Em memória da autoridade e poder que
dei à minha Igreja;
c – Em memória dos meus padecimentos e de
minha morte, que renovareis todas as vezes que fizerdes isto;
d – Em memória da nova aliança que fiz com
os homens, derramando aqui meu sangue e, portanto, oferecendo-o em sacrifício;
e – Em minha memória, ofereceis esta
oblação, ou efusão do meu sangue misterioso, sobre esta mesa, que na Cruz
confirma o Novo Testamento, assegurando aos homens minha nova e irrevogável
vontade de obter-lhes as graças da salvação e da herança do céu, com a condição
de serem fiéis aos meus preceitos e ao meu amor, e de fazer uso dos sacramentos
que estabeleci, pela remissão dos pecados.
P260. Que resumo podemos fazer, com as
palavras empregadas por Nosso Senhor, acompanhadas do seu significado, quando
da instituição da Eucaristia?
R. O relato do Evangelho, unido ao seu
significado, Nosso Senhor diz: fazei, portanto, o que eu fiz, em minha memória,
em memória de minha morte e da minha aliança; eu tomei o pão e o vinho; tomai
esta matéria e estes símbolos de oblação; eu os abençoei; abençoai-os; eu dei
graças; fazei o mesmo; eu parti o pão; parti-o; eu disse: isto é meu corpo, e
eu vos dei e vós o recebestes; tomai e dai aos outros: hoc facite.
P261. A ordem dada por Nosso Senhor era por
um tempo determinado?
R. Não, pelo contrário, Nosso Senhor
ordenou que se fizesse o que ele mesmo fizera por todo o tempo que o homem deve
passar na terra, pois mandou que se renovasse a oferenda da sua paixão e morte,
do seu corpo imolado e do seu sangue vertido, até sua próxima vinda, quando
virá para julgar os vivos e os mortos. Portanto, por estas palavras, seu poder
passa para os sucessores dos apóstolos, herdeiros do mesmo sacerdócio, e, diz
Jesus, "eu estarei convosco", não só ensinando, batizando, governando
a Igreja, mas também oferecendo e consagrando conosco, "todos os dias, até
a consumação dos séculos" (Mat 28).
P262. Em que cerimônia da Igreja se cumpre
a ordem deixada por Nosso Senhor?
R. A cerimônia em que se cumpre a ordem de
Nosso Senhor é a Missa, que tem o poder, real e perpétuo, de oferecer e
consagrar, o mesmo que Cristo ofereceu e consagrou no Cenáculo, e no Calvário.
P263. Como podemos definir a Missa, após as
explicações e significados do que ocorreu no Cenáculo?
R. Podemos dizer que a Missa é "o
altar em que temos o poder de comer" (Heb13); "o trono em que está o
Cordeiro de pé e, ao mesmo tempo, imolado" (Apc 5), e que, nos nossos
altares, continua o verdadeiro sacrifício instituído por Nosso Senhor Jesus
Cristo.
CAPÍTULO VIII
Do valor e
dos frutos do Sacrifício da Missa
P264. A Missa é somente a comemoração e a
representação da cena do Calvário?
R. Não. A Missa é a renovação e a
continuação do sacrifício da cruz repetido em nossos altares, de forma
incruenta, além de também comemorar e representar a cena do Calvário.
P265. O valor da Missa é infinito? Por que?
R. Sim, o valor da Missa é infinito porque
nela se oferece o corpo e o sangue da segunda pessoa da Santíssima Trindade,
Nosso Senhor Jesus Cristo, portanto do próprio Deus.
P266. Que diferença há entre a Missa e a
imolação do Calvário?
R. A diferença está no modo de se oferecer.
Assim, no Calvário, a imolação foi visível e cruenta; na Missa, a imolação é
incruenta e sacramental. No Calvário, como canta a Igreja, "somente a
divindade de Nosso Senhor estava velada aos sentidos, enquanto que na Missa está
velada também a humanidade" (Adoro te devote, Hino do Santíssimo
Sacramento).
P267. A Missa, portanto, é o mesmo
sacrifício realizado na cruz?
R. Sim, por que em ambos temos o mesmo
sacrificador, a mesma vítima – que é Nosso Senhor Jesus Cristo – e, portanto, a
mesma imolação.
P268. Na Missa, o sacrificador, então, não
é o sacerdote que a celebra?
R. Não. O sacrificador é Nosso Senhor Jesus
Cristo, que fala e atua através do sacerdote. A Nosso Salvador, pontífice
supremo, se une toda a Igreja universal, todos os fiéis, que se oferecem com
Ele, pelas mãos do seu representante que é o bispo ou o sacerdote, ministros
legítimos desta oblação.
P269. Por quem se oferece a Missa?
R. Oferece-se a Missa por Jesus Cristo, por
toda a Igreja, pelo sacerdote que a celebra, e por todos os cristãos.
P270. Como os fiéis podem participar deste
oferecimento?
R. Os fiéis podem participar do
oferecimento da Missa de diversos modos:
A – em ato, quando assistem e participam da
sua celebração;
B – de modo mais precioso, quando, além de
ser em ato, fazem oferecer a vítima, Jesus Cristo, por eles e em seu nome;
C – de modo habitual, todos os fiéis, pois
que, unidos a Jesus pela caridade e à Igreja pela fé, formam um só corpo,
membros recíprocos uns dos outros, participando de todos os benefícios do corpo
inteiro.
P270. Por que o sacrifício consumado no
Calvário é o mesmo sacrifício realizado na Missa?
R. Porque o essencial do sacrifício do
Calvário consiste na oblação que Jesus Cristo fez do seu corpo, que é a mesma
oblação da Missa. Assim, tanto no altar como no Calvário, apresenta-se a mesma
vítima, o corpo e o sangue de Nosso Salvador, sob as espécies de pão e vinho,
para tornar sensível a presença dessa vítima. A imolação real é a mesma,
ocorrendo em cada Missa, e em todas as Missas, sem multiplicar o sacrifício,
como veremos.
P272. Que prova o Evangelho nos dá para nos
mostrar que o essencial do sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo consiste na
oblação que Ele fez do seu corpo?
R. O Evangelho nos mostra que Nosso Senhor quis
instituir o sacrifício do seu corpo e do seu sangue na véspera da sua morte,
após a Ceia, e não no mesmo instante em que morreu, para estabelecer claramente
a verdade e a igualdade do mesmo sacrifício. Assim, Ele poderia tê-lo oferecido
após a sua paixão, como em qualquer tempo antes da própria Ceia.
P273. Então a oblação do sacrifício de
Nosso Senhor independe do tempo?
R. Sim, e ao reafirmar a oblação da cruz no
dia seguinte após a morte de Cristo, ou um ou mil anos depois, até o último dia
do mundo, se oferece absolutamente o mesmo sacrifício, e as Missas são atos da
repetida oblação da única imolação única de Jesus Cristo.
P274. Para a unidade do sacrifício não é
então necessária uma união física da imolação e da hóstia imolada?
R. Não. Pelas próprias palavras do
Evangelho, basta a união moral entre a imolação e a hóstia imolada, uma
referência moral, uma relação moral ao tempo da imolação. Assim, Nosso Senhor,
na Ceia, oferece sua morte futura, no Calvário, sua morte presente, e no céu, e
no altar, sua morte passada, pelo mesmo ato da mesma vontade de se oferecer: a
oblação se multiplica por distintos atos, mas a imolação é só uma, como único é
o sacrifício.
P275. Podemos encontrar a confirmação desse
ensinamento em outros livros da Sagrada Escritura?
R. Sim, S. Paulo, por exemplo, defende e
confirma esse ensinamento em diversas passagens. Assim declara este santo
apóstolo:
1 – Hebreus 10:
a – que Jesus Cristo, desde sua vinda ao
mundo, manifestou sua vontade de se oferecer a Deus Pai em holocausto;
b – que, com este único holocausto, revogou
os sacrifícios antigos, para substituí-los com o seu ("aufert primum ut
sequens statuat");
c – que, por esta única vontade, concebida
desde a encarnação e fielmente cumprida até a sua morte na cruz, fomos santificados
pela única oblação do seu corpo;
2 – Hebreus 9 e 7:
a – que Nosso Senhor não se limitou em
derramar seu sangue na cruz para a remissão dos nossos pecados (Heb 9), mas
também que, na unidade do mesmo sacrifício, o recolheu e levou-o, não ao templo
judeu, que não passava de um exemplo e uma figura, mas ao santo dos santos, ao
céu, para apresentá-lo diante de Deus em nosso favor, como mediador e pontífice
(Heb 7);
P276. Que mais nos ensina S. Paulo naquelas
epístolas?
R. S. Paulo nos ensina que Jesus Cristo é o
mediador de uma aliança mais excelente que a antiga, em todos os aspectos,
principalmente pela sua duração: imortal na natureza humana com que se revestiu
e, fazendo-se sacerdote por toda a eternidade, seu sacerdócio é sem fim, pois,
na terra, estabeleceu sacerdotes com sucessores, enquanto que, no céu, Ele
intercede por nós.
P277. Como a Igreja manifesta esse
ensinamento de S. Paulo?
R. A Igreja sempre celebrou o dia da
Ascensão de Nosso Senhor ao céu, onde sem cessar Ele oferece ao seu Pai os ferimentos
que sofreu por nossas iniqüidades, e que, por meio desse contínuo oferecimento,
nos alcança a entrada perpétua na aliança de sua paz.
P278. A oblação de Nosso Senhor foi sempre
a mesma e única imolação?
R. Sim. O desejo da oblação de Nosso Senhor
se manifesta desde a sua Encarnação, se constitui no Cenáculo, se executa na
cruz, se perpetua no céu e, no entanto, só há uma única imolação de Jesus
Cristo porque, como diz S. Paulo (Heb 9) este Deus salvador morreu somente uma
vez para expiar os pecados de todos os homens e, agora, não morrerá mais, pois
jamais a morte terá domínio sobre Ele, depois da vitória que Ele teve contra
ela (Rom 6).
P279. Qual é, em resumo, o ensinamento de
S. Paulo?
R. S. Paulo nos ensina que Jesus Cristo
ofereceu, com um só desejo, desde a Encarnação até o Calvário, e por esse mesmo
desejo oferece esse sacrifício único desde a cruz até o céu, onde renova, sem
cessar, por meio de oblações mil vezes repetidas, sua imolação já consumada e
cumprida. Assim, pelas palavras da consagração na Missa, Nosso Senhor se
apresenta no altar, não só sob os símbolos da morte e num estado de imolação
aparente, mas também como Ele se encontra, à direita de Deus Pai, sacerdote
eterno, supremo pontífice e mediador da nossa aliança, e dom da nossa paz;
sendo agora o mesmo que se apresenta na celebração da Missa, sempre vivo e
intercedendo por nós, oferecendo suas chagas que salvaram o mundo, e
perpetuando seu sacrifício sem interrupção.
P280. O que se constitui a verdadeira
oblação da Missa?
R. A presença de Jesus Cristo, oferecendo
sua morte se constitui na oblação verdadeira da sua imolação real e a rigorosa
continuação do seu sacrifício na cruz; os atos de oblação são atuais, distintos
e multiplicados; mas sempre é a oblação da mesma vítima do Calvário e a mesma
imolação desta vítima.
P281. Seria possível explicar esse
princípio com um exemplo?
