Com os atuais desvios do Carisma Franciscano (excetuando-se a fraternidade Toca de Assis, e alguns membros
franciscanos isolados), podemos comparar o regime comunista com a
atual ordem de São Francisco de Assis no
Brasil e América Latina. Quando um país inicia uma experiência comunista, o
ditador excetuando ele e sua corte, de imediato já obriga toda a população a
fazer voto de pobreza. O problema é que as pessoas não foram avisadas de que
teriam que submeter-se contra a vontade a tão franciscana decisão, e começam a
aparecer alguns insatisfeitos. Então o ditador lança mão da força bruta e
obriga a população a mais um voto franciscano, o da obediência, e quem
desobedece, vai parar no paredon, e com as bênçãos daqueles que dizem defender
a vida. Bem, só falta agora mais um voto para o país esquerdopatizado se
igualar a um dublê de mosteiro, o certo arremedo ao voto de castidade. Na China
já limitaram a um filho a produção de cada casal, por aqui estamos ainda na
faze da descriminalização do aborto e sua legalização como um problema de "pasmem!" Saúde pública!?
A expressão “esquerda caviar”, pegou, e tem
incomodado muita gente!
Afinal, expõe a hipocrisia daqueles que defendem o
socialismo de seus condomínios fechados e das suas coberturas luxuosas, que
pregam a igualdade material de cima de seus helicópteros, que defendem até
o modelo cubano de Nova York ou Paris, que condenam a ganância enquanto juntam
mais e mais dinheiro. Tamanha incoerência incomoda mesmo, quando exposta. Pegos
na contradição, vários desses ícones da esquerda caviar têm se defendido da
seguinte maneira: "então é preciso ser um franciscano para defender os mais
pobres?" Segundo eles, o que querem é distribuir melhor a riqueza, que todos se
tornem igualmente ricos, tenham acesso aos mesmos bens materiais. Implícito
nesse discurso está o monopólio da virtude típico da esquerda, e uma enorme
falácia.
Para essas pessoas, ser de esquerda significa
automaticamente se preocupar com os pobres. Ou seja, eles estão dizendo que os
liberais capitalistas ou os conservadores de direita não ligam para os pobres,
querem mantê-los na pobreza. Reparem que são as supostas
intenções que eles atacam, justamente para não debater quais meios ajudariam,
de fato, os mais pobres a sair da pobreza. O esquerdismo não seria, então, uma
ideologia sobre meios de produção ou organização social, mas sim uma seita
religiosa que concede de imediato o status de sensível abnegado ao membro.
Claro que não é nada disso! Claro que é
possível ter tanto esquerdistas como direitistas legitimamente preocupados com
os mais pobres. Por isso mesmo o debate sério, honesto, será voltado para quais
meios devem ser adotados para mitigar a pobreza. Foi o capitalismo liberal americano
ou o socialismo real cubano que beneficiou os mais pobres? Foi o livre comércio
da globalização ou o protecionismo dos países fechados que melhorou a vida dos
mais pobres?Quando colocamos a coisa desta forma, fica claro o
motivo pelo qual a esquerda caviar foge do debate. O problema não é ser mais
rico e defender a esquerda, e sim ser um usuário de todas as benesses que só o
capitalismo pode oferecer enquanto defende o socialismo, que jamais permitiu
aos mais pobres algo parecido. Por essa falha de argumentos, a esquerda caviar
precisa monopolizar os fins nobres: querem os pobres mais ricos, e ponto! Mas,
como? Criticando o livre mercado, o lucro, até mesmo a ganância, enquanto na
prática foram sempre o livre mercado, o lucro e a ganância que possibilitaram o
enriquecimento das sociedades capitalistas? Onde foi que a simples distribuição
de riqueza melhorou de fato a vida dos mais pobres de forma sustentável? Qual
modelo podem oferecer como exemplo disso?A desigualdade material é indissociável da
liberdade individual. Afinal, somos diferentes em muitas coisas, em nossas
vocações, dons, habilidades, sorte, mérito, etc. Se pegarmos um milhão de reais
e distribuirmos igualmente entre mil pessoas numa comunidade, em poucos meses
haverá gente com muito mais dinheiro do que os outros. A única forma de
preservar a igualdade é abolindo de vez a liberdade, impedindo as trocas
voluntárias.
