Por *Padre Mario de França Miranda
A IV Semana Acadêmica
do IFTSC. Abriu as apresentações com o Padre *Mário de França Miranda, SJ com a
palestra: “A eclesiologia no Concílio Vaticano II”. A sua fala foi
norteada por três pontos refletidos pelo Concílio, embora não de modo
aprofundado. Tais são os aspectos:
1)- A ação livre e soberana do Espírito
Santo (sopra onde e como quer – João 3,8)
2)- A situação do
laicato.
3)- A importância da
vivência autêntica da fé.
“Todas
as ações da Igreja são epicléticas”
Lembrando Yves
Congar, o palestrante afirmou que “todas as ações da Igreja são epicléticas” e
refletiu sobre a ação do Espírito Santo, que legitima a Igreja. Nas suas
reflexões sobre os textos do CVII e nas conferências posteriores a ele, Congar
destacou que o Espírito Santo é dado à Igreja (Jo 14,16) e que é Ele, o
Paráclito, que dá aos homens o poder de agirem em nome da Igreja. Por isso
todos os membros são chamados a dar amplitude ao desígnio salvífico do Pai, anunciando
o seu encontro com Cristo (IJo 1), na ação do Espírito. Logo, Ele não é patrimônio
exclusivo da Hierarquia e todos devem cooperar para que a Igreja chegue à
plenitude da verdade (DV 8).Cristo, o Missionário
do Pai, recebeu a sua missão e, depois, a conferiu à Igreja; por isso, todos os
membros devem ser também missionários e (DA 362), pois a Igreja não poderia ser
sal na terra, luz no mundo e fermento na massa, sem a missão do laicato (LG33).
Pe. França Miranda afirmou expressamente: “A missão dos leigos não está no mandato da hierarquia, mas no do
Espírito Santo”. Assim, “só haverá comunhão se existir uma estrutura de
comunhão”.
O principal do
“Cristianismo” é a fé!
A Igreja é (como que) sacramento: sinal e germe do reino de Deus. Por isso, ela tem que tornar
presente a sociedade sonhada por Deus, que é o seu Reino. Para isso, deve dar
testemunho da vivência autentica da fé à sociedade, de forma que esta se sinta
chamada a seguir o Filho do carpinteiro. Ao falar dos três pontos, Pe. França
Miranda quis chamar a nossa atenção ao que deve ser melhor considerado e,
consequentemente, vivido por nós, que somos pós-conciliares. Somente abertos à
ação do Espírito Santo é que cumpriremos a missão dada à Igreja por Cristo,
pois ela não é institucionalizada em um momento apenas, mas continuamente pelo
Consolador. Todos os fiéis têm a mesma dignidade e por isso, aberta ao laicato,
a Igreja conseguirá testemunhar que ela mesma é o reino de Deus aqui na terra.
*Padre Mario de
França Miranda,
é Doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – Roma, membro da
Comissão Teológica Internacional e professor na Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Foi assessor teológico do CELAM e é autor de vários
livros de Teologia.
Fonte: Instituto
Santa Cruz
Novas
Perspectivas Eclesiológicas a partir do Vaticano II:
Vivem-se tempos
conturbados na eclesiologia da Igreja Católica Apostólica Romana,
principalmente após os desdobramentos do Concílio Ecumênico Vaticano II,
iniciado pelo Papa João XXIII em 11/10/1962 e encerrado pelo Papa Paulo VI em
07/12/1965.“Numa encíclica de junho de 1959,
e em muitas outras ocasiões. João XXIII explicou o que se poderia esperar do
próximo Concílio. Deveria servir a
unidade de todos os cristãos e, para isso, limpar a atmosfera de
mal-entendidos, de desconfiança e inimizade que, durante séculos, tinham
obscurecido o diálogo entre a Igreja Católica e as outras igrejas cristãs.
Como a mais importante contribuição para a unidade, por parte da Igreja, e,
portanto, como tarefa primordial do Concílio, João XXIII mencionou o programa
de aggiornamento, de atualização da Igreja, de inserção no mundo moderno, onde
o cristianismo se faz presente e atuante, sem sacrificar nada dos dados
fundamentais da fé católica”. (MATOS,
Cristiano José. Introdução à História da Igreja. Vol.2, 5ª ed. Belo Horizonte:
Editora O Lutador,1997, p.302)
O Concílio
Ecumênico Vaticano II é tido por muitos como uma verdadeira revolução copernicana que mudou a forma (NÃO CONTEÚDO) com que a Igreja se relaciona com o mundo
atual!
