O JURAMENTO MILITAR A BANDEIRA:
“Incorporando-me ao Exército Brasileiro,
prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver
subordinado, respeitar os superiores hierárquicos, tratar com afeição os irmãos
de armas, e com bondade os subordinados, e dedicar-me inteiramente ao serviço
da Pátria, cuja Honra, Integridade, e Instituições, defenderei com o sacrifício
da própria vida.”
O juramento, em
outras palavras, consiste em afirmação ou promessa solene, em que se toma por
testemunha uma coisa que se tem como sagrada.No Brasil existem inúmeros juramentos
ou compromissos, inclusive na vida civil. Para ser admitido ao oficialato ou ao
ingressar como praça, cada candidato presta um juramento, o qual é decorrente
de exigência legal, influência histórica e tradição. O presidente do Brasil
presta juramento antes de ser empossado. Os senadores, os parlamentares, os
juízes e outros funcionários do governo prestam o juramento do cargo. Os
formandos de cursos universitários também prestam compromissos de ética e
fidelidade para com suas novas profissões, a exemplo do médico que ao se formar
jura cumprir o Código de deontologia médica, atribuído a Hipócrates.
Os juramentos
militares remontam à Roma antiga, em que os soldados juravam lealdade a um
general específico, para uma campanha específica. Após terminada a campanha,o
juramento já não tinha valor. Em 100 a.C. Roma havia estabelecido uma força
armada profissional, e o juramento tornou-se eficaz para todo o período de 20
anos de serviço do soldado.Desde então, este costume se manteve e se ampliou.
Por exemplo, os reis da Inglaterra nos anos 1500 (Henrique VIII), 1600 (Jaime
I) e 1700 (Jorge III), estabeleceram juramentos exigindo que os súditos
prometessem lealdade a seu rei específico.
Todo cidadão, após
ingressar nas Forças ou nas Polícias Militares, presta compromisso de honra, no
qual afirma a sua aceitação consciente das obrigações e dos deveres militares e
manifesta sua livre disposição de bem cumpri-los, se preciso, como vemos no
juramento acima, com o sacrifício da própria vida. As afirmações, pronunciadas
em uníssono, são extremamente profundas em suas expressões de sentimento cívico
e patriótico. Alcançam a plenitude da compreensão clara e precisa de devoção
absoluta às essenciais manifestações de fidelidade e dedicação exclusiva ao
serviço do Estado, além da defesa da honra, integridade e instituições.
O compromisso, como
se vê, encerra a essência do dever militar e, pela significação especial,
reveste-se de formalidades. É a afirmação explícita assumida pelo militar de
proceder em relação aos seus deveres com base nos valores da integridade,
honradez, camaradagem, bondade, disciplina, lealdade, dignidade, civismo e
sentimento do dever. Além disso, pelo civismo, patriotismo, abnegação e coragem
impõe a obrigação de colocar em sacrifício a própria vida em defesa da honra,
da integridade e das instituições. Tais disposições, além de outros deveres e
responsabilidades também fixados na Lei específica do exercício militar, exigem
um comportamento profissional baseado em parâmetros irrepreensíveis na vida
pública e particular, cuja observação deve ser serena, altiva e consciente,
reclamando extremada vocação e elevado sentido de abnegação e renúncia em favor
de outrem, incluindo, repita-se, o sacrifício da própria vida.
A palavra
“sacrifício” surgiu de duas outras, com origem latina: “sacer”, que significa “sagrado”
e “facere”, que significa “fazer”. A concepção mais funcional para sagrado está
em abrir mão de alguma coisa por algo considerado mais importante. O sacrifício
sempre implica numa consagração, que altera substancialmente as relações do
militar com as pessoas,instituições e valores morais valiosos, a exemplo da
honra e da integridade, passando do domínio do profano para o sagrado, ao
contrário de outras tantas profissões que carecem até de significado e forma.
É por tudo isso que o
compromisso é realizado, conforme determina a própria norma legal, em ato
solene e na presença do comandante-geral. Este ato solene é celebrado, como habitualmente
acontece, diante da Bandeira Nacional como símbolo máximo da Pátria, contando com
a participação de autoridades, pessoas da comunidade e de familiares. Este
conjunto de pessoas, como representantes da sociedade, são as testemunhas vivas
da PROMESSA de lealdade, respeito, disciplina e de sacrifício da própria vida em
prol da honra, integridade e instituições, confirmada publicamente pelo
militar, que a partir de sua anuência, estará obrigado a dignificá-la, tanto no
trabalho policial como na vida particular. Não há como fugir de tão grande
responsabilidade.