No mais, riqueza não é jogo de soma zero, onde João
precisa tirar de Pedro para ficar rico. A história do capitalismo é a história
do enriquecimento geral, só que com desigualdade. O ganho de produtividade
permitiu a melhoria na qualidade de vida de praticamente todos, mas uns mais do
que os outros. Quando Steve Jobs cria a Apple, beneficia a vida de milhões de
pessoas, mas fica bem mais rico no processo, como deve ser.A esquerda caviar
ignora tudo isso, fala apenas em distribuir melhor as riquezas, como se caíssem
do céu ou brotassem do solo, como se não houvesse escassez, como se bastasse o
estado distribuir recursos para todos comprarem seu iPhone. Não funciona assim.
Quem não sabe, é vítima de desconhecimento! Quem sabe e mesmo assim insiste na
falácia, não tem honestidade intelectual.
OS CRISTÃOS E A PROPRIEDADE
PARTICULAR
Em
síntese: A propriedade particular é lícita a todo homem por direito
natural, desde que seja honesta. A Igreja ensina esta doutrina, acrescentando,
porém, que sobre toda propriedade particular pesa uma hipoteca social - o que
quer dizer que o proprietário deve procurar beneficiar o próximo com os bens
que Deus lhe concede. A Tradição da Igreja acentuou fortemente a necessidade de
que o cristão esteja vigilante para não se apegar a bens materiais que
embotariam o coração, indispondo-o para os bens transcendentais. O voto de
pobreza professado pelos Religiosos depende de um carisma próprio, que Deus dá
livremente, sem que isto impeça o cristão legítimo proprietário de chegar à
santidade.
Por e-mail
a revista PR recebeu a seguinte mensagem:
«O
cristão e os bens materiais: Me é difícil, muitas vezes, distinguir o correto
ensinamento cristão com relação ao uso dos bens materiais. Conhecemos passagens em que Cristo faz
críticas aos ricos (cf. Mt 19, 26-29 - O Jovem Rico: é mais fácil um camelo passar
pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no Reino de Deus; cf. Lc 12, 16-21
- a parábola do homem rico, que pensava em aumentar suas posses; cf. Luc 12, 22-
34 - as vãs preocupações). Também aprendemos que a Igreja prega a pobreza como
virtude, com grandes exemplos, pois Jesus Cristo, mesmo sendo Deus, Filho de
Deus Todo-Poderoso, preferiu nascer pobre numa manjedoura, entre pastores e
animais, ter como pai e mãe nesta Terra gente simples, ter um ofício humilde de
carpinteiro, etc. Por isso, santos e mestres da Igreja abraçaram a pobreza como
ideal, como S. Francisco de Assis, S. Francisco de Paula, Madre Teresa de
Calcutá, etc. Entretanto, também ouvimos dizer e lemos em livros de História que
o Judaísmo considera natural o enriquecimento material de seus fiéis (vide a
condenação da Igreja Católica à prática da usura praticada pelos judeus no séc.