R. Sim. Suponhamos que Deus tivesse querido estabelecer um sacrifício muito solene para a entrada e posse do seu povo na terra prometida, e que tivesse declarado que este sacrifício, único em sua classe, não fosse oferecido pelos filhos de Aarão em nome dos seus irmãos, mas por cada israelita de cada tribo e família; suponhamos ainda que a vítima fosse representada somente por um cordeiro e que esta imolação se renovaria por cada ato pessoal e individual. Suponhamos que Moisés, antes de dar posse das terras além do Jordão às tribos de Gad, de Ruben e à metade da tribo de Manasés, tivesse escolhido o cordeiro destinado ao sacrifício. As tribos cujas possessões estariam já definidas passariam diante do altar e, desfilando na sua ordem, apresentariam pelas mãos de cada indivíduo aquele cordeiro para ser imolado. Moisés, já próximo da sua morte, também o ofereceria, mas de forma mais solene. Josué, seu sucessor para conduzir o povo de Deus, imola o cordeiro deixando-o no altar banhado com seu sangue. As demais tribos de Israel, antes de passar o Jordão, desfilam diante do altar e cada indivíduo oferece o sangue derramado. Terminado o desfile e o oferecimento de todo o povo, levam o sangue do cordeiro ao tabernáculo para ser nele conservado. Depois os levitas o tiram todos os dias, e muitas vezes ao dia, para oferecê-lo a Deus em nome de todo o povo, e este rito se conserva por todas as gerações. Neste exemplo, poder-se-ia duvidar de que, apesar de terem sido multiplicadas as oblações e que duraram por tanto tempo, somente foi efetuado por todos um só e único sacrifício, e que sua continuação, enquanto subsistir o povo de Deus, não alteraria em nada a sua identidade e a sua unidade?Eis a imagem patente e o exemplo vivo do sacrifício da cruz que o Cenáculo viu antecipar-se e que continua na Missa até a consumação dos séculos: os justos que viveram antes de Jesus Cristo e que durante mais de 4.000 anos passaram diante do seu altar para oferecê-lo com sua fé; e após a consumação do sacrifício, todas as tribos da terra passam diante deste mesmo altar, oferecendo realmente o mesmo Jesus Cristo imolado, tornado presente pela instituição da autoridade divina o mesmo Deus do Calvário, com seu corpo que é oferecido, com seu sangue que é derramado sem cessar, para a remissão dos pecados.A Missa é realmente, portanto, quer em relação ao sacerdote, à vítima e à imolação, o mesmo sacrifício da cruz; seu preço é, portanto, de valor infinito, como a morte do Salvador. Eis, dentre outras conseqüências, as que podemos tirar da prática deste sentimento católico que acabamos de expressar e de provar.
P282. Por que explicar tão detalhadamente
este tema?
R. Porque, ainda que comumente se ouve
dizer e repetir diariamente que a Missa é o mesmo sacrifício da cruz e que
devemos assisti-la como diante da cena do Calvário, freqüentemente acontece que
não fixamos bem suas conseqüências nos nossos corações, visto seu entendimento
não ter penetrado profundamente na nossa razão.
P283. Como podemos colocar em prática esse
conhecimento mais aprofundado da Missa?
R. Uma vez entendido melhor esta elevada
teologia de S. Paulo, vemos o profundo respeito, a viva confiança, a plenitude
de fé e de amor que devemos ter diante dos altares, nas Igrejas, pensando se
tivéssemos assistido a oblação da imolação do Calvário, como estaríamos unidos
mais estreitamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, como teríamos recolhido com o
maior cuidado cada gota do seu sangue, como teríamos guardado cada batimento do
seu coração, cada palavra da sua boca e diríamos mil vezes com fervor:
"Lembrai-vos de mim, Senhor" -"Memento mei, Domine" (Lc
23), e com o coração cheio de dor e de arrependimento, repetiríamos o grito de
fé e de reconhecimento: este homem é o verdadeiro Filho de Deus – "Vere
Filius Dei erat iste" (Mt 27), e quereríamos ajudar a preparar os perfumes
e a sepultura de Deus vítima e, principalmente, a desejar que os nossos
corações lhe servissem de túmulo.
P284. Com que respeito, e disposição de
alma, nós devemos assistir o santo sacrifício da Missa?
R. Se:
A - transportados em espírito como o
apóstolo S. João (Apc 5) assistimos no sublime altar do céu, onde Nosso Senhor
celebra e oferece sem cessar, por si mesmo e sem representante, e víssemos no
trono de Deus este cordeiro em pé, imolado, abrindo o livro da liturgia eterna
para nele ler o nome dos que aproveitam do seu sangue derramado, para fazer com
que os homens se inscrevam naquelas páginas de vida, segundo as quais se
concluirá no fim dos tempos a Missa definitiva e a despedida irrevogável;
B – ouvirmos ressoar no céu estas terríveis
palavras: "As coisas santas são para os santos; a felicidade, a
bem-aventurança e a benção, para os filhos de Deus; a Missa eterna para a
inocência e para o arrependimento; ... nós nos prosternaríamos diante do
cordeiro para a adoração com o coração arrependido e humilhado, e encheríamos
os incensos de ouro com a mais pura oração.
P285. Que outros princípios devem alimentar
nossa alma ao assistir a santa Missa?
R. Como a Missa continua na terra o mesmo
sacrifício que continua no céu, e que a mesma vítima sobe de um altar ao outro
levando consigo nossos desejos, e volta a descer carregada de bênçãos, ao
assistir a Missa devemos animar nossa alma com os mesmos pensamentos que
teríamos no céu.
P286. O valor da Missa é, pois, infinito?
R. O valor da Missa é infinito por se
referir a Deus vítima, à suficiência do tesouro dos seus méritos que,
oferecidos por Deus-sacerdote, serão sempre aceitos pelo Senhor, como dignos da
sua majestade e da sua justiça; o valor da Missa é de valor finito quanto ao
exercício do sacerdote secundário, que é um homem revestido de poderes divinos,
e enquanto aplicação que o Senhor nos faz dos méritos do seu Filho, proporcionalmente
à nossa fé, nossa penitência e nosso fervor.
P287. Quais são os frutos do sacrifício da
Missa?
R. A Igreja nos ensina que a Missa opera por si mesma, e por sua virtude própria, o perdão dos pecados; mas o opera de uma forma mediata, ou seja, que pelo próprio ato do sacrifício, e sem nenhum meio ulterior, ela obtém, para o pecador, a graça de se converter e de receber, no sacramento da Penitência, a remissão das suas faltas.Exemplificando: uma pessoa que pede a Deus a graça de mudar de vida e de se confessar, mas sem assistir ao sacrifício da Missa, poderá obtê-la somente em virtude do seu fervor e das suas instâncias, porém sempre terá dúvida se de fato a obteve.Contudo, se ela assiste a santa Missa com aquela finalidade, é certo que receberá a graça pedida, de modo eficaz, desde que não oponham obstáculos a ela, independentemente das disposições de quem celebra e do fervor de quem assiste a celebração, entendendo-se o mesmo quanto às demais graças para a salvação.
P288. Se a Missa produz a graça e a
aplicação dos méritos do sangue e da morte de Cristo, em que ela se diferencia
dos sacramentos?
R. A diferença é que a Missa nos concede a
graça de forma mediata, enquanto que os sacramentos nos dão a graça
imediatamente; a Missa é uma via segura que conduz à vida, à graça, e os
sacramentos são a própria vida, a própria graça, com toda a sua eficácia.
P289. Que podemos concluir desse conceito?
R. Podemos concluir que a assistência à
Missa é uma excelente disposição para o perdão e a conseqüente justificação,
considerando que a Missa é o tribunal de misericórdia de primeira instância, se
é permitido assim falar, e dela se passa ao tribunal de reconciliação de último
recurso.
P290. Haveria outra diferença entre a Missa
e os sacramentos?
R. Sim. Há outra diferença mais favorável
ao sacrifício: os sacramentos só aplicam o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo
aos que são dignos dele, enquanto que a Missa o aplica ao justo e ao pecador,
ao que merece e ao que nem é mesmo digno de recebê-lo. Isso porque os
sacramentos só produzem seus efeitos para os vivos, enquanto que a Missa
estende seus frutos de salvação aos vivos e aos mortos.
P291. Com que disposição esses princípios
nos levam a assistência à Missa?
R. Conseqüentemente, devemos ir "com
confiança ao trono da graça" (Heb 4) para alcançar a misericórdia e,
naquele mesmo trono, encontrar os socorros necessários às nossas necessidades.
P292. Que outro ensinamento tiramos desses
princípios?
R. Devemos compreender quão preciosa é a
prática dos fiéis que fazem celebrar ou que assistem a Missa, sempre que
precisam pedir alguma graça a Senhor, e como tão mais santo é o costume de
assisti-la diariamente, para fortalecer-nos sem cessar com sua santa proteção.
P293. Qual a eficácia da Missa quanto às
penas temporais devidas aos nossos pecados?
R. Quanto às penas temporais devidas aos
pecados, depois de terem sido perdoados no sacramento da Penitência, a Missa as
extingue imediatamente aos que estão em estado de graça, assim como aos justos
do purgatório, cujas penas são eliminadas também imediatamente, se bem que eles
não podem merecer mais, nem mesmo recorrer a outros meios.
P294. A Missa redime sempre e imediatamente
todas as almas do purgatório?
R. Não. A Igreja nos ensina que a redenção
das almas do purgatório, por meio da aplicação dos frutos da Missa, se realiza
conforme a vontade e os desígnios de Deus. A Igreja diz que a Missa ajuda a
redimir as almas do purgatório, conforme estabelecido na seção 25 do Concílio
de Trento. Assim os fiéis costumam oferecer freqüentemente Missas aos defuntos.
Além deste fruto eficaz do sacrifício, oferecemos também, como fruto secundário
àquelas almas, as fervorosas disposições com que assistimos a ela.
P295. Que nos ensina S. Tomás sobre essa
questão?
R. S. Tomás nos ensina que a santa oblação
é aplicada a cada um proporcionalmente à sua devoção. Neste sentido a Missa
opera segundo a santidade de quem oferece e de quem assiste a ela.
P296. Mas a Missa não é somente oferecida a
Deus?
R. Sim, a Missa é oferecida somente a Deus,
a quem se deve unicamente a adoração, o culto supremo e o reconhecimento total
da nossa dependência, em proveito do sacerdote, dos fiéis e das almas do
purgatório, isto é, rogando graças para essas fiéis pessoas.
P297. Por que, então, oferecemos a Missa
para a Virgem, Missa para os defuntos?
R. Essas expressões são formas comuns que
empregamos, para indicar que as orações e leituras que precedem o cânon são em
memória dos santos ou dos fiéis defuntos. Embora o sacrifício só pode ser
oferecido a Deus, nele se faz menção aos santos, pois a Missa é o sacrifício de
toda a Igreja que Nosso Senhor o oferece como a cabeça do seu corpo místico,
que é a própria Igreja.
P298. Por que a Igreja menciona o nome dos
santos em certas passagens da Missa?
R. Porque a Igreja militante se une a Jesus
Cristo para oferecê-la e, pelo mesmo motivo, se une à Igreja triunfante,
inseparavelmente unida à sua cabeça.
P299. Por que a Igreja militante se une à
Igreja triunfante?
R. Estas duas partes da sociedade dos
filhos de Deus se unem para implorar, pelos méritos de Cristo, a divina
misericórdia em favor da Igreja padecente, constituída pelas almas que sofrem
no purgatório.
P300. A união da Igreja triunfante com a
militante visa somente as almas do purgatório?
R. Não, pois esta lembrança dos santos no altar se faz também para felicitá-los pelas suas vitórias, para agradecer a Deus pelos seus triunfos, para nos incentivar a imitar seus sacrifícios consumados, e para nos fortificar, como diz o cânon da Missa, através dos seus méritos e orações a Deus e Jesus Cristo, único mediador todo poderoso.
P301. Em resumo, a quem podemos oferecer a
santa Missa?
R. A santa Missa se oferece a Deus, pelos
vivos, justos ou pecadores, e, em geral, por todos os que professam a fé
católica. (A Igreja não reza especificamente pelos cismáticos, hereges e
pagãos, senão na Sexta-feira Santa). Oferecemo-la também para os mortos para
que descansem em Jesus Cristo, e por todos os fiéis que padecem no purgatório.
