(Papa Francisco e Federico Mayor)
A
Igreja NÃO é a favor da pena de morte, como querem alguns, nem absolutamente CONTRA como
querem outros!
Com isso não quero dizer que a Igreja está em cima do muro. Não,
a sua posição é clara, e bastante conhecida, como repetiremos mais abaixo,
através não de nossa opinião pessoal, mas pelo MAGISTÉRIO DA IGREJA. A Igreja existe para salvar almas, o que a
leva a agir na sociedade, aplicando seu juízo moral, segundo o direito natural
e a doutrina revelada. Matar sempre é um mal moral. Mas pode ser
considerado mal menor em diversos casos. Por isso, está aberta a
possibilidade de se admitir “em caso de extrema gravidade, a de morte”, pelo
recurso a legítima defesa pessoal, ou de outrem em situações de risco iminente
a suas vidas. Observe
então que apenas “caso de extrema gravidade”, “depois de esgotados todos os
meios”. São casos extraordinários que não podem ser regulados por nenhuma
instância. Isto é, a sociedade não pode querer a pena de morte como recurso
ordinário. Mas pode admitir que ocorra em certos casos não previstos, em
caráter de urgência, como recurso extraordinário. A regulamentação ou defesa da
pena de morte faz com que ela passe de extraordinária a ordinária, premeditada,
prevista. Por isso o Catecismo, os Santos Doutores e os Papas deixam aberta a
possibilidade de tal pena; porque sabem que se não houver outro recurso, é o
último recurso a ser usado. Na
sociedade atual, não se pode prever um caso em que seria justo condenar alguém
à morte.
Por exemplo, um caso que ficou mundialmente conhecido, como o do líder
Iraquiano Sadam Hussein. O criminoso já estava preso, por si não poderia fugir
e ninguém mais estaria disposto a lutar por ele dentro e fora de sua Pátria. A
Igreja na ocasião pronunciou-se (através da Sala de Imprensa, que não fala
em nome do Magistério, mas do Papa) contra a execução (e não houve
retratação deste pronunciamento, como era de se esperar, se estivesse
equivocado). Outros casos, como Bin Laden e Muammar Muhammad Abu Minyar al-Gaddafi, aparentemente mortos
durante operação de captura, a Igreja não se pronunciou contra a morte
dos mesmos, a não ser pela utilização das imagens como um espetáculo de morte,
vingança e violência.
Na
perspectiva dos Santos, vale lembrar que mais vale a vida eterna que a vida
mortal!
E que o pecador pode, por meios só conhecidos e oferecidos pela
Divina Misericórdia, se salvar mesmo no seu último instante, sendo-lhe
oferecida a oportunidade de purificação póstuma. Matar um corpo não implica em matar
a alma. Por isso, não é o pior dos males! Neste debate, vê-se que a
emotividade ou os interesses políticos, filosóficos e ideológicos, substituem a
verdadeira consciência. A questão está muito facilmente fechada pelo Magistério
da Igreja, e não cabe ao fiel cristão fazer militância pró ou contra, mas
deixar o assunto a cargo dos pronunciamentos oficiais da Igreja e de seu
magistério Petrino.
Deixo
as palavras do Magistério, que não necessitam muito esforço de interpretação:
Catecismo
da Igreja Católica: “2263. A defesa legítima das pessoas e das
sociedades não é uma exceção à proibição de matar o inocente que constitui o
homicídio voluntário. «Do ato de defesa pode seguir-se um duplo efeito: um, a
conservação da própria vida; outro, a morte do agressor.Nada impede que um ato
possa ter dois efeitos, dos quais só um esteja na intenção, estando o outro
para além da intenção».
Catecismo
da Igreja Católica: 2264. O amor para consigo mesmo permanece um
princípio fundamental de moralidade. E, portanto, legítimo fazer respeitar o
seu próprio direito à vida. Quem defende a sua vida não é réu de homicídio,
mesmo que se veja constrangido a desferir sobre o agressor um golpe mortal:
«Se, para nos defendermos, usarmos duma violência maior do que a necessária,
isso será ilícito. Mas se repelirmos a violência com moderação, isso será
lícito. E não é necessário à salvação que se deixe de praticar tal ato de
defesa moderada para evitar a morte do outro: porque se está mais obrigado a
velar pela própria vida do que pela alheia».