XVI). Por sua vez, nossos irmãos
Calvinistas/Presbiterianos, sendo também cristãos como nós, Católicos, pregam
que a riqueza material é dom de Deus e desejável (cf. WEBER, Max, Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo, Ed. Presença, 4a ed.,
1996).A organização de leigos católicos chamada T.F.P. (Tradição, Família e
Propriedade) defende a posse da propriedade privada como um dos pilares da
Civilização Cristã. À exceção dos que
abraçam a pobreza na vida religiosa, para melhor dedicarem-se a Deus e à
Igreja, não consigo perceber que virtude possa haver em o cristão leigo neste
mundo desejar ser pobre, padecer privações, não poder alimentar-se
corretamente, não ter condições de pagar um tratamento médico adequado quando
adoece, não poder custear uma boa escola para seus filhos, depender da caridade
alheia, etc. Será pecado contra as leis de Deus desejar progredir materialmente
para poder oferecer maior conforto à família, prover saúde e boa formação para
os filhos, empregar um número maior de pessoas em seus negócios, fazer mais
caridade, pegar mais dizimo à Igreja e possibilitara evangelização de um número
maior de irmãos? Lembro-me que o Bom Samaritano (cf. Lc 10, 30-35) precisou
dispor de boa quantia para pagar hospedagem e tratamento ao homem ferido.
José de Arimatéia (cf. Lc 23, 50-53) e Nicodemos (cf. Jo 19, 39) eram homens
ricos e providenciaram um sepultamento digno ao Senhor. Portanto, pergunto: É
pecado ser rico, ou desejar enriquecer? Como
deve agir o cristão leigo em relação aos bens materiais?».
Em resposta dizemos que a propriedade particular é
lícita, desde que honesta e utilizada em favor do proprietário e sirva de comunhão com o próximo. Estas proposições de direito natural têm sido ensinadas pela Igreja
através dos tempos, enfrentando correntes diversas de pensamento a respeito,
como se verá a seguir:
1. O Testemunho Bíblico
O direito
de propriedade particular é tão condizente com a Lei de Deus que esta chega a
proibir a cobiça desregrada de bens alheios: "Não desejarás a mulher do
teu próximo, nem sua casa, nem seu campo, nem seu servo ou sua serva, nem seu
boi, nem seu asno, nem coisa alguma que lhe pertença" (Dt 5, 21, citado na
enc. "Rerum novarum"). A S.
Escritura, no Antigo Testamento, apresenta o exemplo de numerosos justos
(Abraão, Isaque, Jacó, Davi, Jó...) que, em meio mesmo às riquezas, se tornaram
amigos de Deus.No Novo
Testamento, o Senhor reconheceu a legitimidade das posses temporais, anunciando
a salvação ao rico publicano Zaqueu (cf. Lc 19, 7-10), permitindo que mulheres
abastadas O servissem em seus itinerários apostólicos (cf. Lc 8, 1-3), mantendo
boas relações com José de Arimatéia e Nicodemos (cf. Jo 19, 38s)... Cristo
ensinou a praticar a esmola e a beneficência corporal (dar de comer, de beber,
de vestir...), o que supõe naturalmente a posse de bens materiais e o direito
de dispor deles (cf. Mt 25, 31-46; Lc 21,1-4). Note-se outrossim que S. João
Batista, ao pregar penitência, não impunha aos soldados renunciassem ao seu
salário, mas apenas queria que se contentassem com o que ganhavam (cf. Lc 3,
10-14). Verdade é
que um certo desapego é vivamente recomendado nos escritos do Novo Testamento,
porque favorece a liberdade do coração e torna o cristão mais apto para
cultivar os valores espirituais e definitivos.É por isto que, quando um jovem
perguntou a Jesus o que devia fazer de bom para possuir a vida eterna, o Senhor
lhe apontou primeiramente a observância dos mandamentos e, a seguir, lhe deu o
conselho: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, e dá aos
pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,
16-21). Diante desta orientação, o jovem recuou triste, "porque era
possuidor de muitos bens"! (19, 22). O fervor arrefeceu por causa do apego
à matéria.O apego às riquezas, que obceca e amesquinha o homem, é condenado por
Jesus com palavras veementes:"É mais fácil um camelo entrar pelo buraco de
uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus" (Mt 19, 24).São Paulo
apregoa a simplicidade de vida aconselhada por Jesus e mostra os perigos da
avareza:"Nada trouxemos para o mundo, nem coisa alguma dele podemos levar.
