"Somos responsáveis apenas por aquilo que transmitimos, não por aquilo que os outros interpretam..."
A vida em sociedade,
e em comunidade seja a nível social (vizinhos), profissional e comunitário
(comunidades religiosas) são intensas e não há como escapar de mal entendidos. A
linguagem humana é algo maravilhoso mas também
provoca grandes mal-entendidos. Com esta matéria pretendemos não
encerrar o assunto, mas tocar nesta realidade que causa muitos conflitos a
níveis, pessoais, familiares, internacionais, enfim, em nossa relação com Deus e com o próximo. Diversos
estudos apontam que na comunicação oral, até 93% do que é comunicado não é o
conteúdo da mensagem. O conteúdo, ou seja, significado real das palavras
constitui apenas 7% da comunicação. Portanto, já a partir desta constatação, já
podemos perceber os conflitos gerados a partir dai. Por este motivo, é muito
importante a congruência (harmonia) entre o que falamos e o modo como falamos.
Um exemplo desta incongruência (ruídos na comunicação): pessoas que falam
coisas que seriam para o bem de outrem, mas usando um tom raivoso, ou agressivo
na voz, ou não bem detalhado e devidamente esclarecido. Quem emite pensa uma
coisa, mas quem escuta, nem sempre entende que o que está sendo dito é para o
bem, muito pelo contrário. Além disso, temos uma série de dificuldades
inerentes à linguagem: distorções, generalizações e omissões. Falarei mais a
frente detalhadamente sobre cada uma destas dificuldades. Começo hoje
descrevendo uma forma de distorção muito comum: a relação de causa-efeito, e as
tentativas de se explicar, que ás mais complicam que descomplicam. Vamos a dois
exemplos:
1º exemplo: “Uma foto, que congela apenas um parte, um só momento, e não toda a história!
Uma pessoa ver
a foto de um homem em seu cavalo, com uma criança com o rosto assustado e
sentindo dor, caída no chão e enlaçada. Nossa
primeira reação de julgamento é: que sujeito malvado e perverso! Fazer isto
com uma criança? Mas quando vemos toda a história, e não apenas aquele
momento congelado pela foto, nosso julgamento pode mudar. Na realidade aquele
homem era da policia florestal, e morava com sua família em uma alta montanha,
e quando ele ia chegando em casa, toda sua família estava a espera-lo em frente
a casa. Quando aquele seu único filho o avistou gritou alto PAPAI! Isto assustou
o cachorrinho que correu em direção ao precipício, e o seu filhinho saiu
correndo atrás do cachorro para não deixa-lo cair naquele abismo. O pai ao ver
isto, corre a toda velocidade com o cavalo em direção ao seu filho, puxa o
laço, rodeando sobre a cabeça e o lança de forma certeira sobre seu filho antes
que ele e o cachorro caiam no precipício, e desta forma salvou o seu filho...”
2º exemplo: “Proprietários de terra na região de Mossoró-RN recebem mensalmente Royalties, pelos poços
produtores de petróleo em suas terras.
Todos os meses após efetuado os
depósitos na contas destes proprietários, é necessário que os mesmos assinem os
recibos concordando com os valores depositados, caso contrário a Petrobras pode
sofrer pesadas sanções. Como o interesse maior é da empresa em ter estes
recibos assinados, a mesma envia pessoas às residências, ou escritório dos
mesmos, para coletar essas assinaturas. Um desses proprietários bastante
indisposto em assinar o recibo, e já no último dia do mês para a assina-lo, em
contato telefônico com o portador do recibo diz: Só vou poder assiná-lo se
você vir pegar a assinatura aqui no escritório do meu Motel até às 12 hs,
porque vou viajar em seguida para a França e só volto daqui a 20 dias. Quando
você chegar me avise pelo telefone, que eu saio e assino. O empregado
quando já vai saindo, uma colega de trabalho lhe pergunta: Você vai sair agora?
