Esclarecimentos sobre
alguns pontos da RCC à CNBB
Por Dom
Alberto Taveira*
Em nome da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, sou o Assistente Espiritual do Conselho Nacional da Renovação
Carismática Católica, um dos mais significativos Movimentos Eclesiais
existentes em nosso tempo. Algumas interrogações me foram feitas por Dom Rafael
Llano Cifuentes, Bispo de Nova Friburgo-RJ, proporcionando-me levar ao Conselho
Permanente da CNBB alguns esclarecimentos, que podem servir a tantos irmãos e
irmãos da RCC ou que desejam conhecê-la mais de perto. Eis o texto escrito que
apresentei à 58ª Reunião do Conselho Permanente da CNBB:
Esclarecimentos
sobre alguns pontos da RCC
Foi-me
pedido para fazer uma breve comunicação a respeito de alguns pontos sobre a
Renovação Carismática Católica. Escolhi dois caminhos, sendo o primeiro uma
consulta feita aos coordenadores nacionais da RCC, aos quais encaminhei as
perguntas feitas, com respostas que me foram apresentadas por Reinaldo Beserra,
do Escritório Nacional da RCC e membro do Conselho Internacional da RCC –
(ICCRS). Tais respostas correspondem e são plenamente assumidas por mim, por
corresponderem ao que penso e às orientações que costumo oferecer à RCC. Em
seguida, desejo apresentar algumas propostas.
I – Esclarecimentos
solicitados pelo CONSEP, a pedido de Dom Rafael:
1.
"Benefícios" da oração em línguas:
Os
carismas, sejam extraordinários ou humildes, são graças do Espírito Santo que
têm, direta ou indiretamente, uma utilidade eclesial, ordenados como são à
edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo. Carismas
são "manifestações do Espírito para proveito comum". São dons úteis,
instrumentos de ação, para servir à comunidade.
Conceituação:
a)
"É um dom de oração cujo valor, enquanto 'linguagem de louvor', não
depende do fato de que um lingüista possa ou não identificá-lo como linguagem
no sentido corrente do termo". É uma linguagem a-conceitual, que se
"assemelha" às línguas conceituais. Não supõe absolutamente um estado
de "transe" para praticá-la, não corresponde a um estado
"extático", e nem a uma exagerada emoção, permanecendo aquele que a
pratica no total domínio de si mesmo e de suas emoções, pois o Espírito Santo
jamais se apossa de alguém de modo a anular-lhe a personalidade.
b) É um
dom que leva os fiéis a glorificar a Deus em uma linguagem não convencional,
inspirada pelo Espírito Santo. É uma forma de louvar a Deus e uma real maneira
de se falar e se entreter com Ele. Quando o homem está de tal maneira repleto
do amor de Deus que a própria língua e as demais formas comuns de se expressar
se revelam como que insuficientes, dá plena liberdade à inspiração do Espírito,
de modo a "falar uma língua" que só Deus entende.
2.
O "falar em línguas", consignado nas Escrituras comporta três
modalidades:
a) a
oração em línguas, de caráter usualmente particular, pessoal, e que portanto
não requer interpretação. Embora de caráter pessoal, ela pode ser exercitada
também de modo coletivo, o que acontece nas assembléias onde todos exercem o
"dom particular de orar em línguas", ao mesmo tempo; obviamente, não
supõe interpretação. No entanto, Deus – que ouve a oração que milhares de fiéis
lhe dirigem concomitantemente de todos os cantos da Terra – por certo entende.
