Missa pelos enfermos
No
missal romano existem muitos formulários de missas para diversas
circunstâncias. Uma delas é a missa pelos enfermos. Além da celebração
do Dia Mundial dos doentes que ocorre no dia de nossa Senhora de Lourdes, em
todas as missas normalmente, muitas intenções são pelos doentes. Nesse
sentido celebramos a missa pela saúde. Aliás, o sacramento da Unção dos
Enfermos, um dos objetivos é rezar pela saúde de quem se encontra doente. Normalmente
os enfermos estão hospitalizados ou em suas residências sem poder fazer grandes
caminhadas. Nesse sentido, os meios de comunicação tornam possível uma
presença da Igreja que reza com eles e por eles. Além, é claro, da presença do
agente da Pastoral da Saúde e do Ministro Extraordinário da Comunhão
Eucarística ou mesmo do Diácono ou do Padre junto ao enfermo, temos essa
possibilidade. É nesse sentido que iniciamos uma celebração especial pelos
enfermos pedindo pela saúde em transmissão pelos meios de comunicação. O
sofrimento humano, incluindo, é óbvio, a doença não faz parte de um plano
castigador de Deus a quem comete o mal ou o pecado, pois os justos também
sofrem e disso a Sagrada Escritura e a vida dos santos, ao longo dos tempos,
dão substanciosas provas. Daí se conclui o seguinte: a dor é algo
decorrente da finitude do ser humano que em sua pequenez reconhece a grandeza
do Criador a fazê-lo apto a superar suas misérias por meio da busca inteligente
de recursos e profissionais capazes de sanar as enfermidades e debilidades,
agindo com amor ao semelhante e não visando só ao lucro ante a desgraça alheia.
No
plano comum ou ordinário, Deus mesmo deixou a natureza com seus muitos recursos
para ajudar o ser humano a curar ou remediar seus males, como bem nos lembra
uma das Campanhas da Fraternidade, que nos levou a refletir sobre a nossa Casa
Comum, o planeta no qual habitamos e deve ser cuidado, não devastado pelos
próprios seres humanos que nele vivemos ou dele nos servimos dentro daquilo que
a natureza proporciona. Explorada adequadamente e com vivo amor ao
semelhante, essa mesma natureza nos oferece muitos remédios ou princípios deles
capazes de nos ajudar depois de passarem pelos trabalhos laboratoriais
específicos. Isso tudo é obra do Criador que deu ao ser humano talento
para descobrir e transformar os bens da natureza em material útil a todos. São
as razões seminais que Santo Agostinho de Hipona († 430) ensina existir.
Segundo essa doutrina, Deus já criou tudo o que precisamos para viver,
resta-nos a descoberta delas. Com efeito, diz o grande gênio da
Filosofia e da Teologia patrística o seguinte: “Todas as coisas que nós vemos já forma criadas originárias e
fundamentalmente em uma espécie de trama dos elementos, mas é preciso a ocasião
favorável para que venham à luz”. Ele
defende uma evolução que é a concretização daquilo que desde sempre fora criado
e bem fixado em uma espécie, de modo que ao homem cabe descobri-las e
explorá-las em favor de si e do seu próximo (G.
Reale; D. Antisseri. História da Filosofia. Vol 1. 7ª ed. São Paulo: Paulus,
2002, p. 452-453).Fazemos votos de que os cientistas, sem se esquecerem da
Lei Natural física e moral se dediquem com esmero ao estudo profundo, à
pesquisa necessária e à descoberta eficaz de remédios para os grandes males de
nosso tempo. Tudo isso, porém, não dispensa ninguém, nem os gestores públicos, de
fazer a sua parte no cuidado com a higiene pessoal e do espaço onde vive, pois
não são poucas nem pequenas as doenças advindas da má conservação do meio em
que vivemos. A responsabilidade é de todos!Deus
deixou com louvores em sua Palavra (cf. Eclo 38,1-6) também para nos ajudar, os
médicos, homens e mulheres que, após anos e anos de estudos com grandes gastos,
juram
na formatura defender sempre a vida acudindo-a independentemente de quem quer
que seja o paciente à sua frente. É um ser humano a necessitar de
atendimento e dessa consulta e triagem pode depender a vida daquele homem ou
daquela mulher a buscar esse tão valorizado profissional em seu consultório
particular, nos prontos-socorros (deem-se a eles o nome que se queira) ou nas
imensas filas da rede pública, sobretudo quando se precisa de um especialista
para solicitar ou ver um exame mais sofisticado em casos complexos. Esses
recursos humanos muito louváveis não dispensam, porém, a busca de Deus pela
oração, elevação da alma a Deus, conforme a precisa definição de São João
Damasceno, Padre da Igreja citado no Catecismo da Igreja Católica n. 2559, sobretudo
pela oração eclesiástica pública por excelência que é a Santa Missa. Ela
(não representa) é a própria imolação de Cristo oferecida de modo cruento na
Cruz que Deus torna presente, de modo incruento, sobre nossos altares.
Em outras palavras, por “mistério da fé”, a oblação de Nosso Senhor no passado
se faz presente a nós a cada vez que celebramos a Eucaristia.Desse modo, logo
se percebe que cada Missa tem valor infinito, uma vez que é o Sacrifício de
Cristo celebrado em pleno século XXI. Daí uma só Missa seria suficiente para dar
as glórias que Deus merece e conseguir aos seres humanos as graças espirituais
e temporais de que mais precisam para sua vida neste mundo e a salvação eterna.
