Oferecer aos mais necessitados a oportunidade de ser
ter acesso a bens e serviços dentro de um sistema é um fator que pode ser
denominado como inclusão social. O esporte se tornou um grande “coringa” na
inclusão social. O mundo agora globalizado tem levado as pessoas a uma
interação cada vez mais acirrada. Aqui no Brasil, que é conhecido mundialmente
como o país do futebol, esse esporte tem sido a grande meta para muitas
crianças que já nascem com o estigma do preconceito gerado ou pela sua cor de
pele ou por sua classe social. Atualmente nas escolas se tem como problemática
principal a metodologia de ensino, visto que a maioria dos alunos não consegue
ter bom desenvolvimento, por uma série de fatores, de ordem educacional,
social, comunitária e também familiar. O esporte, especificamente o futebol,
integrador social por excelência, amenizador de conflitos sociais, aquecedor da
economia local e provedor direto e indireto de empregos, foi o mecanismo
encontrado para contribuir na formação de cidadãos plenos e conscientes de suas
responsabilidades. O sonho de alguns atletas é, ao
parar de jogar, abrir novos projetos para usar o futebol como ferramenta de
inclusão social infantil. Um deles é o goleiro Júlio César, que durante a
gravação feita pelo Conselho Nacional de Justiça na última quinta-feira, na
Granja Comary, revelou sua intenção de assistir crianças carentes depois de
deixar os gramados. Dentro da própria seleção brasileira, é possível
encontrar um desses jogadores que investem na infância: Jorginho, o assistente
de Dunga, comanda um instituto de 930 crianças que há oito anos tem a missão de
transformar pessoas de seis a 17 anos. É impressionante o poder do esporte
social aquele direcionado à inclusão, não necessariamente de alto rendimento no
aprendizado ." O segredo, segundo ele, é levar os heróis do futebol à sala
de aula.Na aula de geografia, as crianças estudam Brasília e sua importância
política como a cidade de onde o Lúcio e o Kaká nasceram. Também descobrem o
poder econômico de São Paulo, o estado do jogador Robinho, e na matemática e na
física, os conceitos de velocidade, aceleração e atrito são tirados de dentro
do campo. E assim é feito em todas as disciplinas. Todos eles passam de ano na
escola, comenta Jorginho.
A sociedade é composta por pessoas e segmentos
específicos as quais participam e têm voz ativa. Aquelas que não estão dentro
desse contexto são consideradas excluídas, geralmente por algum motivo
aparente. Aqui entra em cena a discriminação, seja por raça, condição
econômica, por ser homosexual,por ser de baixa estatura ou alto demais, por ser
magro ou muito gordo (ROCHA, 2004).Geralmente, as pessoas mais pobres vivem à
margem do convívio dos grupos sociais, sendo privados de uma convivência
cidadã. Muitas vezes o único tipo de convivência social para essa classe da população
é através do esporte, que em qualquer classe social é entendido, acompanhado e
procurado, principalmente o futebol, paixão nacional.
Leis,
emendas e projetos para integração e inclusão social são preparados,
implantados e, muitas vezes, atigem sucesso por estarem envolvidos com o
esporte.Mais do que comprovado, o esporte não contribui apenas para a saúde
física, mas para a manutensão do bem estar biopsicossocial também. Através
dele, cidadãos são formados e inseridos no contexto geral de uma comunidade.Os
jogos coletivos, em especial, caracteriza-se pelo cooperativismo em equipe,
pela formação de companheirismo e união, respeito e aceitação, da vitória ou da
derrota. Através disso, aquele indivíduo que era excluído de qualquer instrução
de valores e convivência social, inicia a mudança de visão de si mesmo, das
pessoas à sua volta, do lugar onde vive, aprende a se aceitar com valor, e,
ainda, é mais fácil ser aceito pela sociedade.O esporte além de melhorar a
saúde e reduzir o estresse, é considerado como manifestação cultural e elemento
disciplinador, contribuindo o aprendizado para viver em sociedade, aceitar os
desiguais, perder e ganhar, reconhecer o melhor e o pior, o forte e o fraco
(ROCHA, 2004).
Projetos sociais visando a inclusão envolvendo o
esporte está crescendo e a tendência é crescer cada vez mais. Projetos assim
têm mostrado resultados e comprovado que o esporte pode sim ser ferramenta de
inclusão. Crianças sonham em se tornar grandes jogadores, que com incentivo e
direcionamento adequado, poderão se engajar numa trajetória promissora, a do
futebol profissional. Futebol esse que é assistido por olhos brilhantes e
almejantes, pois através dele vários
jogadores reverteram sua situação de pobreza e miséria em riqueza, fartura e,
até mesmo, ostentação.Grandes nomes do futebol vieram de origem humilde,
jogavam "pelada" num campinho de terra batida. Mesmo que para poucos,
o futebol é, ainda, um dos esportes que mais bem remunera no mundo.
Um breve resgate histórico do esporte
Na antiga Grécia o que a própria religião não
conseguia fazer, o provas atléticas se encarregavam, a união dos gregos. Pelo
atletismo era cultuada a beleza, a estética e a força. Para as guerras era
necessário vigor físico e força e seus representantes deveriam ser comparados a
deuses terrenos. Lá foram criadas as olimpíadas, a referência mais forte de
reunião esportiva. Na sua cultura, o esporte era equiparado com a religião, que
perpetuava em estátuas a perfeição de seus atletas. Já na era em que
encontramos a exata demonstração de capitalismo, onde os trabalhadores são
substituídos por máquinas, o tempo ocioso aumentou o que seria destinado à
prática do lazer.Visto primeiramente como um momento de classes financeiramente
privilegiadas passa a ser um motivo para esquecer o dia estressante de
trabalho. Tendo o stress com mal do século o esporte entra para compensar a
unilateralidade do trabalho, servindo como válvula de escape e relaxador para
as tensões diárias. Essa atitude representa a união de rivalidade entre amigos,
que demonstrado através de jogos coletivos faz com que seja criado um ambiente
favorável para a sociabilidade, onde tímidos, fracos e sem resistência física
tornam-se mais seguros e se ajustam com mais facilidade às pessoas.O esporte é
um poderoso meio de integração. Quando se vê um bom jogador, a atenção vai para
o seu desempenho e não para seu porte físico, sua cor, sua religião ou conta
bancária. Aqui entra o futebol, que entre poucas atividades faz reunir sem
preconceitos tantas diferenças em um retângulo com linhas demarcadas (BORSARI,
1989).Ele é um importante veículo de universalização dos esportes. Mais ainda
que um agente socializador, o esporte é considerado, dentro da educação física,
por Borsari (1989, p. 10) sendo como agente que ajuda o indivíduo no
desenvolvimento não só do seu físico, mas também na sua formação intelectual e
moral.