Vai por onde? O colega ao dizer o trajeto e motivo de sua saída, a colega mesmo
assim lhe diz: sem problema, eu moro logo após o motel, da para você me dar uma
carona? O colega diz: se não tiver problema pra você, dar sim, mas a minha prioridade
é entregar o recibo porque ele vai viajar. No trajeto se dirigindo para o
motel para coletar a assinatura do depósito dos Royalties, uma vizinha cruza
com eles, mesmo no momento em que ele está se dirigindo ao motel com aquela
colega, e o reconhece...”
Algumas destas
situações o modo mais fácil de ver o vexame ao tentar se explicar é com um
exemplo, retirado do programa humorístico "Chaves". Vocês devem se lembrar da
famosa frase do personagem Kiko:
– Cale-se! Cale-se!
Você me deixa louco!
A frase implica que a
outra pessoa o deixa louco ao tentar justificar-se (causa-efeito), como se ele
mesmo não tivesse nenhuma opção ou escolha no julgamento do evento. Ou o que é
pior: ele não tem responsabilidade nenhuma pelo que sente, ou pelo que julga. A
maior distância entre duas pessoas é um mal-entendido.Para evitar o
mal-entendido devemos tomar distância da situação, na medida do possível, e
percebê-la como se nos fosse alheia para fazer uma interpretação o mais
objetiva possível. É frequente deixar que um mal-entendido atrapalhe sentimentos
genuínos e sinceros sobre pessoas que nos acompanharam em algum momento de
nossa vida. O mundo está cheio de indivíduos que esperam que aqueles que
deixaram ir, voltem, assim como de gente que não se atreve a voltar, a pedir
perdão, ou se desculpar, ainda que queira. Um mal-entendido é gerado a partir do
conflito com respeito às intenções, à forma de se comunicar e à maneira de
compreender a realidade.
“Entre o que vemos, pensamos, o que queremos dizer, o que acreditamos
estar dizendo, o que dizemos, o que queremos ouvir, o que ouvimos, o que
acreditamos ter entendido e o que entendemos, existem oito possibilidades de
não ser entendido”.
Na gênese de um
mal-entendido costumam mediar fatores como o orgulho, o cansaço e a falta de
confiança. Isso faz com que, no momento de interpretar um tom de voz inadequado
ou palavras ambíguas, nossos sentidos podem percebam hostilidades, onde elas
simplesmente não existem, por motivos culturais, educacionais e temperamentos
diversos. Para evitá-lo, é preciso não nos deixarmos levar e valorizar nosso
estado e o dos outros antes de criticar.
Habitualmente os
conflitos ocorrem de forma mais leve quando estamos de cabeça fria, pois assim
evitamos que o orgulho embace nossa razão e emoções, como raiva ou ira, turvem
nossa reação diante do fato que gera aquele mal-estar.É importante diferenciar
o orgulho da dignidade. O orgulho é em si mesmo negativo e egoísta, enquanto
que a dignidade é o fundamento do respeito.O orgulho prima em excesso a consideração
das opiniões, crenças ou sentimentos próprios. Porém, a dignidade busca um
equilíbrio que estabeleça certos limites emocionais que protejam o “eu”.A
dignidade pretende encontrar um equilíbrio e igualdade entre as opiniões,
sentimentos e comportamentos, o orgulho busca ficar sempre por cima.