“Para o articulista, o Concílio Vaticano II promoveu uma
verdadeira revolução copernicana na eclesiologia. Percebe-se isto já na própria
estrutura da constituição dogmática sobre a Igreja. Em Lumen Gentium,
inicia-se a tratar da "Igreja como mistério" (ou seja, sacramento) de comunhão e
unidade de todo o gênero humano, o que se faz enquanto reflexo do Deus
Trindade; depois, apresenta-se a Igreja como Povo de Deus; somente em seguida se discute a constituição hierárquica da Igreja,
especialmente no que concerne ao episcopado. Vê-se claramente que os Padres
conciliares tiveram o cuidado de corrigir uma visão distorcida da Igreja, ainda
profundamente arraigada entre os fiéis (ou entre o público em geral), a saber,
aquela que consiste em confundir a Igreja com a hierarquia. (SANTINI, Antônio Carlos. Desafios do Vaticano II (1). Revista Atualização, ano XXXV,
nº 315, jul/ ago 2005, p.372).
Questionamos essa conturbação vigente
nos perguntando: Será que em outros
tempos a Igreja não passou por períodos igualmente (ou mais) conturbados?
Certamente! Desde os primeiros passos da Igreja no início do século I até hoje, nas
primícias do século XXI a Igreja passou (e passa) por incontáveis tormentas: perseguições
sangrentas, discriminação, sedução pelo poder, dominação pelo Estado ou
cesaropapismo, disputas políticas, cismas, heresias, etc. Todos estes
eventos fruto das vicissitudes humanas, demonstrando que a Igreja é santa em
sua ontologia, mas pecadora em seus membros (filhos), santa em sua Divina
instituição, mas pecadora em sua parcela humana. O joio e o trigo continuam
plantados no mesmo campo a crescer lado a lado, aguardando a hora da colheita,
hora em que a erva daninha será extirpada. (cf. Mt. 13,24-30).Por tudo isso
passou a Igreja, não sem conseqüências, mas é digno de nota a providência
divina em cada desdobramento da História seja ela salutar ou deplorável posto
que nada ocorre sem a divina permissão.“Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto, nenhum cai por
terra sem a vontade de vosso Pai. Até os cabelos de vossa cabeça estão
contados”. (Mt 10,29-30). “Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanha: o dia
de amanha terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado”.
(Mt 6,34).Em linhas gerais
quais as acusações que constam contra a Igreja decorrente dos ensinos do
Concílio Vaticano II? Diz-se que o referido Concílio por ser de índole pastoral
(2), nada mais fez que propor, não definindo nada dogmaticamente e que,
portanto, seus ensinos são ambíguos e descartáveis.“O Vaticano II quis ser um Concílio defensor do ecumenismo. Pretendia
eliminar as polêmicas numa nova primavera da Fé. Hoje, não há duas paróquias que estejam de acordo. O
Concílio do aggiornamento só causou tempestades, polêmicas violentas, e divisões profundas. E permitiu que, com
a auto-demolição da Igreja, a fumaça de satanás entrasse no Templo de Deus...” afirmou e reconheceu o próprio Paulo VI.
Quais as causas de tanta perturbação e de tanta divisão na Igreja,
durante estes 40 anos de tragédia pastoral conciliar?
1 – Foi a
ambigüidade dos textos conciliares?
2 – Foi a
obscuridade das expressões adotadas pelo Vaticano II?
3 – Foi o equívoco em dizer que o Concílio Vaticano II teve caráter meramente pastoral?
Diante de todas essas acusações nos vem
um questionamento:
Quem tem autoridade
para depreender estas interpretações do Concílio? Certamente o
Magistério da Igreja anterior ao Vaticano II, não comunga de muitas das
interpretações advindas dos documentos conciliares do Vaticano II, nota-se
entretanto, que certos aspectos dos textos conciliares, devido a sua índole
pastoral, acabam por não deixar claro (ao menos para alguns intrépidos arautos
da hermenêutica) alguns conceitos inovadores, tais como:
-O caso do "Subsistit
in" (3) da Constituição Dogmática Lumen Gentium, nº 8
-E o conceito de "semente
divina no homem" (4) da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nº 3, para citar
apenas dois pontos bastante discutidos.
