Infelizmente,
contrariando a Evangelho, padres, religiosos e leigos ditos Cristãos que foram
apoiar a guerrilha do Aragauia, díga-se de passagem, não foram lá para pregar o amor e
a boa Nova de Cristo, mas foram dispostos a matar e organizar o povo para a
guerrilha, e em nome da justiça, acabaram cometendo grandes injustiças
instrumentalizando aquele povo simples em prol de uma causa ideológica fracassada.
O Cristão a exemplo de Cristo não mata, mas dar a vida, pois Cristo não disse:
Ide e matai-vos uns aos outros, mas amai-vos uns aos outros. A violência só
gera ódio, ressentimentos e mais violência.
A Guerrilha do Araguaia
- Narrativa da Esquerda
Araguaia foi um movimento
guerrilheiro de EXTREMA ESQUERDA, existente na região amazônica brasileira, ao longo do rio
Araguaia, entre fins da década de 60 e a primeira metade da década de 70.
Criada pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), uma dissidência armada do
Partido Comunista Brasileiro (PCB), tinha como o objetivo fomentar uma
revolução socialista, a ser iniciada no campo, baseado nas experiências
vitoriosas da Revolução Cubana e da Revolução Chinesa. Combatida pelo exército a
partir de 1972, quando vários de seus integrantes já haviam se estabelecido na
região há pelo menos seis anos, o palco das operações de combate entre a
guerrilha e o Exército se deu onde os estados de Goiás, Pará e Maranhão faziam
fronteira. Seu nome vem do fato de se localizar às margens do rio Araguaia,
próximo às cidades de São Geraldo e Marabá no Pará e de Xambioá, no norte de
Goiás (região onde atualmente é o norte do Estado de Tocantins, também
denominada como Bico do Papagaio).Estima-se que o movimento, que
pretendia derrubar o governo militar, fomentando um levante da população,
primeiro rural e depois urbana, e
instalar um governo comunista no Brasil, era composto por cerca de oitenta
guerrilheiros sendo que, destes, menos de vinte
sobreviveram, entre eles, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT),
José Genoíno, que foi detido pelo Exército em 1972, ainda na primeira
fase das operações militares. A grande maioria dos combatentes, formada
principalmente por ex-estudantes universitários e profissionais liberais, foi
morta em combate na selva ou executada após sua prisão pelos militares, durante
as operações finais, em 1973 e 1974.Mais de cinquenta deles são considerados
ainda hoje como desaparecidos políticos.Desconhecida do
restante do país à época em que ocorreu, protegida por uma cortina de silêncio
e censura a que o movimento e as operações militares contra ela foram
submetidos, os detalhes sobre a guerrilha só começaram a aparecer cerca de vinte
anos após sua extinção pelas Forças Armadas, já no período de redemocratização.
A Extrema Esquerda através do PCdoB chega ao Araguaia
Nos anos 60 do século
XX, a região ao longo do qual corre o rio Araguaia era habitada por brasileiros
em sua maioria vindos de outras regiões, principalmente do nordeste do país.
Eram homens atrás de terras para o cultivo, garimpeiros atrás de pedras
preciosas, caçadores atrás de peles de animais, migrantes procurando todo tipo
de trabalho e riqueza que aquelas áreas virgens pudessem oferecer. Famílias
inteiras, fugindo da seca nordestina, trabalhavam em fazendas por menos de um
salário minimo.Muitos
plantavam mandioca e castanha-do-pará, a maioria analfabetos e explorados pelos
poucos proprietários de terra, grileiros do lugar. Era o local ideal, segundo o
PCdoB, para o início de uma revolta popular.Ponto de partida de uma
guerra sem data marcada para começar, a mata também servia para esconder
opositores políticos procurados em todas as áreas urbanas do Brasil pela
ditadura militar. A partir de 1967, os primeiros combatentes começaram a chegar
a área, vindos do sul, sudeste e do Maranhão, onde já se haviam instalado,
entre eles:
-João Amazonas, o líder
máximo do Partido Comunista.
-Elza Monnerat.
-Maurício Grabois, seu
filho André Grabois, seu genro Gilberto Olímpio Maria.
-O médico João Carlos
Haas Sobrinho.
-O gigante negro,
engenheiro e campeão de boxe Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, entre outros.