Vale a intenção que está em nosso coração.
b) Essa
oração também pode ser expressa em modalidade de canto, uma oração com uma
melodia que não foi pré-estabelecida. Também essa modalidade não requer
interpretação. A diferença em relação à modalidade anterior, é que aqui se
trata de orar em línguas, mas num ritmo não falado, de expressão e cadência
musical, de notas que se sucedem improvisadamente, numa modulação lírica com
que se celebra as maravilhas de Deus. São cânticos que brotam geralmente nos
momentos de louvor e adoração da assembléia, do grupo de oração, e que pouco
tem em comum com os cânticos eclesiásticos tradicionais, ou também com os
cantos de "composição artística". Santo Agostinho, comentando as
palavras do Salmo "Cantai ao Senhor um Cântico novo", adverte que o
cântico novo não é coisa "de homens velhos". "Aprendem-no os
homens novos, renovados da velhice por meio da graça, pertencentes ao Novo
Testamento, que já é o Reino dos Céus. Por ele manifestamos todo o nosso amor e
lhe cantamos um canto novo. Quando podes oferecer-lhe tamanha competência que
não desagrade a ouvidos tão apurados?... Não busques palavras, como se pudesses
dar forma a um canto que agrade a Deus. Canta com júbilo! Que significa cantar
com júbilo? Entender sem poder explicar com palavras o que se canta com o
coração. Se não podes dizer com tuas palavras, tampouco podes calar-te.
Então, resta-te cantar com júbilo, se modo que te entregues a uma alegria sem
palavras e a alegria se dilate no júbilo" .
c) Uma
terceira modalidade do dom das línguas é aquela de uso essencialmente público,
que quando é acompanhado do seu complemento, o dom da interpretação, tem como
seu propósito a edificação dos fiéis e a convicção dos descrentes. Aqui o falar
em línguas não assume o caráter de oração, mas de uma mensagem em línguas,
dirigida à assembléia e não a Deus, como é o caso da oração, e que portanto
requer o exercício do outro dom apontado por Paulo, o dom da interpretação. O
Espírito dá a alguém a inspiração de "falar em línguas" em alta voz.
Suas palavras contém uma mensagem espiritual para um ou mais ouvintes. A
mensagem permanece incompreensível, enquanto não for interpretada. A mensagem
interpretada assume, regularmente, as características de uma profecia
carismática, que, segundo S. Paulo, edifica, exorta e consola a assembléia.
Autores há que, em vista de maior clareza, dão outro nome a esta forma de falar
em línguas. Chamam-na de "mensagem em línguas", ou ainda de
"profecia em línguas". Em oposição ao "falar em línguas"
durante a oração, este dom não está livremente à disposição da pessoa. Exige-se
uma inspiração peculiar. Muitas vezes, ela está acompanhada de outra
inspiração, a saber, num dos ouvintes que então "interpreta" a
mensagem e a traduz em linguagem comum, para a comunidade. O dom de "falar
mensagem em línguas" é um dom transitório manifestado vez ou outra nas
reuniões de oração; e o Senhor pode servir-se ora deste, ora daquele, enquanto
que o dom da interpretação geralmente é considerado permanente; é dom que pode
ser pedido na oração.
3.
Quando se deve orar em línguas?
-Só em atos próprios da RCC?
-Na TV para todos?
-Pode ser utilizada durante a Santa Missa, como parece ter acontecido na Oração
dos fiéis nas missas de TV?
a) Sendo
um dom do Espírito e um dom de oração, ele deveria ser permitido onde sempre é
permitido orar. Nos atos próprios da RCC, o Documento 53, n. 25 da CNBB, já o levou em
consideração.
b) Se
a TV está transmitindo um ato próprio da RCC, não é possível
"encenar" um comportamento que anule a identidade do Movimento. O
exercício do carisma de orar em línguas é parte constitutiva da RCC. De
nossa parte – os "carismáticos" – não temos de que nos envergonhar
dessa prática, e nem temos nada a esconder. Somos assim. nossos Grupos de
Oração estão sempre com as portas abertas, e qualquer um pode conferir lá o que
somos e o que praticamos.
c) Na Santa Missa: Se são missas celebradas em atos específicos da RCC,
parece-nos que sim, desde que se exercite essa oração nos momentos ditados pelo bom
senso e pela orientação do celebrante, de modo respeitoso, profundamente
oracional, não exibitório, especialmente como glorificação a Deus, como
expressão de contrição, como petição, e como ação de graças.