Analisemos
a priori, a questão da autoridade nas interpretações do Concilio:
Observamos que
obstante aos ensinos do Magistério da Igreja, surgem interpretações dos
textos conciliares retirando-os do seu real significado, essas reinterpretações
particulares de alguns especialistas, levam
ao subjetivismo e ao erro de distorcer o ensino do Concílio. Notamos que até
dogmas há muito tempo estabelecidos são às vezes reinterpretados, distorcendo
a ortodoxia da doutrina, quanto mais não pode ocorrer com textos de índole
pastoral? “O problema hermenêutico é muito
mais do que um simples problema de processos técnicos de exegese: trata-se de um problema de existência, isto
é, de uma nova maneira de existir e tomar posição diante da vida. Isso cria uma
nova abordagem, coloca-nos numa nova situação, cria o lugar hermenêutico. É a
partir daí que temos de entender o homem que fala, escreve, se comunica, mesmo
que seja o autor sagrado ou o magistério da Igreja(…) Essa reinterpretação
da Escritura e dos dogmas tem levado certos autores a uma espécie de
subjetivismo, de arbitrariedade desmitizadora, guiados pela idéia de que um
dogma ou um enunciado da revelação tem apenas um valor funcional, quer dizer: é
como se a verdade dogmática ou revelada valesse e fosse verdade apenas enquanto exprime e existencializa um comportamento humano. O
dogma não seria uma verdade em si, mas
uma verdade para nós (…) Isso não seria mais uma teologia antropológica mas uma
antropologização completa da teologia(…) Essa total funcionalização
antropocêntrica seria a destruição da própria teologia e dos dogmas. Temos,
pois, que encontrar critérios objetivos que nos apontem caminhos menos
inseguros”.(SELLITTI,P. Hermenêutica um
problema para a fé In: Revista Atualização, ano XXXV, nº 312,jan /fev 2005,p.30-31).
O jesuíta FLICK, Maurício (5) segundo SELLITTI, apresenta alguns
pontos a serem observados na leitura dos enunciados teológicos, que seriam
úteis serem observados no caso dos textos conciliares para um perfeito
entendimento do proposto:
1)- Em primeiro lugar
não se prender a expressões verbais, mas procurar descobrir as intenções dos
autores daquelas expressões quando as elaboraram.
2)- Em segundo lugar,
estar consciente de que a verdade nuclear, central, imperceptível, da Revelação
tem de ser buscada para lá dos próprios juízos conceitualmente pensados.
3)- E em terceiro
lugar deve-se observar através do conhecimento histórico das situações e dos
textos do magistério, qual foi a solução com que a Igreja quis resolver um
problema vital seu. Esta solução é propriamente o objeto da intenção didática
da Igreja, ou seja, aquilo que a Igreja quis primeiro afirmar.
Seguindo-se estes
princípios se evitaria ou tornar-se-ia mais difícil a distorção da intenção
primeira dos textos conciliares como muitas vezes ocorre, assim sendo, não há
erro no texto em si, no ensino em si do Concílio, os erros surgem das falsas
interpretações que não respeitam o espírito do texto proposto pastoralmente
pelo Magistério da Igreja.
Pode-se ainda perguntar como pode haver
distorção do ensino Conciliar escutando o Magistério da Igreja?