Entre 1967 e 1971,
transformaram-se em habitantes locais, abrindo pequenos comércios, bares,
prestando pequenos atendimentos médicos de casa em casa, fazendo partos,
caçando, pescando, plantando, transportando pessoas e víveres em canoas,
abrindo uma farmácia, dando aulas para moradores e fazendo propaganda política
em pequenas reuniões, inseridos na pequena e humilde sociedade local. Eram
chamados pelos caboclos de 'paulistas'.Da
primeira dezena que havia chegado em 1967/68, no começo da década de 70 o grupo
já contava de mais de sessenta militantes, homens e mulheres, vindos de
diversos lugares do Brasil, quase todos jovens estudantes ou profissionais
liberais, em preparação para uma revolução, que acreditavam, teria início ali. Usando
codinomes, eram 'Cid', 'Mário', 'João', 'Dr.Juca', 'Dona Maria', 'Dina',
'Baianinha', 'Regina', 'Sônia', 'Zeca Fogoió', 'Mariadina' e 'Cazuza', entre
outros, para os moradores do Araguaia, na região entre Xambioá e Marabá.Não era até então uma
guerrilha. Com poucas armas a poucos integrantes, a direção do PCdoB acreditava
que com mais um ou dois anos de preparação, seria possível deflagar
a guerra de guerrilha rural revolucionária que era uma linha política do
Partido, adepto da luta armada, desde 1962. Uma fuga e uma prisão feita em Fortaleza, bem longe
dali, entretanto, faria com que os serviços de inteligência das Forças Armadas
tomassem conhecimento dos guerrilheiros do Araguaia, antes do previsto e
desejado.
Preparação do Exército
e da Guerrilha
Na época as Forças
Armadas iniciaram um estudo para efetuar as operações antiguerrilha. Estas
foram envolvidas de um planejamento executado em sigilo e que durou em torno de
dois anos. Segundo os militares, era indesejável a eclosão de outros movimentos
semelhantes em outras regiões do Brasil, pois isto ocasionaria uma eclosão de
violência na região rural, o que poderia vir a gerar uma desestabilização do
Estado. A preparação dos guerrilheiros do PC do B remonta ainda ao ano
de 1964, quando os primeiros elementos iniciaram a formação político-militar na
China, visto que o Partido adotou a linha de guerra
popular prolongada de inspiração maoista, avesso as outras organizações de
esquerda armada que advogaram o foquismo guevarista e se aproximaram de Cuba (como a ALN, MR-8, MOLIPO e
VPR), esta também com apoio argelino.
Na época em que Emílio
Garrastazu Médici era presidente do Brasil, as operações militares foram
executadas de maneira sigilosa e era proibida a divulgação da existência de um
movimento guerrilheiro no interior do país. Portanto, devido à censura,
acertadamente, nunca foi autorizada a
publicação de detalhes sobre a guerrilha e sempre se afirmou que os documentos
da operação haviam sido destruídos. No entanto, durante as polêmicas
ocasionadas no governo Lula em relação à abertura de arquivos do período
militar, foi descoberto que boa parte dos materiais foi preservada. Ernesto
Geisel, após assumir o comando do governo do Brasil, também não autorizou a
divulgação da existência de tal guerrilha, ficando desta forma a população
brasileira alheia ao conhecimento dessa movimentação. Por isso, a única menção
feita por Geisel a respeito da existência de um movimento guerrilheiro no
interior do Brasil se deu em 1975.
Mobilização
Para combater os 79
guerrilheiros do PCdoB, houve a mobilização de cinco mil soldados brasileiros,
em três fases distintas que se prolongaram até 25 de dezembro de 1974, data em
que o movimento insurgente foi definitivamente extinto. Os soldados brasileiros
que participaram das operações iniciais desconheciam a sua missão e foram
comandados pelo general Antônio Bandeira.