Ocorre, porém, que precisamos ver as duas faces da questão: enquanto oferecida
por Cristo, toda Eucaristia é eficaz para louvar a Deus e obter graças a toda a
humanidade, independentemente do ministro que a preside e dos demais fiéis a
dela tomarem parte, mas, enquanto seres humanos limitados e pecadores que
somos, ao nos unirmos a Cristo oferente ao Pai, tornamos restritos os frutos da
Missa em nós e naqueles pelos quais oferecemos a mesma Missa.Isso, em
termos positivos, é o que lembra a Oração Eucarística I, no chamado “momento
dos vivos”, ao dizer: “Lembrai-vos, ó Pai, dos vossos filhos e filhas NN. E de todos os que circundam este altar, dos quais conheceis a
fidelidade e a dedicação em vos servir. Eles vos oferecem conosco este
sacrifício de louvor por si e por todos
os seus e elevam a Vós as suas preces para alcançar o perdão de suas
faltas, a segurança em suas vidas e a salvação que esperam”. Vê-se
que o texto lembra que só Deus conhece o coração de cada um naquele momento. No
entanto, mesmo sabendo-se limitado e pecador, o ser humano há de ir para a
Missa buscando ter em si os mesmos sentimentos e atitudes puras de Cristo,
conforme já ensinara o Papa Pio XII, na Encíclica Mediator Dei, ao escrever: “Recordem-se todos os fiéis de
que participar do Sacrifício Eucarístico é, para eles, o dever de máxima
dignidade. Façam-no, pois, não de ânimo
superficial ou distraído, mas tão viva e intensamente que se possam unir ao
Sumo Sacerdote, segundo a palavra do Apóstolo: ‘Senti em vós o que Jesus
sentia...’ (Fl 2,5). Assim com Cristo e por Cristo ofereçam, e com Cristo
se ofereçam. Na verdade, Cristo é Sacerdote, não, porém para Si, mas em nosso
favor, pois Ele oferece ao Pai Eterno os anseios e o culto de todo o gênero
humano. Cristo também é Hóstia em nosso
favor, pois Ele se entrega em nome dos homens pecadores. Por conseguinte, as
palavras do Apóstolo ‘Senti em vós o que o Cristo Jesus sentia’ exigem de todos
os cristãos que, na medida do seu possível, tenham em seu íntimo os afetos do
Divino Redentor quando Este se imolava em sacrifício: sejam, pois, humildes e
modestos em seu modo de julgar, e saibam tributar à Majestade de Deus adoração,
honra, louvor e ações de graças. Além disto, os dizeres do Apóstolo pedem que
cada um assuma a condição de hóstia viva, renunciando a si mesmo para se ater
ao Evangelho, pratiquem de bom ânimo obras de penitência e, em atitude de
contrição, prestem expiação por seus pecados. Mais: a exortação do Apóstolo
nos leva a abraçarmos todos a morte mística em Cristo na Cruz, de tal modo que
possamos repetir as palavras de São Paulo: ‘Com Cristo estou pregado à Cruz’
(Gl 2,19).”
Disso decorre que da
celebração da Missa são colhidos três tipos de frutos:
1)- Os gerais: são graças e
benefícios a toda a Igreja e a cada um de seus membros de modo direto; de modo
indireto, beneficia também aqueles que não pertencem visivelmente à Igreja,
visto que Cristo é o salvador de todos;
2)- Os frutos
especiais:
tocam ao celebrante, aos seus ministros e a todos os que participam fisicamente
da Missa.
3)- Frutos
especialíssimos:
graças disposta pela Divina Misericórdia para ser pedida pelos fiéis e
aplicadas na intenção que desejarem.
Daí o
sadio costume do Povo de Deus pedir Missa por um parente ou amigo falecido,
pelos aniversariantes, em ação de graças por um favor recebido de Deus, assim é
a nossa Missa da Saúde. Os frutos especialíssimos atingem os fiéis na
seguinte ordem: primeiro, o ministro (bispo ou padre) que preside a Missa. Ele
é o representante imediato da Igreja na Liturgia; segundo, aqueles que pediram
a Celebração ou nela formularam intenções. Depois do presidente são os
oferentes mais próximos da Igreja; terceiro, os fiéis que estão presentes na
Missa e quarto, todos os fiéis mesmo ausentes ou distantes, pois fazem parte da
Igreja.Isso entendido, se vê a necessidade de se rezar pelos doentes, junto
aos doentes e por todos os que deles cuidam a fim de que lhes seja restituída a
saúde, se for da vontade de Deus, que os cuidadores ou profissionais tenham
paciência e sejam zelosos para com os enfermos e necessitados, especialmente
quando o problema se prolonga por muito tempo e requer cuidados específicos
diários. Pela força da oração é possível conseguir o que as nossas
próprias energias não conseguem.Lembremo-nos também de que importa aos que
cuidam dos doentes invocar sempre a Mãe de Deus, Maria Santíssima, sob o título
de Nossa Senhora da Saúde. Esta devoção, segundo o Pe. Eugênio
Bisinoto, em sua obra: Conheça os títulos de Nossa Senhora, p. 105 (Ed.