As variantes no êxito do "entendimento"
Não é fácil se
entender quando nossas motivações comunicativas respondem a diferentes
realidades. Podemos repetir o que pensamos ou sentimos, mas pode acontecer que
a outra pessoa não entenda o que pretendemos transmitir. Isso não significa que
a pessoa receptora em questão seja ruim, mas pode ter uma perspectiva muito
diferente. Cada parte busca reafirmar seus sentimentos, opiniões e crenças e
isso supõe um obstáculo na hora de favorecer um entendimento. Não podemos
controlar 100% das variáveis que influenciam em uma boa comunicação. Sempre
será bom que contemplemos de uma distância emocional o que pode estar
controlando a situação de intercâmbio concreta.Devemos basear nossas atitudes
no respeito e na consideração por nós mesmos e pelos outros.A possibilidade e
força da raiva e do mal-entendido são proporcionais ao grau de implicação
emocional que o assunto e a relação em questão nos supõem.Quanto mais unidos
nos sintamos, mais importante será o preparo e interpretação feitos de nossa
mensagem. Assim também será a nossa conclusão sobre a mensagem do outro. Cada
pessoa terá que gerenciar e interpretar as palavras em relação aos laços
afetivos que as une,(ou as separa) assim como às expectativas, aos interesses
próprios e ao seu estado pessoal.Neste ponto é essencial ressaltar a
importância de não cair no mal-estar gerado pelas atribuições e tormentas
alheias. Ou seja, temos que evitar que nos conduzam a um tornado emocional e nos
afoguem no turbilhão do manifestante automático.
Os mal-entendidos são
muito dolorosos quando as interpretações feitas são baseadas em atribuições
intencionais e emocionais negativas para com a outra pessoa ou para com os
demais.O melhor é tomar distância emocional, nos afastarmos, tolerar as
diferenças e não deixarmos que transformem as nossas necessidades. Devemos
examinar a divergência entre atos e palavras. Porém, sempre cabe a possibilidade
de nos enganarmos ao analisar as atitudes dos outros. A única certeza sobre a
intenção alheia é o tempo de quem nos oferece.
O MAL ENTENDIDO NAS MÍDIAS SOCIAIS
As mídias digitais
revolucionaram a comunicação tão rapidamente que a ciência pouco tempo teve
para investigar o impacto que essas ferramentas representam na forma como nos
comportamos e nos relacionamos. Psicólogos da Edge Hill University, na
Inglaterra, publicaram artigo no Trends in Cognitive Science defendendo que
mais investigações sobre a utilização de emojis e emotions sejam feitas pelas
áreas da psicologia e linguística, já que, segundo eles, 90% das pessoas que
recorrem à comunicação online incorporaram esses ícones na forma como se
expressam. Em 2015, a
"palavra" do ano, eleita por uma comissão do dicionário Oxford, foi,
pela primeira vez, um pictograma. A palavra escolhida é avaliada como a que
mais reflete as preocupações e o comportamento da sociedade naquele período.
Segundo jornais ingleses, o emoji da risada representa 20% de todos os enviados
naquele ano. No ano anterior, depois de analisarem centenas de milhares
registros escritos on-line, agências de levantamento de informações constataram
que a "palavra" mais usada também foi um símbolo.Os amantes da língua
podem perceber nessa tendência uma ameaça, um empobrecimento de vocabulário.
Mas a comunicação pictográfica não surgiu para substituir a palavra: veio para
ocupar o lugar das formas não verbais de comunicação, as mais reveladoras e
poderosas. Em um nível inconsciente, estamos constantemente buscando sinais que
demonstrem as intenções do outro, ao mesmo tempo em que mandamos mensagens
subliminares das nossas. É nesses sinais que encontramos feedback para regular
nossas próprias ações e nos enxergar pelos olhos dos outros. Nossa capacidade de
"leitura de mentes" é bastante sofisticada, mas não é perfeita como
os anjos fieis a Deus, que são translúcidos e integrais em seus relacionamentos,
capacidade preter natural que nossos primeiros pais perderam com o pecado
original, já não vemos e entendemos o outro de forma integral, mas por partes. Percebemos
mudanças sutis na entonação da palavras e no espaçamento entre elas, no tom da
voz, em gestos, expressões faciais, na postura e no olhar. Mas os comentários
em redes sociais as mensagens enviadas por What´s App, que se transformaram na
nossa principal forma de comunicação, não nos dão acesso a nada disso. Trocamos
tantas mensagens, que mesmo o contato telefônico, que apesar de filtrar alguns
indicadores emocionais, permite a leitura de outros, vem perdendo seu papel.Os emojis entram em
cena numa tentativa de transmitir a emoção e o tom que acompanham as palavras
nas interações sociais mais completas, já que elas estão se tornando mais
raras. Sem o acesso à riqueza de informações processadas inconscientemente na
presença física, contamos com uma forma resumida e intencional de enviar
mensagens; passamos a depender mais da razão para interpretar e nos fazer
entender, o que aumenta consideravelmente a chance de desentendimentos. Fomos
empurrados para o ambiente virtual sem termos aprendido a usá-lo com
eficiência. Nem todos sabem utilizar os recursos disponíveis. Muitos se
intimidam com a tecnologia e têm medo de não se expressarem adequadamente, uma
reação compreensível diante de um meio que gera recorrentes interpretações
distorcidas até mesmo entre aqueles que se consideram bons comunicadores. É
natural que, para alguns, o fato de uma conversa ficar registrada por escrito,
não podendo ser retirada do aparelho do receptor, cause desconforto. Afinal,
besteiras que dizemos verbalmente são esquecidas, morrem na hora, ou se perdem
ao vento. Já o que é enviado por escrito pode ser relido, repassado e até ser
usado contra nós.