Histórico
do Futebol no mundo
Vindo desde a pré-história o futebol passou por uma
evolução progressiva, da utilização de variados tipos de bolas à implementação
de regras para sua prática.Segundo Borsari (1989), escritores daquela época o
definiam sendo como um tipo de jogo com bola. O jogo era tão apreciado na
China, que o imperador comemorava seu aniversário com uma partida do jogo. No
ano 2006 a.C., ainda na China, eram regulamentadas as regras de um jogo usado
para treinamento militar de soldados. Os gregos jogavam o "epyskiros"
e o "harpaston", usado na educação atlética da juventude helênica e
jogado com uma bexiga cheia de ar por duas equipes de 15 jogadores. Eles
disputavam a posse de bola com os pés e tinham o objetivo de transpor a bola
entre dois bastões altos ligados com um cordão de seda.
Dessas modalidades originaram-se várias outras como
o "follis" praticado em Roma, que consistia em um jogo com bola
usando as mãos. O "soule ou choule", jogado na França sendo às vezes
praticado como lazer pela nobreza ou como disputa violenta entre os populares.Em
1500, o jogo foi se tornando mais organizado disputado com 27 jogadores por
equipe, respeitando regras e determinando posição para os jogadores. O
descobrimento da América revelou também que outros povos praticavam um tipo de
jogo com bola nas horas de folga, uma bola de borracha extraída de árvores.O
campo de disputa era uma praça, os jogadores eram distribuídos em formação de
tática guerreira, com elementos destacados para o ataque, os corredores
(alinhados em três grupos de cinco jogadores) outros cinco com funções de meio
campo, os sacadores, os demais, com função essencialmente defensiva, quatro
dianteiros e três zagueiros (BORSARI, 1989, p.11).O jogo era brutal e sangrento,
sempre terminando em algazarra e guerra entre os participantes. Isso fez com
que os monarcas da época proibissem sua prática e exigissem novas regras.Com o
passar do tempo o jogo foi tomando rumo organizado e tendo regras elaboradas
até que, Thomas Arnold, o diretor do Colégio Rudby, incentivou a criação do
"dribliing game" ou apenas rudby", onde se permitia o uso das
mãos e dos pés para tocar a bola. Somente em 1860 o "football" foi
reconhecido e organizado em campeonatos entre os clubes, daí viu-se a necessidade
de organizá-lo em regras padronizadas, durante a reunião na Taberna Freemason
de Londres por onze clubes, fundando a "The Footbell Association".
Chegada do futebol no Brasil
No Brasil, em 1894, o futebol chegou através de
Charles Miller, que chegando da Inglaterra, onde foi estudar, trouxe em sua
bagagem bolas, camisas e outros materiais necessários para o jogo. O primeiro
jogo oficial foi realizado em São Paulo no São Paulo Athletic Club. Daí em
diante, outras equipes foram sendo organizadas por adeptos ao esporte e o país,
em 1914 realizou seu primeiro jogo contra a Argentina, pela Copa Roca. Em
seguida faz-se necessário criar a Confederação Brasileira de Desportos, para que
reconhecida internacionalmente pudesse levar o Brasil para disputar o
Campeonato Sul-americano. (GIGLIO, 2007).Há autores que não defendem a
monopolização da introdução do futebol no Brasil por apenas Charles Miller.
Giglio (2007), em sua dissertação de mestrado, pela Faculdade de Educação
Física, da Universidade Estadual de Campinas, relatou que o futebol não pode
ser considerado instalado e divulgado no Brasil inteiro apenas por Charles
Miller, principalmente pela extensão territorial que o país possui e por no
início século XX a comunicação entre as regiões ser dificultada. O mérito de
Miller é justo pelo fato de ele ter iniciado o futebol no São Paulo Athletic
Club e por divulgar esse esporte em clubes de elite em São Paulo e fazer com
que ele fosse praticado fora da escola. Há quem diga que Oscar Cox desempenhou
o mesmo papel no Rio de Janeiro. Anos mais tarde, Oscar Cox, em 1897 no Rio de
Janeiro e Hans Nobling em São Paulo; Richard Woelckers e Johannes Minesman, no
ano de 1900 no Rio Grande do Sul; e José Ferreira Junior, em 1901 na Bahia,
contribuíram para a disseminação da mais nova modalidade esportiva brasileira.
O alemão Hans Nobling trouxe uma bola da Europa na bagagem e o desejo de fundar
um time e organizar campeonatos em São Paulo, onde o esporte ainda era um
privilégio de ingleses e dos alunos do Colégio Mackenzie. Hans criou uma equipe
constituída basicamente por descentes de alemães e fundou o Sport Club Germânia
– atual Pinheiros. Já Oscar Cox é considerado um dos mais importantes responsáveis
na disseminação do futebol no Brasil. No ano de 1901, ao retornar de sua
temporada de estudos na Suíça, Oscar reuniu um grupo de amigos e fundou o Rio
Team, na cidade do Rio de Janeiro. No ano seguinte, ajudou a fundar o
Fluminense. Em pouco tempo, a pequena esfera redonda, ao ser cuidadosamente
tocada de uma maneira diferente, fazia com que a nova mania conquistasse
adeptos por diversos campos país afora, transformando o futebol num elemento
altamente significativo e unificador da cultura brasileira" (MARQUES, 2006
p. 20).
O Brasil carrega a grande descoberta do futebol,
Pelé. Hoje, a seleção e os clubes de futebol do Brasil são conhecidos
mundialmente pelo grande sucesso no esporte. O Brasil, por ter participado e
ainda participar dos maiores campeonatos internacionais projetou-se no cenário
mundial através de suas vitórias consagradas. (BORSARI, 1989).CRUZ,
(2003 p.20) em seu livro cita bem como o futebol chegou ao Brasil: "Anos
mais tarde nosso esporte se tornaria o espetáculo do século. Veio para a América,
trazido pela burguesia, como entretenimento da aristocracia."Ele ainda
levanta como as classes inferiores aderiram ao esporte:
Em São Paulo tinha 64 mil habitantes. Em 1864,
quando Charles Miller, desembarcou na Luz, maluco para organizar o primeiro
racha, a população pulara para 192 mil pessoas. Gente que chegava da roça,
principalmente negros que a Abolição "libertara" e gente que chegava
de além-mar, principalmente carcamos atraídos pelo café (CRUZ, Antônio Roberto,
2003 p.59).
