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Ponto de vista com Pedro Carlos: "o que há de fake sobre as fake news?"

Written By Beraká - o blog da família on terça-feira, 19 de junho de 2018 | 20:32




 

 

*Por Pedro Carlos

 

 

 

Qualquer brasileiro, seja de que vertente política for, quando se depara com um assunto que é o centro das atenções de jornalistas, megabilionários da indústria digital e dos honrosos membros do nosso Parlamento e da nossa Suprema Corte, sabe que nesse angu tem caroço. O assunto da vez são as chamadas fake news: as terríveis “notícias falsas” que, juram eles, ameaçam o destino da nossa sôfrega nação. O enredo oficial conta que um surto de mentiras deslavadas – uma coleção de invencionices, alarmes falsos e boatos de todo tipo – contaminou as comunicações virtuais e têm influenciado a opinião pública e até os resultados eleitorais. Os vetores dessa epidemia seriam os milhares de sites, blogs e páginas de redes sociais, que ganharam espaço com a internet e destronaram os veículos de mídia credenciados. 

 


 



 





As precauções ao contágio limitam-se à verificação das perguntas básicas que se seguem a qualquer fato jornalístico: o quê, quem, quando, onde, como e por quê. Deve-se atentar também à confiabilidade da fonte da notícia. Sites nanicos e desconhecidos devem ser evitados, e o certo mesmo é correr à Folha ou a’O Globo para tirar a prova dos nove.A preocupação não nasceu ontem. O termo fake news ganhou notoriedade em 2016, quando a grande imprensa inteira assistiu com horror à decisão dos britânicos de não mais assentir ao multiculturalismo desenfreado e às regulações leviatânicas da União Europeia, episódio denominado Brexit. Mas o que escandalizou os soi-disant “especialistas” foi a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, o que fez as elites midiática, artística e universitária – o establishment progressista – voltar todos os canhões à internet. Rumos tão “surpreendentes” só podiam ter sido traçados pelos malditos blogs “ultraconservadores”, que espalharam suas notícias falsas e subverteram a opinião da massa. Quando o termo passou a circular no noticiário e a ideia de controlar a proliferação das fake news foi gestada pelos donos da informação, Trump, em sua sagacidade peculiar, usou-o contra um repórter da CNN, acusando-o de trabalhar para uma organização que, esta sim, veiculava falsidades. O episódio popularizou e democratizou – para utilizar a palavra mais doce do vocabulário esquerdista – o termo, que, evidentemente, serve muito mais à própria mídia que a qualquer outro grupo. Entretanto, um termo, ao entrar em domínio público, é inevitavelmente diluído no senso comum e perde suas nuances mais perigosas. Um gás tóxico, letal numa sala fechada, torna-se praticamente inofensivo quando lançado à atmosfera. É preciso atentar para o fato de que a mentira, a injustiça e todos os demais males nada mais são que privações de seus opostos virtuosos. A mentira total, senão absurda e impossível, é tão inverossímil que sucumbe facilmente ao juízo mais despreparado. Da isca de pesca até a estratégia satânica de se travestir em anjo luminoso, qualquer espécie de engano é forjada pela mistura de mentiras e verdades, erros e acertos, bens e males, de forma que a embalagem do produto falsificado apeteça à clientela desavisada. O real valor de uma notícia, portanto, reside antes em sua forma que em sua matéria. A manipulação é operada não sobre os meros fatos, de valor facilmente detectável, mas vale-se de artifícios quase subliminares que escapam ao leitor superficial.



 







O primeiro e decisivo estágio da manipulação jornalística é a edição. Dada a limitação de espaço dos meios de comunicação e a limitação de tempo de seus consumidores, cabe ao editor puxar algum fio do emaranhado de acontecimentos da realidade diária, relegando os demais à massa cinzenta do anonimato. Esse recorte arbitrário do editor pode acentuar ou atenuar os fatos, enfocando-os à luz de seu bel-prazer. O problema se agrava quando a relevância dos assuntos editados e a recorrência de sua exposição deixa de ser mera caixa de ressonância da realidade e passa ela mesma a ditar as tendências no desfile das notícias, traduzindo em ativismo jornalístico a velha ideia marxista de que, ao invés de somente interpretar o mundo, é preciso transformá-lo. A tesoura que recorta a informação é a mesma que lhe dá forma, e o molde será definido pela cosmovisão do jornalista, formada geralmente no próprio ambiente universitário, intoxicado de ideologia à esquerda. Os fatos desconexos, carentes de um elemento unificante, serão colados e integrados a uma narrativa político-ideológica e vendidos sob um verniz de isenção e imparcialidade, que só se sustenta por uma simbiose entre a ignorância do leitor médio brasileiro e o cinismo de quem dela se utiliza.