Santuário), apareceu no México já nos primeiros tempos da conquista espanhola,
quando os indígenas, sob a orientação de Dom Vasco de Guiroga, primeiro bispo
de Michocán, esculpiram uma imagem da Virgem Maria, em 1538, e lhe foi dado o
título de Nossa Senhora da Saúde.A imagem foi colocada no altar do hospital que
o Bispo edificou em Patzcuaro. Em 8 de dezembro de 1717 foi consagrado o seu
santuário e, em 1899 a mesma imagem foi coroada solenemente. Tal devoção
também estava presente, não se sabe se por influência da América ou não, também
no século XVI quando a grande peste começou a assolar aquele país, chegando, no
ano de 1569 a assolar mais de 600 pessoas por dia, o que era muito para a
época. Tendo diminuído o problema, em 20 de abril de 1570, fizeram procissões,
montaram irmandades, construíram igrejas e deram à Mãe de Deus o honroso título
de Nossa Senhora da Saúde. Essa devoção se espalhou e chega até nós.Desejamos
que a Missa da Saúde desperte e todos e, em especial aos
telespectadores enfermos, para o valor transcendental da vida humana, inspire o
cuidado com os enfermos, no plano material e também espiritual
(chamando para visitá-los o sacerdote que lhes dê a Unção dos Enfermos, ouça-os
em Confissão, reze com eles). A missa poderá ser assistida pela Rede TV em
nível nacional, analógico, digital, a cabo e satélite, assim como pela WebTv
Redentor, pela TV Ultrafarma, pela internet e via satélite. Algumas vezes
poderei presidir, outras, poderá ser o pároco Pe. Omar Raposo ou seu vigário
paroquial Pe. Alexandre Paccioli. Mas, será sempre essa intenção especial.Que
a saúde se difunda sobre a terra e que Nossa Senhora da Saúde rogue a Deus por
todos os doentes a fim de que lhes seja feita a vontade do Pai, e aos sadios
seja dada a força necessária sempre gozarem de boa saúde, e cuidarem daqueles
que mais necessitam.
Autor: Cardeal
Orani João Tempesta
1 Cor 12,5-11: “Ora, há diversidade de dons, porém o Espírito é o mesmo. E há
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de
operações, porém é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do
Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é
dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra do
conhecimento. E a outro, pelo mesmo
Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a
outro, a operação de milagres; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de
discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação de línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas
coisas, repartindo particularmente a cada um como quer...”
Introdução
O
anseio de felicidade, profundamente radicado no coração humano, esteve sempre
associado ao desejo de se libertar da doença e de compreender o seu sentido, quando
se a experimenta. Trata-se de um fenómeno humano que, interessando de uma
maneira ou de outra todas as pessoas, encontra na Igreja particular
ressonância. Esta, de facto, vê a doença como meio de união com Cristo e de
purificação espiritual e, para os que lidam com a pessoa doente, como uma
ocasião de praticar a caridade. Não é só isso porém; como os demais
sofrimentos humanos, a doença constitui um momento privilegiado de oração, seja para
pedir a graça de a receber com espírito de fé e de aceitação da vontade de
Deus, seja também para implorar a cura. A oração que implora o restabelecimento
da saúde é, pois, uma experiência presente em todas as épocas da Igreja e
naturalmente nos dias de hoje. Mas o que constitui um fenómeno sob
certos aspectos novo é o multiplicar-se de reuniões de oração, por vezes
associadas a celebrações litúrgicas, com o fim de alcançar de Deus a cura. Em
certos casos, que não são poucos, apregoa-se a existência de curas alcançadas,
criando assim a expectativa que o fenómeno se repita noutras reuniões do
género. Em tal contexto, faz-se por vezes apelo a um suposto carisma de cura. Essas
reuniões de oração feitas para alcançar curas põem também o problema do seu
justo discernimento sob o ponto de vista litúrgico, nomeadamente por parte da
autoridade eclesiástica, a quem compete vigiar e dar as diretivas oportunas em
ordem ao correto desenrolar das celebrações litúrgicas. Achou-se, portanto, conveniente
publicar uma Instrução, de acordo com o can. 34 do Código de Direito Canónico,
que servisse sobretudo de ajuda aos Ordinários do lugar para melhor poderem
orientar os fiéis neste campo, favorecendo o que nele haja de bom e corrigindo
o que deva ser evitado. Era, porém, necessário que as disposições
disciplinares tivessem como ponto de referência um fundado enquadramento
doutrinal que garantisse a sua justa aplicação e esclarecesse a razão
normativa. A tal fim, fez-se preceder a parte disciplinar com uma parte
doutrinal sobre as graças de cura e as orações para alcançá-las.
I. ASPECTOS
DOUTRINAIS
1.
Doença e cura: seu significado e valor na economia da salvação
«O
homem é destinado à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas
de sofrimento e de dor».(1) Por isso, o Senhor, nas suas promessas de redenção,
anuncia a alegria do coração ligada à libertação dos sofrimentos (cfr. Is
30,29; 35,19; Bar 4,29). Ele é, de facto, «aquele que liberta de todos os
males» (Sab 16,8). Entre os sofrimentos, os provocados pela doença são uma
realidade constantemente presente na história humana, tornando-se, ao mesmo
tempo, objeto do profundo desejo do homem de se libertar de todo o mal. No
Antigo Testamento, «Israel tem a experiência de que a doença está misteriosamente ligada
ao pecado e ao mal».(2) Entre os castigos com que Deus ameaça o povo
pela sua infidelidade, as doenças ocupam espaço de relevo (cfr. Dt
28,21-22.27-29.35). O doente que pede a Deus a cura reconhece que é justamente
castigado pelos seus pecados (cfr. Sal 37; 40; 106,17-21).A doença porém atinge
também os justos e o homem interroga- se sobre o porquê. No livro de Job, essa
interrogação está presente em muitas das suas páginas. «Se é verdade que o
sofrimento tem um sentido de castigo, quando ligado à culpa, já não é verdade
que todo o sofrimento seja consequência da culpa e tenha um carácter de
punição. A figura do justo Job é uma especial prova disso no Antigo Testamento.