Catecismo
da Igreja Católica: 2265. A legítima defesa pode ser não somente um
direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de
outrem. Defender o bem comum implica colocar o agressor injusto na
impossibilidade de fazer mal. É por esta razão que os detentores legítimos da
autoridade têm o direito de recorrer mesmo às armas para repelir os agressores
da comunidade civil confiada à sua responsabilidade.
Catecismo
da Igreja Católica: 2266. O esforço do Estado em reprimir a difusão de
comportamentos que lesam os direitos humanos e as regras fundamentais da
convivência civil, corresponde a uma exigência de preservar o bem comum. É
direito e dever da autoridade pública legítima infligir penas proporcionadas à
gravidade do delito. A pena tem como primeiro objetivo reparar a desordem
introduzida pela culpa. Quando esta pena é voluntariamente aceite pelo culpado,
adquire valor de expiação. A pena tem ainda como objetivo, para além da defesa
da ordem pública e da protecção da segurança das pessoas, uma finalidade
medicinal, posto que deve, na medida do possível, contribuir para a emenda do
culpado.
Catecismo
da Igreja Católica: 2267. A doutrina tradicional da Igreja, desde
que não haja a mínima dúvida acerca da identidade e da responsabilidade do
culpado, não exclui o recurso à pena de morte, se for esta a única solução
possível para defender eficazmente vidas humanas de um injusto agressor.
Contudo, se processos não sangrentos bastarem para defender e proteger do
agressor a segurança das pessoas, a autoridade deve servir-se somente desses
processos, porquanto correspondem melhor às condições concretas do bem comum e
são mais consentâneos com a dignidade da pessoa humana. Na verdade, nos nossos dias,
devido às possibilidades de que dispõem os Estados para reprimir eficazmente o
crime, tornando inofensivo quem o comete, sem com isso lhe retirar
definitivamente a possibilidade de se redimir, os casos em que se torna
absolutamente necessário suprimir o réu «são já muito raros, se não mesmo praticamente
inexistentes».
CARTA DO
PAPA FRANCISCO AO PRESIDENTE DA COMISSÃO INTERNACIONAL CONTRA A PENA DE MORTE –
(PORÉM, FAVORÁVEL A LEGÍTIMA DEFESA):
Excelentíssimo
Senhor Federico Mayor,
Presidente
da Comissão Internacional contra a Pena de Morte
Senhor Presidente,
Com estas palavras, desejo fazer chegar a minha saudação a todos os
membros da Comissão Internacional contra a Pena de Morte, ao grupo de países
que a apoiam, e a quantos colaboram com o organismo que Vossa Excelência
preside. Além disso, desejo expressar a minha gratidão pessoal, e também dos
homens de boa vontade, pelo seu compromisso com um mundo livre da pena de morte
e pela sua contribuição para o estabelecimento de uma moratória universal das
execuções em todo o mundo, com o objetivo da abolição da pena capital. Partilhei algumas ideais sobre este tema na minha carta à Associação
Internacional de Direito Penal e à Associação Latino-Americana de Direito Penal
e Criminologia, de 30 de Maio de 2014. Tive a oportunidade de refletir sobre
elas no meu discurso às cinco grandes associações mundiais dedicadas ao estudo
do direito penal, da criminologia, da vitimologia e das questões
penitenciárias, de 23 de Outubro de 2014. Nesta ocasião, desejo partilhar
algumas reflexões com as quais a Igreja contribui para o esforço humanista da
Comissão. O Magistério da Igreja, a partir da Sagrada Escritura e da experiência
milenar do Povo de Deus, defende a vida desde a concepção até à morte natural,
e apoia a plena dignidade humana enquanto imagem de Deus (cf. Gn 1, 26). A vida
humana é sagrada porque desde o seu início, desde o primeiro instante da
concepção, é fruto da acção criadora de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica,
n. 2258), e a partir desse momento, o homem, única criatura que Deus amou por
si mesma, é objecto de um amor pessoal por parte de Deus (cf. Gaudium et spes,
24). Os Estados podem matar por ação quando aplicam a pena de morte, quando
obrigam os seus povos à guerra ou quando realizam execuções extrajudiciais ou
sumárias. Podem matar também por omissão, quando não garantem aos seus povos o
acesso aos meios essenciais para a vida. «Assim como o mandamento “não matar”
põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje
devemos dizer “não a uma economia da exclusão e da desigualdade social”»
(Evangelii gaudium, 53).A vida, especialmente a humana, pertence unicamente a Deus. Nem sequer o
homicida perde a sua dignidade pessoal e o próprio Deus faz-se seu garante. Como
ensina santo Ambrósio, Deus não quis castigar Caim com o homicídio, porque
deseja o arrependimento do pecador e não a sua morte (cf. Evangelium vitae, 9). Nalgumas ocasiões é necessário afastar proporcionalmente uma
agressão em ato para evitar que um agressor cause um dano, "e a necessidade de o
neutralizar pode exigir a sua eliminação," é o caso da legítima defesa (cf.
