*COMENTÁRIO DO BLOG BERAKÁ: No Ícone de São Pedro
e São Paulo, vemos a representação original e querida da unidade entre a igreja Carismática, representada em Paulo e Hierárquica em Pedro. Não existe portanto, DICOTOMIA (contradição, ou conflito, como é apresentado na obra de Leonardo Boff: Igreja Carisma e poder), mas COMPLEMENTARIEDADE, como assim era vivido e entendido na Igreja primitiva.
Os carismas eram
comuns no início da Igreja,basta ler os Atos dos Apóstolos e as cartas de São
Paulo.Depois, por alguns séculos eles se mantiveram restritos aos grandes
santos.Assim, pensava-se que os carismas eram para alguns homens e mulheres
reconhecidamente santos, místicos e penitentes.Os Carismas, portanto
não são novidades trazidas pela Renovação Carismática Católica, a não ser no
aspecto do seu exercício nos tempos atuais.
Foi o documento conciliar Lumen
Gentium que traçou as primeiras diretrizes sobre carismas para os tempos atuais:
“...Não é apenas através dos sacramentos e dos ministérios que o
Espírito Santo santifica e conduz o Povo de Deus (...), mas, repartindo seus
dons a cada um como lhe apraz (I Cor 12,11), distribui entre os fiéis de
qualquer classe mesmo graças especiais. Estes carismas, quer eminentes, quer
mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e
consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da
Igreja. Uma vida mais plena no Espírito Santo, a unção carismática do Espírito
Santo, contempla a Igreja com toda uma amplitude de dons.”
Esses dons de
adoração, louvor, oração e serviço, aprofundam a dimensão contemplativa da fé cristã e as
dádivas de serviço animam a vida de santidade!
“Todos os carismas trazem nova docilidade ao Espírito, a fé esperançosa
na salvadora intervenção de Deus nas questões humanas, acentuado zelo pelo
Evangelho e o respeito pela autoridade da Igreja.”
Nesse sentido, é
necessário afirmar a atualidade dos carismas e promovê-los como realidades
necessárias à evangelização e ao crescimento pessoal de cada cristão.“A vida efusivamente batizada no Espírito é marcada por uma experiência
de união dinâmica com Deus e também por uma experiência de carismas doados pelo
Espírito Santo.” São Pedro aviva essa esperança:
“Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos os que
ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus” (At 2,39).
A promessa é,
portanto, para todos os tempos. Contém abalizar e diferenciar os dons efusos,
que é matéria deste estudo, dos dons infusos, que também são carismas do
Espírito, mas que se distinguem daqueles:
a)- Dons infusos (de Santificação pessoal): Temor de Deus,
fortaleza, piedade, conselho, conhecimento, sabedoria e discernimento (cf. Is
11,1-3). Num total de sete, esses dons são concedidos para a pessoa (infundidos
no batismo), aprimoram e reforçam as virtudes, constituindo-se em benefícios
para o crescimento pessoal.
b)- Dons efusos (de
serviço): línguas, profecia, interpretação, ciência, sabedoria, discernimento
dos espíritos, cura, fé e milagres (cf. ICor 13,8-10). Num total (não
obrigatoriamente) de nove, esses dons são para o serviço e o bem comum do povo
de Deus.São concedidos como manifestações atuais, de acordo com a vontade de
Deus.