Se, pois, temos alimento e vestuário, contentemo-nos com isso. Os que se querem
enriquecer, caem em tentação e ciladas, e em muitos desejos insensatos e
perniciosos, que mergulham os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de
todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desenfreado desejo alguns se
afastaram da fé, e a si mesmos afligem com múltiplos tormentos" (1Tm 6,
7-10).
Uma das razões ponderosas da sobriedade de vida é a
consciência que o cristão há de ter, de que é peregrino na terra, a caminho da
vida definitiva; a qualquer momento podem cair os véus que o separam dos
valores eternos, de modo que o cristão deve estar sempre livre para deixar tudo
com prontidão. É o que
incute a bela passagem de São Paulo em 1Cor 7, 29-31:"Eis o que vos digo,
irmãos: o tempo se fez breve. Resta, pois, que aqueles que têm esposa, sejam
como se não a tivessem; aqueles que choram, como se não chorassem; aqueles que
se regozijam, como se não se regozijassem; aqueles que compram, como se não
possuíssem; aqueles que usam deste mundo, como se não usassem plenamente. Pois
passa a figura deste mundo".
Note-se:
o Apóstolo não diz que o tempo é breve, mas, que se fez breve! Fez-se
breve, porque, com a vinda de Cristo, entrou neste mundo o Reino de Deus
inicial com seus valores eternos. Por conseguinte, não há mais tempo a perder;
o tempo tornou-se pouco para atender à grandeza do Eterno presente. Daí a
recomendação de uma vida, tanto quanto possível, desembaraçada dos vínculos
temporais, "pois passa a figura deste mundo".
2. A Tradição da Igreja
Muito
interessante é uma homilia de Clemente de Alexandria (+ pouco antes de
215) intitulada: "Que rico pode ser salvo?". Pode-se dizer que contém
o cerne da sistematização da doutrina social cristã. Clemente aí comenta as
palavras de Jesus: "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma
agulha do que um rico entrar no Reino de Deus" (Mt 19, 24); afirma
que as riquezas são dadas ao homem pela munificência de Deus bom; como tais,
não são nem boas nem más; é o homem que lhes dá a sua qualificação ética. Não
são as riquezas que precisam de ser destruídas, mas os vícios do coração, que
provocam a avareza dos que possuem, e a cobiça dos que não possuem. O rico vem
a ser um usufrutuário dos dons de Deus.Por conseguinte, a propriedade
particular é legítima; será moralmente má no caso de ser objeto de ganância e
avareza. A mais importante reforma que o homem possa e deva fazer, é a
do seu coração.A tese de Clemente ficou definitiva na Tradição cristã. Os
escritores subsequentes acentuarão principalmente o combate à cobiça desregrada
e à ambição, usando expressões altamente significativas, que podem deixar o
leitor surpreso; incutiam a vivência do Evangelho numa sociedade que se
ressentia ainda de vestígios do paganismo. Entre
outros, no século IV destaca-se São Basílio, bispo de Cesaréia (+379),
que, além de pregar justiça e senso humanitário, deu o exemplo: às portas de
Cesaréia, construiu uma nova cidade, que o povo chamava "a
Basilíada", assim apresentada pelo bispo a Elias, governador da Capadócia:"Dir-se-á
que prejudicamos os negócios públicos, erguendo ao nosso Deus uma casa de
oração, magnificamente construída, tendo em seus arredores habitações, das
quais uma liberalmente é reservada ao chefe; as outras são inferiores e
destinadas, conforme a sua condição, aos servidores de Deus, utilizáveis
igualmente por vós, magistrados, e por vosso cortejo. A quem prejudicamos por
construir abrigos para os estrangeiros, para as pessoas em trânsito, ou para
aquelas que precisam de reconforto, para os enfermeiros, os médicos, para os
animais de carga com os seus condutores? Para manter tais estabelecimentos é
indispensável a colaboração prestada pelos diversos ofícios... São portanto
necessárias outras casas adequadas às indústrias; e há muitas outras coisas que
contribuem para tornar o lugar agradável" (L. 74). Havia
nessa cidade um abrigo para pessoas idosas, um hospital, com uma ala reservada
às doenças contagiosas, e a distribuição de sopa popular.Basílio se insurgiu
contra a ganância egoísta em numerosos textos:
"Possuir mais do que
o necessário é prejudicar os pobres, é roubar! Quem despoja das
suas vestes um homem, terá nome de ladrão. E quem não veste a nudez do mendigo,
quando o pode fazer, merecerá outro nome? Ao faminto pertence o pão que tu
guardas! Ao homem nu, o manto que fica nos teus baús. Ao descalço, o sapato que
apodrece na tua casa. Ao miserável, o dinheiro que tu guardas enfurnado"
(Homília 6, 7).