(...) Se o Senhor permite que Job seja provado com o sofrimento, fá-lo para
demostrar a sua justiça. O sofrimento tem carácter de prova».(3)A
doença, embora possa ter uma conotação positiva, como demonstração da
fidelidade do justo e meio de reparar a justiça violada pelo pecado, e também
como forma de levar o pecador a arrepender- se, enveredando pelo caminho da
conversão, continua todavia a ser um mal. Por isso, o profeta anuncia os tempos
futuros em que não haverá mais desgraças nem invalidez, e o decurso da vida
nunca mais será interrompido com doenças mortais (cfr. Is 35,5-6; 65,19-20).É
todavia no Novo Testamento que encontra plena resposta a interrogação porque a
doença atinge também os justos. Na atividade pública de Jesus, as suas relações
com os doentes não são casuais, mas constantes. Cura a muitos deles de forma
prodigiosa, tanto que essas curas milagrosas tornam-se uma característica da
sua atividade: «Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas suas
sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e
enfermidades» (Mt 9,35; cfr. 4,23). As curas são sinais da sua missão
messiânica (cfr. Lc 7,20-23). Manifestam a vitória do reino de Deus sobre todas
as espécies de mal e tornam-se símbolo do saneamento integral do homem, corpo e
alma. Servem, de facto, para mostrar que Jesus tem o poder de perdoar
os pecados (cfr. Mc 2,1- 12); são sinais dos bens salvíficos, como a cura do
paralítico de Betsaida (cfr. Jo 5,2-9.19-21) e do cego de nascença (cfr. Jo
9).Também a primeira evangelização, segundo as indicações do Novo Testamento,
era acompanhada de numerosas curas prodigiosas que corroboravam o poder do
anúncio evangélico. Aliás, tinha sido essa a promessa de Jesus ressuscitado, e
as primeiras comunidades cristãs viam nelas que a promessa se cumpria entre
eles: «Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: (...) quando
impuserem as mãos sobre os doentes, ficarão curados» (Mc 16,17-18). A
pregação de Filipe na Samaria foi acompanhada de curas milagrosas: «Filipe
desceu a uma cidade da Samaria e começou a pregar o Messias àquela gente. As
multidões aderiam unanimemente às palavras de Filipe, ao ouvi-las e ao ver os
milagres que fazia. De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando
enormes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados» (Atos 8,5-7). São
Paulo apresenta o seu anúncio do Evangelho como sendo caracterizado por sinais
e prodígios realizados com o poder do Espírito: «não ousaria falar senão do que
Cristo realizou por meu intermédio, para levar os gentios à obediência da fé,
pela palavra e pela ação, pelo poder dos sinais e prodígios, pelo poder do
Espírito» (Rom 15,18-19; cfr. 1 Tes 1,5; 1 Cor 2,4-5). Não é por nada
arbitrário supor que muitos desses sinais e prodígios, manifestação do poder
divino que acompanhava a pregação, fossem curas prodigiosas. Eram
prodígios que não estavam ligados exclusivamente à pessoa do Apóstolo, mas que
se manifestavam também através dos fiéis: «Aquele que vos dá o Espírito
e realiza milagres entre vós procede assim por cumprirdes as obras da Lei ou
porque ouvistes a mensagem da fé?» (Gal 3,5). A
vitória messiânica sobre a doença, aliás como sobre outros sofrimentos humanos,
não se realiza apenas eliminando-a com curas prodigiosas, mas também com o sofrimento
voluntário e inocente de Cristo na sua paixão, e dando a cada homem a
possibilidade de se associar à mesma. De facto, «o próprio Cristo, embora
fosse sem pecado, sofreu na sua paixão penas e tormentos de toda a espécie e
fez seus os sofrimentos de todos os homens: cumpria assim quanto d'Ele havia
escrito o profeta Isaías (cfr. Is 53,4-5)».(4) Mais, «Na cruz de Cristo não só
se realizou a Redenção através do sofrimento, mas também o próprio sofrimento
humano foi redimido. (...) Realizando a Redenção mediante o sofrimento, Cristo
elevou ao mesmo tempo o sofrimento humano ao nível de Redenção. Por isso, todos
os homens, com o seu sofrimento, se podem tornar também participantes do
sofrimento redentor de Cristo».(5) A
Igreja acolhe os doentes, não apenas como objeto da sua solicitude amorosa, mas
também reconhecendo neles a chamada «a viver a sua vocação humana e cristã e a
participar no crescimento do Reino de Deus com novas modalidades e mesmo mais
preciosas. As palavras do apóstolo Paulo hão de tornar-se programa e, ainda
mais, a luz que faz brilhar aos seus olhos o significado de graça da sua
própria situação: "Completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo, em
benefício do seu corpo que é a Igreja" (Col 1,24). Precisamente ao
fazer tal descoberta, encontrou o apóstolo a alegria: "Por isso, alegro-
me com os sofrimentos que suporto por vossa causa" (Col 1,24)».(6)
Trata-se da alegria pascal, que é fruto do Espírito Santo. Como São Paulo,
também «muitos doentes podem tornar-se veículo da "alegria do Espírito
Santo em muitas tribulações" (1 Tes 1,6) e ser testemunhas da ressurreição
de Jesus».(7)
2. O
desejo da cura e a oração para alcançá-la
Salva
a aceitação da vontade de Deus, o desejo que o doente sente de ser curado é bom
e profundamente humano, sobretudo quando se traduz em oração confiante dirigida
a Deus. O Ben-Sirá exorta a fazê-lo: «Filho, não desanimes na doença, mas reza