No extremo oposto
estão os narcisistas. Nunca foi tão fácil identificá-los!
Agem como aqueles que
passam fazendo poses do lado reflexivo dos espelhos unilaterais, sem se
importar com o julgamento do observador oculto que está do outro lado. Sem o
feedback momentâneo enviado de forma subliminar pelas pessoas com quem
interagem diretamente, esquecem que excessos desgastam a imagem, causam uma
certa poluição áudio visual.Entre não estar nem aí para o que outros pensam e
se preocupar demais com isso existe um campo central necessário para o convívio
social saudável, um ponto de equilíbrio que a exposição permitida pelas redes
sociais e pela comunicação virtual está tornando difícil de alcançar.Também existe a dificuldade de lidar com a ansiedade que o excesso ou a
falta de mensagens pode gerar. Receber constantes notificações pode causar
dependência tecnológica, pois ativa o sistema de recompensa do cérebro, aquele
que nos faz querer mais daquilo que traz sensação de prazer. Quem alimenta essa
dependência diariamente é vítima do lado perverso da tecnologia, que atira para
o vazio existencial aqueles que não sabem lidar com o silêncio, e precisam dele
para melhor entender a mensagem.É difícil manter a
autoestima inabalada por muito tempo quando a comunicação se torna urgente e
invasiva e ao mesmo tempo incompleta, ou ainda pior, ambígua.Mensagens lidas e
não respondidas incomodam e magoam; mensagens interpretadas como secas ou muito
diretas causam angústias e dúvidas. Diante exigências e das possibilidades da
tecnologia, alguns se retraem e outros exageram. São formas diferentes de lidar
com nossa inevitável dependência de afeto e aceitação em um meio ao qual
estamos tentando nos adaptar.
RESOLVENDO O "MAL ENTENDIDO" DE FORMA CRISTÃ
Mal-entendidos acontecem
e vão sempre acontecer enquanto vivermos esta nossa realidade humana ferida
pelo pecado. Muitos destes mal entendidos, envolvem coisas pequenas, fáceis de
resolver. Outros podem ser mais frustrantes, especialmente quando o problema
persiste apesar de se fazer de tudo para corrigi-lo. Por que acontecem
mal-entendidos? Como afetam as pessoas envolvidas? O que se pode fazer caso
alguém interprete mal algo que você disse, ou fez? Será que na vida Cristã, realmente
importa o que os outros pensam de você, ou o que você pensa dos outros? Visto que as pessoas
não conseguem ler nossos pensamentos e intenções, cedo ou tarde alguém acabará
interpretando de maneira errada algo que dissermos ou fizermos. Muitas dessas coisas
podem gerar mal-entendidos. Às vezes, simplesmente não falamos o que pensamos
com a necessária clareza e exatidão. Algum barulho no ambiente e outras
distrações podem fazer com que outros tenham dificuldade de prestar plena
atenção ao que estamos tentando transmitir. Determinadas atitudes também, podem
gerar mal-entendidos. Uma pessoa tímida, por exemplo, pode ser
encarada como fria, indiferente ou orgulhosa, já uma extrovertida, como inconveniente,
amostrada e metida a besta. A pessoa talvez tenha passado por algumas
experiências que a façam reagir de maneira emocional e não racional a
determinadas situações. Não podemos nos esquecer de que as diferenças culturais,
educacionais, temperamentais, e lingüísticas dificultam também, a comunicação.