Não deixa de ser curioso ouvir os brados da militância esquerdista contra a “mídia golpista”, quando o papel desta no processo revolucionário brasileiro é, senão de aliada, de cúmplice. Quem se deixa impressionar por esse teatro ignora que as diversas vertentes da esquerda ideológica, enquanto alas políticas, estão em constantes disputas internas, divergindo antes quanto aos meios de conquista de poder que quanto aos fins almejados. As denúncias da imprensa contra os governos petistas restringem-se à corrupção e à incompetência, alvos ideologicamente neutros, o que mantém intacta a causa socialista, mais uma vez “deturpada” por líderes gananciosos. Noticiar os desmandos econômicos e administrativos do PT e ocultar a sua aliança com o projeto de poder continental do Foro de São Paulo – o qual, se conhecido em tempo pelo eleitorado brasileiro, relegaria Lula, seu cofundador, ao limbo político – é como denunciar um estuprador por ter um “gato” de energia em casa. Imbuída da mentalidade gramsciana de que os jornalistas, artistas e formadores de opinião são “agentes de transformação social”, e que não devem, por isso, limitar-se a informar os fatos, a mídia abdica de sua função de intermediar a comunicação para atuar em uma das partes. Definidas as notícias, resta ao jornalista manipular o aspecto mais importante da comunicação: a linguagem. As formas são várias, do simples emprego de termos imantados de cargas emocionais ao uso malicioso de absurdidades gramaticais. Exemplo característico é a inversão do agente e do paciente da ação reportada. É praxe do jornalismo trocar o agressor pela vítima em notícias sobre assaltos, sobretudo quando a reação desta em legítima defesa é bem-sucedida. A manchete quase sempre trata o criminoso por um termo genérico como “homem” ou “jovem”, noticiando, ao invés de seu crime, sua morte, trocando a relação agressor-vítima do caso particular do assalto pela ideia progressista de que o bandido é, num quadro mais amplo, uma vítima inerme da sociedade. Atividades criminosas também são atenuadas nos casos em que o sujeito de um crime, embora perfeitamente identificável, muitas vezes até por registros em vídeo, é tratado como “suspeito”. No entanto, ninguém é suspeito em si e por si, mas sempre em relação a algo, e incorre em desconhecimento profundo do idioma – e da própria realidade – quem escreve que algum “suspeito” fez qualquer coisa, já que este termo jamais indica substância – um indivíduo agente e real –, mas sempre uma relação entre elas. Outro exemplo de perversão calculada do idioma é alterar a transitividade de verbos para omitir complementos verbais que anulariam o efeito pretendido pelo redator enviesado. Por exemplo, se digo que alguém é “considerado polêmico”, jamais posso omitir quem assim o considera – informação imprescindível à correta compreensão do texto. É regra de ouro da boa escrita preferir o termo específico ao genérico. Espécies de classes universalmente conhecidas não precisam vir marcadas – para usar o termo da linguística – por seus gêneros; apenas espécies efêmeras precisam ser rotuladas. Ninguém precisaria escrever antes de ‘mesa’ sua classe (móvel), mas não se poderia omitir, exceto em textos técnicos de engenharia, que uma estaca pré-moldada é um tipo de fundação de edifícios. Desse modo, a escolha da inclusão ou da omissão do rótulo produz uma sutil impressão, muitas vezes calculada, de normalidade ou de estranheza. É por isso que, na mídia, qualquer direitista é sempre rotulado como tal – geralmente por classificações esdrúxulas como “ultraconservador” –, a fim de marcar uma suposta excentricidade dessa vertente política, enquanto pessoas reconhecidamente ligadas à esquerda são sempre tratadas apenas por suas qualificações profissionais. Omitido o rótulo ideológico, transmite-se a ideia de que ser de esquerda é, simplesmente, a normalidade humana e, por isso, o marcador é desnecessário.