Santo
Agostinho (+430)
é, inegavelmente, um dos maiores gênios da humanidade. Os seus escritos se
destacam não só pela profundidade do conteúdo, mas também pela elegância
despretensiosa e simples de sua forma.Eis
notável espécime de sua doutrina relativa a ricos e pobres:
"Vemos
às vezes que um rico é pobre, e o pobre pode oferecer-lhe seus préstimos. Eis, chega alguém à beira de um rio, e,
quanto tem de posses, tem de delicado: não conseguirá atravessar; se tira a
roupa para nadar, teme resfriar-se, adoecer, morrer... Chega um pobre, mais
robusto e preparado. Ajuda o rico a atravessar, faz esmola ao rico.Portanto, não se considerem pobres somente
os que não têm dinheiro. Observe cada um em que é pobre, porque talvez seja
rico sob outro aspecto e possa prestar ajuda. Talvez possas ajudar alguém com
teus braços e até mais do que se o ajudasses com teu dinheiro. Aquele lá
precisa de um conselho e tu sabes dá-lo; nisto ele é pobre e és rico, e então
nada tens a perder; dá-lhe um bom conselho e faze-lhe tua esmola.Neste momento,
irmãos, enquanto falo convosco, sois como mendigos diante de Deus. Deus é quem
nos dá, e nós damos a vós; todos recebemos dele, o único rico.Assim procede o
corpo de Cristo; assim se entrelaçam seus membros e se unem na caridade e no
vínculo da paz, quando alguém possui e sabe dar a quem não possui. No que tens,
és rico; e é pobre quem não tem isso.Amai-vos, pois, e querei-vos bem. Não
cuideis apenas de vós mesmos, pensai nos necessitados que vos rodeiam. E,
embora isto acarrete fadigas e sofrimentos nesta vida, não percais a coragem:
semeai nas lágrimas, colhereis na alegria. Pois não é assim, irmãos meus? O
agricultor, quando lavra a terra e põe as sementes, não está às vezes receoso
do vento frio ou da chuva? Olha o céu e o vê ameaçador; treme de frio, mas vai
em frente e semeia, pois receia que, esperando um dia sereno, passe o tempo e
já não possa semear. Não adieis vossas boas obras, irmãos! Semeai no inverno,
semeai boas obras mesmo quando chorais, pois 'quem semeia nas lágrimas, colhe na
alegria'" (Comentário ao SI 125). O S.