Essa distinção é meramente
didática, mas com fundamento bíblico e teológico; apesar disso, não tem a
intenção de segmentar e engessar a ação do Espírito Santo, nem de encerrar
dentro dela todas as espécies de carismas.Aqui serão estudados os carismas
efusos (de serviço), que são realidades manifestas nos grupos de oração da Renovação
Carismática, constituindo-se num dos aspectos de sua identidade:
Conceituação teológica:
Os carismas são dons,
graças, presentes, dados pelo Espírito Santo, “mas um e o mesmo Espírito
distribui todos esses dons, repartindo a cada um como lhe apraz” (ICor 12,11). “A palavra ‘carisma (chárisma) é oriunda da língua grega e significa
‘dom gratuito’. Ela encontra seu significado fundamental na raiz ‘char’ que
indica tudo aquilo que produz bem-estar; assim é que temos cháris, querendo
significar ‘graça’, ‘dom, ‘favor, ‘bondade’; charízomai, no sentido de fazer um
dom gratuito, mostrar-se generoso.O sufixo ‘-ma’ exprime na língua grega o
resultado da acão indicada pelo verbo, o seu efeito, o que pode denota r também
o caráter objetivo da concessão e da exeriência da graça.Portanto, o
significado geral e fundamental de ‘chárisma’ poderia ser: dom concedido por
pura benevolência, que é, ao mesmo tempo, o objetivo e o resultado da graça
divina, do presente que Deus faz aos homens.” Em sentido restrito,
os carismas são manifestações extraordinárias do Espírito Santo para proveito
comum do povo de Deus.Eles exercem papel fundamental na evangelização. Padre
Luiz Fernando R. Santana aprofunda o assunto e alerta: “ Paulo tem em alta estima a presença e ação dos dons e carismas do
Espírito na vida da Igreja e dos fiéis batizados, até mesmo exortando a
co¬munidade a quetivesse o cuidado de não extinguir o Espírito, de não
desprezar as profecias, mas de verificar tudo com um discernimento sábio e
só-brio (cf. ITs 5,19-22). Disso inferimos que, para Paulo, os carismas e os
ministérios são os instru-mentais privilegiados na edificação do Corpo de
Cristo e na realização do desígnio de Deus na história; ambas as realidades
possuem igual im¬portância e dignidade, uma vez que emanam do mesmo Espírito e
estão ordenadas, cada uma na¬quilo que lhe é específico, a um mesmo fim.” - Pelo seu próprio
caráter, dom não implica santidade. Na verdade, qualquer pessoa pode receber os
presentes de Deus (cf. At 10,34). Porém, não se pode esquecer que quem não tem
vida espiritual e reta intenção de agradar a Deus, certamente usará mal os
carismas, pois não cultiva a necessária união com Cristo (cf. Jo 15,4-5), para
querer o propósito que Deus quer.
QUANDO, e como UTILIZAR correta e ordenadamente OS CARISMAS?
É difícil precisar em
que momentos utilizar os carismas do Espírito. O seu exercício é quase sempre
oportuno, sobretudo quando as situações o exigem. Sendo a graça do Espírito uma
realidade perene na vida humana, os carismas por sua vez, tornam-se também profusamente
inseridos na vida daqueles que foram
batizados.No entanto, é preciso dizer que os carismas são realidades
atuais e não adquiridas por posse definitiva e meritória. Na realidade é
o Espírito que opera tudo em todos (cf. ICor 12,6-7), a seu querer (ICor
12,8-10). Não seria justo, portanto, atribuir a uma pessoa ou grupo de pessoas
específico a contenção exclusiva de qualquer manifestação carismática.Nem mesmo
se pode dizer que alguém “tem” este ou aquele dom, pois cada manifestação é
única.Mesmo que se processe com muita frequência através de determinadas
pessoas. Talvez ao dom de línguas possa se atribuir um caráter mais perene e
sob controle, por se tratar de um dom de oração, mais para edificação pessoal (cf.I Cor
14,4).Contudo, não se pode cair no equívoco de reduzir os dons do
Espírito a algumas ocasiões especiais. Eles foram dados em profusão nos tempos
atuais. Pode ser cultivada
uma constante expectativa em relação à sua manifestação, como para o
derramamento do Espírito. A missão da Renovação Carismática Católica é evangelizar
a partir do batismo efusivo no Espírito Santo, formando o povo de Deus em
santidade e serviço. Para evangelizar o povo de Deus com a unção Carismática e
particular do Espírito, e no poder do Espírito, portanto, não é algo opcional,
mas essencial da identidade Carismática, desta forma, são necessários e
indispensáveis o uso dos carismas efusos do Espírito Santo de Deus.“A ‘força do
Espírito Santo’ (At 1,8) derramada nos corações dos cristãos, manifestação do
amor e do poder de Deus, provoca uma significativa diferença entre a ação
evangelizadora de uma pessoa que se deixa conduzir por ela e uma que age sem
ela. Aquele que evangeliza com os dons carismáticos multiplica as
possibilidades humanas, com uma caixa amplificadora de ressonância, atingindo
com mais eficiência mais pessoas.Comunidades da Igreja, em todo mundo, tem
gerado e sustentado grande número de evangelistas dedicados, eficientes, com
novo vigor, com nova capacitação, nova alegria, novo jubilo, nova exaltação e louvor,
levando em si o poder transformador do Espírito (cf. ICor 2,1-5) que toca
crianças, jovens, adultos e idosos de todo tipo de raça e cultura”,
cumprindo-se a profecia de Joel neste nosso tempo:
“Então, depois desses eventos, derramarei do
meu Ruwach, Espírito,
sobre todos os povos! Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os idosos
terão sonhos, os jovens ganharão visões. Inclusive sobre os escravos e serviçais
da época, derramarei do meu Espírito naqueles dias...” (Joel 2,28-29)
O uso dos carismas
não é só um direito, é um dever de todos os fiéis,e portanto devem ser
suplicados em humildade, não em vista de si mesmo, mas para edificação do povo
de Deus:
“Da aceitação destes carismas, mesmo dos mais simples, nasce em favor de
cada um dos fiéis (...) o dever de exercê-los para o bem dos homens e a
edificação da Igreja dentro da Igreja e do mundo”.