Rezer defende em sua teoria que o
futebol foi disseminado entre a cultura popular como forma de diversão:
Alguns apontamentos históricos levam a crer que o
Brasil, a partir do modelo social e econômico impostos por países considerados
desenvolvidos (entre eles a Inglaterra), incorporou em seu contexto o avanço
capitalista europeu. Desta forma, as poucas oportunidades de diversão das
classes sociais mais inferiores, oportunizaram a disseminação da prática do
futebol, que apresenta alguns marcos em sua popularização(REZER, 2003, p.30).A
popularização do futebol foi fácil pela versatilidade do jogo. O poder de
improvisação que o futebol exerce nos jogadores facilita sua prática e, mais
ainda, sua paixão, mesmo por aqueles que não possuem condições financeiras
suficientes para adquirir o material necessário para jogá-lo. O futebol pode
ser presenciado em qualquer lugar: praças, ruas, praias, terrenos baldios,
fazendas, beiras de estrada, calçadas. Com bola de material fabricado ou não,
bola de meia, que quica ou não, com traves de madeira, ferro ou até apenas
marcas no chão, podendo ser jogado em qualquer clima, espaço e com qualquer
quantidade de jogadores, sendo esses principiantes ou não (BORSARI, 1989).
A divulgação desse esporte foi
muito mais difundida por ex-alunos praticantes de colégios e faculdades:
Os ex-alunos do São Luís de Itu dão farto exemplo
disso. César de Oliveira, Valdemar Junqueira e Pulcro Brasil levaram o futebol
a Uberaba e depois até o Brasil central; Arthur Ravache foi um
dos fundadores do Sport Club Germânia, em 1899, e um dos pioneiros na
organização do futebol paulista e brasileiro; CarlosSilveira, José e Vicente de
Almeida Sampaio participaram da fundação da Associação Atlética Mackenzie, em
1898, e foram os divulgadores do jogo por todo interior do estado de São Paulo;
Otho Behmer e João de Almeida, colegas de classe de Ravache, popularizaram o
futebol na capital paulista entre pequenos proprietários, operários alemães e
italianos, por volta de 1898; Silva Moraes, também colega de Ravache, divulgou o
futebol nas fábricas da capital paulista e em Sorocaba; Mário César Gonzaga
levou a tradição do futebol de Itu para o Nordeste, especialmente para a
Faculdade de Medicina de Salvador (BA), onde, junto com José Ferreira Júnior,
foi um pioneiro do futebol baiano (SANTOS NETO, 2002, p. 23-25).
O esporte e a inclusão social
O termo inclusão social é bastante discutido no
meio literário e vários autores a defendem como sendo um meio para a diminuição
das desigualdades sociais.Conforme Mafra (2007 p. 1) escreveu em seu artigo:
Inclusão
(compreender, abranger) Social (sociedade ou relativo a ela). Inclusão Social
nada mais é que trazer aquele que é excluído socialmente por algum motivo, para
uma sociedade que participe de todos os aspectos e dimensões da vida - o
econômico, o cultural, o político, o religioso e todos os demais, além do
ambiental.Ela ainda reafirma
sobre a quem a inclusão social é dirigida:Quando dizemos inclusão não é somente
para alunos portadores de necessidades especiais é para todos que de alguma
forma sentem-se excluídos em alguma situação e que geralmente são os pobres,
negros e pardos, crianças e idosos, mulheres, homossexuais entre outro"s (MAFRA, 2007 p. 2).
A inclusão pode ser trabalhada em vários aspectos
da sociedade e usando diversos meios para que ela aconteça. Um dos meios que
acredito ser eficiente é o esporte.O esporte que conhecemos hoje é um produto
das profundas transformações produzidas pela Revolução Industrial na Europa dos
séculos XVIII e XIX. Houve relação entre o aumento do tempo de lazer, em parte
induzido por esta Revolução e a difusão do esporte entre a população operária e
urbana. A partir do final do século XIX, o movimento esportivo inglês estava
pronto para ser exportado. Embaixadores, administradores coloniais,
missionários, comerciantes, marinheiros e colonos encarregaram-se de difundir o
esporte pelo mundo (BETTI, 1997, p.19 apud MARTINS et al., 2002).
A partir daí devemos reconhecer
que disseminado o esporte tornou-se um fenômeno social:
Se aceitarmos o esporte como fenômeno social, tema
da cultura corporal, precisamos questionar suas normas, suas condições de
adaptação à realidade social e cultural da comunidade que o pratica, cria e
recria" ( SOARES et al., 1998 p.70) O esporte pode ser usado com vários
objetivos: brincadeiras, recreação, entretenimento, aprendizagem, competição,
mas nenhum dos objetivos supera o da inclusão social, é o que Rocha (2004 p.6)
nos mostra em sua pesquisa:
No que
diz respeito à sociedade em geral, as notícias na mídia são pródigas em
informar o desenvolvimento de programas e mesmo de atitudes esparsas conduzidas
por sociedades civis e religiosas, dando conta de que a oferta de equipamentos
destinados à prática desportiva e a orientação de políticas públicas e
programas bem conduzidos concorrem para disciplinar, afastar das drogas,
diminuir atos de vandalismo, e reduzir ações predatórias sobre ospróprios
públicos etc. enfim levando à sociabilização das crianças, jovens e adultos e
ao plenoexercício da cidadania. Percebe-se, pois que o esporte, além do fator
saúde, ao melhorar a função corpórea e reduzir o estresse, (este que é o grande
mal da sociedade urbana moderna), tem também por objetivos: Ensinar a viver em sociedade; educar para
viver junto; perceber a importância de aceitar os desiguais; fazer aprender a
ganhar e a perder; reconhecer o melhor e o mais apto; e ainda mostrar ser
necessário respeitar o mais fraco e o inábil. Conclui-se que sob variados
aspectos o esporte como ciência e disciplina constitui uma verdadeira
"ferramenta" a ser usada no esforço para a inserção social do
indivíduo excluído.
O Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos, da
Faculdade de Educação Física e Ciência dos Desportos, da Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, em seu trabalho de pesquisa defendeu a inclusão social
através do esporte sendo um dos melhores meios para atingir a classe de pessoas
vitmas da desigualdade social. Pessoas que por falta de oportunidades ficam às
margens do crescimento social, político, educacional e esportivo. Pessoas que
tiveram acesso ao esporte quando criança e prtaticaram atividades físicas nesse
sentido têm um diferencial em seu desenvolvimento não só motor, mas social,
cognitivo, afetivo.(CAVALLI et all, 2007).Para os autores da pesquisa o esporte
é uma questão político-social, pois ele pode ser usado como instrumento de
transformação social e emancipação humana.Sobre esse pressuposto Tubino (1992
p. 40 ) afirma o seguinte:
O
esporte deixou de perspectivar-se apenas no rendimento e conseguiu também
incorporar os sentidos educativos e do bem-estar social. Em outras palavras, o
esporte não é mais apenas uma prática motora que visa a competição ou o alto
rendimento, mas quando bem objetivado, pode se tornar uma ferramenta
imprescindível para a transformação social.Na mesma medida, o autor ainda
lembra que o esporte se não bem interpretado e explorado pode também
influenciar de modo negativo:O esporte, pelas suas particularidades e pelo
fascínio que envolve e provoca, permite muitas vezes um mal uso de suas
possibilidades de conteúdo, paradoxalmente, com as suas finalidades e até dos
discursos de sua promoção como um dos melhores meios de convivência humana.