d) A RCC
tem clara consciência de que a Igreja, durante muito tempo, não se abriu à essa
forma de se exercitar os carismas. Por isso ela sabe que, esse reavivamento de
perfil pentecostal que se colocou em marcha no último século – especialmente a
partir de Helena Guerra, que motivou Leão XIII a escrever uma Encíclica sobre o
Espírito Santo, passando por João XXIII, que pediu um novo Pentecostes para a
Igreja e a "renovação dos sinais e prodígios da aurora da Igreja",
bem como pelo Concílio Vaticano II, onde Deus, providencialmente, lançou as
bases e os fundamentos que tornaram possível o surgimento e a fundamentação do
Movimento Pentecostal Católico, até João Paulo II, com sua Dominum et
Vivificantem, e a inspirada exortação pronunciada na celebração de
Pentecostes de 29 de maio de 2004, que dizia: "Desejo que a
espiritualidade de Pentecostes se difunda na Igreja como um impulso renovado de
oração, santidade, comunhão e anúncio. [...] Abram-se com docilidade aos
dons do Espírito Santo! Recebam com gratidão e obediência os carismas que o
Espírito não cessa de oferecer!" – precisa ser acolhido com abertura de espírito
e destemor, mas também com bom senso, com humildade, com respeito pelas
diferentes opções de engajamento na pastoral orgânica da Igreja, em absoluta
adesão à doutrina da Igreja Católica, não escandalizando por falta de decoro
litúrgico ou religioso, dentro da ordem, mas também não deixando de ser fiel à
vocação que Deus nos faz, de, nesses tempos, contribuir para "revelar à
Igreja aquilo que já lhe é próprio: sua dimensão carismática".
e) No
rito do Sacramento da Crisma, ao final da Oração dos fiéis, o Bispo reza:
"Ó Deus, que destes o Espírito Santo a vossos apóstolos e quisestes que
eles e seus sucessores o transmitissem aos outros fiéis, ouvi com bondade a
nossa oração e derramai nos corações de vossos filhos e filhas os dons que
distribuístes outrora no início da pregação apostólica".
f) É de
se esperar que, recebendo tais dons, possamos exercitá-los, pois "da
aceitação desses carismas, mesmo dos mais simples, nasce em favor de cada um
dos fiéis o direito e o dever de exercê-los para o bem dos homens e a
edificação da Igreja e do mundo, na liberdade do Espírito Santo, que 'sopra
onde quer' e ao mesmo tempo na comunhão com os irmãos em Cristo, sobretudo com
seus pastores, a quem cabe julgar sobre a autenticidade e o uso dos carismas
dentro da ordem, não por certo para extinguirem o Espírito, mas para provarem
tudo e reterem o que é bom".
g)
"Na lógica da originária doação donde derivam, os dons do Espírito Santo
exigem que todos aqueles que os receberam os exerçam para o crescimento de toda
a Igreja, como no-lo recorda o Concílio".
4
– Repouso no Espírito:
O
Documento 53, no número 65, aborda o tema e diz a respeito: "Em
Assembléia, grupos de oração, retiros e outros reuniões evite-se a prática do
assim chamado 'repouso no Espírito'. Essa prática exige maior aprofundamento,
estudo e discernimento".
a) O
Cardeal Suenens, que escreveu muito sobre a RCC e a apoiou, foi muito cauteloso
em relação à prática do repouso no Espírito, recomendando reserva.
b) Pe.
Robert De Grandis foi quem muito a divulgou aqui pelo Brasil e tem um livro
sobre o assunto.
c) Pe.
Antonello, da Arquidiocese de S. Paulo, pratica-o com bastante freqüência e
também escreveu sobre o assunto.
d) Não há
fundamentação bíblica consistente sobre ele, embora sua prática remonte aos
grupos qualificados de entusiastas, especialmente nos grupos de reavivamento
nos Estados Unidos entre os séculos XVII e XIX.