Em resposta a esta
indagação, observamos a ocorrência da distorção justamente na não escuta e
submissão ao Magistério: “A má acolhida do Magistério
eclesial tem várias explicações! Entre elas, o choque entre ideal e realidade, o número excessivo de documentos, a falta de tempo para a sua
assimilação, uma atitude de negligência dos destinatários e a simples recusa do
Magistério, considerado como mera opinião ao lado de outras, pelo que
poderia ser tranqüilamente rejeitado...Uma recepção filial e obediente
resolveria tudo... Omitindo todo juízo, devemos ter o ânimo pronto e disposto
a obedecer em tudo à verdadeira esposa de Cristo nosso Senhor, que é nossa
santa mãe Igreja hierárquica. A palavra
do Papa e os demais pronunciamentos do Magistério, deve ser visto
sobretudo como um ensinamento que tende a formar a consciência cristã. E
essa tarefa cabe aos teólogos. Pra
ver o Magistério não como um peso insuportável, mas surpreendente e
extraordinária formação permanente dos pastores e dos fiéis, é necessária uma
contínua redescoberta e aceitação da verdade revelada em Jesus Cristo... Mas a recepção deve ser educada mediante a formação da consciência para sentire
cum Ecclesiae, para vivere in Ecclesiae, para agere pro Ecclesiae... Nisto
reside a eclesialidade do método teológico, que possui uma intrínseca função
educativa e formadora”. (SANTINI,
Antônio Carlos. Magistério da Igreja: consenso ou dissídio (6). Revista
Atualização, ano XXXV, nº 313,mar /abr 2005,p.166-167). - Lançado luz na
questão das fontes das interpretações errôneas dos textos conciliares
passemos a explicação dos pontos Subsistit in da Constituição Dogmática Lumen
Gentium, nº 8 e do conceito de semente divina no homem da Constituição
Pastoral Gaudium et Spes, nº 3. No caso do subsistit in, o Concílio ao
utilizar-se do termo subsistir (Subsistit) no lugar de é (est) quis
demonstrar que apesar da Igreja Católica Apostólica Romana ser a única e
verdadeira Igreja de Cristo, dar a entender a possibilidade de existência de elementos de santificação e verdade nas Igrejas cristãs cismáticas. A
explicação mais precisa foi proclamada pela Declaração Dominus Iesus, no ano
2000, nestes termos: “Com a expressão « subsistit in
», o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um
lado, a de que a Igreja de Cristo, não
obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja
Católica e, por outro, a de que « existem numerosos elementos de santificação e
de verdade fora da sua composição », isto é, nas Igrejas e Comunidades
eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica.
Acerca destas, porém, deve afirmar-se que « o seu valor deriva da mesma
plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica »”. (Declaração”Dominus
Iesus”, IV, 16) - Complementando a explicação com a nota de rodapé nº 56 desta
Declaração, o Magistério não deixa dúvidas que o subsistit in em nada afetou a
Verdade revelada.“(56) É, portanto, contrária ao
significado autêntico do texto do Concílio a interpretação que leva a deduzir
da fórmula subsistit in a tese, segundo a qual, a única Igreja de Cristo poderia
também subsistir em Igrejas e Comunidades eclesiais não católicas. « O Concílio, invés, adoptou a palavra subsistit precisamente para esclarecer que
existe uma só subsistência da verdadeira Igreja, ao passo que fora da sua composição visível existem apenas elementa
Ecclesiae, que por serem elementos da própria Igreja tendem e conduzem para a Igreja
Católica »”
[Congr. para a Doutrina da Fé, Notificação sobre o volume Igreja: carisma e
poder do P. Leonardo Boff: AAS 77 (1985) 756-762].
No que se refere ao conceito de semente divina no
homem da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nº 3, o teólogo D. Estevão Bettencourt, OSB esclarece o texto conciliar afirmando que:
“Quanto à semente divina existente em todo homem conforme a Constituição
Gaudium et Spes n° 3, não é senão a alma humana espiritual, capaz de se elevar
até o Infinito que é Deus.” (A doutrina do Vaticano II sobre a Igreja.
Pergunte e Responderemos, ano XLVI, outubro de 2005, nº 520, p.470)
Esta explicação do texto conciliar é objetada pelo Dr. em História
Orlando Fedeli, presidente da Associação Cultural Montfort, que afirma:
“Para Dom Estevão, seguindo o
Vaticano II, o homem seria um ser composto de corpo e semente divina e, quando
ele fosse batizado, o homem receberia então a graça santificante — que é a
participação da vida divina, — dada para a semente divina. Meu caro Dom
Estevão, sua interpretação da semente divina como sendo a alma humana tornaria
inútil o Batismo”. (FEDELI, Orlando. Ataque
e nos defenderemos. Montfort Associação Cultural. São Paulo, 26/12/2005, p.45) - Observando a objeção
de Fedeli à explicação do teólogo beneditino que foi perito conciliar, vemos a
falta de aceitação de uma explicação fiel ao sentido verdadeiro do texto
conciliar, feita por alguém capaz de emitir um verdadeiro juízo de valor,
ademais a encíclica Humani generis do Papa Pio XII afirma que: (…)
as almas são criadas imediatamente por Deus, conforme a fé católica nos leva a
sustentar (cf. DS 3896[2327]) e que portanto, a expressão em análise pode
ser entendida como a alma humana espiritual, visto que o ser humano é
criado à imagem de Deus (cf. Gn 1,27), e sento todo ser humano criatura de
Deus, possuidor de uma alma imortal igualmente criada por Deus, esta alma
humana espiritual pode plenamente ser identificada como uma semente divina.