Doutor desmascara a eventual soberba e autossuficiência de quem possui, e, de
maneira suave e persuasiva, incita seus ouvintes ao amor fraterno, que é o cume
da perfeição. São Pauiino de Nola (+431) é outra figura notável. Nascido
em Bordéus (França), exerceu importantes cargos civis antes de ser batizado em
391. Vendeu então seus bens, distribuindo-os aos pobres; ao converter-se, foi
seguido por sua esposa Terásia, com a qual passou a viver vida retirada do
mundo. Foi ordenado presbítero em 394, e em 409 tornou-se bispo de Nola (Itália
Meridional). Também este escritor se preocupou com a temática
"riqueza-pobreza", que assim explana num de seus sermões relativo ao
óbolo da viúva (Mc 12, 41-44):
"Lembremo-nos,
ainda, daquela viúva que, despreocupada com os seus, conforme atesta o próprio
Juiz, e, pensando unicamente no futuro, deu aos pobres tudo o que lhe restava
de alimento. Outros concorreram com o excesso de sua abundância; ela, porém, mais
pobre talvez que muitos pobres, tendo por única fortuna duas moedas; mais rica,
entretanto, na alma que todos os ricos, avara dos tesouros celestes, esperando
unicamente os benefícios da recompensa eterna, entregou tudo que possuía dessa
fortuna que sai da terra e para ela retorna. Deu o que tinha, para possuir o que não via; deu o corruptível, para
adquirir a imortalidade. Esta pobre não fez pouco caso da economia disposta e
ordenada por Deus, acerca do crédito futuro. Por isso, o Provisor não se
esqueceu dela e, como juiz do mundo, já antecipou a sua sentença. Elogiou no
Evangelho a quem iria coroar no juízo futuro.Emprestemos a Deus dos seus
próprios dons. Nada possuímos sem auxílio, uma vez que nem existir podemos sem
sua vontade. Que poderemos considerar como nosso, se, por uma dívida
especial e imensa, nós mesmos não somos nossos? Pois não só fomos feitos por
Deus, mas também resgatados. Alegremo-nos, porque fomos resgatados por um
grande preço, isto é, pelo sangue do próprio Senhor". O autor lembra,
desta maneira, a importância de um coração puro, livre de qualquer apego
desregrado. Quem possui tal coração, intui valores que os olhos da natureza são
incapazes de perceber.
3. O Magistério da Igreja
Prolongando
a voz das Escrituras, o magistério da Igreja, através dos séculos, rejeitou,
como errôneas, sucessivas tendências a negar ou a restringir exageradamente o
direito de propriedade.Registrou-se, por exemplo, na antiguidade e
na Idade Média, o surto periódico de concepções pessimistas ou dualistas que
tinham a matéria e o uso dos bens materiais na conta de algo de mau ou de
satânico; assim o Ebionitismo (de ebion, pobre, em hebraico) no séc. II, o
Maniqueísmo nos séc. III/IV, as correntes dos Cátaros, dos Valdenses e dos
Joaquimitas, do séc. XI ao séc. XIII. “Verificaram-se
também, entre os cristãos, tendências socialistas e comunistas anarquistas, que
a Igreja reprovou: no séc. II, por exemplo, o gnóstico Epifânio preconizava o
comunismo integral, apelando para a justiça de Deus, como se esta tivesse
outorgado a todos os homens os mesmos direitos sobre toda e qualquer coisa; no
séc. III apareceram os "Apostólicos" ou "Apóstatas" (= os
que renunciavam), os quais se vangloriavam de imitar os Apóstolos, nada
possuindo.No século XIV uma corrente mística franciscana exagerava a pobreza de
Cristo e dos Apóstolos, negando-lhes o direito de possuir ou mesmo de usufruir,
fosse em particular, fosse em comum..., negando- lhes, por conseguinte a
liceidade de se servir de bens materiais, de os vender, comprar ou trocar...; tais
teses provocaram explícita declaração por parte do Papa João XXII:"Será
considerado herege todo aquele que sustentar que Jesus Cristo e seus Apóstolos,
em relação às coisas de que se serviram, não praticaram senão o mero uso de
fato (não de direito); daí se poderia concluir que tal uso era ilícito,
conclusão esta que seria blasfematória" (Constituição Quia quorumdam de 10
de novembro de 1323; cf. outrossim a bula Cum inter nonnullos de 12 de novembro
de 1323).Tal é o
chamado erro da "pobreza absoluta de Cristo".No séc.