e)
"O Espírito Santo, ao confiar à Igreja-Comunhão os diversos ministérios,
enriquece-a com outros dons especiais, chamados carismas. Podem assumir as mais variadas
formas, tanto como expressão da liberdade absoluta do Espírito que os
distribui, como em resposta às múltiplas exigências da história da Igreja"
.Em muitas ocasiões – especialmente quando praticado em atendimentos pessoais,
em clima de oração –, de modo especial em atendimentos de oração por cura
interior, essas manifestações se revelam perceptivelmente legítimas, sem
componentes de perfil patológico, gerando em quem a experimenta profunda paz e
bem estar, com conseqüente reavivamento ou novo compromisso, com os
compromissos relativos à fé. Pe. Isaac Isaias Valle, por exemplo, de
Porto Feliz, na Arquidiocese de Sorocaba, sacerdote muito estudioso e preparado
doutrinariamente, atende as pessoas utilizando-se dessa prática.
f) Em
muitas ocasiões – especialmente em grandes encontros – há um visível
descontrole emocional da parte de muitos nos quais se manifesta tal fenômeno,
chegando-se mesmo a identificáveis casos de histeria, seja por desequilíbrio de
cunho psicológico. Como diz João Paulo II, "na verdade, a ação do Espírito Santo,
que sopra onde quer, nem sempre é fácil de se descobrir e de se aceitar.
Sabemos que Deus atua em todos os fiéis cristãos e estamos conscientes dos
benefícios que provém dos carismas, tanto para os indivíduos como para toda a
comunidade cristã. Todavia, também temos consciência da força do pecado e as
confusões na vida dos fiéis e da comunidade."
g) Assim,
não é oportuno incentivar tal prática. Mas há vezes em que, sem que ninguém
estimule, ocorre tal manifestação (espontânea). Então, surge a
oportunidade para cumprir o que determina o Documento 53, buscando aprofundar o
entendimento sobre a matéria, pela observação com um estudo do caso, até
perguntando à pessoa como é que ela está se sentindo, se aquilo lhe gerou paz,
se o seu é um histórico sem comprometimentos outros, etc, para chegar a um
discernimento sobre as características que possam nos ajudar a identificar a
legitimidade do repouso.
5
– Sobre as inspirações particulares:
Em geral
a liderança da RCC tem tido bastante bom senso no exercício dessas chamadas
inspirações, ou moções. Junto com os dons da Palavra de Ciência e a Palavra de
Sabedoria, a RCC se esmera em fazer uso do Dom do Discernimento Carismático.
Podem ocorrer exageros e afoitas condutas? Claro que sim. Mas a realidade dos
fatos logo "traz para a terra" aqueles espíritos mais atabalhoados, e
que agem por impulsos meramente humanos, e de maneira até irresponsável. Na
observância dos resultados práticos e dos frutos produzidos por tais
inspirações é que a RCC busca aprender a deixar-se conduzir pelo Espírito, que
– segundo a Apostolicam Actuositatem – distribui também aos leigos dons
e carismas para capacitá-los a anunciar o Reino, com poder. É possível
encontrar-se falsas moedas. Mas não vamos, com elas, jogar fora as legítimas,
as verdadeiras. Em 2003, o Pontifício Conselho para os Leigos convidou a
RCC a dar sua contribuição no Colóquio Internacional sobre a Oração para pedir
de Deus a cura, realizado em Roma, sob os auspícios daquele Conselho, reconhecendo
nela essa prudência.
II
– Propostas:
a) Ao acompanhar a RCC, percebo que existe seriedade, busca de maior
conhecimento teológico em suas lideranças e docilidade. Sugiro que a Comissão Episcopal
de Doutrina promova um estudo sobre os Carismas e as práticas da RCC, com seus
representantes. Pode até surgir uma nova e mais atualizada orientação pastoral.
b) Sugiro
que os senhores bispos verifiquem em suas Dioceses os eventuais problemas,
proporcionando uma orientação segura, através de um assistente diocesano que
possa acompanhar de perto.
c) Nos
Congressos Estaduais da RCC, seria muito oportuno que o Bispo do local em que o
mesmo se realiza se fizesse presente com a apresentação de um tema de formação.
Penso que "adotando a criança", poderemos orientar melhor e os
membros da RCC não se sentirão marginalizados, mas membros vivos das Igrejas
particulares.