Enquanto a proteção à
honra é considerada para o civil no seu aspecto individual, para o militar,
além da honra pessoal, preza-se tanto mais a honra da instituição à qual
pertence. Tal responsabilidade não se dá unicamente pela exigência de comportamento
irrepreensível na vida pública e particular, sobretudo, pela impassível
preocupação com o reflexo dos atos isolados ou coletivos na reputação da
classe.A consagração do juramento, com suas obrigações deontológicas
peculiares, além de comprometer o militar com o cidadão e a sociedade contra o
arbítrio ou abuso de poder,também, obriga-o ao denominado “tributo de sangue”,
cuja referência, conforme já anunciado, é atribuída aos romanos.
É apenas no serviço
militar que os homens consentem livremente em sacrificar a própria vida por um
ideal considerado mais expressivo. Da mesma forma, em sofrer e a morrer para
expurgar ou evitar um mal, defendendo a honra e as instituições a que servem,sem
sombra de dúvidas, elevam a profissão policial militar e a de bombeiro militar
aos propósitos elevados do sagrado e, como tais, não podem ser infringidos,
traídos ou violados.O resultado desse comprometimento não se extingue jamais,
pois não é fixado prazo para o militar livrar-se de tais promessas. Assim, o
militar estará, até a morte, ligado indissoluvelmente a essa sublime promessa
feita diante de Deus e do símbolo sagrado da Pátria. As consequências marcantes
do compromisso (juramento) adquirem um marcar indelével na vida do militar,
como se um cinzel as gravasse no duro mármore. Por isso, mesmo que excluído
será, sempre, reconhecido como “ex-integrante” da Corporação.
A respeito do que se
é obrigado a suportar pelo “tributo de sangue”, conviria trazer à memória a
passagem evangélica que adverte sobre o destino reservado aos discípulos de Jesus:
renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-lo. O paradoxo consiste no fato
de perder a vida para tê-la novamente. Isto é, perder o mundo para alcançar a
vida eterna. Portanto, a exemplo dos discípulos, a profissão militar exige, além
da compreensão da missão como sacerdócio. Por analogia e diante da fé cristã, aquele
que perder a sua vida em sacrifício da honra, da integridade do outro, das
instituições e da Pátria estará, também, perdendo-a por causa do Senhor. Como
um mártir, haverá de encontrá-la na eternidade. Assim, o rigor militar é
superior ao próprio rigor da lei, pois exige, para a defesa da honra, integridade
e das instituições, o sacrifício da própria vida.
No referido
compromisso, em outras palavras, além da livre disposição do militar de bem
cumprir com os seus deveres, estão ali compreendidos os fundamentos do ideal profissional
baseado em atributos e princípios inabaláveis e que podem ser resumidos numa única
e singela palavra: SERVIR, ou seja, servir com abnegação, honestidade e
honradez. Servir à sociedade sem estar submetido as suas volubilidades. Servir
exclusivamente ao Estado, à Corporação e ao povo de sua nação, com a nítida
consciência do dever profissional e servir fazendo “algo útil” com eficiência,
presteza, força, desprendimento dos próprios interesses e daqueles que lhes são
próximos e, acima de tudo, com o exemplo de trabalho e de vida. Enfim, servir
bem para servir sempre. Embora, no caso, as disposições sejam da década de 1950,
ao contrário do que alguns pensam, as afirmações ali expressas não estão
ultrapassadas e nem perderam a validade e, muito menos, firmadas sob exigências
exóticas do passado. Muito pelo contrário, o compromisso implica na obrigação
em respeitar e não macular os valores institucionais, os deveres e a própria
ética, dogmas da profissão, sob o risco de ameaçar a confiança que Corporação conquistou
à custa do sacrifício da própria vida de muitos que nos antecederam. Em verdade,
são atualíssimas e respaldadas, conforme já foi adiantado, pelo próprio Direito
e avalizadas pela sociedade, como o comportamento esperado dos integrantes da
Polícia Militar. Infelizmente, não se tem preparado adequadamente o homem em
formação para uma reflexão mais profunda sobre o conteúdo jurídico e moral das
formulações enunciadas no compromisso e suas graves consequências para a vida
dos militares e para o futuro de suas corporações, sobretudo, com vistas à
compreensão da nobreza desse sacerdócio, que inclui a missão de preservar a
incolumidade das pessoas e do patrimônio no mais adverso dos ambientes da
atualidade: o avanço crescente da criminalidade e da violência.