ao Senhor e Ele curar-te-á» (Sir 38,9). Vários salmos são uma espécie de
súplica de cura (cfr. Sal 6; 37; 40; 87).Durante a atividade pública de Jesus,
muitos doentes a Ele se dirigem, ou diretamente ou através de seus amigos e
parentes, implorando a recuperação da saúde. O Senhor acolhe esses pedidos, não
se encontrando nos Evangelhos o mínimo aceno de reprovação dos mesmos. A
única queixa do Senhor refere-se à eventual falta de fé: «Se posso? Tudo é
possível a quem acredita» (Mc 9,23; cfr. Mc 6,5-6; Jo 4,48).Não só é
louvável a oração de todo o fiel que pede a cura, sua ou alheia, mas a própria
Igreja na sua liturgia pede ao Senhor pela saúde dos enfermos. Antes de mais,
tem um sacramento «destinado de modo especial a confortar os que sofrem com a
doença: a Unção dos enfermos».(8) «Nele, por meio da unção e da oração dos
presbíteros, a Igreja recomenda os doentes ao Senhor padecente e glorificado
para que os alivie e salve».(9) Pouco antes, na bênção da óleo, a Igreja reza:
«derramai a vossa santa bênção para que [o óleo] sirva a quantos forem com ele
ungidos de auxílio do corpo, da alma e do espírito, para alívio de todas as
dores, fraquezas e doenças»;(10) e, a seguir, nos dois primeiros formulários da
oração após a Unção, pede-se mesmo a cura do enfermo.(11) A cura, uma vez que o sacramento
é penhor e promessa do reino futuro, é também anúncio da ressurreição, quando
«não haverá mais morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo
desapareceu» (Ap 21,4). Por sua vez, o Missale Romanum contém uma Missa
pro infirmis, onde, além de graças espirituais, se pede a saúde dos
doentes.(12)No De benedictionibus do Rituale Romanum existe um Ordo
benedictionis infirmorum que contém diversos textos eucológicos para implorar a
cura: no segundo formulário das Preces,(13) nas quatro Orationes benedictionis
pro adultis,(14) nas duas Orationes benedictionis pro pueris,(15) na oração do
Ritus brevior.(16) É
óbvio que o recurso à oração não exclui, antes encoraja, o emprego dos meios
naturais úteis a conservar e a recuperar a saúde e, por outro lado, estimula os
filhos da Igreja a cuidar dos doentes e a aliviá-los no corpo e no espírito,
procurando vencer a doença. Com efeito, «reentra no próprio plano de Deus e da
sua Providência que o homem lute com todas as forças contra a doença em todas
as suas formas e se esforce, de todas as maneiras, por manter-se em saúde».(17)
3. O
carisma da cura no Novo Testamento
Não
só as curas prodigiosas confirmavam o poder do anúncio evangélico nos tempos
apostólicos; o próprio Novo Testamento fala de uma verdadeira e própria
concessão aos Apóstolos e aos outros primeiros evangelizadores de um poder de
curar as enfermidades em nome de Jesus. Assim, ao enviar os Doze para a sua
primeira missão, o Senhor, segundo a narração de Mateus e de Lucas,
concede-lhes «o poder de expulsar os espíritos impuros e de curar todas as
doenças e enfermidades» (Mt 10,1; cfr. Lc 9,1) e dá-lhes a ordem: «Curai os
enfermos, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demónios» (Mt
10,8). Também na primeira missão dos setenta e dois, a ordem do Senhor é:
«curai os enfermos que aí houver» (Lc 10,9). O poder, portanto, é concedido
dentro de um contexto missionário, não para exaltar as pessoas enviadas, mas
para confirmar a sua missão.Os Atos dos Apóstolos referem de modo
genérico prodígios operados por estes: «inúmeros prodígios e milagres realizados
pelos Apóstolos» (Atos 2,43; cfr. 5,12). Eram prodígios e sinais e, portanto,
obras portentosas que manifestavam a verdade e a força da sua missão. Mas, além
destas breves indicações genéricas, os Actos referem sobretudo curas
milagrosas, realizadas pelos evangelizadores individualmente: Estêvão (cfr. Atos
6,8), Filipe (cfr. Atos 8,6-7) e sobretudo Pedro (cfr. Atos 3,1-10; 5,15;
9,33-34.40-41) e Paulo (cfr. Atos 14,3.8-10; 15,12; 19,11-12; 20,9-10; 28,8-9).Quer
a parte final do Evangelho de Marcos quer a Carta aos Gálatas, como antes se
viu, alargam a perspectiva e não circunscrevem as curas prodigiosas à atividade
dos Apóstolos e de alguns evangelizadores que tiveram papel de relevo na
primeira missão. Neste particular contexto, são de extrema importância as
referências aos «carisma de cura» (1 Cor 12,9.28.30). O significado de carisma
é, por si, muito amplo: o de «dom generoso»; no caso em questão, trata-se de
«dons de curas obtidas». Estas graças, no plural, são atribuídas a um único
sujeito (cfr. 1 Cor 12,9) e, portanto, não se devem entender em sentido
distributivo, como curas que cada um dos curados recebe para si mesmo; devem,
invés, entender-se como dom concedido a uma determinada pessoa de obter graças
de curas em favor de outros. É dado in uno Spiritu, sem contudo se especificar
o modo como essa pessoa obtém as curas. Não seria descabido subentender que o seja
através da oração, talvez acompanhada de algum gesto simbólico. Na
Carta de São Tiago, faz-se aceno a uma intervenção da Igreja, através dos
presbíteros, em favor da salvação, mesmo em sentido físico, dos doentes. Não se
dá, porém, a entender se se trata de curas prodigiosas: estamos num contexto
diferente do dos «carismas de curas» da 1 Cor 12,9. «Algum de vós está doente?