Evangelium vitae, 55). Sem dúvida, os pressupostos da legítima defesa pessoal não são
aplicáveis ao meio social, sem risco de uma interpretação errada.
Porque quando se aplica a pena de morte,
mata-se pessoas não por agressões atuais, mas por danos cometidos no
passado. Além disso, aplica-se a pessoas cuja capacidade de danificar não é
atual mas já foi neutralizada, e encontram-se privadas da sua liberdade. Hoje em
dia a pena de morte é inadmissível, por mais grave que tenha sido o delito do
condenado. É uma ofensa à inviolabilidade da vida e à dignidade da pessoa
humana que contradiz o desígnio de Deus sobre o homem e a sociedade e a sua
justiça misericordiosa, e impede que seja conforme com qualquer finalidade
justa das penas. Não faz justiça às vítimas, mas fomenta a vingança. Para um
Estado de direito, a pena de morte representa uma falência, porque o obriga a
matar em nome da justiça.Dostoevskij escreveu: «Matar quem matou é um castigo incomparavelmente
maior que o crime cometido. O assassínio em virtude de uma sentença é mais
assustador do que o assassínio que comete um criminoso». Nunca se alcançará a justiça matando um ser humano. A pena de morte
perde qualquer legitimidade devido à seletividade defeituosa do sistema penal e
face à possibilidade de erro judiciário. A justiça humana é imperfeita, e não
reconhecer a sua falibilidade pode transformá-la em fonte de injustiças. Com a
aplicação da pena capital, nega-se ao condenado a possibilidade da reparação ou
correção do dano causado; a possibilidade da confissão, com a qual o homem expressa
a sua conversão interior; e a possibilidade da contrição, pórtico do
arrependimento e da expiação, para chegar ao encontro com o amor misericordioso
e reparador de Deus.
Além disso a pena capital é uma prática frequente à qual recorrem alguns
regimes totalitários e grupos de fanáticos, para o extermínio de dissidentes
políticos, de minorias, e de qualquer sujeito classificado como «perigoso» ou
que pode ser considerado como uma ameaça devido ao seu poder ou consecução dos
seus fins. Como nos primeiros séculos, também no presente a Igreja sofre a
aplicação desta pena aos seus novos mártires. A pena de morte é contrária ao significado da humanitas e à misericórdia
divina, que devem ser modelo para a justiça dos homens. Obriga a um tratamento
cruel, desumano e degradante, como o são
também a angústia prévia ao momento da execução e a terrível espera entre a
emissão da sentença e a aplicação da pena, uma «tortura» que, em nome do devido
processo, costuma durar muitos anos, e que na antecâmara da morte, muitas vezes, leva à doença e à loucura.