Não procede portanto, a tese da inutilidade do batismo, alardeada pelo historiador Orlando Fedeli,
visto que o batismo imprime na alma, na semente divina, o caráter que consagra
o batizado à religião cristã (cf. Catecismo da Igreja Católica § 1280).É observado também, que os que morrem, sob o impulso da graça, sem
conhecerem a Igreja (sem Jesus, sem os Sacramentos), vivendo de acordo com os
ditames de sua consciência, cumprindo a vontade de Deus (Lei Natural) podem ser
salvos! Como isso seria possível se não possuíssem uma semente divina, uma alma que os elevassem a
Deus? (cf. Catecismo da Igreja Católica § 1281).
A objeção Fedeliana por assim dizer, é fruto da falsa compreensão
dos textos e da mente dos padres conciliares!
(Como em todas as outras deturpações dos textos conciliares, que
só podem ser totalmente entendidos em conformidade com a Tradição da Igreja).“É certo que a Igreja tem em si a
Verdade que é o Cristo Senhor, porém, isto não a exime de perseverar na busca
desta mesma Verdade, cuja revelação vai-se dando ao longo da história (…) Não
se trata aqui de a Igreja dispor-se a assimilar conteúdos ambíguos, ou mesmo
contrários ao Evangelhos o que seria um contra-senso, mas de se por em atitude de percepção e
decifração dos sinais dos tempos, pois o Senhor manifesta seus sinais também através dos caminhos tortuosos da história”. (SANTINI, Antônio Carlos. Desafios do Vaticano II. Revista Atualização, ano XXXV, nº 315, jul/ ago. 2005,p.373-374).Tomando ciência em
linhas gerais das implicações causadas pelas errôneas interpretações dos
textos conciliares, passemos a observar as perspectivas que se vislumbram com
um aprofundamento nos ensinos do Concílio Vaticano II, visto que passados
quarenta anos de sua realização, ainda se faz necessário um mergulho
rejuvenescedor nas suas fontes para nortear a caminhada da Igreja:
“Quarenta anos após o
encerramento do Concílio Vaticano II, a
acolhida de seu magistério permanece inconclusa. Seus documentos são extensos e
densos de conteúdos, o que significa que muito de seu ensinamento deve ainda
ser assimilado e incorporado à vida eclesial. O Concílio deixou em aberto
muitas questões, a serem estudadas e amadurecidas pelos teólogos. Exatamente
por que de índole pastoral, a partir das sugestões dadas pelos Padres
conciliares, há muito ainda por fazer em termos de animação pastoral de nossas
comunidades eclesiais”. (SANTINI,
Antônio Carlos. Desafios do Vaticano II. Revista Atualização, ano XXXV, nº 315,
jul/ ago 2005, p.374).
Como frutos positivos do Concílio Vaticano II,
podemos destacar em linhas gerais:
1)- O desabrochar da Igreja Particular (7).
2)- Uma maior preocupação com a evangelização voltada para o 3º mundo(8).
3)- Uma maior participação dos leigos na
vida da Igreja (9).
Como pontos negativos destacam-se:
As "falsas interpretações dos textos
conciliares" advinda da pastoralidade do Concílio, sobretudo na questão do
ecumenismo.
Em síntese o Concílio foi positivo para a Igreja, apesar das
poucas vozes discordantes que surgem de tempos em tempos tentando deturpar os
benefícios desenvolvidos pelo Concílio. O Concílio Vaticano II foi, sem sombra
de dúvidas, o maior acontecimento
eclesial dos últimos séculos! - (MATOS, Cristiano José. Introdução à História da Igreja. Vol.2, 5ª ed. Belo Horizonte: Editora
O Lutador,1997, p.341)
Finalizando a
reflexão ora apresentada, chega o momento de nos voltarmos às promessas de
Jesus Cristo à Sua Igreja, posto que tais promessas trazem a tranqüilidade em
meio à tempestade eclesiológica, da mesma forma como outrora os discípulos
foram tranqüilizados em meio ao mar revolto. (cf. Mt. 8,23-27).É muito
interessante e apropriada, a comparação da Igreja com uma barca, num sonho
profético, São João Bosco viu a barca (que era a Igreja) agitada por grande
tempestade, os ventos e as ondas atacavam com violência, mas a barca não
sucumbia, pois era amparada por um lado por Jesus Sacramentado, na coluna mais
alta onde se lia Salus Credentium (10) e por outro lado pela Mãe de Deus,
Nossa Senhora Auxiliadora, onde se lia na coluna Auxilium Christianorum (11),
na firme condução da barca estava o Sucessor de São Pedro! (o Papa).São
Cipriano de Catargo (século III) compara a Igreja com uma nova Arca de Noé,
esta arca ao longo de sua história pode balançar em meio às tempestades (12),
despertando o medo nos discípulos (cf. Mt.8,26), mas a certeza divina é que ela
não afundará jamais, pois as portas do inferno não prevalecerão! "portae inferi
non praevalebunt contra ela", venha a tempestade que vier, estamos seguros na
barca de Jesus.