 








Outra prática maciçamente empregada pelo "jornalismo mainstream" é nivelar, por hipérboles ou eufemismos, agentes ou objetos gritantemente desproporcionais. Atentados terroristas brutais são comumente noticiados como “incidentes”, e o terrorista que explode pessoas inocentes vira “agressor” ou “atacante” – neste caso, convém perguntar se quem confecciona a bomba é o “meio-campista” e se o policial é o “zagueiro do time adversário”. Humanizar objetos inanimados também é moda nas redações. Armas e caminhões, por si só, agora matam, e resta saber se, após desarmar toda a população de bem – sonho dourado dos desarmamentistas que só andam cercados de seguranças armados até os dentes – será necessário também “descaminhonizar” a sociedade. Não resta dúvidas, portanto, que os órgãos de mídia têm sido os mais vis propagadores de notícias falsas, e da espécie mais perigosa – aquela que se disfarça de isenta, aproveitando-se da credulidade geral na idoneidade jornalística. 








A internet, desde que ganhou força e desbaratou o monopólio midiático, tornou-se o principal alvo da indústria da notícia, e a ameaça postiça das fake news, a arma planejada contra a concorrência virtual, após nascer, voltou-se contra seu próprio criador. No entanto, agora que está mais forte e mais conhecida, ela será repatriada, e o embate será travado no próprio terreno do inimigo: as redes sociais, especialmente o Facebook. O dono da empresa, Mark Zuckerberg, que é reconhecidamente progressista – assim como outros barões do Vale do Silício –, incomodado pelo avanço das ideias liberais e conservadoras em sua plataforma e mancomunado com as grandes agências de mídia, anunciou que a rede social perseguirá as supostas fake news com a ajuda de entidades terceirizadas que se encarregarão da checagem dos fatos – as chamadas agências de fact-checking. As principais contratadas são a Agência Lupa, ligada ao Grupo Folha, e a Agência Aos Fatos, ambas integrantes da IFCN (International Fact-Checking Network, ou Rede Internacional de Checadores). 

 














Uma rápida pesquisa nos perfis virtuais dos integrantes dessas empresas permite identificar que são todos, sem exceção, ideologicamente alinhados à esquerda. Além disso, o Facebook também financiará projetos contra a disseminação de notícias falsas. Um deles, o “Vaza, Falsiane!”, curso online de formação de checadores, tem como um de seus professores Leonardo Sakamoto, cuja "parcialidade" ideológica nem precisa ser mencionada. Do lado político-burocrático, quem integra a caça às notícias falsas é o TSE – a magnânima corte que absolveu a chapa Dilma-Temer por excesso de provas – cujo presidente, o ministro Luiz Fux, afirmou, em recente participação no fórum “Como as redes sociais e as fake news afetarão as eleições, o Brasil e você”, promovido pela Revista Veja, que a Corte agirá preventiva e repressivamente, se for o caso, contra quem espalhar notícias falsas durante o processo eleitoral.













Todas essas nobres e comoventes iniciativas ocorrem justamente no auge da derrocada política da esquerda brasileira e da ascensão de Jair Bolsonaro. É o establishment midiático e político se realinhando contra a “ascensão” conservadora – que, num país onde quase noventa por cento da população professa a fé cristã, só pode ser chamada corretamente (por redundância) de reação conservadora. É evidente que as notícias falsas são perigosas e indesejáveis, e não resta dúvidas que a internet é terreno fértil à sua disseminação. No entanto, o campo virtual é tanto mais propício à invenção de notícias quanto à refutação delas. A falsidade é vício insolúvel do ser humano, e qualquer empreendimento que, a pretexto de combatê-la, concentre o poder capaz de realizá-lo, não diz respeito à liberdade, mas ao controle e à censura. Juvenal, poeta romano, escreveu em bom latim: “Quis custodiet ipsos Custodes?”- Parafraseando-o, dois milênios depois, devemos perguntar:     



“Quem checa os checadores?”

 






*Pedro Carlos, é formado em engenharia civil pela UFRN, e colabora com o Blog Beraká no espaço: "Ponto de Vista com Pedro Carlos"








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Anônimo
9 de julho de 2022 às 15:44

Parabéns ao autor do texto o notável colega de profissão o engenheiro Pedro Carlos!

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