CAPÍTULO IX
Das
disposições para se oferecer o Santo Sacrifício da Missa
§ 1 – DISPOSIÇÕES MATERIAIS
P302. A que se refere o termo
"material", objeto do estudo deste §1?
R. "Material", aqui, se refere
aos edifícios destinados à celebração do sacrifício da Missa, ou seja, as
igrejas, incluindo tudo o que nelas contém para tal, como os altares, e tudo
relativo a eles. Neste parágrafo não iremos tratar dos vasos, dos tecidos
sagrados, dos ornamentos, do incenso e dos demais objetos do culto.
P303. Qual foi o primeiro templo
especificamente usado para o sacrifício da Missa?
R. O primeiro templo especificamente
utilizado para o sacrifício da Missa foi o Cenáculo, lugar "amplo e bem
adornado" (Lc 22) para a celebração da Eucaristia, a pedido de Jesus
Cristo!
P304. Por que Nosso Senhor exigiu um local
"amplo e bem adornado"?
R. O mesmo Jesus Cristo, que nasceu num
estábulo, pois não tinha onde repousar sua cabeça, e que morreu na cruz,
ordenou a seus discípulos que procurassem um local "amplo e bem
adornado", para justificar a majestade e riqueza das nossas igrejas.
P305. Qual foi o primeiro altar do
sacrifício da Missa?
R. O primeiro altar em que se realizou o
sacrifício de Cristo foi o Calvário.
P306. Nos tempos de perseguição, onde se
realizava o sacrifício da Missa?
R. Em geral, na época de perseguição dos
cristãos, o sacrifício da Missa era realizado nas casas de alguns fiéis
privilegiados, ou escondidos em cavernas, bosques, calabouços ou catacumbas.
P307. Quando foram construídas as primeiras
igrejas para a celebração solene e pública do sacrifício da Missa?
R. Logo após o término das perseguições
foram construídas as primeiras igrejas para a celebração pública da liturgia da
Missa, em honra do verdadeiro Deus. Posteriormente, em todas as partes, a
piedade e arte de cada século contribuíram para a grandeza e riqueza das
construções, sempre erigidas, fundamentalmente, para a celebração do sacrifício
da Missa.
P308. Dentre os diversos estilos
arquitetônicos das igrejas, qual foi o mais significativo quanto à piedade e
grandeza devidas a Deus?
R. Foi o estilo gótico que consagrou a Deus
suas majestosas catedrais, com suas elegantes cúpulas e formas grandiosas.
Também os elevados campanários nas pequenas aldeias, rompendo com graça a
uniformidade da paisagem, anunciavam por toda parte o tabernáculo de Deus entre
os homens.
P309. A construção das igrejas seguia
alguma regra específica?
R. Sim; seguia uma tradição específica,
conforme o testemunho do autor das "Constituições apostólicas".
P310. Que recomendava aquela tradição
referente à construção de igrejas?
R. Havia uma série de recomendações quanto:
A – a forma: que deveria ser ampla e
semelhante a uma nave — daqui vem o nome do corpo principal do templo;
B – a orientação: deveria estar voltada
para o Oriente — origem da luz, simbolizando Nosso Senhor, Luz do mundo;
C – a sacristia: ao lado do altar, onde se
colocariam os objetos do culto, incluindo os paramentos litúrgicos;
D – a cátedra, ou sedia, do bispo:
localizada no fundo da catedral, com os assentos para os sacerdotes à sua
direta e à sua esquerda;
E – o altar: no meio do santuário, como são
vistos nas igrejas românicas;
F – o santuário: fechado por uma balaustrada;
G – a frente do altar: local para os
clérigos menores, seguidos dos fiéis, onde havia o púlpito para as leituras e
sermões.
P311. Como se dispunham os fiéis na
catedral?
R. Os homens ficavam de um lado e as
mulheres do outro, para melhor conveniência do ósculo da paz. Viria depois
local reservado aos catecúmenos e aos penitentes públicos
P312. Quantas portas havia nas igrejas
primitivas?
R. Em geral havia três portas: a principal,
ou grande porta, à frente do edifício; a porta menor, que separava os fiéis dos
catecúmenos e penitentes públicos; e a chamada porta santa, que fechava a parte
do santuário, e que servia de balaústre para a mesa da comunhão.
P313. Que semelhanças há entre aquelas
igrejas primitivas e as atuais?
R. Há inúmeras, como por exemplo:
1 – a Cruz externa, sobre o edifício ou
sobre o campanário, indicando o sacrifício que se renova no templo católico;
2 – os sinos, como a voz do sacerdote,
convocando os fiéis;
3 – as pias de água benta: ao lado da
entrada, lembrando a pureza exigida na oblação;
4 – os confessionários: como meios para,
através do sacramento da penitência, ou confissão, recuperarmos a graça de
Deus, perdida pelos pecados;
5 – a cruz na frente do altar: indicando
aos fiéis que devem unir o sacrifício do seu coração à imolação da grande
vítima do mundo;
6 – local para o coro e o órgão;
7 – capelas laterais, possibilitando a
multiplicidade de Missas;
8 – relicários, imagens que nos lembram a
glória dos santos e que já consumaram seu sacrifício;
9 – finalmente, e acima de tudo, o altar,
que é o ponto central das nossas igrejas.
P314. Que significa a palavra ‘altar’?
R. A palavra ‘altar’ deriva de ‘altus ’
significando ‘elevado’. Entre os gregos, o termo utilizado era thusiasterion,
que significa ‘ lugar da imolação’.
P315. Que afirmou s. Gregório sobre o altar
do sacrifício?
R. S. Gregório nos diz que o altar do
sacrifício é de pedra comum, semelhante a que usamos para levantar muros, porém
devidamente abençoado e consagrado ao Senhor.
P316. Havia altares sobre túmulos?
R. Sim, às vezes erguiam altares sobre
túmulos de mártires, e sua forma externa era de uma sepultura. Mas, como dizia
Sto. Agostinho, o altar era somente para Deus, embora contendo os restos
mortais de mártires. Disto surgiu o costume de se colocar relíquias de santos
nos altares, costume que não só nos apresenta uma imagem do céu, onde S. João
viu no altar as almas dos mártires (Apc 6), mas nos mostra também um espetáculo
digno dos anjos e dos homens: Jesus Cristo, vítima universal oferecida a Deus
sobre o corpo das suas vítimas, estimulando os fiéis ao sacrifício das suas
vidas, pelo menos moralmente.
P317. Todos os altares são iguais?
R. Não. Os altares são diferenciados
segundo a forma de sua consagração ou da sua finalidade, havendo, basicamente,
três tipos de altares:
A – Fixo: quando a pedra inteira é
consagrada;
B – Portátil: quando foi consagrada somente
a pedra central;
C – Privilegiado: altar em que se permite
celebrar missas de defuntos mesmo nos dias proibidos em outros altares, ou que
gozam de indulgências temporais ou perpétuas específicas.
P318. Por que o altar está sempre acima do
nível do solo?
R. O altar deve ficar acima do nível do
solo, elevado pelo menos por um degrau ou base, para corresponder ao
significado literal e místico do seu próprio nome e da sua finalidade.
P319. Como a elevação do altar acima do
solo corresponde a sua finalidade?
R. Como a oração é a elevação da alma a
Deus, assim também é o sacrifício celebrado no altar, sinal público da mais
excelente oração, que deve ser oferecido num lugar elevado para nos lembrar que
devemos nos separar da terra, e nos elevarmos para o céu, aproximando-nos
espiritualmente do trono da misericórdia de Nosso Senhor.
P320. O que deve ser colocado no centro do
altar?
R. No centro do altar deve ser colocado um
tabernáculo, no qual se conservam as hóstias consagradas para a comunhão dos
fiéis, ou levadas aos enfermos, e a hóstia que é exposta à adoração nos ofícios
públicos.
P321. O que se coloca nas laterais do
altar, ao lado do tabernáculo?
R. Tanto à direita como à esquerda do
tabernáculo, colocam-se pequenos degraus, com flores, e candelabros com velas.
Pelo menos duas velas devem estar acesas durante a santa celebração,
multiplicando-se conforme a solenidade dos dias.
P322. Como o altar deve ser revestido?
R. O altar deve ser coberto por três toalhas bentas, sobre as quais coloca-se um missal apoiado em pequena estante, e três quadros denominados cânones do altar (sacras), um ao centro, contendo o texto que é recitado no meio do altar em momentos em que o sacerdote não possa ler comodamente o missal; o da direita, contém as orações da infusão do vinho e da água no cálice e o salmo do Lavabo; o terceiro, à esquerda, contém o último Evangelho segundo S. João.Nas Missas solenes e cantadas coloca-se ainda no altar o livro das epístolas e dos Evangelhos, e antigamente os instrumentos para o ósculo da paz.
P323. Por que se acendem luminárias durante
a Missa?
R. A origem deste costume se encontra no
início da era cristã, no tempo das perseguições, em que os fiéis, obrigados a
celebrar os santos mistérios em lugares escuros e antes do raiar do dia,
precisavam acender tochas que, às vezes, eram multiplicadas como sinal de
alegria.
P324. Há referência desse costume na
Escritura?
R. Sim. S. Lucas, nos Atos dos Apóstolos, 20, 7- 8, nos revela que, no local onde S. Paulo pronunciou um extenso discurso aos fiéis no primeiro dia da semana (domingo) havia uma grande quantidade de luminárias. Aí lemos: "E, no primeiro dia da semana, tendo-nos reunido para a fração do pão, Paulo, que devia partir no dia seguinte, falava com eles, e prolongou o discurso até a meia-noite. E havia muitas lâmpadas no Cenáculo, onde estávamos reunidos".Além disso, Eusébio nos diz que, na noite de Páscoa, além da iluminação das igrejas, o imperador Constantino ordenava acender todo o tipo de tochas em todas as ruas da cidade, para que aquela noite fosse mais brilhante que o dia mais claro (Euséb., História Ecles., 1. 5, c. 7).Assim, o costume das luzes durante a celebração da Missa é uma lembrança da mais remota Antigüidade, e como manifestação da alegria espiritual dos fiéis naquele santo momento.
P325. O costume de acender luzes não
surgiu, portanto, da pura necessidade natural de iluminação?
R. Não, pois, nos séculos III e IV, apesar
da profunda paz reinante, na qual a Igreja podia celebrar livremente, e com
grandiosidade, cerimônias mais solenes, sempre se acendiam lampadários durante
o dia.
P326. Há alguma referência histórica sobre
esse tema?
R. Sim, por exemplo, quando o herege
Vigilâncio se atreveu a acusar a Igreja de superstição porque pessoas piedosas
acendiam velas durante o dia nos túmulos dos mártires, S. Jerônimo lhe
respondeu indignado, referindo-se aos ofícios eclesiásticos: "Nós não
acendemos luzes durante o dia senão para mesclar de alguma alegria as trevas da
noite; para velar com a luz, e evitar dormirmos como vós, na cegueira das
trevas" (S. Jerônimo, Epist. ad Vigilant ).
P327. Por que o testemunho de S. Jerônimo é
importante para esse assunto?
R. Porque ninguém como ele poderia estar melhor informado sobre esse costume, pois ele havia visitado toda a Gália (França) e percorrido todo o Oriente e Ocidente. Assim, podemos dizer, sob sua autoridade, que não se acendiam luzes durante o dia porque haviam sido usadas no decorrer da noite, mas que nas igrejas do Oriente se acendiam luzes por motivos místicos: "Em todas as igrejas do Oriente, diz ele, se acendem velas durante o dia quando se lê o Evangelho, não para ver claro, mas como sinal da alegria e como símbolo da luz divina, luz da qual diz o salmo: vossa palavra é a luz que ilumina meus passos" (Id.) Esse mesmo motivo místico, que levou os fiéis a acender velas durante a leitura do Evangelho, determinou o costume posterior de mantê-las acesas durante a celebração do sacrifício em que Nosso Senhor, que é a verdadeira luz dos homens, está realmente presente; no qual o pontífice e o sacerdote, em suas elevadas funções, representam esta divina e evangélica claridade.