Nalguns âmbitos debate-se acerca do modo de matar, como se se tratasse de encontrar o modo «de o fazer bem». Ao longo da história, diversos mecanismos de morte foram defendidos porque limitavam o sofrimento e a agonia dos condenados. Mas não existe uma forma humana de matar outra pessoa (incluindo as formas brutais e desumanas de abortos provocados). Atualmente não só existem meios para reprimir o crime de modo eficaz sem privar definitivamente quem o cometeu da possibilidade de redimir-se (cf. Evangelium vitae, 27), mas desenvolveu-se também uma maior sensibilidade moral em relação ao valor da vida humana, suscitando uma crescente repugnância da pena de morte e o apoio da opinião pública às diversas disposições que têm por finalidade a sua abolição ou a suspensão da sua aplicação (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 405).Por outro lado, a pena da prisão perpétua, assim como as que pela sua duração incluem a impossibilidade para o condenado de projetar um futuro em liberdade, podem ser consideradas penas de morte ocultas, dado que com elas não se priva o culpado da sua liberdade, mas procura-se privá-lo da esperança. Mas, mesmo se o sistema penal pode dispor do tempo dos culpados, nunca poderá apoderar-se da sua esperança. Como disse no meu discurso de 23 de Outubro passado, a pena de morte implica a negação do amor aos inimigos, pregada no Evangelho. «Portanto, todos os cristãos e homens de boa vontade estão chamados hoje a lutar não só pela abolição da pena de morte, legal ou ilegal, e em todas as suas formas, mas também a fim de melhorar as condições carcerárias, no respeito da dignidade humana das pessoas privadas da liberdade».
Queridos amigos, encorajo-vos a continuar com a obra que estais a realizar, porque o mundo tem necessidade de testemunhas da misericórdia e da ternura de Deus! Despeço-me confiando-vos ao Senhor Jesus, que nos dias da sua vida terrena não quis que ferissem os seus perseguidores em sua defesa — «Embainha a tua espada» (Mt 26, 52) — foi capturado e condenado injustamente à morte, e identificou-se com todos os presos, culpados ou não: «Estava na prisão e viestes visitar-me» (Mt 25, 36). Ele, que diante da mulher adúltera não se interrogou sobre a sua culpabilidade, mas convidou os acusadores a examinar a própria consciência antes de a lapidar (cf. João 8, 1-11), vos conceda o dom da sabedoria, para que as ações que empreendereis a favor da abolição desta pena cruel, sejam oportunas e fecundas.
Peço-vos que rezeis por mim.
Cordialmente.
Do Vaticano, 20 de Março de 2015.
Francisco
Fonte: Vatican.va
------------------------------------------------------
CONFIRA NOSSO CATÁLOGO DE LIVROS: https://amzn.to/3vFWLq5
GOSTOU Do APOSTOLADO berakash? QUER SER UM (A) SEGUIDOR (a) E RECEBER AS ATUALIZÇÕES EM SEU CELULAR, OU, E-MAIL?
Segue no link abaixo o “PASSO-A-PASSO” para se tornar um(a) seguidor(a) - (basta clicar):
https://berakash.blogspot.com/2023/10/como-ser-um-ser-um-seguidor-e-ou.html
Shalom!
.............................................
APOSTOLADO BERAKASH - A serviço da Verdade: Este blog não segue o padrão comum, tem opinião própria, não querendo ser o dono da verdade, mas, mostrando outras perspectivas racionais para ver assuntos que interessam a todos. Trata basicamente de pessoas com opiniões e ideias inteligentes, para pessoas inteligentes. Ocupa-se de ideias aplicadas à política, a religião, economia, a filosofia, educação, e a ética. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre literatura, questões culturais, e em geral, focando numa discussão bem fundamentada sobre temas os mais relevantes em destaques no Brasil e no mundo. A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog, não sendo a simples indicação, ou reprodução a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. As notícias publicadas nesta página são repostadas a partir de fontes diferentes, e transcritas tal qual apresentadas em sua origem. Este blog não se responsabiliza e nem compactua com opiniões ou erros publicados nos textos originais. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com as fontes originais para as devidas correções, ou faça suas observações (com fontes) nos comentários abaixo para o devido esclarecimento aos internautas. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos os comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam, de maneira alguma, a posição do blog. Não serão aprovados os comentários escritos integralmente em letras maiúsculas, ou CAIXA ALTA. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte.Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar de alguma forma:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.