Isto explica que os efeitos sociais negativos do esporte são, na verdade,
utilizações tendenciosas do fenômeno esportivo (TUBINO, 1992 p. 40).
Cavalli (2007), em seu trabalho de pesquisa
defende, ainda, que a criança ou adolescente que tem contato com o esporte
produz transformações significantes e gratificantes em comunidades totalmente
carentes de atenção e oportunidades. Gratificantes por gerar, através de
projetos esportivos de cunho social, o bem estar das pessoas nele envolvidas
não somente fisicamente, mas mental e socialmente.O autor ainda enfatiza em sua
pesquisa que:
O
esporte, quando analisado dentro de uma perspectiva social, acaba por tornar-se
mais que uma ferramenta de aprendizagem. O esporte assume a função de um agente
de transformação e/ou emancipação social a partir do momento que o mesmo gera
modificações comportamentais, sociais e políticas tanto dentro como fora das
quadras. Projetos esportivos sociais tratam-se, portanto, de um suporte tanto
físico-mental quanto afetivo-social, para pessoas que poderiam nunca ter tido a
oportunidade de crescimento que o esporte proporciona. Evidencia-se, assim, a
importância da realização de projetos onde os alunos e professores são
recompensados pela sua evolução como seres humanos que erram, acertam, mas,
sobretudo, tentam. Sabe-se que as transformações, de um modo geral, não ocorrem
da noite para o dia. Contudo, simples atitudes, como a de ensinar o valor real
do ser indivíduo como pessoa pode ser o diferencial necessário para que seja
dado o primeiro passo rumo a uma realidade mais humana (CAVALLI, 2007 p. 5).
Muito mais que teorias o esporte discutido
mundialmente nem sempre atende às suas perspectivas na área política e social.
Em um estudo aprofundado, a Organização das Nações Unidas reconhece:
Apesar
de instrumentos internacionais advogarem o esporte como direito humano
fundamental para todos, portanto não apenas um meio mas,também um fim em si
mesmo, o direito ao esporte e à brincadeira é freqüentemente negado. Isto
ocorre por causa da discriminação e pela negligência política, exemplificada
pelo declínio nos gastos com a educação física e pela falta de espaços
apropriados para o esporte. No plano do indivíduo, a prática esportiva é vital
ao seu desenvolvimento integral promovendo sua saúde física, emocional e social.
Essa fornece oportunidades de lazer e auto-expressão, benéficas a todos e em
especial a jovens desfavorecidos. Fornece alternativa saudável a atividades
prejudiciais como o uso de drogas e a criminalidade. Além de todos esses
fatores, a prática de atividades físicas tem relação direta como a melhoria dos
desempenhos acadêmicos de crianças e jovens. O objetivo das Nações Unidas de
utilizar o esporte como aliado não é a criação de novos campeões ou o
desenvolvimento do esporte, mas a utilização do esporte como facilitador da
participação, da inclusão e da cidadania, inserindo-o em atividades mais
abrangentes do desenvolvimento e da construção da paz (NAÇÕES UNIDAS, 2003 apud
COSTA, 2006 p. 2 )
Projetos sociais no esporte têm sido introduzidos
como meio de inclusão e resgate social no Brasil, gerando resultados em
diversos estados e municípios. O próprio Governo Federal tem mostrado através
de estatísticas que projetos como o Projeto Segundo Tempo em apenas na sua fase
de implantação, em 2005, atendia 516.7 mil crianças e adolescentes, em 2.681
núcleos no país (GOMES; CONSTANTINO, 2005).
Como forma de interação social e
ainda mais, como manifestação da paz:
O esporte promove trégua temporária entre tensões
das diversas facções...promove a comunicação, envolvendo as pessoas numa
participação conjunta, oferecendo símbolos comuns a coletividade, justificando
a solidariedade (CRUZ, 2003 p. 39)
O esporte é considerado como meio
não só de inclusão, mas de interação em qualquer âmbito:
O
esporte contribui para a integração regional e nacional, ao fomentar entre as
pessoas de diferentes classes sociais, etnias, raças, religiões a partilha das
emoções, transformando eventos em confraternizações, fatores de união,
destacando-se entre os principais motivos de mobilização da vida moderna. Nesse
aspecto o esporte mais popular do mundo tem importância fundamental na animação
das comunidades periféricas no país, na luta que precisam empreender com
urgência no esforço de auto-organização para superação da marginalização social
e econômica" (CRUZ, 2003 p. 40)
Existem projetos relacionados ao
esporte que possuem nomes reconhecidos pela sociedade e pelo poder público:
Há,
atualmente, inúmeros projetos sociais que trabalham com comunidades carentes,
onde, através de atividades esportivas, procuram promover transformações
sociais e, assim, oferecer oportunidades para que se tornem cidadãos com
perspectiva de futuro. Pode-se destacar o Instituto Ayrton Senna que faz um
trabalho muito bem organizado e pautado na educação pelo esporte, onde a
criança e o adolescente constituem o foco das atenções e o esporte é a
ferramenta utilizada para transformar suas potencialidades em competências para
tomar decisões sobre suas vidas e o mundo que os cerca (ONOE, 2006 p. 1).
Ex-jogadores investem nesses projetos por acreditar
que o esporte é realmente uma ferramenta para a transformação social. Em
destaque, podemos citar os projetos Fundação Gol de Letras, de Raí e Leonardo,
Instituto Bola Pra Frente, de Jorginho e Bebeto e Fundação Cafu, de Cafu.Existem
outras iniciativas de projetos sociais desenvolvidas por ex-jogadores de
futebol tetracampeões mundiais: o capitão Dunga, por exemplo, criou em Porto
Alegre o "Instituto Dunga de Desenvolvimento do Cidadão", que
desenvolve projetos e ações que utilizam o esporte como um instrumento para
transformação social e conta com a ajuda do ex-goleiro Fabio Tafarel. O jogador
Romário formalizou o início do "Instituto Romarinho", também com o
objetivo de inclusão social pelo esporte (MARQUES, 2006 p.18).
Marques (2006 p. 32), em sua pesquisa teve a
oportunidade de entrevistar alguns jogadores e discutir sobre as vantagens do
futebol como ação social. No momento ele cita um trecho do que Ronaldo disse:
Tenho
certeza que muita gente no passado queria fazer alguma coisa pelos mais pobres.