P328. Por que a Igreja sempre aprovou esses
costumes?
R. A Igreja sempre aprovou esses costumes
simbólicos porque eles são ensinamentos simples e edificantes para o povo.
P329. Há outros exemplos da utilização da
luz como símbolo da fé?
R. Sim, por exemplo, o antigo costume de se
colocar nas mãos do recém batizado um círio, e S. Cirilo de Jerusalém, no ano
550, dizia que estes círios acesos são símbolos da fé que se deve conservar com
todo o cuidado.
P330. Por que se abençoa e se acende o
círio pascal?
R. Há mais de 1200 anos se benze e se
acende o círio pascal para que a benção desta luz nos permita a contemplar a
sagrada ressurreição, ou seja, o brilho luminoso da nova vida de Jesus Cristo,
como afirma o 4º Concílio de Toledo, no ano 633, ao censurar as igrejas que não
observavam esta cerimônia.
P331. Por que se levam círios na festa da
apresentação de Jesus no Templo, e purificação de Nossa Senhora?
R. Levam-se círios na comemoração daquelas
festas para que os fiéis possam participar da alegria de Simeão ao tomar o
Menino Jesus em seus braços, expressando que Ele era a alegria das nações e
para indicar que devemos nos consumir diante do Senhor, unidos em Jesus Cristo,
como se consome a vela que levamos.
P331.1 Por que se acendem velas nas
cerimônias fúnebres?
R. No século IV, os corpos dos fiéis que haviam falecido na fé eram levados à igreja, em procissão com círios acesos. S. Paulo, S. Simeão Estilista e o próprio imperador Constantino, assim foram conduzidos para indicar, com este solene séqüito de luminárias, que eles eram verdadeiros filhos da luz.A quantidade de velas que ardiam, dia e noite, no túmulo dos mártires, conforme nos dizem S. Paulino e Prudêncio, brilhavam em homenagem à luz celestial de que usufruíam aqueles santos e que fazem a alegria dos cristãos: "Nasce a luz para os justos, e a alegria para os retos de coração" (Salmo 96, 11).Da mesma forma, os círios acesos durante o dia nas igrejas foram sempre considerados símbolos da verdadeira luz, conforme nos diz S. Jerônimo e Sto. Isidoro (Etym., 1. 7, c. 12).
P332. Que diziam S. Pedro e S. Paulo
utilizando a luz como símbolo?
R. S. Pedro dizia: todos vós sois filhos da
luz e do dia; e S. Paulo: antes vós éreis trevas, mas, agora, sois a luz no
Senhor: andai como filhos da luz.
P333. O que nos diz o Micrólogo sobre a luz
nas missas?
R. Afirma que nós nunca celebramos a missa
sem luz, não para dissipar o escuro, visto que é dia, mas para figurar e
anunciar a luz eterna e divina cujos sacramentos e gloriosos mistérios
celebramos.
P334. Haveria ainda algum outro motivo para
se acender luzes durante a Missa?
R. Sim. A Igreja acolhe também este costume
por sua relação ao espetáculo testemunhado por S. João no céu, quando viu o
Filho do Homem entre sete candelabros de ouro. Os círios acesos nos advertem
que devemos nos comportar como filhos da luz com a prática de atos de caridade,
de justiça e de verdade.
§ 2 – PREPARAÇÕES INTERIORES
Preparação particular dos sacerdotes indicadas
nas rubricas
P335. Que significa o termo ‘rubrica’?
R. Deu-se o nome de ‘rubrica’ às
observações escritas em letras vermelhas no sacerdotal, texto utilizado pelos
sacerdotes como preparação da Santa Missa, e no próprio Missal. Esta expressão
vem do antigo direito romano, cujos títulos, regrasou decisões principais, eram
escritas com caracteres em vermelho (rubro). As rubricas da Missa prescrevem o
modo de recitá-la, para que fossem mais facilmente distinguidas no texto.
P336. Quando foram ordenadas as rubricas do
Missal?
R. No final do século XV, pelo mestre de
cerimônias Burcard, durante o pontificado dos Papas Inocêncio VII e Alexandre
VI, sendo impressas pela primeira vez no Missal em 1485, em Roma, e no
sacerdotal alguns anos depois, sob o pontificado de Leão X. Posteriormente,
durante o Concílio de Trento, em 1570, o Papa S. Pio V reordenou e distribuiu
as rubricas nos títulos do Missal.
P337. Que prescreve a rubrica no
sacerdotal?
R. A primeira prescrição aos sacerdotes é
que eles devem se confessar caso seja necessário.
P338. Por que essa regra?
R. Porque ela é conseqüência direta do
preceito do apóstolo que disse: quem comer o pão da vida e beber o cálice do
Senhor indignamente será réu do corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; ou
seja, o sacerdote deve estar em estado de graça, que é também prescrito a todos
as fiéis para receberem o sacramento da Eucaristia. O estado de graça não
abrange somente a disposição do sacerdote e dos fiéis, mas também inclui o
discernimento conveniente entre o corpo de Nosso Senhor e o alimento que a
providência concede indistintamente a justos e pecadores.
P339. Qual é a segunda rubrica para a
preparação do sacerdote?
R. Ela prescreve também que o sacerdote
deva ter rezado pelo menos as matinas e as laudes, conjunto de orações do
ofício noturno e da manhã.
P340. Por que se exige dos sacerdotes pelo
menos tais orações antes da Missa?
R. Sempre foram feitas longas orações
vocais antes da Missa para excitar aqueles desejos que, como diz Sto. Agostinho
na Epist. ad Probam, produzem mais efeito quanto mais se animam. Este costume,
que é a preparação remota do santo sacrifício, remonta à antiguidade, pois já
no século VI sabemos que Sto. Atanásio celebrava as vigílias na igreja quando
teve que partir para o desterro. O motivo da celebração deste ofício, praticado
por Sto Atanásio, é que ele devia recitar na igreja a Sinaxe, ou seja, a assembléia
para o sacrifício, costume que ainda conserva resquícios em certas catedrais em
que será celebrada Missa solene.
P341. Por que a rubrica estabelece
explicitamente a condição ‘pelo menos’?
R. Pelo menos, porque se a Missa é
celebrada mais tarde exige-se então a recitação dos demais ofícios decorridos
entre laudes (5h da manhã) e a Missa.
P342. Que outra rubrica é prescrita ao
sacerdote antes da Missa?
R. Outra rubrica ordena ao sacerdote
aplicar algum tempo à oração. De fato, não basta a oração pública: a oração
mental deve sempre estar unida à oração vocal.
P343. Que considerações deve fazer o
sacerdote nessa preparação?
R. O sacerdote deverá considerar:
A - a excelência e a majestade dos
mistérios dos quais ele será o ministro, e sua profunda indignidade em
celebrá-lo;
B - dirigir sua atenção à oferenda do santo
sacrifício e levar a este trono de misericórdia a mais viva fé, a pureza mais
escrupulosa e o amor mais ardente a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Antigamente, em algumas catedrais em que
seriam celebradas missas solenes com a presença de grande número de
assistentes, o celebrante passava a semana anterior em retiro, para que essa
contrita preparação não fosse perturbada pelo movimento natural e ruído das
pessoas.
P344. Quais eram as orações marcadas pela
rubricas?
R. Havia muita variedade. Assim, no século
X, o sacramental de Tréveris, indica os três primeiros salmos, seguidos da
ladainha aos santos. No século XI, o Micrólogo indica os quatro primeiros
salmos, como se encontram nos missais e breviários. A Igreja deixa à devoção de
cada sacerdote a escolha das orações para sua preparação, para alimentar melhor
sua fé e a sua piedade.
§ 3 - PREPARAÇÕES EXTERIORES
P345. Qual é o primeiro dever exterior do
sacerdote?
R. O sacerdote deve preparar o que deverá
ler no Missal, para entendê-lo e recitá-lo melhor, bem como para evitar enganos
que poderão prejudicar a atenção e o acompanhamento dos assistentes, fazendo-os
cansar, ao procurar a correta seqüência do texto.
P346. Que outro ato externo o sacerdote
deve cumprir como preparação à celebração do santo sacrifício da Missa?
R. Antes do sacrifício, o sacerdote deve
lavar suas mãos na sacristia, regra seguida em todas as épocas e povos. A lei
antiga (Ex. 30, 18) a determinava expressamente, e os cristãos jamais a
descuidaram, como recomendavam S. Cirilo e S. Crisóstomo. Além disso, S.
Cesáreo ordenava a todos os participantes que lavassem suas mãos para receber a
eucaristia, como respeito ao santo sacrifício.
P347. Que visava a Igreja ao prescrever
aquela ablução?
R. A Igreja prescrevia lavar as mãos como
sinal externo da pureza interior necessária para entrar no santuário, como pede
a oração pronunciada durante aquele ato: “Senhor, tornai minhas mãos puras,
para que eu possa servir sem mancha alguma corporal ou espiritual.”
P348. Que mais é prescrito ao sacerdote
como preparação externa do santo sacrifício?
R. O sacerdote deve preparar o cálice como
observa a rubrica do Missal.
P349. Como deve ser o cálice?
R. O cálice deve ser uma taça de prata, dourado,
consagrado pelo bispo e que serve para a consagração do vinho em sangue de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
P350. Em que consiste a preparação do
cálice?
R. Esta preparação consiste em ordenar:
A - o cálice, que deverá ser bem lavado e
secado;
B - o purificatório, isto é, o lenço que
cobre o cálice, que serve para enxugar e purificar no altar as taças do
sacrifício, e que é como um pano sagrado da mesa divina;
C - a patena, pequena bandeja arredondada,
de prata dourada, consagrada como o cálice, na qual será colocada a Hóstia,
corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo; ela é disposta sobre o cálice e sobre o
purificatório;
D - o pão, também chamado de hóstia ou
vítima, que é a matéria destinada a converter-se no corpo do nosso Salvador;
este pão, de farinha sem levedura, de forma redonda e fino, coloca-se
inicialmente na patena que é coberta pela palio, lenço bento, para cobrir o
cálice durante a Missa, evitando, assim, que nada caia dentro dele. A palavra
pallia, vem de pallium, que significava capa ou cobertura;
E - o pano que cobre todo o cálice, do
mesmo tecido e cor dos paramentos;
F - finalmente, a bolsa que se coloca sobre
o altar, à esquerda do cálice, que contém o lenço sagrado, denominado corporal,
termo oriundo da palavra latina corpus, que é o quarto pano estendido para
receber o corpo de Cristo e as partículas que poderiam eventualmente se
desprender da hóstia consagrada.
Após essa preparação, o sacerdote e seus
auxiliares se revestem com os paramentos específicos para rezar a Missa.
P351. Por que há variedade de cor nos
paramentos do sacerdote, dos seus auxiliares, e na ornamentação do altar, no
decorrer do ano?
R. Assim como acontece nas comemorações
civis, que são realizadas com diferentes trajes conforme sua natureza, assim
também nas comemorações religiosas os fiéis usam de ornamentos específicos na
celebração do mais santo dos mistérios. Isso para melhor demonstrar aos fiéis,
através da sensibilidade, a particular natureza da comemoração: dias festivos,
como o Natal, a Páscoa, com paramentos claros; comemorações fúnebres, como as
da Paixão, com paramentos pretos, ou seja, para realçar exteriormente o brilho
ou a gravidade das funções divinas.