“Passarão os céus e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc
13,31)
“E eu te declaro: tu és Pedro e sobre
esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão
contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na
terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado nos
céus” (Mt 16,18-19).
Santo Ambrósio (século
IV) dizia:
“A Igreja é o navio que navega bem neste mundo ao sopro do Espírito
Santo com as velas da Cruz do Senhor plenamente desfraldadas. Continuemos portanto, firmes
abordo desse navio, pois mesmo com as tempestades, seu porto seguro é Nosso Senhor Jesus Cristo”
CONCLUSÃO: QUAL O MAIOR DESAFIO ECLESIOLÓGICO DA IGREJA
“UNIVERSAL” HOJE ?
“Certamente, a
Igreja já fez, está fazendo muito no campo social, e precisará fazer mais
ainda. Mas, é preciso que fique claro: não é essa a missão originária,
"própria” da Igreja, como repete expressamente o Vaticano II (cf. GS 42,2;
e ainda 40,2-3 e 45,1). A missão social é, antes, uma missão
segunda, embora derivada, necessariamente, da primeira, que é de natureza
"religiosa”. Essa lição nunca foi bem compreendida pelo pensamento laico.
Foram os Iluministas que queriam reduzir a missão da Igreja à mera função
social. Daí terem cometido o crime, inclusive cultural, de destruírem celebres
mosteiros e proibido a existência de ordens religiosas, por acharem tudo isso
coisa completamente inútil, mentalidade essa ainda forte na sociedade e até
mesmo dentro da Igreja.Agora, se perguntamos: Qual é o maior desafio da
Igreja?, Devemos responder: É o maior desafio do homem: o sentido de
sua vida. Essa é uma questão que transcende tanto as sociedades como os tempos.
É uma questão eterna, que, porém, hoje, nos pós-moderno, tornou-se,
particularmente angustiante e generalizada. É, em primeiríssimo lugar, a essa
questão, profundamente existencial e hoje caracterizadamente cultural, que a
Igreja precisa responder, como, aliás, todas as religiões, pois são elas, a
partir de sua essência, as "especialistas do sentido”. Quem
não viu a gravidade desse desafio, ao mesmo tempo existencial e histórico, e
insiste em ver na questão social "a grande questão”, está
"desantenado” não só da teologia, mas também da história.” (Frei
Clodovis M. Boff).
(1) Resenha do artigo
de BARROS, Paulo César In: Revista Convergência; jul – ago /2005.
(2) Dado o caráter
Pastoral do Concílio, evitou este proclamar em forma extraordinária [ex
cathedra] dogmas, dotados da nota de infalibilidade. Todavia, conferiu a seus
ensinamentos a autoridade do Supremo Magistério da Igreja” (Compêndio do
Vaticano II, Petrópolis: Vozes,1969, p. 31).
(3) Esta á a única
Igreja de Cristo, que no símbolo professamos una, santa, católica e apostólica,
e que o nosso Salvador, depois de sua ressurreição, confiou a Pedro para que
ele a apascentasse (Jo 21,17), encarregando-o, assim como aos demais apóstolos
de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28, 18ss), levantando-a para sempre
como coluna e esteio da verdade (1Tm 3,15). Esta Igreja, como sociedade
constituída e organizada neste mundo, subsiste na [subsistit in] Igreja
católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele,
ainda que fora do seu corpo se encontrem realmente vários elementos de
santificação e de verdade, elementos que, na sua qualidade de dons próprios da
Igreja de Cristo, conduzem para a unidade católica. (Constituição Dogmática
Lumen Gentium, nº 8).
