Qualquer
administrador das finanças do lar compreende que não é possível gastar mais do
que ganha indefinidamente. O “superávit primário” nada mais é do que poupar uma
parte das receitas para ter condições de pagar o custo da dívida acumulada nos
anos anteriores. O mínimo que se espera de um governo
responsável é um saldo positivo primário, pois o certo mesmo seria um saldo final positivo,
o que significaria que o governo consegue pagar todas as suas despesas,
incluindo a de juros, e ainda amortizar um pouco do estoque de dívida.No
Brasil, curiosamente, nossas esquerdas rejeitam até mesmo a necessidade de um
superávit primário. Ou seja, é como se acreditassem que o governo é muito
diferente de uma família, e que pode simplesmente gastar mais do que arrecada
como se não houvesse amanhã.Em
um aspecto ao menos o governo é diferente de uma
família, ainda que seja apenas o administrador dos recursos públicos em nome de
todas as famílias brasileiras: ele tem o poder de arrecadar impostos e de
emitir dinheiro (um imposto disfarçado).Quando uma família perdulária gasta
sistematicamente mais do que ganha, mergulha no vermelho de forma perigosa,
adere ao cheque especial e eventualmente cai na mão de um agiota. Paga juros
altíssimos e corre o risco de ter que declarar falência e perder todos os seus
bens remanescentes.Mas quando o governo gasta cada vez mais, sem a
contrapartida na receita, ele pode sempre emitir mais moeda e gerar inflação
(como fez o governo Dilma), ou decretar aumento de impostos (como fez o governo
Dilma). Ele não quebra como uma família; mas ele acaba quebrando a nação!Digo
tudo isso, claro, para chegar ao lamentável fato ocorrido em 2014, divulgado
agora: tivemos o primeiro déficit fiscal primário desde 1997! As “pedaladas” do
governo Dilma foram criando uma bola de neve que, ao ser parcialmente
reconhecida no final de 2014, levou a esse rombo superior a R$ 30 bilhões no
consolidado.Só para refrescar a memória do leitor, o
governo falava em superávit primário de
R$ 100 bilhões no começo do ano, depois revisto para R$ 80 bilhões. Entregou um déficit de
R$ 32 bilhões. Primário, ou seja, sem levar em conta o serviço da dívida que,
como qualquer indivíduo bem sabe, também é despesa.Em outras palavras, Dilma rasgou a Lei de
Responsabilidade Fiscal, jogou no lixo o legado mais importante da era FHC. E
para não ser punida legalmente pelo crime de responsabilidade, ainda mandou ao
Congresso uma alteração na Lei das Diretrizes Orçamentárias no apagar das luzes
do ano passado, para se livrar das consequências de seus atos irresponsáveis.
Quem paga por seus erros somos nós, trabalhadores, consumidores e pagadores de
impostos.Agora o governo Dilma fala em um superávit de
1,2% do PIB para 2015. E quem acredita? Não basta colocar ministro novo com
fama de “fiscalista” ortodoxo. O esforço fiscal necessário para essa
reviravolta seria homérico, especialmente em uma economia em crise, sem
crescimento. Dilma vai mesmo entregar o que promete agora? Como?O certo seria
cortar na carne, bilhões e bilhões de despesas inúteis do governo, que
aumentaram exponencialmente nos últimos anos, sem contrapartida alguma na
melhoria dos serviços públicos. Quando analisamos que a receita do
governo subiu de
R$ 991,1 bilhões em 2013 para R$ 1,01 trilhão em 2014, fica claro que o
problema não é falta de receita.O problema é excesso de gasto. As despesas
saíram de R$ 914,1 bilhões em 2013 para R$ 2,3 trilhão em 2015. Estamos
diante de um governo gastador, perdulário, irresponsável e incompetente (já que
nada disso significou melhoria nos serviços públicos).Mas
sabemos que Joaquim Levy e a presidente Dilma desejam ir pelo caminho mais
fácil e proteger todos aqueles pendurados em tetas estatais, jogando o fardo
uma vez mais nas costas dos pagadores de impostos. O caminho escolhido será o
aumento de impostos, prerrogativa que só os governos têm, não as famílias.Outra medida que as famílias endividadas
podem tomar quando as contas apertam é a venda de ativos. Aquele carro extra,
talvez um relógio ou uma joia, quem sabe as ações que guardavam para o filho? O
estado tem ativos também. Muitos, no caso brasileiro, pois a União é dona de
centenas de empresas.Logo, a privatização seria outra alternativa para reduzir
o rombo fiscal e abater endividamento, que subiu bastante e ultrapassou 62% do
PIB. Mas aqui o governo Dilma também fez grandes lambanças (e onde não fez?). A
Petrobras, sem dúvida o principal ativo, foi destruída pela incompetência e
roubalheira. O valor de suas ações despencou. A empresa perdeu mais de R$ 20
bilhões de valor de mercado em apenas 3 dias!Somando
tudo, eis o que temos: o governo Dilma rasgou a Lei de Responsabilidade Fiscal
e entregou o primeiro déficit primário desde 1997, fez isso aumentando
arrecadação, mas aumentando ainda mais despesas, produziu uma inflação elevada
e crescente para financiar sua irresponsabilidade, expandiu a dívida do
governo, e destruiu o valor dos ativos do estado. E é nela que
alguns depositam a esperança de consertar essa trapalhada toda?