Chame os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com o óleo em
nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o confortará e, se
tiver pecados, ser-lhe-ão perdoados» (Tg 5,14-15). Trata-se de um ato
sacramental: unção do doente com óleo e oração sobre ele, não simplesmente «por
ele», como se fosse apenas uma oração de intercessão ou de súplica. Mais
propriamente, trata-se de uma ação eficaz sobre o enfermo. (18) Os verbos
«salvará» e «confortará» não exprimem uma ação que tenha em vista,
exclusivamente ou sobretudo, a cura física, mas de certo modo incluem-na. O
primeiro verbo, se bem que nas outras vezes que aparece na dita Carta se refira
à salvação espiritual (cfr. 1,21; 2,14; 4,12; 5,20), é também usado no Novo
Testamento no sentido de «curar» (cfr. Mt 9,21; Mc 5,28.34; 6,56; 10,52; Lc
8,48); o segundo verbo, embora assuma por vezes o sentido de «ressuscitar»
(cfr. Mt 10,8; 11,5; 14,2), também é usado para indicar o gesto de «levantar» a
pessoa que está acamada por causa de uma doença, curando-a de forma prodigiosa
(cfr. Mt 9,5; Mc 1,31; 9,27; Actos 3,7).
4. As
orações para alcançar de Deus a cura, na Tradição
Os
Padres da Igreja consideravam normal que o crente pedisse a Deus, não só a
saúde da alma, mas também a do corpo. A propósito dos bens da vida, da saúde e
da integridade física, Santo Agostinho escrevia: «É preciso rezar para que nos
sejam conservados, quando se os tem, e que nos sejam concedidos, quando não se
os tem».(19) O mesmo Padre da Igreja deixou-nos o testemunho da cura de
um amigo, alcançada graças às orações de um bispo, de um sacerdote e de alguns
diáconos na sua casa.(20)A mesma orientação se encontra nos ritos litúrgicos,
tanto ocidentais como orientais. Numa oração depois da Comunhão, pede-se que
«este sacramento celeste nos santifique totalmente a alma e o corpo».(21) Na
solene liturgia da Sexta-Feira Santa convida-se a rezar a Deus Pai todo-poderoso
para que «afaste as doenças... dê saúde aos enfermos».(22) Entre os textos mais
significativos, destaca-se o da bênção do óleo dos enfermos. Nele pede-se a
Deus que derrame a sua santa bênção sobre o óleo, a fim de que «sirva a quantos
forem com ele ungidos de auxílio do corpo, da alma e do espírito, para alívio
de todas as dores, fraquezas e doenças».(23)Não são
diferentes as expressões que se lêem nos rituais orientais da Unção dos
enfermos.
Citamos apenas alguns dos mais significativos. No rito bizantino, durante a
unção do enfermo reza-se: «Pai Santo, médico das almas e dos corpos, Vós que
enviastes o vosso Filho unigénito Jesus Cristo para curar de toda a doença e
libertar-nos da morte, curai também, pela graça do vosso Cristo, este vosso servo
da enfermidade do corpo e do espírito que o aflige».(24) No rito copto pede-se
ao Senhor que abençoe o óleo para que todos os que com ele forem ungidos possam
alcançar a saúde do espírito e do corpo. Depois, durante a unção do enfermo, os
sacerdotes, depois de terem mencionado Jesus Cristo, mandado ao mundo «para
curar todas as enfermidades e libertar da morte», pedem a Deus «que cure o
enfermo das enfermidades do corpo e lhe indique o recto caminho».(25)
5. O «carisma de
cura» no contexto atual
No
decorrer dos séculos da história da Igreja, não faltaram santos taumaturgos que
realizaram curas milagrosas. O fenómeno,
portanto, não estava circunscrito ao tempo apostólico. O chamado
«carisma de cura», sobre o qual convém hoje dar alguns esclarecimentos
doutrinais, não fazia parte porém desses fenómenos taumaturgos. O
problema põe- se sobretudo com as reuniões de oração que os acompanham, organizadas
no intuito de obter curas prodigiosas entre os doentes que nelas participam,
ou então com as orações de cura que, com o mesmo fim, se fazem a seguir à
Comunhão eucarística.As curas ligadas aos lugares de oração (nos
santuários, junto de relíquias de mártires ou de outros santos, etc.) são
abundantemente testemunhadas ao longo da história da Igreja. Na antiguidade
e na idade média, contribuíram para concentrar as peregrinações em determinados
santuários, que se tornaram famosos também por essa razão, como o de São
Martinho de Tours, ou a catedral de Santiago de Compostela e tantos outros. O
mesmo acontece na atualidade, como, por exemplo, há mais de um século com
Lourdes. Estas curas não comportam um «carisma de cura», porque não estão
ligadas a um eventual detentor de tal carisma, mas há que tê-las em conta ao
procurar ajuizar, sob o ponto de vista doutrinal, as referidas reuniões de
oração.No que concerne as reuniões de oração feitas com a finalidade
precisa de alcançar curas, finalidade, se não dominante, ao menos certamente
influente na programação das mesmas, convém distinguir entre as que possam dar a
entender um «carisma de cura», verdadeiro ou aparente, e as que nada têm a ver
com esse carisma. Para que possam estar ligadas a um eventual carisma,
é necessário que nelas sobressaia, como elemento determinante para a eficácia
da oração, a intervenção de uma ou várias pessoas individualmente ou de uma
categoria qualificada, por exemplo, os dirigentes do grupo que promove a
reunião.Não havendo relação com o «carisma de cura», é óbvio que as
celebrações previstas nos livros litúrgicos, se realizadas em conformidade com