Somando-se a isso o fato de que a história nem sempre é bem contada(sempre
sobre um ponto de vista) e de que as pessoas às vezes falam demais, ou de
menos, não é de surpreender se certas coisas que dissermos ou fizermos acabarem
sendo entendidas de forma diferente do que pretendíamos. Obviamente, isso não
serve de muito consolo para quem acha que suas intenções foram
mal-interpretadas.Duas amigas de infância, uma delas faz uma brincadeira inocente e
elogiosa sobre a popularidade da outra amiga ausente, a um terceiro que era
amigo de ambas. Este citou o comentário
dela, fora de contexto a outros. A outra amiga quando soube, ficou surpresa e
transtornada, e quando aquela amiga, nervosa, a acusou diante de várias pessoas
de estar com ciúmes pelo fato de um rapaz, conhecido de ambas, ter-lhe dado
atenção. A brincadeira havia sido completamente mal interpretada e repassada erroneamente
adiante, e por mais que tentasse, ela não conseguiu convencer a sua velha amiga
que não teve intenção de ofendê-la. Aquela situação gerou muita mágoa e levou
bastante tempo para que a primeira conseguisse corrigir o mal-entendido e ser
compreendida...As pessoas muitas
vezes o julgam de acordo com o que acham ser suas intenções. Assim, é natural
ficar triste quando as pessoas interpretam incorretamente suas motivações e
reações. Talvez fique indignado, achando que ninguém tem motivos para
interpretá-lo de maneira errada. Na sua opinião, essas avaliações são
tendenciosas, críticas, ou completamente erradas, e podem magoar muito, especialmente
se prezar a opinião de quem fez a avaliação supostamente injusta. Embora fique
aborrecido com o julgamento de outros a seu respeito, é apropriado respeitar a
opinião deles. Os cristãos não desconsideram a opinião de outros, e jamais
desejaríamos dizer ou fazer algo que venha a ter um efeito prejudicial sobre
outras pessoas. (Mateus 7,12; 1 Coríntios 8,12). Assim, vez por outra terá de
tentar corrigir o conceito equivocado que alguém formou a seu respeito. Mas
ficar preocupado demais com obter aprovação dos outros é contraproducente,
levando à perda do respeito próprio ou a sentimentos de rejeição. Afinal, seu
verdadeiro valor não depende da opinião de outros.
Santa Tereza d’Avila, como
mística e mestra espiritual de noviças, logo percebeu isto e declarou:“Quando nos decidimos a servir a Deus, a primeira coisa que o demônio
vai atacar é sua honra, pois sabe o estrago que isto pode causar, e o tempo
desperdiçado que ficamos tentando em defendê-la.” Por outro lado,
talvez reconheça que as críticas tenham fundamento. Isso também pode machucar,
mas se estiver disposto a admitir honestamente seus próprios defeitos, como
fazia Tereza d’Avila, São Paulo (Rom 14), e todos os santos. Essas experiências
podem ter um lado positivo e motivá-lo a fazer as ofertas, confiando-se à
aquele que tudo ver e tudo sabe (Salmo 139).Os mal-entendidos
podem ou não criar problemas sérios. Por exemplo, se escutar um homem
conversando alto num restaurante, você pode tanto concluir que ele é
extrovertido quanto que ele gosta de aparecer. Talvez esteja errado. Pode ser
que a pessoa com quem ele conversa tenha problemas de audição. Ou talvez ache
que uma balconista pareça antipática, mas pode ser que ela não esteja passando
bem fisicamente, com cólicas, ou dor de cabeça. Embora esses mal-entendidos
causem impressões negativas, provavelmente não terão maiores conseqüências. Mas
às vezes os mal-entendidos podem provocar desastres.