P352. Quem estabeleceu os paramentos para
as funções divinas?
R. Foi o próprio Deus, no antigo Testamento,
quem determinou os diferentes vestuários sagrados que deveriam ser utilizados
pelos ministros conforme a natureza do culto a ser prestado. S. Jerônimo, ao
comentar o que diz Ezequiel sobre o culto divino:
“Não devemos entrar no Santo dos Santos,
nem celebrar os sacramentos do Senhor trajando roupas comuns de uso diário... A
religião divina tem um traje para o ministério e outro para o uso comum”.
P353. É absolutamente necessário, para a
celebração dos santos mistérios, o brilho externo dos paramentos sacerdotais e
ornamentos do altar?
R. Evidentemente, não, pois não há dúvida
alguma que os santos mistérios, infinitamente grandes em si, não necessitam de
nenhum brilho externo. Assim, por exemplo, no tempo das perseguições o santo
sacrifício era oferecido com uma consciência pura da sua natureza, sem o uso de
paramentos específicos, devido às circunstâncias extremamente perigosas para os
cristãos. Porém, os homens precisam de sinais externos, visíveis e sensíveis,
para lembrá-los interiormente da grandeza invisível dos mistérios.
P354. Por que a Igreja utiliza paramentos e
ornamentos extremamente ricos?Não bastariam o asseio corporal e a simplicidade
dos paramentos?
R. A Igreja nunca receou celebrar os mistérios com majestade e riqueza porque tudo o que é excelso e valioso no mundo, vem de Deus e deve ser consagrado para sua glória, conforme afirmou o profeta “O ouro e a prata me pertencem, diz o Senhor”, (Ageu, 2-9) representando a glória do templo do Desejado pelas nações.Além disso, há inúmeras passagens na Sagrada Escritura nos revelando como o próprio Deus determinou paramentos específicos e ricos para as diversas cerimônias, bem como o uso de ouro e prata nos ornamentos do Templo, como, por exemplo, Êxodo, 28 / 38 /39; I Reis 9 ; II Crônicas 3 e 5; Esdras 8; Malaquias 3, etc.Por isso a Igreja logo ergueu e adornou também ricamente templos tão grandiosos, majestosos tão logo os imperadores e reis abraçaram ou deram liberdade ao cristianismo.
P355. Há registros históricos desses
acontecimentos?
R. Sim, e muitos, como por exemplo:
A - lemos em Teodoreto que o imperador
Constantino deu a Macário, bispo de Jerusalém, uma túnica tecida em ouro para
que ele a usasse ao ministrar o sacramento do Batismo;
B - Optato de Mileva escreveu que o
imperador enviou muitos ricos ornamentos para as igrejas;
C - S. Gregório Nazianzeno realça o brilho
dos paramentos dos sacerdotes;
D - Eusébio, bispo de Cesárea (313), fala
dos paramentos dos bispos como de trajes que os enobreciam;
E - o sacerdote Nepociano tinha tanto respeito
e estima pela túnica que usava para oferecer o santo sacrifício, que a deixou
por testamento a S. Jerônimo.
P356. Como foi estabelecido o traje
específico do sacerdote para a celebração da Missa?
R. Inicialmente, o uso de traje específico
para a Missa foi observado por devoção. Posteriormente, os Papas e os Concílios
ordenaram aos sacerdotes de celebrarem o santo sacrifício somente com
paramentos consagrados para esta santa ação, e proibiram, sob severas penas, de
servirem-se deles para o uso comum.
P357. Por que os paramentos da Missa devem
ser abençoados pelo bispo?
R. Para mostrar claramente o elevado e
único fim a que são destinados.
P358. Como era a benção dos paramentos da
santa Missa?
R. Segundo a liturgia de S. Jerônimo, os
gregos os abençoavam cada um em particular, com o sinal da cruz, acompanhado de
oração específica, sempre que os vestiam. Assim também faziam os latinos
antigamente, e ainda nos nossos dias dizem orações semelhantes todas as vezes
que os impõem.
P359. Como eram, inicialmente, os
paramentos utilizados pelos sacerdotes?
R. No início os paramentos eram semelhantes
ao vestuário comum, mas, como estes sofreram algumas mudanças, assim também os
paramentos sagrados passaram por alterações, sendo hoje bem distintos uns dos
outros.
P360. Que é preciso analisar para se
entender os paramentos utilizados atualmente?
R. Para uma visão mais profunda dos
paramentos é preciso estudar sua origem, as alterações que foram estabelecidas
tanto para o asseio como para a comodidade, os objetivos da Igreja em ordenar e
regulamentar seu uso, e as orações pronunciadas pelos sacerdotes ao vesti-los.
P361. Quais são as peças dos paramentos
sacerdotais para a celebração da Missa?
R. As peças dos paramentos para a
celebração da santa Missa são:
1 – O amito;
2 – A alba;
3 – O cíngulo;
4 – O manípulo;
5 – A estola;
6 – A casula;
7 – A estola dos diáconos;
8 – A dalmática;
P362. O que é o amito?
R. Amito, originário da palavra latina
amicere, que significa cobrir, é um lenço introduzido no século VIII para cobrir
o pescoço, preservar a voz e consagrá-la ao Senhor para cantar seus louvores.
Em Roma, no século X, foi considerado como um capus que ficava cobrindo a
cabeça do sacerdote enquanto este se paramentava, e o deixava cair sobre seu
pescoço imediatamente antes de começar a Missa.
P363. Qual é o procedimento atual do
sacerdote ao vestir o amito?
R. O sacerdote toma o amito e pronuncia as
seguintes palavras: “ Colocai Senhor o capacete da salvação em minha cabeça.”
Segundo o missal romano, embora o amito seja colocado na cabeça e imediatamente
no pescoço, o sacerdote deve sempre lembrar-se do sinal que ele indica, como
sendo o capacete e a armadura contra os ataques do demônio e de guarda da sua
voz. A partir de então, entrar em profundo recolhimento e guardar o mais
rigoroso silêncio para celebrar o santo sacrifício.
P364. O que é a alba?
R. A alba, assim chamada devido à sua cor
branca, era uma larga túnica de linho usada por pessoas distintas, no Império
Romano.
P365. Por que a Igreja passou a usá-la como
paramento litúrgico?
R. Como explica S. Jerônimo (Adv. Pelag.,
1, 1), a Igreja passou a usá-la para indicar a dignidade da casa de Deus, e
porque sua cor branca simboliza a suma pureza dos que seguem na terra o
cordeiro sem mancha, e no céu, os anjos, representados e revestidos também com
túnicas brancas.
P366. Que oração acompanha o vestir a alba?
R. Ao vestir a alba, o sacerdote pede a
Deus para torná-lo branco (puro) no sangue do cordeiro e merecer participar das
alegrias celestiais.
P367. Que é o cíngulo?
R. O cíngulo é um cinto em forma de cordão
com que o sacerdote cinge a cintura, pedindo a Deus que coloque um cinto em
seus rins, para conservar sua pureza.
P368. Que é manípulo?
R. Manípulo, originário do termo mappula,
significa pequeno lenço, chamado também de sudarium (enxugar o suor), na França
e Inglaterra. Da palavra mappula se formou o termo manípula, encontrado nos
antigos pontificais do século IX, ainda que é verossímel também que aquele
termo tenha sua origem na palavra manus, mão, porque se usava preso ao braço ou
à mão esquerda.
P369. Qual sua função no paramental
litúrgico?
R. O manípulo substituiu o orarium, ou a
estola, quando esta não serviu mais para enxugar o pescoço e o rosto. Com o
passar do tempo, o manípulo passou a ser cada vez mais ornamentado, e no século
XII já não servia mais para a sua finalidade original. Assim, a partir de 1195,
o cardeal Lotário, futuro papa Inocêncio III, fala do manípulo, não mais para
enxugar o corpo, mas para enxugar a alma e o coração, para afastar o temor dos
trabalhos, suores e lágrimas evangélicas e infundir o amor às boas obras.
P370. Com que oração o sacerdote o veste
hoje?
R. Há mais de seiscentos anos os sacerdotes
repetem a seguinte oração ao vestir o manípulo: “Mereça eu, Senhor, usar o
manípulo das dores e lágrimas para receber com alegria a recompensa do
trabalho”. Essa oração se fundamenta no Salmo 125, 6: “Os que semeiam entre
lágrimas, com alegria ceifarão. Vão andando e choram, levando as sementes para
espalhar. Quando voltarem, virão com alegria, trazendo os seus punhados.”
Manípulos, no Salmo, significa também feixes, punhado.
P371. O termo manípulos, neste Salmo, tem
outros sentidos?
R. Sim. No Salmo acima há dois significados
para aquela palavra: o primeiro, indica o punhado que carregavam nas mãos ao
partirem para a semeadura; o outro, do punhado que os colhedores traziam ou o
seu fruto.
P372. Que simbolizam esses dois
significados?
R. Que neste mundo se planta com trabalho e
sofrimentos; e que no outro, se carrega com alegria os frutos daquele trabalho,
para o qual a Igreja nos anima.
P373. Que é a estola?
R. Estola, antigo orarium, era um lenço
grande e fino, usado por pessoas abastadas para enxugar o rosto. Geralmente,
era utilizado por pessoas que falavam em público (daí o termo orare, oratio,
significando discurso) e, por isso, era levado também pelo bispo, pelo
sacerdote e pelo diácono, nunca, porém, pelos ministros das ordens menores que
não tinham o poder de anunciar a palavra de Deus.
P374. Quando passou a ser empregado, nos
moldes de hoje, como paramento pela Igreja?
R. Embora, pela tradição ele tenha sido
sempre empregado na Igreja, desde o século VI há muitas pinturas relativas à
Igreja grega e à latina em que se nota a estola, de seda e larga, como usada
nos nossos dias. A Igreja sempre a viu como um traje de honra e de autoridade
espiritual.
P375. Com que oração o sacerdote veste a
estola?
R. O sacerdote veste a estola com a
seguinte oração: “Dai-me, Senhor, a túnica da imortalidade que perdi pelo
pecado com a queda do nosso primeiro pai”.
P376. Que é a casula?
R. Casula era um grande manto redondo, muito largo, com uma abertura para passar a cabeça, cobrindo todo o corpo, traje comum que todos os homens usavam como manto, durante os sete primeiros séculos da era cristã. Depois o povo deixou de usá-la, sendo conservado somente pelas pessoas consagradas a Deus, como último paramento vestido pelo sacerdote para celebrar a santa Missa.
P377. Há quanto tempo os sacerdotes
utilizam a casula para a celebração da Missa?
R. Há mais de mil anos a Igreja entrega a
casula aos sacerdotes ao ordená-los, como traje específico para oferecer o
santo sacrifício.
P378. Que simboliza a casula?
R. A casula simboliza a caridade que deve
cobrir o sacerdote o jugo amável de Nosso Senhor Jesus Cristo que o
sacrificador deve realizar com graça e alegria. A casula tem a cruz desenhada
às costas.
P379. Que oração recita o sacerdote ao
vestir a casula?
R. A casula traz desenhada às costas a
cruz. O sacerdote, que deve fundar sua glória em levar a cruz de Cristo, ao
vestir a casula, diz: “Senhor, que dissestes: meu jugo é suave e meu peso é
leve, fazei que eu o porte de modo a merecer a sua graça”.
P380. O que é a estola dos diáconos?
R. Os diáconos, que auxiliam ao sacerdote
no altar durante a celebração da santa Missa, além do amito, da Alba, do
manípulo e do cíngulo, vestem uma estola própria, e a dalmática.
P381. Qual a origem dessa estola?
R. A estola dos diáconos teve a mesma
origem da estola dos sacerdotes; um lenço fino e largo, colocado sobre o ombro
esquerdo, assim como era usado pelos servidores romanos em suas festas solenes.