Mas a realidade era outra. O dinheiro que o futebol movimenta hoje em dia
proporciona a chance de o jogador colaborar de verdade com a vida das pessoas,
não só marcando gols.Maior desafio para os jogadores e ex-jogadores de manterem
esses projetos é oferecer aos integrantes dele a real possibilidade de
inclusão, não apenas criando escolinhas de futebol, que por si só já contribuem
para a exclusão, tendo que destacar o que joga melhor ou pior. Segundo Marques
(2006) aqueles que jogam bem e são encaminhados para os clubes para se
profissionalizarem resulta, para a maioria que não foi escolhida,, em
frustração para a criança, para a família e para os que depositaram confiança
no projeto. Por isso a importância em planejar estratégias para que os ídolos
esportivos possam ser espelhos e referência no exercício da cidadania.
O futebol
e sua perspectiva de inclusão e ascensão social
A marginalização social do povo é amenizada diante
das inúmeras partidas de futebol improvisadas em qualquer espaço que dê para
colocar duas traves eqüidistantes. Assim como Cruz (2003 p. 39) relata:
O povo
que organiza sozinho, sua própria forma de lazer, entretenimento, vem
acumulando uma vivência ao longo do último século cuja atividade esportiva, é
apenas uma alternância que lhe sobrou no sentido de abrandar a amargura de sua
vida de marginalizado social. Entre outras raras alternâncias, o brasileiro
humilde prendeu-se a essa atividade e agarrado a ela, resistiu bravamente
ocupando as áreas que sobram, ali organizando as atividades de lazer de ócio e
sobrevivência. Organizando ainda sua vida, sua moradia, sua religião, sua
sociedade.Muitos esportes proporcionam a inclusão e a facilidade de sua prática
sem muitos investimentos, mas nenhum supera o futebol. É ao redor dos campos de
futebol que se formam as pequenas comunidades. Ele atrai os olhares, aumenta a
paixão e mais ainda, faz brotar sonhos de uma carreira rica e famosa. "Por
isso deve ser mais bem avaliado pelos governos e instituições sociais, como
importante alternativa para projetos de inclusão" (CRUZ, 2003, p. 39).
O futebol quando incentivado, seja em periferias ou
centros urbanos faz com que os seus praticantes se sintam valorizados em
relação ao local em que vivem, dando-lhes o sentimento de pertencerem a uma
sociedade integrada.O Brasil possui um verdadeiro exército de pessoas capazes e
dispostas a trabalharem nesse processo. Muitos têm usado o esporte mais
atrativo e viável para as classes menos privilegiadas para inclusão na escola e
como cidadão ativo. O futebol é o esporte que requer menos custo em seus equipamentos,
comparados a outros esportes praticados no país. Projetos de inclusão oferecem
oportunidades para jovens e adultos de comunidades organizadas pelo futebol e
atende centenas de pessoas (BORSARI, 1989).Cruz cita que em pesquisas
realizadas em sociologia e urbanismo a criminalidade tende sempre a diminuir
nas regiões em que a população tem acesso a áreas esportivas: "Transformar
a utilização das áreas disponíveis para prática de futebol e demais esportes,
contribuirá muito na humanização das periferias e subúrbio" (CRUZ, 2003 p.
54).
Ultimamente vivemos no meio de uma guerra
declarada, a população tem medo e vive trancafiada em suas clausuras com receio
de praticar esportes ao ar livre e ganhar uma bala perdida na cabeça. Chacinas,
roubos a mão armada, tráfico de drogas, seqüestros longos ou relâmpagos. Os
presídios se tornaram verdadeiros escritórios dos comandantes do crime. É um
problemas de segurança nacional. Muitos, principalmente em época de eleições
oferecem receitas mirabolantes para pelo menos minimizar essa situação, mas
nenhuma medida será salvadora se não for aliada a um novo modelo de
convivência.Projetos na área do esporte vêm sendo desenvolvidos com sucesso em
vários lugares do país: os Projetos Mangueira do Rio de Janeiro, Axé em Salvador,
Rexona no Sul e Heliópolis/SP, ULBRA em Torres/RS, Emovidos pelo Futsal -
Horizontina. Os esportes oferecidos nesses projetos, incluindo o futebol, tem o
objetivo de contribuir de forma efetiva na criação de opções para a juventude,
principalmente em áreas carentes, envolvendo os aspectos econômicos, culturais,
sociais, étnicos e educacionais. "O esporte é superação acima de tudo.
Isso inclui superar adversidades da vida cotidiana, servindo como importante
alternativa para afastar as crianças da criminalidade e das drogas".
(CRUZ, 2003, p. 28).Esses projetos são apenas modelos, mas muitos podem ainda
serem criados e aprimorados no sentido de se organizar uma comunidade que
conviva com as diferenças e aprenda a se respeitar não só como cidadãos, mas
como pessoas (Idem, ibdem).
Como valorização do cidadão e da
vida, o Deputado Eduardo Suplicy do PT comentou:
O
potencial transformador do esporte está contribuindo para a reversão do quadro
de vulnerabilidade social. Refiro-me ao esporte aplicado não somente na atividade
de alto rendimento, mas também no esporte que é capaz de educar e tornar
crianças, jovens, adultos e idosos em verdadeiros cidadãos. Os novos caminhos
traçados pelo Brasil mostram que o esporte é uma ferramenta fundamental no
incremento da economia e ainda contribui para o desenvolvimento local (Jornal
do Brasil, 2005, p.1).
É bem verdade também que o esporte já foi, e muitas
vezes ainda é, meio de promoção política diante da imensa repercussão que ele
causa e diante da chance que o candidato ou governante tem de atingir novos
eleitores.Na história política brasileira são inúmeros os casos de presidentes
que associaram, de maneira positiva, seus nomes ao esporte, com a intenção de
melhorar a sua imagem perante o povo. Aproximar e associar ao governo o sucesso
e a imagem de destaque conquistada pela seleção brasileira nas Copas do Mundo,
foi muito utilizada por aqueles que tinham interesses além do esporte (GIGLIO,
2007 p. 64 ).Mesmo assim, direta ou indiretamente, o segmento político favorece
a promoção do esporte e hoje, como em muitos outros projetos que não tem
ligação política em sua essência, os líderes de Estado e Municípios adotam
medidas de inclusão social através do esporte. Os projetos sociais que envolvem
o esporte sempre dão resultados e são discutidos entre os autores que pesquisam
sobre o assunto:
Os
projetos sociais contribuem de forma significativa na transformação da
realidade de comunidades carentes onde não há projetos governamentais efetivos.
Através da introdução de atividades esportivas nesses ambientes, procura-se
realizar um trabalho para a construção de cidadãos socialmente conscientes e
participativos com as questões sociais que os cercam, procurando criar uma
realidade com oportunidades de crescimento e perspectivas de futuro através da
educação pelo esporte.(ONOE, 2006 p. 1)
Muito antes que apenas uma atividade esportiva, o
futebol como inclusão social não tem sido visto apenas como agente emancipador
e transformador, mas como uma promessa de realização de sonho para muitos:
A
maioria dos garotos de origem pobre no Brasil sonha em ser jogador de futebol.
