Do UOL, Em São Paulo
A revista britânica "The Economist"
voltou a estampar o Brasil na capa de sua edição para a América Latina e a
Ásia. Com uma manipulação digital que mostra o Cristo Redentor afundando após
um voo, a revista questiona:"Será que o Brasil estragou tudo?"A capa é uma referência da mesma revista, que, em
2009, mostrou o Cristo decolando como um
foguete."Uma economia estagnada, um Estado inchado e protestos em massa
significam que Dilma Rousseff deve mudar o rumo", afirma a reportagem especial sobre o país.A revista cita os protestos de junho, e se pergunta
se a presidente Dilma Rousseff vai conseguir recolocar o país nos eixos. Além
disso, pergunta se a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos vão ajudar a
recuperação do Brasil ou simplesmente trazer mais dívidas.
'Voo de galinha'
A revista relembra o cenário otimista há quatro
anos: a economia tinha se estabilizado durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, nos anos 1990, e acelerado no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no
começo dos anos 2000; sentiu pouco o colapso do banco Lehman Brothers, em 2008;
cresceu 7,5% em 2010; foi escolhida como sede da Copa do Mundo e das
Olimpíadas; e Lula ainda conseguiu eleger Dilma Rousseff como sua sucessora. "Desde então, o país tropeçou e voltou à realidade", diz. A
reportagem cita o crescimento de 0,9% em 2012 e as manifestações que encheram
as ruas do país em junho contra os altos custos de vida, a precariedade dos
serviços públicos e a corrupção política."Muitos agora perderam a esperança de que seu
país estava fadado ao sucesso e concluíram que foi apenas outro voo de
galinha", afirma a revista, usando a expressão em português.
Investimentos em infraestrutura
'pequenos como biquíni fio-dental'
A revista afirma que muitas das políticas do
ex-presidente Lula -"notavelmente o Bolsa Família"- são admiráveis."Porém, o Brasil fez muito pouco para melhorar seu governo nos anos
de crescimento."A chance perdida não é exclusividade brasileira;
aconteceu também com a Índia, segundo a reportagem.No caso do Brasil, é pior, diz a "Economist", porque a carga
tributária é muito alta e pesa demais sobre as empresas, enquanto o governo
"tem seus gastos prioritários de cabeça para baixo".Outro complicador, segundo a revista, é que, apesar
de ser um país jovem, gasta demais com aposentadorias, e de menos com
infraestrutura. "(...) apesar das dimensões continentais do país e
péssimas conexões de transporte, os investimentos em infraestrutura são tão
pequenos como um biquíni fio-dental", diz.
'Dilma interfere mais que
pragmático Lula'
A revista faz, ainda, duras críticas à atuação da
presidente Dilma Rousseff em relação a interferências do governo em assuntos
privados. Segundo a revista, a atuação de Dilma teria afastado investidores dos
projetos de infraestrutura."Esses problemas vêm se acumulando há gerações. Mas Rousseff não
quis ou não conseguiu combatê-los, e criou novos problemas ao interferir muito
mais do que o pragmático Lula."Em vez de assumir indicadores desfavoráveis, afirma
a "Economist", o governo lançou mão de "contabilidade
criativa" e a dívida pública avançou para entre 60% e 70% do PIB. "Os
mercados não confiam em Rousseff", diz.
Luz no fim do túnel?
Segundo a revista, a solução para o país inclui, primeiramente,
"redescobrir o apetite por reformas" e reestruturar os gastos
públicos, especialmente com aposentadorias. Em segundo lugar, tornar os
negócios brasileiros mais competitivos e encorajar investimentos, abrindo o
mercado e expondo as empresas à competição mundial. Em terceiro lugar, precisa urgente de uma reforma
política, diz a revista, citando a multiplicação de partidos e os 39
Ministérios do governo."O Brasil não está condenado ao fracasso: se Rousseff colocar a mão
no acelerador, ainda há uma chance de decolar novamente", diz a
"Economist".
Brasil já foi o
"queridinho" dos investidores
Em 2009, a mesma
revista publicou uma capa especial sobre o Brasil. A imagem do Cristo Redentor voando simbolizou um momento
de amadurecimento da economia do país. A revista
"The Economist" disse na época que o Brasil era "a maior
história de sucesso na América Latina".A revista afirmava
que o país deixava de ser uma promessa e começava a dar resultados, mas
advertia que um dos riscos era o excesso de confiança.Em 2009, a
"Economist" citou as descobertas de petróleo no pré-sal (águas
profundas no litoral) e as exportações para países asiáticos como elementos que
iriam estimular ainda mais o crescimento da economia brasileira nos próximos
anos. A previsão era que
o Brasil seria a 5ª maior economia do mundo em 2015.
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