(4) Eis a razão por
que o sagrado Concílio, proclamando a sublime vocação do homem, e afirmando que
nele está depositado um germe divino, oferece ao gênero humano a sincera
cooperação da Igreja, a fim de instaurar a fraternidade universal
correspondente a esta vocação. Nenhuma ambição terrena move a Igreja, mas
unicamente este objetivo: continuar, sob a direção do Espírito Paráclito, a
obra de Cristo, que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, não para
julgar mas para salvar, não para ser servido mas para servir. (Constituição
Pastoral Gaudium Et Spes, nº 3).
(5) SELLITTI,P.
Hermenêutica um problema para a fé In: Revista Atualização, ano XXXV, nº
312,jan /fev 2005,p.31-32)[ FLICK, Maurício.La svolta antropológica in
teologia, in: La Civiltà Cattolica, 7.11.70.]
(6) Resenha de artigo
de AMATO, Ângelo, SDB, sobre a questão do método em teologia In: Revista
Isidorianum” nº 26/2004 - Centro de Estudos Teológicos de Sevilha Espanha.
(7) A eclesiologia
que valoriza a Igreja particular encontra correspondência no fenômeno histórico
que o pós Concílio pôs em evidência: a passagem de uma Igreja Católica
identificada substancialmente com o mundo ocidental, latino, para uma Igreja
mais marcada pela universidade geográfica e étnica, que mais cresce no terceiro
mundo. (MATOS, Cristiano José. Introdução à História da Igreja. Vol.2, 5ª ed.
Belo Horizonte: Editora O Lutador,1997, p.342)
(8) Sem dúvidas, um
dos resultados mais surpreendentes do Vaticano II tem sido o despertar das
Igrejas do Terceiro Mundo(…) o Concílio significou a porta aberta para o
desenvolvimento de sua originalidade e vocação específica (MATOS, Cristiano
José. Introdução à História da Igreja. Vol.2, 5ª ed. Belo Horizonte: Editora O
Lutador,1997, p.342-343)
(9) O Vaticano II
iniciou uma desclericalização da Igreja, devolvendo aos leigos, os fiéis
comuns, a dignidade e a possibilidade de participação plena. Os numerosos
organismos criados a nível diocesano e paroquial são uma clara expressão desta
busca de corresponsabilidade, comunhão e participação. Corrigindo o excesso de
sacramentalismo que penetrou na Igreja pós-tridentina. (MATOS, Cristiano José.
Introdução à História da Igreja. Vol.2, 5ª ed. Belo Horizonte: Editora O
Lutador,1997, p.343)
(10) Salvação dos que
crêem.
(11) Auxílio dos
Cristãos
(12) Antes do
advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalará a fé
de muitos crentes. (cf. Catecismo da Igreja Católica § 675).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
– BETTENCOURT,
Estevão. A doutrina do Vaticano II sobre a Igreja In: Pergunte e Responderemos,
ano XLVI, outubro de 2005, nº 520.
– Bíblia Sagrada. 14º
Ed. São Paulo: Ave Maria,1998
– Catecismo da Igreja
Católica Edição típica Vaticana. São Paulo: Loyola, 2000.
– Constituição
Dogmática Lumen Gentium. 21/11/1964.
– Constituição
Pastoral Gaudium et Spes. 07/12/1965.
– Declaração Dominus
Iesus. 06/08/2000.
– MATOS, Cristiano
José. Introdução à História da Igreja. Vol.2, 5ª ed. Belo Horizonte: Editora O
Lutador,1997.
– SANTINI, Antônio
Carlos. Desafios do Vaticano II. In: Revista Atualização, ano XXXV, nº 315,
jul/ ago 2005.
– _________.
Magistério da Igreja: consenso ou dissídio. In: Revista Atualização, ano XXXV,
nº 313,mar /abr 2005.
– SELLITTI, P.
Hermenêutica um problema para a fé. In: Revista Atualização, ano XXXV, nº
312,jan /fev 2005.
– FEDELI, Orlando.
Ataque e nos defenderemos. Montfort Associação Cultural. São Paulo,
26/12/2005.In:http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=destevao&lang=bra
Fonte: Veritatis
Splendor
------------------------------------------------------
APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler o quê. Não buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem informados, vendo sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade. É o que praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos dá essa credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de conduta. A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte. Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação, para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.