Afinal, num país com a oitava pior distribuição de renda do mundo, as chances
de ascensão social são pequenas. A exemplo de jogadores como Romário e Ronaldo,
que vieram de comunidades pobres e rapidamente ficaram milionários, muitos
garotos querem seguir carreira nos gramados. De acordo com o professor do
Instituto de Economia da Unicamp, Marcelo Weishaupt Proni, o futebol foi e continua
sendo uma das poucas formas de ascender socialmente no Brasil, principalmente
porque, segundo ele, "nos últimos 20 anos, as possibilidades de mobilidade
social diminuíram e a recessão econômica que atingiu o país na década de 80
reduziu as chances de ascensão social", diz. Segundo o antropólogo e
professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense,
Marcos Alvito, as próprias famílias incentivam os jovens a seguirem carreira no
futebol porque sabem que esta é umas das poucas maneiras de saírem da miséria.
"Se o garoto tem talento, a família deposita nele toda a esperança de
mudar sua situação financeira e social", diz. Nesses casos, é muito comum
o jovem abandonar a escola para se dedicar exclusivamente ao futebol, com o
consentimento da família (NUNES, 2007 pag. 01).
A perspectiva de ascensão social
através do esporte pode ser muito bem exemplificada pela história do jogador
Denilson:
Na
família de Denilson há casos de gente que não passou pela peneira. Dois primos,
que a parentela jura serem tão bons de bola quanto o atacante do Real Betis,
são hoje motoristas de lotação. Se não tivesse sido descoberto por um olheiro
do São Paulo aos 13 anos, Denilson provavelmente estaria na mesma situação. Ele
passou a morar no clube de segunda a sexta-feira. Treinava seis horas por dia.
Quando os outros iam para o chuveiro, ficava sozinho no campo por mais meia
hora, ensaiando dribles e embaixadas. Com 16 anos, assinou seu primeiro
contrato, com um salário de 700 reais. Era quase a soma dos vencimentos do pai
operário e da mãe empregada doméstica. Com o dinheiro ajudou a reformar a casa
em que a família vivia em Diadema, na Grande São Paulo. Logo que começou a
ganhar dinheiro de verdade, realizou um sonho da mãe: revestiu a casa toda de
mármore – pisos e paredes. "Eu sempre limpava o mármore da casa das
patroas e só imaginava o dia em que ia ter isso na minha", diz a mãe,
Amélia de Oliveira, que atualmente mora com o filho em Sevilha, na Espanha. O
salário mensal de Denilson é hoje 910 vezes maior que a renda per capita de
Diadema, cidade onde nasceu (TEICH, 2002 p. 5).
Os meninos empoeirados que jogam "pelada"
em campos de terra batidos espalhados pelas cidades sempre procuram, antes
mesmo de formar um time completo, se nomearem idealizando ser um dos craques do
futebol brasileiro e mundial. Giglio, em sua pesquisa relata através de um
trecho do documentário dura e antagônica realidade dos meninos que sonham
emtransformar o sonho de criança em realidade transmitido pela rede
Bandeirantes:
Qual o
sonho que embala o menino? Ser jogador de futebol, dar uma vida melhor aos
pais, sair do anonimato para os holofotes de um grande centro. Atravessar um
dos poucos túneis abertos entre as desigualdades sociais do país. São imagens
ainda turvas as que voam pelas asas da imaginação juvenil. Garotos que ainda
brincam de ser criança, enquanto esperam por uma chance de ser o adulto que
sonham ser. Garotos nutridos pela esperança e que nutrem esperanças. Desfilar
categoria por gramados, Brasil adentro, mundo afora. Sonho que caminha com os
passos de chuteiras coloridas e com o estilo emprestado dos ídolos, como uma
brincadeira de: quem quero ser quando crescer? Sutil esperança que aparece no
toque carinhoso em camisas mais famosas. O sonho que esbarra com a dura
realidade. [...]. O melhor a que se permitem esses garotos: sonhar (GIGLIO,
2007 p. 146).
Assim crianças crescem
entronizando em seu cotidiano o sonho de ser um grande jogador, espelhado em
seu ídolo no esporte:
O
sonho de muitos meninos brasileiros certamente passa pelo esporte mais popular
do planeta. [...] o futebol está presente no imaginário do povo brasileiro.
Freqüentemente, jogadores são eleitos ídolos e passam a servir de modelo para a
sociedade"(GIGLIO, 2007 p.119)Esse sonho continua sendo alimentado não
somente pela vontade de ser um jogador profissional, mas de poder participar de
times da primeira divisão e ganhar muito dinheiro para praticamente
esquecerem-se das privações que sofreram quando crianças. (GIGLIO, 2007)
Há um conceito comum na sociologia brasileira
segundo o qual os únicos meios fortes de ascensão social dos pobres, sobretudo
os de pele mais escura, são o futebol, a música e o narcotráfico. A chance de
um brasileiro com idade entre 20 e 32 anos chegar ao cargo de capitão da seleção
brasileira é de 1 para 17 milhões. É bem mais fácil, por exemplo, ganhar no
concurso da Supersena, cuja probabilidade de vitória é de 1 para 12 milhões. A
carreira de um jogador de futebol começa pelas peneiras, o processo de seleção
de jovens talentos dos grandes clubes. No Corinthians, de cada 5.000
adolescentes são selecionados quarenta, dos quais apenas três se tornarão
profissionais. No Flamengo, dos 25.000 que tentam a cada ano, 250 passam para a
fase de treinos e dez viram de fato jogadores. O processo depende bastante de
persistência. Cafu foi recusado doze vezes nas peneiras dos grandes clubes
paulistas. Ronaldo, o Fenômeno, foi barrado no Flamengo. Rivaldo foi dispensado
pelo técnico de juniores do Santa Cruz, do Recife (TEICH, 2002 p. 4).
Segundo Giglio (2007 p. 112) a experiência de Cafu
"é "vendida" como a possibilidade de sucesso, de que o sonho é
possível para todos e que é preciso persistir muito para conseguir resultados
no futebol".O futebol também contribui, e muito, para a economia do país,
fazendo com que mais dinheiro circule, gera empregos e novas oportunidades.Nessa
perspectiva, destacamos um possível papel do futebol no processo de
desenvolvimento social do país. No aproveitamento do seu carisma, o jogador de
futebol torna-se uma liderança que pode produzir grandes transformações.
Estamos descrevendo um certo tipo de liderança, que são esportistas,
especificamente atletas de futebol profissional, que emergem numa sociedade com
grau de reconhecimento, que são identificados dessa forma e que se identificam
também assim, pois possuem vários recursos de poder: prestígio social, muito
dinheiro, mas não só isso, desenvolvem também a capacidade, o poder de
"fazer" dinheiro, ou seja, fazer capital econômico (MARQUES,
2006p.15).