S. Crisóstomo dizia que as pontas da estola dos diáconos flutuantes ao vento
imitavam as asas dos anjos, e representavam a sua atividade (Hom. De filio pródigo).
O IV Concílio de Toledo, em 633, determinou aos diáconos que só usassem um
orarium no ombro esquerdo e, prendendo as extremidades no lado direito, sob a
dalmática.
P382. Que era a dalmática?
R. Era uma túnica com mangas curtas e
próprias para facilitar os movimentos dos que a usavam.
P383. Qual a origem da dalmática?
R. A dalmática era um vestuário usado na
Dalmácia, daí seu nome; foi introduzida em Roma no século II.
P384. Como Sto. Isidoro considerava a
dalmática?
R. Sto. Isidoro, no século VI, considerava
a dalmática como veste sagrada, branca e adornada com bainhas em púrpura. Por
isso ela se tornou um traje solene, devendo inspirar uma santa alegria,
conforme a expressão do pontifical (De ordin. Diac.). Além da dalmática, os
diáconos usam também a estola.
P385. Por que os sacerdotes e ministros
devem usar tais paramentos?
R. Tais paramentos são utilizados pelos
sacerdotes e ministros para atender os desejos da Igreja de se revestirem de
justiça (Ps 131), ou seja, do conjunto de virtudes convenientes ao seu
ministério.
P386. Qual deve ser o vestuário dos fiéis
durante a celebração do Santo Sacrifício da Missa?
R. A Igreja recomenda aos fiéis que devem
se aproximar daquelas virtudes próprias do sacrifício que oferecem através do
celebrante a Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, o amito deve lembrá-los da
decência dos vestidos e do recolhimento e do silêncio na casa de Deus; a Alba e
o cíngulo, devem lembrar a pureza e a modéstia; o manípulo lembra a santa vida
e as boas obras da fé que devem unir à santa vítima; a estola, a dignidade da
sua vocação que convida a sacrificar na terra e a reinar no céu; a casula,
lembra o fogo da fé e da lei de Deus com que devem subir ao altar e de praticar
no mundo todos os atos da sua vida; enfim, o vestuário deve mostrar para a alma
a grandeza do sacrifício, o seu tempo de preparação e a abundância de frutos
que dele devem usufruir.
P387. Por que os paramentos são de
diferentes cores?
R. As cores também devem acompanhar o estado de espírito com que a Igreja celebra as diversas festividades. Assim, já no início do século IV, a cor era a branca, pelos mesmos motivos expostos quando tratamos da Alba, e algumas vezes se usou a cor vermelha, ou a púrpura, que entre os gregos era sinal de luto. O branco indicava a pureza do cordeiro sem mancha, e a púrpura, o luto. Usava-se o branco nas solenidades e festas comuns, e o vermelho nos dias de jejum e nas cerimônias fúnebres.Porém, logo se passou a usar a cor preta para simbolizar o luto, a exemplo do patriarca Acácio de Constantinopla que, para demonstrar a aflição e a dor que sentira pela promulgação do edito do imperador Basilisco contra o Concílio de Calcedônia, se cobriu de preto e revestindo assim também o altar e a cátedra patriarcal.
P388. Além das cores branca e vermelha, que
outras cores a Igreja latina utilizava?
R. Além daquelas cores, a Igreja latina
utilizava também paramentos azuis para que os fiéis pensassem no céu, como
dizia Ivon de Chartres. No século XII, porém, a Igreja latina passou a usar
paramentos em cinco cores diferentes para celebrar comemorações específicas.
P389. Quais foram as cinco cores utilizadas
usadas pela Igreja latina após o século XII?
R. Foram as seguintes cores: branca,
vermelha, verde, violeta e preta.
P390. Que significado tinha cada uma
daquelas cores?
R. Cada cor era usada para lembrar aos
fiéis as diversas disposições da alma segundo a natureza da festividade
comemorada. Assim, cada cor significava:
1- Branca: simbolizava a alegria, o brilho
e a pureza; utilizada nos dias comemorativos dos mistérios gozosos e gloriosos
de Nosso Senhor Jesus Cristo, nas festas dedicadas à Nossa Senhora e à maior
parte dos santos;
2- Vermelha: lembrava o espírito de
sacrifício, a efusão do sangue, o ardor da caridade; usada na Sexta-feira
Santa; no dia de Pentecostes, na festa dos Apóstolos e dos mártires;
3- Verde: indicava aos fiéis a fecundidade
do campo e da riqueza proveniente das ações espirituais; utilizada a partir do
domingo da Santíssima Trindade até o Advento;
4- Violeta: símbolo da penitência; usada no
tempo do Advento, da Sexagésima (60 dias antes da Páscoa) e da Quaresma;
5- Preta: como sinal de luto da Igreja e
dos seus filhos, no tempo da Paixão e nas Missas fúnebres.
P391. Por que os ornamentos dos paramentos
litúrgicos são sempre dourados?
R. Os ornamentos dos paramentos são sempre
dourados pois esta cor figura todas as classes de cores.
P392. Que lição fundamental a Igreja nos dá
através dos seus diversos paramentos litúrgicos?
R. Qualquer que seja o costume estabelecido
nesse campo, devemos sempre acatar e reverenciar a Igreja como a esposa de
Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem se escreveu: “A rainha está à vossa direita,
adornada com admirável variedade”.
Da benção e aspersão da água - das procissões e
da chegada do sacerdote ao altar
§ 1 – Benção e aspersão da água
P393. Que ordena a rubrica do Missal quanto
à água?
R. A rubrica do Missal ordena que todos os
domingos, antes da Missa, o celebrante, revestido com todos os paramentos
sagrados, exceto a casula, deve benzer a água para aspergi-la sobre o povo.
P394. Quando começou essa tradição?
R. A benção e a aspersão da água sobre os
fiéis é uma tradição muito antiga. Já S. Basílio, Bispo de Cesárea e Doutor da
Igreja, que viveu no século IV, a colocava entre as tradições apostólicas. Além
disso, os padres mais antigos da Igreja nos falam dessa água purificada e
santificada pelo sacerdote, cuja finalidade, ao aspergi-la sobre o povo, é de
purificá-lo e prepará-lo para a santa oblação.
P395. Quais são os elementos utilizados na
benção da água?
R. Os elementos utilizados para a benção da
água são: água e sal.
P396. Por que se utiliza do sal e da água
para a benção?
R. Porque a virtude da água é de lavar, e a
do sal é de preservar da corrupção. Ao tomar estes símbolos comuns de pureza e
de salubridade, a Igreja os exorcisa, isto é, os ordena, por parte de Deus e
pelos méritos da cruz de Jesus Cristo, que não prejudiquem os homens pelo abuso
que o demônio poderia fazer deles, e que, pelo contrário, lhes seja útil para a
salvação.
P397. Por que a Igreja invoca o poder
divino sobre o sal?
R. Para que ele preserve os homens de tudo
quanto possa ser prejudicial à salvação, da mesma forma que o profeta Elias
lançou sal sobre as águas de Jericó, para torná-las salubres à terra, dizendo
da parte de Deus que estas águas não causariam a morte nem a esterilidade. Para
isto também são feitos os exorcismos que se fazem sobre a água batismal, para a
consagração das igrejas e sobre os objetos inanimados.
P398. Quando a Igreja começou a fazer
exorcismos?
R. Os exorcismos remontam à mais antiga
era. Tertuliano se refere a eles quando diz que “as águas são santificadas pela
invocação de Deus” (De Bapt. C. 40); e São Cirilo afirma mais claramente que é
preciso que a água seja purificada e santificada pelo sacerdote (Epístola 70).
P399. Como o sacerdote procede à benção da
água?
R. O sacerdote abençoa e mistura o sal na
água, reunindo os dois efeitos de purificar e de preservar da corrupção,
dizendo: “Faça-se a mistura do sal e da água, em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo” , fazendo vários sinais da cruz para indicar que só esperamos
os efeitos que estes sinais expressam, implorando a onipotência da Santíssima
Trindade, pelos méritos da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
P400. Que pede a Deus o sacerdote depois do
exorcismo do sal?
R. Depois do exorcismo do sal o sacerdote
pede a Deus: “Que sirva este sal a todos quantos o tomem para a saúde do seu
corpo e da sua alma, e que tudo o que for tocado por ele se preserve de toda
impureza e de qualquer ataque do espírito da malícia”.
P401. Que diz o sacerdote após o exorcismo
da água?
R. Diz ele: “Derramai, Senhor, a virtude da
vossa benção sobre este elemento preparado para as diversas purificações; a fim
de que receba vossa criatura, servindo aos vossos mistérios, o efeito da vossa
divina graça para lançar os demônios e as enfermidades; que tudo quanto seja
por ela tocado nas casas e nos demais lugares dos fiéis, se preserve de toda a
impureza e de todo o mal; q ue afaste desta água todo o sopro pestilento, todo
o ar corrompido, que a preserve de todo o ataque do inimigo oculto, e de tudo
quanto possa ser danoso à saúde e ao repouso dos que lá vivem; e, finalmente,
que se conserve contra todo o tipo de ataques esta saúde que pedimos por
invocação do vosso santo nome”.
P402. Que proveito podemos tirar dos
ensinamentos acima?
R. Os ensinamentos acima nos convidam a
usar da água benta na igreja, bem como a conservá-la em nossas casas, para dela
nos servir nas tentações, ao deitar, ao despertar, para pedir o auxílio de Deus
em todas as circunstâncias de perigo, quer para o nosso corpo como para nossa
alma.
P403. Por que o sacerdote asperge o altar e
o santuário?
R. O sacerdote asperge o altar e o
santuário para afastar o que poderia perturbar o recolhimento dos ministros. O
sacerdote asperge a si mesmo e ao povo para dispô-lo a participar com ele das
graças que ele pediu para a Igreja na benção da água, e diz em voz baixa o
salmo Miserere, porque, para obter essas graças, é preciso manter a atitude de
arrependimento e penitência expressa neste salmo.
P404. Como responde o povo a este salmo?
R. O povo canta somente o primeiro versículo
do Miserere, acrescentando, antes e depois, esta antífona: Vós me tocareis,
Senhor, com o hisopo, e serei purificado: me lavareis e ficarei mais branco que
a neve. .
P405. O que é o hisopo?
R. Hisopo é o menor arbusto; suas folhas,
escuras e esponjosas, são próprias para reter a água para a aspersão, e sua
propriedade, que é de purificar e secar os maus tumores, é feita como um sinal
muito apropriado da purificação do corpo e da alma.
P406. O hisopo foi sempre utilizado para a
aspersão?
R. Sim. No Antigo Testamento havia a
aspersão do sangue do cordeiro nas portas dos israelitas como hisopo (Ex 12,
22), bem como o sangue e cinzas da vaca e da água para purificar da lepra. Mas
o profeta e a Igreja visavam mais a aspersão do sangue de Cristo, do qual aquelas
eram figuras na lei antiga. Por isso devemos pedir nesta cerimônia, a aspersão
do sangue de Cristo, ou seja, a aplicação dos méritos deste preciosíssimo
sangue, o único que pode apagar os nossos pecados e nos preservar de todos os
males.
P407. Como o sacerdote termina esta oração?
R. O sacerdote conclui a oração
dizendo:”Ouvi-nos, Senhor, Padre Onipotente, Deus eterno; dignai-vos enviar dos
céus vosso santo anjo para que governe,vigie, proteja, visite e defenda a todos
os que estão neste lugar. Por Nosso Senhor Jesus Cristo”.
P408. A que anjo o sacerdote se refere
naquela oração?
R. É o mesmo anjo que Deus enviou a Tobias
e que o preservou contra todos os ataques do espírito maligno que havia matado
os sete maridos de Sara, conduzindo-o são e salvo.