Pode-se constatar na
prática apostólica que, quando a evangelização é acompanhada de carismas, colhem-se
frutos abundantes: os carismas fazem diferença e são eficazes na evangelização,
quando exercidos na caridade.
OS DONS EFUSOS E O MAIOR DELES: A CARIDADE
Jesus deu o
mandamento do amor: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo” (Jo 15,12-17).
São Paulo apresenta o trabalho apostólico realizado no amor. Não um amor
qualquer, mas o amor “ágape”, amor doação a Cristo e aos irmãos: (Icor 13).Os
capítulos 12 a 14 da carta aos Coríntios, que tratam dos carismas e suas
manifestações, são verdadeiros referenciais para se viver a vida nova, guiada
pelo Espírito Santo, exercendo os seus dons de maneira autêntica e frutuosa.
Eles contêm regras básicas e orientações seguras.Outras recomendações podem ser
encontradas em: Ef 4,15.30; Rm 12,6-8; 13,8-10; e ITess 5,14-15. 19-21.Jesus dá
a regra para verificar o valor do trabalho:“Pelos frutos os conhecereis” (Mt 7,16). São Paulo também fala: “o fruto
do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade,
fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei” (Gl 5,22-23).Dessa forma, o bom
uso dos carismas é garantido pelo amor, que é o dom por excelência e que
atribui sentido aos outros dons. Os carismas, portanto, são fundamentados
na caridade: “Sejam extraordinários, sejam simples e humides, os carismas são graças
do Espírito Santo que, direta ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial,
ordenados que são à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades
do mundo. Os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que os
recebe, mas também por todos os membros da Igreja.São uma maravilhosa riqueza
de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de
Cristo, desde que se trate de dons que provenham verdadeiramente do Espírito
Santo e que sejam exercidos de maneira plenamente conforme aos impulsos
autênticos deste mesmo Espírito, isto é, segundo a caridade, verdadeira medida
dos carismas”. Os carismas devem ser
pedidos com fé e exercidos na humildade.É exatamente por causa do amor que os
dons efusos devem ser almejados. A motivação deve ser o uso em benefício dos
outros, para ajudar o povo de Deus a alcançar a santidade.Por isso, os carismas
devem ser pedidos com fé e sem temor. Embora eles sejam distribuídos conforme
apraz ao Espírito, nada impede que o crente aspire e peça os dons, para que seu
testemunho seja permeado de sinais (cf. ICor 2,4-5). “Só aqueles que reconhecem
o valor dos dons na sua vida cristã e no serviço aos irmãos são impulsionados a
pedi-los ao Pai, como Jesus mesmo nos ensinou: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e
achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que
procura, acha; e ao que bater se lhe abrirá’ (Lc 11,9-10)”.
Para o exercício
prático dos carismas, não se deve esquecer três coisas fundamentais:
1)-HUMILDADE: Deus constituiu a
Igreja como um corpo (cf. ICor 12,12-29), de tal maneira que um carisma só se
pie-nifica no conjunto da comunidade. “Exercer os carismas na humildade é
exercê-los sem exibicionismo, sem buscar prestígio, honra, poder. (...) E
também exercê-los sem auto-suficiência (cf. Mt 18,3-4), sem individualismo,
sabendo que necessitamos da ajuda dos irmãos para confirmar ou discernir a vontade
de Deus para o seu povo...”
2)-NA HARMONIA: O uso dos carismas
será tanto mais saudável e útil quanto as pessoas que a eles se abrirem forem
equilibradas emocionalmente e orantes o suficiente para saber distinguir a ação
do Espírito de eventuais devaneios da pessoa humana.É necessário ter respeito
pêlos dons de Deus; “não podemos exercê-los irresponsável e indiferentemente,
com desprezo, de forma inconsequente, olhando os nossos próprios interesses, ou
dando aos carismas um relevo tão singular e único como se fossem bens totais e
absolutos sobre os quais não há nada mais excelente e primeiro”.