*Dom
Alberto Taveira - Arcebispo de Palmas (TO),
Vice-Presidente do Conselho Administrativo da Fundação Populorum Progressio
(Organismo criado pelo Santo Padre João Paulo II para ajuda à Igreja na América
Latina), Presidente do Regional Centro Oeste da CNBB, membro da Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos e Assistente
Espiritual da Renovação Carismática católica no Brasil.
FONTE: Canção Nova
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Apenas uma crítica:
"Na Santa Missa: Se são missas celebradas em atos específicos da RCC, parece-nos que sim, desde que se exercite essa oração nos momentos ditados pelo bom senso e pela orientação do celebrante, de modo respeitoso, profundamente oracional, não exibitório, especialmente como glorificação a Deus, como expressão de contrição, como petição, e como ação de graças."
Discordo. Introdução de ritos à celebração Eucarística somente pode ser feita com aprovação explícita da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Orientação do celebrante não é suficiente, o bom senso nos indica o caminho da obediência a Roma, pois até mesmo os Bispos locais, em sua condição de moderadores da Liturgia, não são donos, mas antes servos do Culto Divino. O único Bispo a quem Deus confiou autoridade para acrescentar ritos à Missa é o Bispo de Roma, portanto tais acréscimos só são possíveis com o aval dele.
Com todo o restante das colocações do Sr. Reinaldo, assim como Dom Alberto, concordo, são realmente muitíssimo oportunas e bem fundamentadas.
José (só postei como anônimo para eliminar a complicação de ter que criar um perfil).
Orar em linguas???? Tenha dó...
Tudo isso não passa de teatrinho de quinta categoria....
Prezado desinformado Paulo,
A Oração em línguas não é invenção da RCC mas é biblica, estude mais ai invés de postar idiotices.
O VERDADEIRO DOM DAS LÍNGUAS:
A virgem Santíssima e o dom das línguas
*Questão IV: Se a Virgem recebeu o dom de línguas, chamado por alguns “glossolalia” ?
a) “Afirmativamente, porque recebeu este dom com os apóstolos no dia de Pentecostes, e, como disse Santo Alberto Magno: A Virgem estava com eles quando apareceram as línguas repartidas como de fogo, logo recebeu o dom das línguas com eles” (Mariale, q. CXVII);
b) Ademais, ainda que não tivesse de ir pregar o Evangelho as diversas nações e gentes, todavia, no principio da Igreja nascente se concedia com freqüência este dom aos fiéis, ainda a aqueles a quem não se havia conferido o ministério de pregar e propagar o Evangelho como consta (At, XIX, 6);
c) E assim convinha, porque acudindo Maria muitos fiéis de diversas nações, já por piedade filial, e que buscavam de instruções, devia conhecer seus idiomas para entendê-los e instruí-los plenamente nas coisas da fé.
d) Finalmente, Suarez julga provável que ainda antes de Pentecostes, Maria já tivesse usado desta graça, caso a necessidade ou a ocasião tivesse exigido, como quando Cristo foi adorado pelos magos, é de crer que Maria entendeu a sua linguagem, como é também crível que, quando foi ao Egito, entendia e falava a língua dos egípcios.
*(In 3, disp. XX) – (ALASTRUEY, Gregório. Tratado de la Virgen Santíssima. Madrid: BAC, 1945, p. 350-351)
Continua...
Os Padres da Igreja e o dom das línguas:
No séculos II, Santo Irineu (c.115-200) se refere a uma fala extática não-idiomática, do tipo que os pentecostais praticam hoje. Descreve e condena as ações de um certo Marcos que “profetizava”, sob influência “demoníaca”. Marcos compartilhava o seu “dom” e outros também “profetizavam”. Seduzia mulheres e lhes prometia o carisma. Quando a recebiam, falavam algo sem sentido:
“Então ela, de maneira vã, imobilizada e exaltada por estas palavras e grandemente excitada... seu coração começa a bater violentamente, alcança o requisito, cai em audácia e futilidade, tanto quanto pronuncia algo sem sentido, assim como lhe ocorre”. (Contra Heresias I, XIII, 3)
Irineu também se refere ao dom de línguas dos apóstolos e da época em que vivia. Cita II Cor. 2:6, explicando que “os perfeitos” falam em “todos os tipos” as línguas:
“... nós também ouvimos muitos irmãos na Igreja,... e que através do Espírito, falam todos os tipos de línguas, e trazem à luz para o benefício geral as coisas escondidas dos homens, e declaram os mistérios de Deus...”. (Contra Heresias V,VI,1)
Ao informar que falam todos os tipos de língua, Irineu parece se referir a línguas que admitem classificação.