as normas litúrgicas, são lícitas e até muitas vezes oportunas, como é o caso
da Missa pro infirmis. Quando não respeitarem as normas litúrgicas, perdem a
sua legitimidade.Nos
santuários são também frequentes outras celebrações que, por si, não se
destinam especificamente a implorar de Deus graças de curas, mas que nas
intenções dos organizadores e dos que nelas participam têm, como parte
importante da sua finalidade, a obtenção de curas.Com esse objetivo, costumam fazer-se celebrações litúrgicas, como é o
caso da exposição do Santíssimo Sacramento com bênção, ou não litúrgicas, mas
de piedade popular, que a Igreja encoraja, como pode ser a solene reza do
Terço. Também estas celebrações são legítimas, uma vez que não se altere o seu
significado autêntico. Por exemplo, não se deveria pôr
em primeiro plano o desejo de alcançar a cura dos doentes, fazendo com que a
exposição da Santíssima Eucaristia venha a perder a sua finalidade; esta, de fato, «leva a reconhecer nela a admirável presença
de Cristo e convida à íntima união com Ele, união que atinge o auge na
comunhão sacramental».(26) O
«carisma de cura» não se atribui a uma determinada categoria de fiéis. É,
aliás, bem claro que São Paulo, quando se refere aos diversos carismas em 1 Cor
12, não
atribui o dom dos «carismas de cura» a um grupo particular: ao dos apóstolos ou
dos profetas, ao dos mestres ou dos que governam, ou a outro qualquer. A lógica
que preside à sua distribuição é, invés, outra: «é um só e mesmo Espírito que
faz tudo isto, distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada» (1 Cor
12,11). Por conseguinte, nas reuniões de oração organizadas com o
intuito de implorar curas, seria completamente arbitrário atribuir um «carisma
de cura» a uma categoria de participantes, por exemplo, aos dirigentes do
grupo. Dever-se-ia confiar apenas na vontade totalmente livre do Espírito
Santo, que dá a alguns um especial carisma de cura para manifestar a força da
graça do Ressuscitado. Há que recordar, por outro lado, que nem as orações mais intensas alcançam a cura de todas as
doenças. Assim São Paulo tem de
aprender do Senhor que «basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se
manifesta todo o meu poder» (2 Cor 12,9) e que os sofrimentos que se têm de
suportar podem ter o mesmo sentido do «completo na minha carne o que falta à
paixão de Cristo, em benefício do seu corpo que é a Igreja» (Col 1,24).
II.
DISPOSIÇÕES DISCIPLINARES
Art.
1 - Todo
o fiel pode elevar preces a Deus para alcançar a cura. Quando estas se
fazem numa igreja ou noutro lugar sagrado, convém que seja um ministro ordenado a
presidi-las.
Art.
2 - As orações de cura têm a qualificação de litúrgicas, quando inseridas nos
livros litúrgicos aprovados pela autoridade competente da Igreja; caso
contrário, são orações não litúrgicas.
Art.
3 - § 1. As orações de cura litúrgicas celebram-se segundo o rito prescrito e
com as vestes sagradas indicadas no Ordo benedictionis infirmorum do Rituale
Romanum.(27)
§
2. As Conferências Episcopais, em conformidade com quanto estabelecido nos
Praenotanda, V, De aptationibus quae Conferentiae Episcoporum competunt(28) do
mesmo Rituale Romanum, podem fazer as adaptações ao rito das
bênçãos dos enfermos, que considerarem pastoralmente oportunas ou eventualmente
necessárias, com prévia revisão da Sé Apostólica.
Art. 4 - § 1. O Bispo diocesano(29) tem o direito de emanar para a
própria Igreja particular normas sobre as celebrações litúrgicas de cura,
conforme o can. 838, § 4.
§
2. Os que estão encarregados de preparar ditas celebrações litúrgicas, deverão
ater-se a essas normas na realização das mesmas.
§
3. A
licença de realizar ditas celebrações tem de ser explícita, mesmo
quando organizadas por Bispos ou Cardeais ou estes nelas participem. O
Bispo diocesano tem o direito de negar tal licença a qualquer Bispo, sempre que
houver uma razão justa e proporcionada.
Art.
5 - § 1. As orações de cura não litúrgicas realizam-se
com modalidades diferentes das celebrações litúrgicas, tais como encontros de
oração ou leitura da Palavra de Deus, salva sempre a vigilância do Ordinário do
lugar, em conformidade com o can. 839, § 2.
§
2. Evite-se cuidadosamente confundir estas orações livres não litúrgicas
com as celebrações litúrgicas propriamente ditas.
§
3. É necessário, além disso, que na sua execução não se chegue, sobretudo por
parte de quem as orienta, a formas parecidas com o histerismo, a
artificialidade, a teatralidade ou o sensacionalismo.
Art.
6 - O
uso de instrumentos de comunicação social, nomeadamente a televisão, durante as
orações de cura, tanto litúrgicas como não litúrgicas, é submetido à vigilância
do Bispo diocesano, em conformidade com o estabelecido no can. 823 e
com as normas emanadas pela Congregação para a Doutrina da Fé na Instrução de
30 de Março de 1992.(30)
Art.
7 - § 1. Mantendo-se em vigor quanto acima disposto no art. 3 e salvas as funções
para os doentes previstas nos livros litúrgicos, não devem inserir-se orações de
cura, litúrgicas ou não litúrgicas, na
celebração da Santíssima Eucaristia, dos Sacramentos e da Liturgia das Horas.
§
2. Durante as celebrações, a que se refere o art. 1, é permitido inserir na oração
universal ou «dos fiéis» intenções especiais de oração pela cura dos doentes,
quando esta for nelas prevista.