Todos de alguma forma ficam envolvidos com o
futebol, principalmente na época de grandes campeonatos como a copa do mundo. O
futebol, para os brasileiros é uma identificação pessoal.O mundo inteiro
conhece o futebol brasileiro cinco vezes campeão mundial, representado nos
gramados de diversos países. Em viagens de turismo ou negócios, todo brasileiro
é dentificado como um indivíduo que possui laços de pertencimento ao país do
samba e do futebol. Os ídolos do futebol brasileiro ficam eternizados na mente
de diversas gerações em diferentes países. Todos se beneficiam com os
rendimentos econômicos proporcionados pelo futebol brasileiro: os clubes, os
jogadores, os empresários, os patrocinadores, as redes de televisão, as
cervejarias, as empresas de marketing esportivo, as marcas esportivas. Todos
conquistam cifras invejáveis com o espetáculo do futebol, com exceção das
comunidades populares de baixa renda, onde nasceram e cresceram os jogadores de
futebol – exatamente os principais atores do espetáculo (MARQUES, 2006 p. 30).
Os grandes craques do futebol que hoje são
reconhecidos como melhores do mundo e são exportados para fora do país para
defender times europeus também já foram apenas sonhadores. Muitos deles tiveram
uma infância com poucos recursos financeiros, passaram por várias dificuldades
e enfrentaram várias "peneiras" antes de serem escolhidos e
contratados por algum clube.Teich (2002, p. 1), em sua matéria publicada na
revista Veja, mostra que grandes craques têm origem humilde e passaram muitas
dificuldades financeiras até chegarem aonde chegaram:
Os
jogadores da seleção brasileira têm uma trajetória comum. São brasileiros
excepcionais que saíram de uma infância quase sempre muito pobre e se tornaram,
além de ídolos, donos de uma fortuna surpreendente. Cafu, o capitão da seleção,
morava num bairro miserável da periferia de São Paulo, o Jardim Irene. De seus
amigos de pelada, dois foram mortos pela polícia e um terceiro, que era
vigilante, por bandidos. Quatro estão presos por roubo e outro, motoboy de
profissão, foi assassinado quando tentava evitar que roubassem sua motocicleta.
Hoje no Roma, Cafu ganha 1,8 milhão de dólares por ano. Há dez anos, Rivaldo
vendia doces no Recife e criava galos de rinha para ajudar no sustento da
família. Como jogador do Barcelona, recebe 6,5 milhões de dólares por ano.
Gilberto Silva tinha um salário mensal de 117,30 reais numa fábrica de
caramelos em Lagoa da Prata, cidade mineira onde nasceu. Ganha agora 400 vezes
mais no Atlético Mineiro e, com o prestígio de um pentacampeão mundial,
vislumbra um rendimento de 100.000 dólares por mês no futebol europeu.Anos atrás
os jogadores também conseguiam ascensão financeira através da
profissionalização no futebol, mas nada pode ser comparado aos nossos dias. Os
jogadores agora também têm muito mais compromisso e responsabilidade, pois os
seus patrocinadores, grandes empresas privadas que financiam milhões, não
exigem apenas grande desempenho nos gramados, mas uma conduta de vida sem
mácula e que sirva de exemplo para os torcedores. Isso sem citar o quanto a
exigência física e de treinamento antigamente era mais branda e menos exigente
do que hoje. Na época de craques como Pelé e Jairzinho os treinamentos eram
basicamente todos coletivos, quase que uma coreografia. Hoje, além de
habilidade, resistência física e treinamento o jogador para se profissionalizar
e obter sucesso necessita ter grande obstinação e disciplina. (idem, ibdem).A
garotada brasileira chega aos clubes com bom domínio de bola, mas com
deficiências alimentares, dentes cariados e baixíssima escolaridade. Os clubes
cuidam de melhorar a alimentação, providenciam tratamento dentário e até
insistem para que estudem. Existem coisas, porém, que são inteiramente
pessoais: talento com a bola, o que é relativamente fácil de encontrar no
Brasil, e determinação e disciplina, que só os melhores têm (TEICH, 2002 p.3).
Os craques que conseguiram reverter sua situação de
miséria em riqueza através do futebol com persistência e garra, muitas vezes
tendo que alternar os treinos com subempregos, a exemplo de Gilberto Silva e o
goleiro Marcos:
Filho
de um lavrador muito pobre do interior de Minas Gerais, Gilberto Silva alternou
tentativas de vencer no futebol com trabalhos de servente de pedreiro e
operário em fábrica. Só em 1996, aos 20 anos, conseguiu se firmar no América. O
goleiro Marcos também tem origem rural. É filho de um agricultor e se criou num
sítio nos arredores de Oriente, cidade de 5.800 habitantes a 472 quilômetros de
São Paulo. Era o caçula de seis filhos e desde pequeno jogava futebol descalço
com os irmãos no sítio. Queria atuar no meio de campo, mas os irmãos não
deixavam, com medo de que se machucasse. Nasceu ali um goleirão. Aos 17 anos,
passou no teste de seleção para os juniores do Palmeiras. Tornou-se titular há
quatro anos. Seu salário inicial de aproximadamente 2.000 reais saltou para os
atuais 60.000 reais. Há dois anos, comprou todas as terras em torno do sítio do
pai, formando uma fazenda de 86 hectares e 300 cabeças de gado" (TEICH,
2002 p. 6).
E dinheiro faz a diferença para a
maioria dos jogadores. Tomamos os exemplos de Rivaldo e Ronaldo de Assis Moreira,
o Ronaldinho Gaúcho:
Rivaldo
mandou asfaltar com dinheiro do próprio bolso seis ruas no acesso à casa dos
pais, num conjunto de residências populares construído pela Cohab, na década de
70, em Paulista, no Grande Recife. [...] O dinheiro do futebol fez diferença na
infância de Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho, que hoje joga no
Paris Saint-Germain e ganha 300.000 dólares por mês. Mas foi o irmão Assis,
onze anos mais velho e hoje atleta na França, o primeiro a fazer sucesso. Ele
tirou a família da Vila Nova, um dos bairros mais pobres de Porto Alegre, e
ajudou Ronaldinho a entrar para a escolinha do Grêmio, aos 7 anos" (TEICH,
2002 p. 5 - 6).
Para uma escala oficial de jogadores para uma
competição, há técnicos que, além da habilidade do jogador, considera sua
capacidade de esforço, perseverança e lealdade, assim foi o critério que Luiz
Felipe Scolari usou em 2002:
Quando
escolhia os jogadores que levaria para a Ásia, o técnico Luiz Felipe Scolari
deu atenção especial à capacidade de esforço, perseverança e lealdade de cada
um dos convocados. São traços que, se acompanhados de talento, levam, na
opinião do técnico, ao sucesso (TEICH, 2002 p. 7).