3)- ORDEM: A ordem no exercício
dos carismas é uma extensão da harmonia, mas supõe autoridade e obediência. O cristão
pode ser instrumento da manifestação autêntica do Espírito Santo, mas não deve
esquecer que até o espírito dos profetas deve estar-lhe submisso (cf. ICor
14,32).Portanto, os carismas devem ser exercidos na obediência a Cristo e às
autoridades constituídas. “Mas faça-se tudo com dignidade e ordem” (ICor
1.4,40).
E oportuno destacar
algumas asserções do Magistério da Igreja em relação aos carismas e seu uso:
a. “O Espírito Santo,
ao confiar à Igreja-comu-nhão Nos diversos ministérios, enriquece-a com outros
dons e impulsos especiais, chamados carismas.Podem assumir as mais variadas
formas, tanto como expressão da liberdade absoluta do Espírito que os distribui,
como em resposta às múltiplas exigências da história da Igreja.A descrição e a
classificação que os textos do Novo Testamento fazem desses dons são um sinal
da sua grande variedade”.
b. “ Também em nossos
dias não falta o florescer de diversos carismas entre os fiéis leigos, homens e
mulheres. São dados ao indivíduo, mas também podem ser partilhados por outros,
e de tal modo perse¬veram no tempo como uma herança preciosa e viva, que geram
uma afinidade espiritual entre as pessoas.
c. “Para exercerem
este apostolado (os leigos), o Espírito Santo, que opera a santificação do povo
de Deus por meio do ministério e dos sacramentos, concede também aos fiéis
dons particulares (cf. ICor 12,7), ‘distribuindo-os por cada um conforme lhe
apraz’ (ICor 12,7-11}, a fim de que ‘cada um ponha em serviço dos outros a
graça que recebeu’, e todos atuem ‘como bons administradores da multiforme
graça de Deus’ (IPd 4,10), para a edificação, no amor, do corpo todo. (cf.
Ef4,16). (...) Nenhum carisma está dispensado da sua referência e dependência
dos pastores da Igreja. O Concílio escreve com palavras claras que o juízo
acerca da sua (dos carismas) autenticidade e reto uso pertence àqueles que
presidem a Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito,
mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. ITs 5,12 e 19-21), de modo que
todos os carismas concorram, na sua diversidade e complementaridade, para o bem
comum.As palavras da Igreja tiram o medo e as dúvidas quanto à necessidade e
utilidade dos carismas, bem como o direito que os fiéis leigos têm de usá-los
para o bem comum. O Catecismo da Igreja Católica segue a mesma firme
orientação: “O Espírito Santo é o princípio de toda a ação vital e verdadeiramente salutar
em cada uma das diversas partes do corpo. Ele opera de múltiplas maneiras a
edificação do corpo inteiro na caridade, pela Palavra de Deus (...), pelas
virtudes, que fazem agir segundo o bem, e, enfim, pelas múltiplas graças
especiais (chamadas de ‘carismas’), através das quais ‘torna os fiéis aptos e
prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios que contribuem para a
renovação e maior incremento da Igreja”.
CONCLUSÃO
É importante tomar
consciência de que todo bem, todo dom, todo serviço prestado ao Reino de Deus em
nome de Jesus, acontece sob inspiração do Espírito Santo. Sem Ele nada é eficaz
para o Reino de Deus. “Nunca será possível haver evangelização sem a ação e inspiração do
Espírito”.Os grupos de oração da RCC, e as Novas Comunidades, oriundas da
espiritualidade da RCC, não devem ter medo nem resistir aos dons do Espírito,
mas procurar conhecê-los cada vez mais, para bem melhor utilizar em benefício do povo de Deus, alvo destes dons.
BIBLIOGRAFIA:
-Luis Fernando R.
SANTANA,
Recebereis a forca do Espírito Santo.
-A. VAN DEN BORN, Dicionário enciclopédico
da Bíblia.
-SAGRADA CONGREGAÇÃO
PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instruções sobre as orações para alcançar de Deus a cura.
-Ronaldo José de
SOUSA,
O impacto da Renovação Carismática.
-Conferência Católica
dos EUA,
Declaração pastoral sobre a RCC.
-Killian MCDONNELL e George
Montague, Avivar a Chama.
Fonte: Escola Paulo Apóstolo da RCC do Brasil
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