No século IV, Cirilo de Alexandria (c.315-387), Doutor da Igreja em seus Sermões Catequéticos (sermão XVII: 16), interpreta o dom de línguas do Pentecostes como idiomas estrangeiros. Isto indica que, pelo começo do quarto século, a glossolalia apostólica também era tida como um idioma comum. Cita por nome alguns idiomas falados pelos apóstolos:
“O galileu Pedro ou André falavam persa ou medo. João e o resto dos apóstolos falavam todas as línguas para aquela porção de gentios (...) Mas o Santo Espírito os ensinou muitas línguas naquela ocasião, línguas que em toda a vida deles nunca conheceram” (Sermões Catequéticos (sermão XVII: 16)
Continua...
Ambrósio (330-397), também Doutor da Igreja, embora não discuta a natureza do dom de línguas, ressalta que cada pessoa recebe dons espirituais diferentes. Para ele,“todos os dons divinos não podem existir em todos os homens, cada um recebe de acordo com a sua capacidade ao deseja ou merece” (Do Espírito Santo II, XVIII, 149)
Se Ambrósio também quer dizer com isto que o falar em línguas não se manifesta em todos os cristãos, a citação pode se confrontar e divergir completamente com a posição pentecostal de que todos devem ter “o” dom de línguas.
São João Crisóstomo (Doutor da Igreja) (347-406), é o primeiro a interpretar detidamente a glossolalia em I Coríntios. Em sua conhecida retórica de orador, questiona a ausência do dom de línguas: “Por que então eles aconteceram, e agora não mais?”
São João Crisóstomo detalha sua explicação. Ele vê o dom de línguas do N.T. como um fenômeno reverso ao da Torre de Babel. Os discípulos receberam o dom porque deveriam
“ir afora para todos os lugares (...) e o dom era chamado de dom de línguas porque ele poderia falar de uma vez diversas línguas”.
Comentando I Co. 14:10, aplica a passagem à diversidade de idiomas:
“i.e., muitas línguas, muitas vozes de citianos, tracianos, romanos, persas (...) inumeráveis outras nações.”
E sobre I Co. 14:14, São João Crisóstomo sublinha que aquele que fala em línguas não as entende, porque não conhece o idioma em que fala:
“Pois se um homem fala somente em persa ou outra língua estrangeira, e não entende o que ele diz, então é claro que ele será para si, dali em diante, um bárbaro (...) Pois existiam (...) muitos que tinham também o dom da oração, junto com a língua; e eles oravam e a língua falava, orando tanto em persa ou linguagem latina, mas o entendimento deles não sabia o que era falado”.98 (Homilias na Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo XXXV).
A doutrina do dom das línguas em Santo Tomás de Aquino:
Santo Tomás de Aquino, ao comentar o Capítulo XIV da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, escreveu:
“Quanto ao dom de línguas, devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para pregar ao mundo a Fé em Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos se anunciasse a palavra de Deus, o Senhor lhes deu o dom de línguas” (S. Tomas de Aquino, Comentario a la primera espistola a los Conrintios, Tomo II, pag 178.)
Continua...
Existem duas formas do dom de línguas :
1ª)- Aquela que se manifestou em Pentecostes onde os apostólos falavam na sua propria língua e cada um entendia na sua.
2ª)- Aquela que se manifestava em certas comunidades ,em que cristãos manifestavam línguas estranhas (não conhecidas pelos ouvintes , porém verdadeiras línguas com caráter idiomático). Nesse caso elas precisavam ser interpretadas.
Veja o quer diz sobre isto a Lumen Gentium:
“ Não se devem porém, pedir temerariamente, os dons extraordinários nem deles se devem esperar com presunção os frutos das obras apostólicas; e o juízo acerca da sua autenticidade e recto uso, pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom” (cfr. 1 Tess. 5, 12. 19-21).