XVI os Anabatistas provocaram a guerra dos camponeses na Alemanha (1522-1525),
pregando com anarquia e pilhagem a vinda de novo Reino de Deus, em que haveria
comunhão de bens.Nenhum
desses movimentos contrários à propriedade particular prevaleceu no
Cristianismo porque, em última análise, significavam a negação da Encarnação, ou
seja, da santificação de tudo que há de humano e material, pela vinda do Filho
de Deus a este mundo; também a matéria foi, do seu modo, objeto da Redenção, ensina
o mistério da Encarnação; em consequência, toca a todo indivíduo humano não
somente o direito, mas também o dever, de a dominar e a fazer concorrer para a
glória de Deus.Os Papas, a partir de Leão XIII, vêm com insistência
reafirmando o tradicional conceito cristão de propriedade, tendo em vista, de
um lado, as modernas teorias do socialismo e do marxismo, que querem
absorver no totalitarismo econômico e político o indivíduo e seus direitos, de
outro lado, o liberalismo econômico, que leva ao capitalismo
selvagem e à opressão.O
principal problema contemporâneo versa sobre os bens produzidos por colaboração
do capital do empresário e do trabalho dos operários. Lembram os Papas que
qualquer exclusivismo, seja por parte dos capitalistas, seja por parte dos
trabalhadores, se torna injusto; preconizam que o trabalho não seja considerado
como simples mercadoria e que o salário respectivo exprima a dignidade pessoal
do operário, facultando a este a constituição e o desenvolvimento da família e
possibilitando-lhe a elevação do padrão de vida.As encíclicas papais também se
referem, com certa frequência, ao papel dos governos civis perante a
propriedade particular.Lembram que não é lícito ao Estado frustrar, como quer
que seja, o uso do direito à posse individual, pois isto seria violar a
personalidade humana. Toca, porém, aos legisladores civis regrar o emprego dos
bens particulares em vista do bem comum. Isto pode ser feito, por exemplo,
retirando do domínio particular alguns bens que interessam à segurança pública
ou que confeririam aos seus proprietários um poder exagerado. São palavras de
Pio XI:
"Há
certas categorias de bens que - é razoável pensar - devem ser resenhados à
coletividade, desde que confiram poder econômico tal que, sem perigo para o bem
público, não podem ser deixados nas mãos de cidadãos particulares"
(Quadragesimo anno).
Essa
socialização, porém, só é desejável quando realmente exigida pelo bem comum ou
como único meio eficaz de remediar a um abuso ou de assegurar a ordem das
forças produtivas de um país.A socialização ou nacionalização assim concebida é
recurso extremo, pois contém a ameaça de absolutização do Estado. Este pode,
antes de estatizar, promover a propriedade coletiva em mãos de sociedades
controladas por leis; nestas sociedades grande número de pessoas, inclusive os
funcionários e operários das empresas, podem tornar-se co- proprietários.Na
verdade, a propriedade particular não é baseada apenas em razões de ordem
religiosa; ela tem seu fundamento também no direito natural.
3. Argumentos Filosóficos
a) A
propriedade particular é exigência da natureza intelectual do homem. Este pode prever o seu futuro, à
diferença dos animais irracionais, que se contentam com a satisfação de suas
necessidades imediatas. Ora, para subsistir hoje e no tempo futuro, o homem
precisa de se apropriar de bens naturais (bens de consumo e igualmente bens de
produção).Este argumento vale especialmente para os genitores, responsáveis por
uma família. Os pais têm a obrigação de cuidar da alimentação, do vestuário e
da educação dos filhos; seria antinatural que o Estado o fizesse em lugar dos
genitores. Por isto, estes têm o direito de adquirir e possuir os bens
necessários ao cumprimento de tais deveres; a solicitude materna e paterna lhes
permite também transmitir esses bens, como herança, às gerações futuras,
assegurando a estabilidade e a independência da família.
b) A
propriedade particular é a expressão da pessoa humana e o fruto do seu
trabalho. Decorre
do trabalho desta ou de seus antepassados; é o espelho do indivíduo, que
precisa de um aconchego preservado pela privacidade, onde o indivíduo seja ele
mesmo, cercado dos sinais que identificam o seu eu. Com outras palavras: a
propriedade particular possibilita e alimenta a iniciativa pessoal e, com esta,
a alegria e o entusiasmo; mediante a propriedade particular, o homem tem não
somente de quê viver, mas também um por quê viver mais concreto e imediato - o
que, para muitas pessoas, é de grande valia, a fim de que desenvolvam sua
genuína personalidade.