Vejamos dois episódios da
história do antigo Israel:
1)- Quando Naás, rei
de Amom, morreu, Davi enviou mensageiros para consolar seu filho, Hanum, que
havia assumido o reinado. Mas os amonitas acharam que a delegação havia sido
enviada para espionar seu território, o que levou Hanum a humilhar os
mensageiros e a declarar guerra a Israel. O resultado foi a morte de pelo menos
47.000 pessoas, tudo porque as boas intenções de Davi foram mal-interpretadas
(1 Crônicas 19,1-19).
2)- Outro
mal-entendido, ocorrido algum tempo antes, foi resolvido de maneira bem
diferente. As tribos de Rubem e de Gade, e a meia tribo de Manassés construíram
um grande altar às margens do rio Jordão. O restante de Israel encarou isso
como um ato de infidelidade, uma rebelião contra Javé, e convocou seus
exércitos para a guerra. Mas antes de tomar uma ação drástica, eles enviaram
uma delegação para comunicar sua indignação diante de tal infidelidade. Foi bom
terem feito isso, porque os construtores do altar explicaram que não tinham a
mínima intenção de se desviar da adoração pura, e que o objetivo do altar era
servir como monumento de sua fidelidade a Javé. Esse mal-entendido poderia ter
resultado num banho de sangue, mas o bom-senso evitou essas conseqüências
catastróficas (Josué 22,10-34).
Esses dois episódios nos
ensinam algo: "Obviamente, que em certas circunstâncias, o melhor a fazer é esclarecer o problema!"
Quem sabe
quantas vidas foram poupadas nesse último episódio, simplesmente por que os
envolvidos conversaram? Na maioria dos casos, ninguém correrá o risco de perder
a vida se você interpretar de maneira errada as verdadeiras motivações de
alguém, mas amizades poderão ser desfeitas. Assim, caso ache que alguém agiu de
maneira errada com você... Você tem certeza de que entendeu as coisas da maneira como
realmente são, ou será que você as está interpretando de maneira completamente
equivocada? Qual foi a intenção da outra pessoa? Pergunte a ela, peça-lhe
maiores e melhores esclarecimentos. Você está percebendo que está sendo mal
interpretado? Converse e esclareça melhor com os envolvidos. Deixe o orgulho de
lado, pois só irá piorar as consequências.
Jesus deu um excelente incentivo para se resolver
mal-entendidos:
“Se tu, pois, trouxeres a tua dádiva ao altar, e ali te lembrares de que
o teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua dádiva ali na frente do altar e
vai; faze primeiro as pazes com o teu irmão, e então, tendo voltado, oferece a
tua dádiva...” (Mateus 5,23-24)
E se ele não
entender? E não aceitar?
Mesmo assim, a coisa certa a fazer é tratar do assunto
com a pessoa, em particular, sem envolver outros. Será pior se quem o ofendeu
ficar sabendo da sua mágoa por outra pessoa. (Provérbios 17,9). Seu objetivo
deve ser fazer as pazes num espírito de amor. Explique de maneira calma,
simples e clara qual é o problema. Não faça acusações. Diga como se sente por
causa da situação. Daí, ouça atentamente o ponto de vista da outra pessoa. Não
vá logo achando que ela estava mal-intencionada. Esteja disposto a dar-lhe um
voto de confiança. Lembre-se de que o amor “suporta todas as coisas” (I
Coríntios 13,7)
É claro que mesmo
quando os mal-entendidos são resolvidos, ainda pode haver mágoas ou
conseqüências negativas por algum tempo. O que pode ser feito?