A escolha é uma das mais duras lutas enfrentadas
por aqueles que desejam se profissionalizar no futebol. Os meninos que buscam
ingressar no profissionalismo do futebol passam por várias "peneiras"
e mesmo assim correm o risco de algum dos seus concorrentes possuírem indicação
e passar na sua frente, mesmo às vezes não jogar tão bem assim. Quando passam
pelas fases de classificação para fazer parte de algum clube, os garotos
enfrentam outro difícil obstáculo: a falta da família. Há casos em que o garoto
passou por todas as fases, mas desistiu por saudade da família. Muitos também
já dentro do clube atuando em sua categoria foram dispensados antes que se
profissionalizassem.O incentivo que esses garotos recebem conta muito para o
sucesso ou insucesso na carreira. Os pais, principalmente, almejam que o filho
siga a carreira profissional porque sabem da possibilidade de ascensão social.
A exemplo do garoto Jean Carlos Chera, que aos nove anos já é contratado pelo
Santos. Ele não passou por "peneira". Seu pai apenas divulgou um
vídeo na Internet de seu filho jogando bola, o que despertou o interesse de
clubes e empresários. (GIGLIO, 2007)
Os que avançam na carreira, não
importam de onde vieram sempre se lembram de suas origens:
O
jovem abdica de tantas coisas em busca do sonho e encontra o amparo na família.
É ela que será lembrada, juntamente com os amigos e o local da infância, caso o
sucesso seja atingido. Os jogadores que viram ídolos e heróis evocam
constantemente a infância cheia de dificuldades e, muitas vezes, pobre, como
forma de resgatar os tempos difíceis e salientar que foram importantes para atingir
o sucesso (GIGLIO, 2007 p.115)
CONCLUSÃO:
Uma das identidades nacional, o futebol teve uma
trajetória histórica envolvendo nomes famosos e gente do anonimato. O uso desse
esporte como lazer, brincadeira, passa tempo, sendo amador ou profissional, sempre
terá destaque em qualquer região do Brasil e no mundo. Milhões de pessoas param
de quatro em quatro anos para acompanhar o desempenho da seleção na copa do
mundo.Todas as formas de uso do esporte são válidas. Mas nenhuma delas é tão
preciosa como seu uso para a inclusão social, e porque não a ascensão social?
São apenas conseqüências que o esporte pode resultar. Do amadorismo ao
profissionalismo, todos que têm a bola nos pés um dia sonharam em ser um
jogador de futebol profissional. Seja por qualquer motivo: amor pelo esporte,
que é algo nato do brasileiro, por fama ou dinheiro.
Eles já crescem vendo bola, brincando com bola,
rolando bola, jogando bola, dando bola e ganhando bola. O garoto sem recursos
financeiros que tem esse sonho, que recebe o apoio da família e em alguma
instância da sua comunidade participa de escolinhas e projetos que envolvem o
futebol alimenta o sonho de entrar nos dos grandes gramados. Participa de
peneiras, passam ou são reprovados, mas nem isso faz com que eles deixam de se espelharem
nos seus ídolos futebolísticos.A perspectiva que o futebol proporciona
principalmente às camadas menos privilegiadas da população chama a atenção,
especificamente, de crianças e jovens, sem citar o quanto os pais almejam a
vida profissional para o filho regada pela promessa de ascensão financeira e
social. O que, ainda, faz com que "olheiros" fiquem atentos aos
meninos que se empenham e deposita toda sua esperança no esporte para
aproveitarem e quem sabe agenciar um grande jogador de futebol.Mesmo sabendo da
árdua caminhada até o sucesso muitos meninos enfrentam os obstáculos, mas os
mais determinados e obstinados chegam até o propósito final: clubes da primeira
divisão, seleção brasileira e quem sabe jogar fora do país. Alguns nem mesmo
sequer jogou no Brasil primeiramente, passaram direto para o estrangeiro
mostrando que o seu valor também é dado lá fora, mesmo quando por aqui não
acontece. Passar por todas as etapas causa angustia, pois é uma caminhada sem
resultados certos. Às vezes dá, às vezes não. Tentando é que perceberá o
resultado.A realidade dos atletas que não conseguem atuar por equipes grandes e
muito menos atingir a condição de ídolo e herói é muito diferente e distante
desse reduzido número de jogadores que gozam do privilégio de desfrutar tudo o
que o futebol profissional pode oferecer, em termos financeiros. Aos excluídos
desse círculo restrito de altos ganhos permanece o sonho, não mais de ser
jogador profissional, mas de um dia chegar a um clube grande, atingir uma
estabilidade financeira e quem sabe ser ídolo e herói de uma torcida (GIGLIO,
2007 p. 146).
Como no Brasil tudo sempre acaba em samba ou
música, até o futebol entra na dança, como na música do Grupo Skank: "Bola
na trave não altera o placar, bola área sem ninguém pra cabecear, bola na rede
pra fazer o gol, quem não sonhou, em ser um jogador de futebol?" (REIS,
1998). Mesmo assim, sendo através de sonho ou de incentivo de outros, o sucesso
pode chegar como recompensa do esforço, habilidade e profissionalismo. Mas, não
devemos esquecer que o esporte só é instituído por pessoas que dele entende e
estuda as melhores formas de aplicar sua aprendizagem. Os profissionais que se
preocupam com a metodologia do esporte e suas peculiaridades para a melhor
assimilação e aprendizagem da criança são os maiores responsáveis para o futuro
delas, principalmente as que se profissionalizam nele. Os educadores físicos,
profissionais formados em Educação Física, devem desempenhar seu papel como
mediador entre a criança e o esporte não apenas fazendo dele um atleta, mas o
formando como pessoa e como cidadão ativo e pensante.Em projetos sociais o
professor de educação física realiza o trabalho de incentivador e serve como
exemplo para muitos. Colocar em prática seus conhecimentos teóricos na formação
de pessoas é o que ele mais desempenha, pois através do esporte valores são
resgatados, princípios são revistos e paradigmas são formados, reformados ou
quebrados. Esse é o papel do professor dentro da inclusão, fazer com que
através do esporte as pessoas possam se reconhecer, conhecer seu valor, suas
habilidades e seus limites, reconhecendo e aceitando o outro, suas diferenças e
potencialidades.Os jogadores que aproveitaram sua condição social melhorada
para financiar projetos sociais que realizam o resgate social através do
esporte têm até hoje contato com educadores físicos em seus treinos e equipes.
Através desses educadores a habilidade que possuíam foi aperfeiçoada pelo
conhecimento fisiológico e metodológico que o treinador possui e aplicou em seus
treinamentos. É realmente indispensável a formação específica do professor para
o trabalho em educação física e em trabalhos que envolvam o esporte, mas mais
ainda é necessariamente imprescindível o repasse desses conhecimentos no
processo de inclusão de forma humana.
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