Art.
8 - § 1. O ministério do exorcismo deve ser exercido na estreita dependência do
Bispo diocesano e, em conformidade com o can. 1172, com a Carta da
Congregação para a Doutrina da Fé de 29 de Setembro de 1985(31) e com o Rituale
Romanum.(32)
§
2. As orações de exorcismo, contidas no Rituale Romanum, devem manter-se
distintas das celebrações de cura, litúrgicas ou não litúrgicas.
§
3. É absolutamente proibido inserir tais orações na celebração da Santa Missa,
dos Sacramentos e da Liturgia das Horas.
Art. 9
- Os que presidem às celebrações de cura, litúrgicas ou
não litúrgicas, esforcem-se por manter na assembleia um clima de serena
devoção, e atuem com a devida prudência, quando se verificarem curas entre os
presentes. Terminada a celebração, poderão recolher,
com simplicidade e precisão, os eventuais testemunhos e submeterão o fato à
autoridade eclesiástica competente.
Art.
10 - A intervenção da autoridade do Bispo diocesano é obrigatória e necessária,
quando se verificarem abusos nas celebrações de cura, litúrgicas ou não
litúrgicas, em caso de evidente escândalo para a comunidade dos fiéis ou quando
houver grave inobservância das normas litúrgicas e disciplinares.
O
Sumo Pontífice João Paulo II, na Audiência concedida ao abaixo assinado
Prefeito, aprovou a presente Instrução, decidida na reunião ordinária
desta Congregação, e mandou que fosse publicada.
Roma,
Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 14 de Setembro de 2000, Festa da
exaltação da Santa Cruz.
+
Joseph Card. RATZINGER,
Prefeito
+
Tarcisio BERTONE, S.D.B.,
Arc. Emérito de
Vercelli,
Secretário
REFERÊNCIAS
(1)
JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Christifideles laici, n. 53, AAS 81(1989),
p. 498.
(2)
Catecismo da Igreja Católica, n. 1502.
(3)
JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Salvifici doloris, n. 11, AAS, 76(1984), p. 12.
(4)
Rituale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II
instauratum, Auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Ordo Unctionis Infirmorum
eorumque Pastoralis Curae, Editio typica, Typis Polyglottis Vaticanis,
MCMLXXII, n. 2.
(5)
JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Salvifici doloris, n. 19, AAS, 76(1984), p.
225.
(6)
JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Christifideles laici, n. 53, AAS 81(1989),
p. 499.
(7)
Ibid., n. 53.
(8)
Catecismo da Igreja Católica, n. 1511.
(9)
Cfr. Rituale Romanum, Ordo Unctionis Infirmorum eorumque Pastoralis Curae, n.
5.
(10) Ibid., n. 75.
(11) Cfr. Ibid., n. 77.
(12)
Missale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II
instauratum, Auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Editio typica altera, Typis
Polyglottis Vaticanis, MCMLXXV, pp. 838- 839.
(13)
Cfr. Rituale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II
instauratum, Auctoritate Ioannis Pauli II promulgatum, De Benedictionibus,
Editio typica, Typis Polyglottis Vaticanis, MCMLXXXIV, n. 305.
(14)
Cfr. Ibid., nn. 306-309.
(15)
Cfr. Ibid., nn. 315-316.
(16)
Cfr. Ibid., n. 319.
(17)
Rituale Romanum, Ordo Unctionis Infirmorum eorumque Pastoralis Curae, n. 3.
(18)
Cfr. CONCILIO DE TRENTO, sessão XIV, Doctrina de sacramento extremae unctionis,
cap. 2: DS, 1696.
(19)
AUGUSTINUS IPPONIENSIS, Epistulae 130, VI,13 (PL 33,499).
(20)
Cfr. AUGUSTINUS IPPONIENSIS, De Civitate Dei 22, 8,3 (PL 41,762-763).
(21)
Cfr. Missale Romanum, p. 563.
(22)
Ibid., Oratio universalis, n. X (Pro tribulatis), p. 256.
(23)
Rituale Romanum, Ordo Unctionis Infirmorum eorumque Pastoralis Curae, n. 75.
(24)
GOAR J., Euchologion sive Rituale Graecorum, Venetiis 1730 (Graz 1960), n. 338.
(25)
DENZINGER H., Ritus Orientalium in administrandis Sacramentis, vv. I-II,
Würzburg 1863 (Graz 1961), v. II, 497-498.
(26)
Rituale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II
instauratum, Auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, De Sacra Communione et de
Cultu Mysterii Eucharistici Extra Missam, Editio typica, Typis Polyglottis Vaticanis,
MCMLXXIII, n. 82.
(27)
Cfr. Rituale Romanum, De Benedictionibus, nn. 290-320.
(28)
Ibid., n. 39.
(29)
E quantos a ele são equiparados em virtude do can. 381, § 2.
(30)
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução Il Concilio Vaticano II, Sobre
alguns aspectos do uso dos instrumentos de comunicação social para a promoção
da doutrina da fé, Cidade do Vaticano [1992].
(31)
CONGREGATIO PRO DOCTRINA FIDEI, Epistula Inde ab aliquot annis, Ordinariis
locorum missa: in mentem normae vigentes de exorcismis revocantur, 29
septembris 1985, in AAS 77(1985), pp. 1169-1170.
(32)
Cfr. Rituale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II
instauratum, Auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, De exorcismis et
supplicationibus quibusdam, Editio typica, Typis Vaticanis, MIM, Praenotanda,
nn. 13-19.
Fonte: Vatican.va
Apostolado
Berakash - A serviço da Verdade!
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.