Onde for
necessário, pedidos sinceros de desculpas certamente caem bem, junto com
qualquer outra coisa que possa razoavelmente ser feita para reparar o erro. Em
todas essas situações, a pessoa que se sente prejudicada faria bem em seguir o
conselho inspirado: “Continuai a suportar-vos uns aos outros e a perdoar-vos uns aos outros
liberalmente, se alguém tiver razão para queixa contra outro. Assim como o
Senhor Deus vos perdoou liberalmente, vós também o fazei. Além de todas estas
coisas, porém, revesti-vos de amor, pois é o perfeito vínculo de união.” (Colos
3,13, 14; I Ped 4,8). Enquanto estivermos
neste mundo marcado e ferido pelo pecado, seremos imperfeitos, e sempre haverá
mal-entendidos e mágoas. Todos estamos sujeitos a errar ou a falar de um modo
que soe frio e rude. A Bíblia deixa claro: “Todos nós tropeçamos muitas vezes. Se alguém não tropeçar em palavra,
este é homem perfeito, capaz de refrear também todo o seu corpo.” (Tiago 3,2)
Visto que Deus está
bem ciente disso, ele nos deu as seguintes instruções:
“Não te precipites no teu espírito em ficar ofendido, pois ficar
ofendido é o que descansa no seio dos estúpidos. Também, não entregues teu
coração a todas as palavras que se falam, para que não ouças teu servo invocar
o mal sobre ti. Pois o teu coração bem sabe, até muitas vezes, que tu, sim tu,
tens invocado o mal sobre outros.”(Eclesiastes 7,9.21-22).
E se parecer
impossível corrigir a má impressão que alguém tem de você, ou pior ainda, o mal
entendido, fez a pessoa se afastar da vida comunitária, não se desespere, e não
piore as coisas saindo também, pois assim o demônio se vangloria de seu
intento, tirando não apenas um, mas dois do caminho do Senhor. Continue a
cultivar e a manifestar qualidades cristãs da melhor maneira que puder. Peça
que Deus o ajude a melhorar onde precisa. Em última análise, seu verdadeiro
valor como pessoa não é determinado por outras pessoas. Somente Deus pode fazer
uma completa “avaliação dos corações”(Provérbios 21,2).Até mesmo Jesus foi
desprezado pelos homens, mas isso não afetou o conceito de Deus a respeito
dele. (Isaías 53,3) Embora algumas pessoas possam julgá-lo de maneira errada,
você pode ‘derramar seu coração’ diante de Deus, confiando que Ele o entende. “porque não como o homem vê, é o modo de Deus ver, pois o mero homem vê
o que aparece aos olhos, mas quanto a Deus, Ele vê as intenções do coração...”
(Salmo 62,8; I Samuel 16,7). Se você persistir em
fazer o que é excelente, com o tempo, pode ter absoluta certeza, que quem tiver
formado uma má impressão a seu respeito, se dará conta de que estava errado e mudará
de opinião (Gálatas 6,9; II Timóteo 2,15).É claro que não é agradável achar que
outros fizeram um julgamento equivocado a nosso respeito. Mas se fizer todo o
possível para esclarecer o problema e aplicar os princípios bíblicos do amor e
do perdão, é bem provável que sua história também tenha um final feliz, sabendo
suportar as demoras e permissões de Deus, sabendo que Deus é sempre Sim (II Cor 1,19).
“Deus impedindo, ou permitindo, dando ou tirando, está sempre nos amando...”Quantas decisões
erradas são feitas, quantos lares, quanta comunhão, quantas amizades podem ser
destruídos pela falta do exercício do diálogo e da tolerância? Somos
especialistas em entrar em situações constrangedoras ao acreditar em juízos
nascidos de mal-entendidos. Não estou escrevendo sobre isto como se fosse Phd em comportamento perfeito. Eu sei quem sou: o
primeiro da fila dos necessitados para ouvir o que a Palavra de Deus tem a
dizer sou eu, que também, tenho meus préjulgamentos e meus mal entendidos. Não
estou escrevendo fora de mim, mas também
me auto avaliando e me deixando ser formado e perpassado por esta
reflexão. Um dos primeiros
exemplos de queda por mal-entendidos e falta de diálogo foi Eva.