O militar não deve
esperar uma situação extrema, a exemplo de um conflito grave de comprometimento
da ordem pública, para exercitar o compromisso solenemente assumido. O dia a
dia em sua rotina de trabalho é um laboratório fértil no qual se pode colocar
em prática as afirmações do compromisso assumido. Seu dever em cumpri-lo está
aqui e agora, e não em situações imaginosas, heroicas ou vividas por outrem. A
prática diária do verbo mais importante profissão militar: servir, dará um
sentido social, cívico militar e cristão aos seus atos.E ainda o preparará para
o sacrifício maior, quando e se a situação assim o exigir. Pelo que se procurou
demonstrar o compromisso reveste a vida militar de um significado todo
especial. Significa compreender porque a vida militar não é uma atividade
profissional como as demais, muito menos um emprego. É, sim, um sacerdócio que
absorve totalmente o profissional em duros e permanentes desafios e
adversidades. É uma das poucas atividades que, se necessário, coloca em risco
nosso bem material mais importante: a própria vida.Mas, infelizmente, ao invés
disso, para muitos, a essência do juramento, mesmo que acompanhada de
formalidades que a lei, o costume e a tradição impõem, parece estar centrada apenas
na preocupação com o estético unissonante de seu pronunciamento, cujo objetivo maior
é dar realce às festividades de formatura ou de graduação, desprovido de
anuência moral ou de efetivo comprometimento, cujos efeitos não ultrapassam a
euforia de uma ocasião festiva e, como reflexo disso, a falta de engajamento
mais sério com a Instituição.
Em consequência da
falta de comprometimento, não são poucos aqueles que priorizam a competição com
base em suas comodidades, quase sempre na direção de reivindicações por direitos
e outras compensações, cujo objetivo maior é a busca permanente pela satisfação
de desejos ou de interesses pessoais e imediatos, onde ficam os iteresses
coletivos da nação descobertos e vulneráveis. O autêntico profissional, em
particular o militar,não pode se deixar guiar por interesses ignóbeis. Numa
comunidade, ou mesmo numa organização, cujas regras são presididas pela
subjetividade, cada um divisa apenas os seus interesses imediatos, enquanto o
cumprimento dos princípios de procedimentos ou das leis passa ter um valor
secundário, em que tudo é relativo aos humores ocasionais. Dentro em pouco,
termina-se patenteando um padrão ético moral à medida das conveniências
aleatórias de cada pessoa ou, na vida militar, de cada círculo hierárquico.
Lamentavelmente, com base na tirania do politicamente correto, todas as
palavras que expressam as aspirações mais altas em relação à hierarquia e a
disciplina infelizmente estão sendo prostituídas, rebaixadas, moídas na máquina
do oportunismo e do interesse ideológico de uma ditadura de esquerda tóxica. A
destruição da linguagem precede o embotamento das consciências.
Para elevar a
moralidade das Polícias Militares é preciso aguçar o seu senso dos valores, não
embotá-lo. Parafraseando o filósofo Olavo de CARVALHO:
“Aquele oficial ou comandante que por cumplicidade, omissão, leniência,
vaidade ou ambição política concorre para destruir as bases da moral
institucional, ou é um idiota irrecuperável ou tem uma agenda secreta. A
diferença é que a idiotice sente alguma vergonha de si mesma, a vaidade e a ambição
política, não.”
Finalizando, urge uma
reflexão e uma tomada de consciência para a modificação de direção da
propagação dessa indiferença em relação ao verdadeiro sentido da vida militar e
que a se agravar, particularmente pelo imobilismo de escalões mais atuantes,
incluindo-se os oficiais superiores, acarretando um vazio de estímulos em
direção de atitudes relevantes, cujas lideranças deveriam inspirar mais
confiança, até como energia moral para a projeção e reforço dos ideais que
fundamentam as profissões de policial militar.
Apostolado Berakash
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