§ 2 – Procissão antes da Missa
P409. Que significa “Procissão”?
R. A palavra procissão vem do termo latino
procedere, que significa marchar, ou ir adiante. Por procissão se entende a
marcha, o caminhar, que fazem o clero e o povo rezando para determinados fins
religiosos, levando à frente a cruz de Cristo, que é o caminho e guia dos
fiéis.
P410. Quais são as origens das procissões?
R. Seguindo a tradição do Antigo
Testamento, havia procissões para levar a arca santa de um lugar para outro; no
século VI vemos o costume de celebrar-se Missa nos túmulos de mártires, ou em
lugares de devoção; fazia também procissões para benzer cemitérios e lugares
próximos de igrejas.
P411. Quando se realizavam as procissões?
R. As procissões eram feitas no raiar do
dia para imitar as santas mulheres que se dirigiram bem cedo ao sepulcro de
Nosso Senhor.
P412. Por que se fazem procissões antes da
Missa nos domingos e festas solenes?
R. A finalidade das procissões antes da
Missas é de abençoar os caminhos e as casas com a água santificada e,
principalmente, pela presença de Cristo, como nas solenes procissões da Páscoa.
P413.Há outras finalidades nas procissões?
R. Sim; como de honrar algum mistério, como
a entrada de Nosso Senhor no templo, ou sua entrada triunfal em Jerusalém no
dia de ramos; da sua ascensão ao céu; ou atrair as bênçãos de Deus sobre os
bens da terra, etc. A finalidade principal das procissões é de mostrar que o
cristão é um viajante em desterro na terra e que o céu é sua verdadeira pátria
para a qual ele se encaminha guiado por Cristo, sob a proteção de Nossa Senhora
e dos santos patronos, cujos estandartes ele leva, iluminado pela luz da fé,
pelo exercício da oração e da penitência, para chegar ao altar visível e deste
ao altar do céu, onde está o verdadeiro repouso e a felicidade eterna: estes
são os piedosos motivos que devem animar os fiéis nas procissões.
P414. Há paramentos especiais para o
sacerdote e clérigos nas procissões?
R. Sim. Normalmente o sacerdote usa a
cappa, que era um grande manto com um capus que o abrigava da chuva; daí o
nome: pluvial. Hoje, a capa é só um ornamento.
P415. Como o povo acompanha a procissão?
R. Durante a procissão cantam-se hinos,
salmos, antífonas, ladainhas e mais freqüentemente responsórios, finalizando
com uma oração geral recitada pelo sacerdote que a dirige.
§ 3 – Chegada do sacerdote ao altar
P416. Que faz o sacerdote ao fim de tudo o
que precede o Santo Sacrifício?
R. Terminada a preparação do sacerdote à
oblação propriamente dita, e tendo se revestido dos paramentos, com as virtudes
que são próprias às suas funções, com as armas da luz e a luz mesma que lhe
serve de capa (Ps. 102), faz o sacerdote uma reverência respeitosa à cruz
situada na sacristia, recebendo como embaixador de Cristo que o envia as últimas
instruções para realizar o Santo Sacrifício.
P417. Que significa a casula que reveste o
sacerdote?
R. A casula lembra Nosso Senhor Jesus
Cristo subindo ao Calvário, carregando o divino madeiro; e, avançando, o
sacerdote segue em espírito como ao sacrificador principal de que ele é indigno
representante.
P418. Que significa o caminho do sacerdote
da sacristia ao altar?
R. O sacerdote se encaminha da sacristia ao
altar, conforme determina a rubrica, pois deve revestir-se na sacristia e este
caminho representa o Salvador vindo a este mundo, manifestando a vontade de se
oferecer e começando o seu sacrifício desde a Encarnação.
P419. Que representam os acólitos?
R. Os acólitos, portando velas acesas e
precedendo o sacerdote, simbolizam a luz que ilumina todo homem que vem ao
mundo e que brilhou para os que se encontravam nas trevas e nas sombras da
morte.
P420. Por que os acólitos levam a cruz, e o
incenso?
R. Levam a cruz para mostrar o sacrifício
que marcou a vida de um Deus feito homem; o incenso, para indicar o perfume da
doutrina e das virtudes que ele veio ensinar ao mundo.
P421 Que representam os demais
participantes da procissão que antecedem o sacerdote celebrante?
R. Os membros da ordens menores representam
a longa série de profetas; o subdiácono e o diácono, que são como os apóstolos
da Nova Lei e do evangelho. (Nota: as ordens menores foram suprimidas após o
Concílio Vaticano II).
P422. Por que caminham com passo lento e
sério?
R. Assim caminham como convém ao
representante de um Deus e dispensador dos mistérios sagrados. Em missas
solenes o sacerdote é acompanhado por outro com cappa, denominado de
assistente, para substituí-lo se por algum motivo ele não possa concluir o
Santo Sacrifício, e para auxiliá-lo e servi-lo durante a liturgia.
P423. Que mais ordena a rubrica quanto à
procissão antes da Missa?
R. A rubrica determina ainda que o
sacerdote deve andar de cabeça coberta, significando que ele está revestido da
autoridade de Cristo e só se descobre quando passa diante de um altar ou diante
do Santíssimo Sacramento exposto, ou quando da elevação ou da comunhão.
SEGUNDA PARTE
Explicação das orações e cerimônias da Santa Missa
CAPÍTULO I
Primeira parte da Missa: da Preparação
pública ao sacrifício e da entrada ao altar
Esta preparação inclui o Sinal da Cruz, o
salmo Judica me Deus, a confissão dos pecados (Confiteor), as orações para
alcançar o seu perdão e para pedir a graça de subir ao altar com pureza. A
entrada ao altar compreende o uso do incenso nas Missas solenes, o Intróito, o
Kyrie e o Gloria in excelsis Deo.
§ 1 - DA PREPARAÇÂO PÚBLICA AO SACRIFÍCIO
P424. Quando surgiu a preparação pública do
sacerdote à santa Missa?
R. A preparação pública para a Santa Missa
surgiu no século IX, e era feita pelo sacerdote, não no altar, mas na
sacristia, enquanto o coro cantava o salmo do Intróito, ou entrada, e o povo a
ele se unia com a invocação do Kyrie eleison. Somente no século XIII, o
sacerdote passou a fazê-la diante do altar, quando da sua entrada, iniciando a
Missa.
P425. O que representa a chegada do
sacerdote ao altar?
R. A chegada do sacerdote ao altar
representa a entrada de Jesus Cristo no mundo pela encarnação, e a humilhação
do Verbo que se fez carne e assumiu todas as nossas iniqüidades.
P426. Que outras figuras representa o
sacerdote diante do altar?
R. Para se entender as cerimônias em suas
menores particularidades, o sacerdote diante do altar representa diversos
personagens.
P427. Que personagens representa o
sacerdote diante do altar?
R. Diante do altar, o sacerdote representa
ou figura diversos personagens, tais como:
1º - representante de Deus e dispensador de
Seus mistérios;
2º - ministro da Igreja e delegado dos
fiéis;
3º - homem pecador, sob cujo aspecto se
confunde com os assistentes.
P428. Que deveres acarretam ao sacerdote
tais representações?
R. As diversas representações do sacerdote
diante do altar acarretam os seguintes deveres:
1º - como representante de Deus, ele não
pode abandonar o santuário, lugar de sacrificador;
2º - como homem, ele se detem no primeiro
degrau que leva ao altar;
3º - como delegado dos fiéis diante do
Senhor, ocupa o lugar intermediário, entre o povo e o Senhor;
4º - como pecador, se inclina profundamente
e se prosterna diante da suprema majestade;
5º - como sacerdote, se ergue e permanece
em pé; porém, seguindo o exemplo do publicano, a longe stans (Lc 18), separado
do altar quanto lhe permite o seu ministério.
Nesta atitude, em que se une e confunde a
dignidade e a miséria, a responsabilidade em relação a Deus e a mediação com os
homens, a humanidade e o sacerdócio, a santidade do ministério e a debilidade
da natureza, o sacerdote beija, com todo o respeito, o livro do Evangelho.
P429. Por que o sacerdote beija o
Evangelho?
R. O sacerdote beija o livro do Evangelho
para reanimar seu valor e sua confiança para começar o sacrifício, pois, uma
vez chegando ao altar, na presença de Deus, seus passos vacilavam de terror e
de respeito diante do Todo Poderoso.
P430. Por que o Evangelho reanima e dá
confiança ao sacerdote?
R. Porque este é o livro que contem seus
direitos à oblação, seus títulos de sacerdócio, a origem e a fonte dos seus
poderes, a grandeza da sua missão; é o livro em que resplandece a bondade
daquele que veio a chamar os justos e os pecadores, cuja misericórdia concedeu
o cargo pastoral ao amor arrependido.
P431. Por que o subdiácono apresenta o
livro do Evangelho ao celebrante?
R. Assim como na marcha triunfal dos
imperadores romanos um arauto os seguia para lembrar-lhes que eram homens, no
caminhar do sacerdote ao altar, um ministro deve lembrar a este homem abençoado
por Deus que ele é o sacerdote do Altíssimo e mediador de uma aliança divina.
Ao beijar o livro, o sacerdote demonstra sua modéstia e nobre confiança nas promessas
de Nosso Senhor nele contidas.
P432. Que representa a inclinação profunda
do sacerdote ainda ao pé do altar?
R. A prostração do sacerdote representa,
além do rebaixamento do Verbo feito carne, a pobreza do nascimento do Salvador,
a obscuridade da sua vida, as humilhações do seu ministério público e,
principalmente, o início da Paixão no Horto das Oliveiras, em que Jesus,
seguido pelos seus discípulos, afastando-se deles, rezou prostrado, com o rosto
na terra, e aceitou o cálice dos seus padecimentos.
P433. Por que o sacerdote faz essa
prostração?
R. O sacerdote faz a profunda inclinação
pois, ainda que sua alma esteja preparada ao sacrifício pela santidade da sua
vida, pelo recolhimento habitual, pelo fervor da oração e da meditação, e pelas
lembranças das virtudes que Deus exige do seu representante, simbolizados pelos
paramentos sagrados que o revestem, é necessária também uma preparação externa,
pública, pela dignidade da ação que vai acontecer no altar, e para mostrar aos
fiéis que não devem tomar parte nela sem a devida preparação.
P434. Por que o sacerdote começa a
celebração da Missa com a cabeça descoberta?
R. O sacerdote começa a celebração dessa
forma porque assim prescreve o rito antigo da Igreja e S.Paulo o recomenda. O
Concílio de Roma, presidido pelo Papa Zacarias, em 743, proíbe sob pena de
excomunhão ao bispo, ao sacerdote e ao diácono de assistir a Missa com a cabeça
coberta.
P435. Qual a postura habitual do sacerdote
durante a Missa?
R. O sacerdote habitualmente mantém as mãos
unidas, enquanto não há alguma ação ou oração que o façam sair dessa postura
piedosa.
Onde o Céu toca a terra! - um
percurso pelo Rito Romano Tradicional
Por Marcos Bonelli
"A liturgia é para Deus elevando os homens
até Ele.A liturgia tem sua própria medida,a medida da revelação, de Deus
mesmo" - Cardeal Ratzinger.
O Kyrie eleison
Sabemos que até o
século II, em Roma, a liturgia era rezada em grego. Atualmente o
"Kyrie eleison" é a unica oração feita em grego na missa romana
tradicional. Seriamos tentados a imaginar que ele seria um resquício de quando
toda a missa era rezada em grego em Roma. Porém, esta não parece ser a causa.