Aprendo com isso que não se deve dialogar com as sugestões do demônio, não questioná-las,
mas apenas única e exclusivamente nega-las e fugir delas, pois como dizia Pe.
Pio: “Só os covardes vencem o pecado...” Quando a serpente afirmou que
Deus estava mentindo quando ordenou que não comessem do fruto da árvore da
ciência do bem e do mal estava insinuando que Deus não queria competidores; que
a árvore traria todo o conhecimento e que eles também se tornariam semelhantes
a Deus. Entre o aviso do SENHOR e o conselho do diabo nasceu uma desconfiança.
Da desconfiança, veio o mal-entendido. Como não houve o início de um diálogo
entre Eva e Deus, questionando o conselho do diabo, o resultado foi o maior
desastre que já se abateu sobre a humanidade: a morte pela força do pecado.
E por fim vamos a um
exemplo claro e positivo de mal entendido: o do próprio Cristo!
Era Deus, mas
como homem não usurpou ser como Deus. Não precisava orar, mas amava de estar em
comunhão com o Pai. Não precisava convidar homens para restaurar outros homens,
mas escolheu doze leigos para o discipulado e os ensinou a ser pescadores de
homens. Não precisava nascer em forma humana, para reconciliar a humanidade,
mas por compaixão experimentou todos os sentimentos, angústias, solidão e
sofreu os preconceitos e mal-entendidos da sociedade. Poderia ter nascido de
uma família abastada para ter um berço ao nascer, mas preferiu uma indigna mangedoura.
Jesus se tornou o mais humano dos homens. Tão humano assim só podia ser Deus,
já dizia Santo Agostinho. A cana quebrada não trilhou, e a chama que fumegava
não apagou. Era um especialista em abrir diálogos. Com Nicodemos, com a mulher
samaritana, com Zaqueu, com a mulher siro-fenícia, com Jairo, com a mulher do
fluxo, com o mancebo de qualidade, com os discípulos de Emaús, e com o traidor
Simão Pedro, ao qual confiou a sua Igreja, com Judas ao qual o chamou de amigo (Mateus26,50),
e confiou-lhe a sacola da coleta.E quando viu Pedro em amargura e fracasso, fez
o que raramente temos visto nos dias de hoje: foi em busca da ovelha perdida.
Estendeu-lhe a mão e transformou um discípulo fracassado e amargurado em um
apóstolo cheio da graça e do poder de Deus. Jesus restaurou a Pedro pelo
diálogo, pela tolerância com as fraquezas humanas.Se o próprio Deus, em seu
maior gesto de amor, enviou seu único filho para estabelecer o diálogo para
restaurar os homens e desfazer os mal-entendidos e as outras obras do diabo,
você e eu como cristãos não podemos ser intolerantes nem fechados ao diálogo. Na
cruz Jesus perdoa o mal entendido de seus algozes e pede ao Pai: “Pai
perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem...”
CONCLUSÃO:
Claro que somos responsáveis apenas pelo que transmitimos, não por aquilo que os outros interpretam, mas não podemos nos fiar apenas nisto, pois mal entendido custam muitas vezes como vimos acima, longas amizades e até vidas. No exercício do
diálogo vêm o entedimento a solução de mal-entendidos, a solução de dúvidas, e
por consequinte a comunhão. Por falta de diálogo, às vezes, um pequeno
mal-entendido pode se transformar em um grande problema, uma brecha no muro da
graça de Deus. E depois que o muro se fender, o diabo vai entrar e sair por ali
quando bem quiser. É melhor pensar duas vezes, e abrir o diálogo com o outro
construindo pontes, e não deixar que o muro entre nós e o demônio, se fende, abra brechas
e caia gerando toda forma de desunião, pois um reino dividido não subsiste (Marcos
3,24).
Por Tácito - Colaborador do Apostolado Berakash de Campinas - SP
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