c) A
propriedade particular estimula o trabalho. Com efeito; todo homem é
espontaneamente atraído pela perspectiva da recompensa direta e pessoal de seus
esforços; é esta que incita as pessoas a aceitar tarefas árduas, tarefas que
elas, de outra forma, não empreenderiam ou só empreenderiam negligentemente. A
propriedade particular, favorecendo a concorrência sadia entre indivíduos e
grupos, propicia o progresso e evita o monopólio medíocre e estagnado exercido
pelo Estado absolutista. É o que o Papa Leão XIII assim comenta: "O homem possui tal
natureza que a perspectiva de trabalhar sobre um fundo que lhe pertença,
duplica seu ardor e sua aplicação". Donde conclui o Pontífice que a
supressão da propriedade particular acarretaria que "fossem o talento e a
habilidade destituídos de seu estimulante e, consequentemente, ficassem as riquezas estagnadas em suas
fontes; em lugar da igualdade sonhada (no tocante à posse dos bens materiais),
haveria igualdade no desnudamento, na indigência e na miséria" (enc. Rerum
Novarum).
d) A
propriedade particular é penhor de uma sociedade articulada ou organizada, ao
passo que a propriedade meramente coletiva tem por consequência uma sociedade
massificada, sem diversificação nem liberdade. Bem repartida, a propriedade
particular realiza sadia divisão dos centros de influência e defende os
cidadãos contra a concentração de todo o poder nas mãos do Estado. Atualmente,
frente aos regimes totalitários, a propriedade particular é de alta importância
para garantir a liberdade dos indivíduos e a sua independência em relação ao
poder civil.
Em conclusão, podemos reafirmar: o direito de
propriedade é um direito natural, como nota sabiamente R.G. Renard:
"A propriedade faz
parte da natureza do homem e da natureza das coisas. Como o trabalho, ela
encerra um mistério; é a projeção da personalidade humana sobre as coisas. A
pessoa tende à propriedade por um impulso instintivo, do mesmo modo que a nossa
natureza animal tende ao alimento. O apetite da propriedade é tão natural à
nossa espécie como a fome e a sede; apenas é de notar que estes são apetites da
nossa natureza inferior, ao passo que aquele procede da nossa natureza
superior. Todo homem tem alma de
proprietário, mesmo os que se julgam inimigos da propriedade. É isto que se
entende quando se afirma que a propriedade decorre do direito natural"
(L'Eglise et Ia Question Sociale, Paris, pp. 137s).
O voto de
pobreza professado pelos Religiosos depende de um carisma próprio, que Deus dá
livremente, sem que isto impeça o cristão legítimo proprietário de chegar à
santidade.
Dom Estêvão Bettencourt (OSB)
CONCLUSÃO
Portanto, o sujeito não precisa ser um
franciscano para ser de esquerda! Precisa ignorar como a economia funciona, e adotar
doses cavalares de hipocrisia, como o fazem os líderes das ditaduras de
esquerda, condenando sempre a ganância alheia, o lucro dos outros, enquanto pensa
no seu bem estar, com contas no exterior, e vivendo como os magnatas
capitalistas, tudo isso enquanto repete que só quer mais igualdade material e
ajudar os pobres. Não cola, e ainda mais esta lógica dos adeptos da Teologia da
Libertação, que se dão ao direito de julgar, criticar e denegrir os Papas São
João Paulo II e Bento XVI, mas não toleram que critiquem seus bispos esquerdistas,
que fazem um pastoreio onde não cabem
todas as ovelhas de Cristo, mas só as que lhes agradam e pensam como eles, expulsando
a demais de seu rebanho.
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