Ela parece ser uma "importação" vinda do Oriente, no século VI. Mesmo
no Oriente ela não parece ter sido usada antes do século IV. Ela era usada em
Antioquia para responder ladainhas, uma especialidade do rito antioqueno que se
espalhou pela Igreja com o tempo. A Igreja romana, provavelmente no final do
século V, por obra do Papa Gelásio, adotou a ladainha como forma de oração,
seguindo o costume oriental. Nesta oração o diácono anunciava uma série de
intenções e a cada uma delas o povo dizia "Kyrie eleison". Esta expressão, "Kyrie eleison", isto é,
"Senhor, piedade" existia já entre os pagãos. Os primeiros cristãos,
que viam em Cristo o Senhor por excelência, a empregavam com freqüência, mas desta
vez aplicando-a a Deus. Em um texto de São Gregório Magno se deduz que em sua
época esta ladainha ainda era rezada, mas havia-se introduzido o costume de não
anunciar as intenções em certos dias, e o clero juntamente com o povo se
limitava a repetir as aclamações "Kyrie eleison" e "Christe
eleison". Um documento litúrgico importante, chamado Ordo romanus
I, do século VIII, refere somente a repetição destas duas curtas expressões e
não pelo povo, mas pelo coro constituido pelo clero. Mais tarde o "Kyrie
eleison" foi enriquecido com melodias mais elaboradas e as nove repetições
dele foram fixadas para simbolizar a Santíssima Trindade. No rito da missa
aprovado por Paulo VI elas são reduzidas de nove para seis, sendo cada súplica
pronunciada apenas uma vez pelo sacerdote e pelo povo. Também
entre os luteranos o Kyrie é dito em seis invocações (L. Reed, The Lutheran
Liturgy, pp. 272 e 767).
O "Gloria in excelsis
Deo"
Fazia parte do ofício da manhã, tanto no
Oriente como no Ocidente. Em Roma ele começou a ser
usado na missa por volta do século V, mas somente na missa do galo, na
meia-noite do Natal. De fato, foi nesta noite que os anjos cantaram
"Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".
Seu uso então, no começo, foi um uso excepcional. A existência atual de dias em
que ele não é recitado é um resquício disso. O Papa Símaco, falecido em 514,
permitiu que os bispos, e somente eles, o rezassem também nos domingos e festas
dos mártires. Os simples padres tinham a autorização de rezá-lo somente no dia
da Páscoa. Mais tarde, nos séculos X-XI eles receberam a concessão de poder
rezá-lo em todas as festas. Também na liturgia romana tradicional
sobraram vestígios desta diversidade no uso do "Gloria" pelos bispos
e pelos padres. Quando se introduziu o "Gloria" na missa a frase
inicial ("et in terra pax hominibus") logo sugeriu a idéia de uma
diferenciação na saudação. Os bispos, que eram os únicos que podiam cantá-lo,
diziam depois de terminá-lo: "Pax vobis", pois soava melhor com o texto
do "Gloria". Era também a saudação que Nosso Senhor havia dirigido
aos Apóstolos. Ainda no século IX esta prática não
estava bem estabelecida. Ela se introduziu pouco a pouco até que Leão VII a
promulgou para os bispos da Gália e da Alemanha. O "Gloria" seria
cantado nos domingos e festas, seguido do "Pax vobis". Nos outros
dias os bispos não rezavam o "Gloria" na missa e diziam "Dominus
vobiscum". Quando os padres receberam a autorização de rezá-lo
também nas suas missas, a norma quanto ao "Pax vobis" não mudou,
permanecendo privilégio dos bispos. O Papa Inocêncio
III diz que a expressão "Pax vobis" ficou reservada aos bispos porque
são vigários de Cristo. A saudação do sacerdote "Dominus vobiscum" e
a resposta do povo "Et cum spiritu tuo" é encontrada no Concílio de
Braga, no ano 561, dizendo que assim deve ser feito "como todo o Oriente e
todo o Ocidente recebeu dos Apóstolos". Vale a pena notar que, conforme os
Apóstolos ensinaram e nos foi transmitido, o povo deve responder "E com o
teu espírito", e não "Ele está no meio de nós". Essa
tradução difere tão claramente dos originais latino, grego e hebraico que é de
se perguntar de onde foi tirada e com que fundamento. De fato, a resposta "E com o teu
espírito" é uma expressão semita encontrada na Sagrada Escritura e
significa simplesmente "E também contigo".
Coleta Antes de se voltar para os fiéis
e dizer "Dominus vobiscum"
O sacerdote beija o altar, como sinal de reverência a ele, que contém em seu interior relíquias de santos mártires e sobre o qual Deus estará substancialmente presente, depois da Consagração. A coleta é rezada pelo padre com as mãos separadas e em pé, porque era a primeira oração feita na missa com caráter público, como superior religioso colocado diante de Deus para rezar pelo povo. É interessante notar que as orações ao pé do altar são feitas pelo padre com as mãos juntas, mais um sinal de que eram inicialmente orações a serem ditas de modo privado. Antes de rezar a coleta, o padre dizia "Oremus, oremos". O diácono então acrescentava: "Flectamus genua, dobremos os joelhos". Todos, clero e fiéis, ajoelhavam por alguns instantes e rezavam em silêncio. Em seguida levantavam e o sacerdote rezava a oração na qual apresentava as necessidades de todos, numa oração muito direta e concisa. Reunindo todas estas necessidades, ela recebeu o nome de "coleta". A riqueza das coletas da liturgia romana tradicional é enorme e variadíssima. Não há graça ou virtude que não possam ser pedidas por meio das coletas do Missal romano: fé, esperança e caridade, paz, humildade, castidade, ajuda de Deus aos bispos e padres, ajuda de Deus sobre os governantes, dom das lágrimas, graças do Espírito Santo, orações pelo Papa, pelas Congregações romanas e aqueles que as dirigem, para ter chuva, para parar as chuvas, para acabar com uma peste, obter a cura de alguém, etc. Quem compôs as coletas, quando foram usadas pela primeira vez, porque estão na ordem atual e são usadas em tal ou tal missa, todas estas questões são mistérios que envolvem a origem do rito romano. As coletas mais antigas que conhecemos são as do Sacramentário Leonino. Quanto ao estilo de redação não há nada mais romano: brevíssimas, diretas, sóbrias. As orações orientais, ao contrário, são longas, repetitivas, cheias de voltas, rebuscadas. Além disso, as coletas do rito romano são escritas com métrica, no estilo clássico romano. Verdadeiras obras de arte com palavras, essas poesias, porém, não estão em versos, mas em prosa. Pode-se falar com todo rigor de uma forma literária peculiar das orações romanas, em um estilo próprio. Elas estão compostas em prosa ritmada, ao qual a Idade Média deu o nome de cursus. O Padre Bonano escreve, no seu "Curso de Liturgia Romana": "Dom Mocquereau comprovou que das 1.030 orações do Sacramentário Leoniano somente duas não são compostas em cursus. Distinguem-se três formas de cursus: Cursus planus (acentos na segunda e quinta sílabas começando pela final): única múndi, vóta placátus; Cursus tardus (acentos na terceira e na sexta sílabas começando pela final): Incarnatiónem cognóvimus, sémprer obtíneat; Cursus velox (acentos na segunda e na sétima, começando pela final): caeléstia capiámus, glóriam perducámur. Pode servir como exemplo a coleta do XXI Domingo depois de Pentecostes: 'Familiam tuam, quaesumus, Domine, continua pietáte custódi (cursus planus): ut a cunctis adversitatibus, te protegénte sit líbera (cursus tardus): et in bonis actibus tuo nómini sit devóta (cursus velox)' "(Pe. Manuel Garrido Bonano, Curso de Liturgia Romana, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1961, pp. 306-307). Uma enorme quantidade delas foi escrita por santos papas, como São Leão Magno, São Gelásio, São Gregório Magno, formados na cultura romana clássica e conhecedores eruditíssimos de seus autores - São Gregório Magno, por exemplo, conhecia de cor todas as obras de Virgílio, Horácio e Cícero - eles estavam muito habituados com o estilo romano de escrever. Estes santos papas não defendiam que a liturgia deveria ser plana e simplista. Para eles, e com razão, devemos dar para Deus o que temos de melhor. O melhor estilo de escrita que eles tinham na época eles deram para Deus. Os bens de Deus não deveriam ser achatados. A liturgia devia ser elevada, com aquilo que os homens podiam dar de melhor para Deus para que os homens se elevassem até Deus (não podemos esquecer que Jesus presidiu a primeira missa no andar de cima, conforme lemos em Lucas 22,8-23).A liturgia não deve ser para os homens para que continuem no nível dos homens. Ela deve ser para Deus elevando os homens até Deus. "A maneira com a qual o culto deve ser dado não está entre as coisas que se podem resolver por meios políticos; a liturgia tem sua própria medida, ou seja, só pode ordenar-se conforme a medida da revelação, de Deus mesmo" (Cardeal Ratzinger, O espírito da liturgia, in Obras completas, vol. XI, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 2012, p. 9).Como dissemos, antes do sacerdote rezar a coleta ele beija o altar, saúda os fiéis e os convida a rezar, dizendo: "Oremus". Isto mostra, por si só, a importância da coleta na liturgia. Esta saudação tem o valor de chamar a atenção dos fiéis para algo importante que se seguirá. O sacerdote convida todos os que estão presentes para prestar atenção à oração que ele rezará em nome de todos. Ao rezá-la o sacerdote adota a posição normal do orante: de pé, com os braços abertos e olhando para o Oriente, juntamente com os fiéis, onde o sol nasce. "A direção comum para o oriente não era celebração 'de frente para a parede', não significava que o sacerdote 'desse as costas ao povo', não se dava tanta importância ao sacerdote [nota nossa: no sentido daquilo que o mesmo Cardeal Ratzinger dissera algumas linhas antes, na mesma página: "Agora o sacerdote - o presidente, como é chamado agora - se converte no verdadeiro ponto de referência do conjunto"]. Assim como na sinagoga todos olhavam para Jerusalém, assim aqui todos olham 'para o Senhor' " (Cardeal Ratzinger, O espírito da liturgia, in Obras completas, vol. XI, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 2012, p. 46). O sacerdote junta as mãos quando diz, para concluir a oração, "Per Dominum nostrum Iesus Christum...", no momento mesmo em que diz o nome de Jesus. Não sabemos o motivo desta mudança de postura. Se os padres o fazem, como já dissemos, é porque simplesmente recebem o que lhes foi transmitido. Porém, é possível que este gesto de unir as duas mãos aos se falar o nome de Jesus simbolize que em Jesus estão unidas as duas naturezas, divina e humana, na única pessoa do Verbo. Até o século X não se dizia mais que uma coleta em Roma. Algum tempo antes os francos começaram o costume de rezar várias. Um erudito da época, Amalário, escreveu contra esta multiplicação de orações, dizendo que ia contra o costume de Roma. Porém o movimento introduzido não pode ser parado. O número de orações cresceu, mas sempre foi limitado a um número ímpar. O argumento era que, parafraseando Virgílio (Eglog. VIII, 75), "numero Deus impari gaudet" - Deus se alegra com o número ímpar! Evidentemente esta afirmação não deve ser tomada de modo primário e infantil, como se as pessoas da Antiguidade e da Idade Média fossem superficiais. Esta afirmação de Virgílio, graciosa no modo como é expressa, possui implícita vários princípios filosóficos importantes cuja explicação fugiria do propósito deste artigo.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
-https://www.a12.com/redacaoa12/historias-de-vida/a-parte-mais-importante-da-missa
-https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-sacramento-da-eucaristia-e-fonte-e-o-apice-da-vida-crista/
-https://padrepauloricardo.org/blog/participar-da-missa-voce-esta-fazendo-isso-errado
-https://www.montfort.org.br/bra/documentos/catecismo/missa/
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Meu Deus como é bela santa igreja Católica! Obrigada por tantos esclarecimentos
Maria das Graças MG
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