São Vicente Ferrer, continuando o ensino de Santo Tomás e de São João da Cruz sobre o assunto, diz:
“Os que queiram viver na vontade de Deus não devem desejar obter [...] sentimentos sobrenaturais superiores ao estado ordinário daqueles que têm um temor e um amor a Deus sinceros. Tal desejo, de fato, só pode vir de um fundo de orgulho e de presunção de uma vã curiosidade em relação a Deus e de uma fé demasiada frágil. A graça de Deus abandona o homem que está preso a este desejo e o deixa à mercê de suas próprias ilusões e das tentações do diabo que o seduz com revelações e visões enganosas”.
A RCC acertaria se dissesse que ela a partir do momento que se abriu a devoção ao Espírito Santo – aliás muito bem lembrado por nosso papa Leão XIII como o “divino desconhecido” - buscando a santidade e como conseqüência Deus, quis derramar em profusão os dons e carismas, mesmo sabendo que para o exercício deles, há de se ter uma caminhada – isto para os dons -, mas ao invés disso condicionam esta avalanche de dons ao Batismo no Espírito, este até agora não comprovado que aconteça nos moldes e no momento da RCC.
Muitos tiveram suas vidas transformadas a partir do momento em que participaram da RCC e acredito mesmo nesta transformação, afinal, Deus além de todas as graças interiores que nos dá para nos santificarmos, nos dá outras que se chamam exteriores, - graças abundantes vividas nos grupos de orações e poderosas para nos ajudar a nos abrirmos ao Espírito Santo -, como nos ajuda a entender, Tanquerey e que cabe bem no que acontece:
“e que, atuando diretamente sobre os sentidos e faculdades sensitivas, atingem indiretamente as nossas faculdades espirituais, tanto mais que muitas vezes são acompanhadas de verdadeiros auxílios interiores. Assim, a leitura dos Livros Santos ou duma obra cristã, a assistência a um sermão, a audição dum trecho de música religiosa, uma conversa boa são graças exteriores; é certo que, por si mesmas, não fortificam a vontade; mas produzem em nós impressões favoráveis, que movem a inteligência e a vontade e as inclinam para o bem sobrenatural. E por outro lado Deus acrescentar-Ihes-á muitas vezes moções interiores, que, iluminando a inteligência e fortificando a vontade, nos ajudarão poderosamente a nos convertermos ou tornarmos melhores. Enfim, Deus, que sabe que nós nos elevamos do sensível ao espiritual, adapta-se à nossa fraqueza, e serve-se das coisas visíveis, para nos levar à virtude.” (Cfr. Tanquerey)
O que acontece na RCC é devido à abertura e a presença de Deus que tanto quer santificar seus filhos, mas nada mágico. Pois exige luta e luta árdua.
Shalom !!!
Um diz que pode, outro que não pode!Enquanto não houver a palavra final da Igreja cada um tira suas próprias conclusões?
O que sei é que através da rcc voltei pra Igreja e estou muito feliz! Exceto quando são plantadas dúvidas a respeito dos dons! (Ainda assim prefiro olhar para os frutos do movimento) Deus nos abençoe
Prezado Jorge,
O Catecismo da Igreja Católica já se pronunciou oficialmente pelos DONS CARISMÁTICOS:
Quer extraordinários quer simples e humildes, os carismas são graças do Espírito Santo que, direta ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial, pois são ordenados à edificação da igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo. (CIC 799)
Os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja, pois são uma maravilhosa riqueza de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo, contanto que se trate de dons que provenham verdadeiramente do Espírito Santo e que sejam exercidos de maneira plenamente conforme aos impulsos autênticos desse mesmo Espírito, isto é, segundo a caridade, verdadeira medida dos carismas. (CIC 800)
Roma falou tá falado !! Consumatun est !!
O que sei que nan conheço movimento mais orante, Mariano, mais evangelizador e obediente que a RCC. Sigo o que o Cristo nos ensina " e pelos frutos q conhecereis a árvore". A RCC e benção.
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