Ministro
do TCU Augusto Nardes, relator das
contas do governo no ano passado, deu declaração em fórum de líderes diz que
Dilma pode ser responsabilizada por "pedaladas fiscais"!
O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, relator das contas do governo Dilma Rousseff, referentes
ao ano passado, disse neste sábado que a presidente pode ser responsabilizada pelas "pedaladas fiscais",
manobra
com a qual o governo usou bancos públicos para cobrir despesas que
deveriam ter sido pagas com recurso do Tesouro.“A presidente pode
ser responsabilizada, mas não cabe a mim dizer se isso abre caminho para o impeachment – afirmou, destacando que essa é uma atribuição do Congresso
Nacional.” Nardes disse, ainda, que "sentiu"
que o governo vai entrar com recursos protelatórios para adiar o julgamento da
legalidade das contas, mas ponderou que isso faz parte do jogo democrático.
Responsável pelo julgamento das contas do governo Dilma, Nardes afirmou que a
questão das pedalas poderá pesar no seu relatório final:“Dei um prazo de 30 dias para definir as questões. Ano passado já
encontramos situação muito crítica. O Ministério da Fazenda não contabilizou
cálculos atuariais da Previdência no valor de R$ 1,1 trilhão. Chegamos próximo
de R$ 2,3 trilhões não contabilizados no ano passado. E agora constatamos uma
série de empréstimos através da Caixa e outras instituições sem sustentação
legal.”Ao destacar que o governo Dilma tem a
intenção de adiar essa questão, com os recursos protelatórios, ele disse que
isso faz parte do jogo democrático.“Se houver essa manobra de tentar
adiar a nossa decisão e não tivermos todas as respostas disponíveis, poderemos
criar um apartado (fazer um julgado em partes), mas vamos fazer
todo o possível, demos 30 dias de prazo improrrogável, para que os
questionamentos sejam respondidos pelos diversos ministros para tomar uma
decisão do parecer prévio das contas da presidente Dilma – disse.”O ministro também lamentou que o País viva
uma falta de boa governança, não apenas no nível do governo federal, mas também
dos governos estaduais e municipais.
O que é possível fazer
para resolver a questão?
Durante
décadas a previdência funcionou como um caixa extra para o governo. Milhões de
trabalhadores contribuíam mensalmente para bancar poucos beneficiários, levando
a diferença para a conta do governo, que passou a gastar os recursos sem se
preocupar em poupá-los. Em boa parte dos países este modelo inexiste
– substituído por outro, o modelo de capitalização, onde os recursos pagos à
previdência vão para uma conta que tem por intuito gerar rendimentos para bancar
a previdência futura. Este é o modelo que o governo tem buscado adotar
com os servidores (apesar da ampla rejeição de sindicatos que acusam o
Planalto de privatizar a previdência).Para
os trabalhadores comuns, entretanto, a opção de poder escolher entre a mais
eficiente forma de acumular recursos ainda é uma realidade distante. Os
trabalhadores brasileiros continuam bancando um modelo ineficiente e que a cada
ano impõem maiores restrições. A maior delas, o fator previdenciário, continua
em vigor e é muitas vezes apontada como uma solução pelo governo. Trata-se de uma tentativa de
reduzir os benefícios pagos para mascarar a realidade e manter as aparências de
viabilidade do regime.Os problemas apontados pelo ministro, porém, vão um pouco além
deste. As pedaladas são uma realidade incômoda e põem em risco algo conquistado
a duras penas no país: a responsabilidade fiscal. Pilar da bem sucedida
política de crescimento adotada pelo país entre 2000 e 2009, a Lei de
Responsabilidade Fiscal, apesar de não estar totalmente adaptada ao governo
federal, serviu para balizar o comportamento esperado de um Estado moderno.
Durante mais de um século as relações entre governos e bancos públicos foram as
mais promíscuas possíveis. Caixa e Banco do Brasil serviram de base para a
expansão descontrolada de gastos públicos e uma das maiores crises de inflação
da história mundial.A
melhora nas práticas de gestão levaram o país a considerar irregular o uso de
recursos de bancos públicos como recursos do governo, tornando-se assim crime o
que foi realizado à exaustão durante o ano de 2014, quando Caixa e Banco do
Brasil utilizaram dinheiro próprio para bancar gastos de benefícios como o
Bolsa Família.Em
suma, o governo atrasou os repasses à Caixa durante meses, deixando a conta no
vermelho para ser coberta pelo próprio banco. Esse é, na essência, o legado
positivo da rejeição das contas do governo pelo TCU. A decisão do
tribunal põe um mais do que necessário freio às políticas expansionistas
do governo que nos levaram à crise atual. Nenhum governo, afinal, está acima da lei e pode se utilizar de fraude
para agir.
“Os governos
nunca quebram. Por causa disso, eles quebram as nações.” (Kennet Arrow)
Fonte: Agência Estado
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