Teatro de operações, comandantes militares e líderes
guerrilheiros
Para preparar o teatro
de operações, o comandante mandou construir uma rodovia com cerca de 30 km de
extensão. Segundo os militares ela era necessária para que fosse executado o
deslocamento de tropas.A
área dominada pelos guerrilheiros abrangia em torno de sete mil quilômetros
quadrados, indo da cidade de Xambioá até no sul do Pará, nas proximidades de
Marabá. O general Olavo Viana
Moog exerceu o comando tático das operações e o general Hugo Abreu também
comandou ações para pôr fim ao movimento. Do lado da guerrilha, os principais
comandantes foram Maurício Grabois e João Amazonas, que eram oriundos do PCB e
que haviam sido presos na década de 1930 durante a imposição do Estado Novo.
Identidades e atividades preparatórias da guerrilha
Por uma questão de
segurança do grupo, os guerrilheiros não tinham identificações. Seus nomes
nunca eram revelados, usando desta forma nomes e identificações falsas. Sabe-se
porém, que muitos eram estudantes e profissionais liberais que haviam
participado de manifestações (passeatas) contra o regime na década de 1960.
Sabe-se por relatos dos poucos que sobreviveram que muitos tinham sido
torturados e presos anteriormente pelo regime por não concordar com uma
ditadura comandando o Brasil, e por querer implementar o comunismo no Brasil.UM
DETALHE IMPORTANTE: “A utilização de identidades e
nomes falsos pelos guerrilheiros, é um dos fatores que dificulta a localização
de desaparecidos, pelo simples fato de não se ter certeza se estavam ou
não na região à época”.Um dado importante é que
a grande maioria dos guerrilheiros, em torno de 70%, eram oriundos da classe
média, a famosa burguesia que tanto abominavam, que tinham profissões liberais
como médicos, dentistas, advogados e engenheiros. Havia também bancários e
comerciários. Sabe-se que menos de 20% eram camponeses, e que estes eram recrutados
na região do Araguaia. A quantidade de operários que participavam do
movimento guerrilheiro mal chegava aos 10% do total. Em média, a idade
predominante era em torno de trinta anos.Na
medida em que iam chegando à região, adquiriam a confiança dos moradores agindo
como agricultores, farmacêuticos, curandeiros, pequenos comerciantes, donos de
pequenas vendas de beira de estrada, além de outros tipos de ocupações comuns
no interior do Brasil.Nunca conversavam entre
si, e nunca moravam próximos uns dos outros. Integravam-se às comunidades onde
agiam, participando de todos os eventos, sendo desta maneira absorvidos por
estas. Não atuavam e não influíam nas políticas
locais, não se envolviam em discussões políticas para evitar o despertar de
desconfianças. Suas atividades principais se baseavam no ensino
do trabalho comunitário, voluntariado e assistencialismo. Quando podiam,
ajudavam os moradores com medicina, odontologia, ajudavam nas escolas, davam
aulas, ensinavam a população como organizar e realizar mutirões. Agindo
da forma descrita, aos poucos o grupo foi ganhando respeito e admiração da
população local.
O desenvolvimento das operações
-O Exército Brasileiro
descobriu a localização do núcleo guerrilheiro em 1971 e fez três investidas
contra os rebeldes.
-As operações de
guerrilha iniciaram-se efetivamente em 1972, tendo oferecido resistência até
março de 1974.
-Em janeiro de 1975 as
operações foram consideradas oficialmente encerradas com a morte ou detenção da
maioria dos guerrilheiros.
-Em 1976 ocorreu a
chamada Chacina da Lapa quando foram executados os últimos dirigentes
históricos do PCB. João Amazonas, na ocasião, se encontrava na Albânia.
A questão da guerrilha do
Araguaia:
Em 1971, ocorreu uma
manifestação concreta de ação militar no Brasil, onde o Exército Brasileiro
enfrentou sua maior prova, na região de Xambioá, norte do antigo estado do
Goiás, (hoje Tocantins). Lá formou-se um quadrante de ação operacional, seguido
de encasamento de três divisões clássicas de combate pôr quadrantes menores, ou
seja a formação de 3 pelotões de 21 soldados cada, divididos em três esquadras
de sete soldados, totalizando 63 componentes. O líder de cada grupo de sete
soldados, desconhecia as ordens do comandante de pelotão de 21, que desconhecia
a formação e identificação dos demais pelotões, assim a pirâmide de autoridade
seguia uma linha de formação utilizada na guerra colonial da Argélia, perdida
pelos franceses e pela legião estrangeira. Esse tipo de ação, somado aos
fato dos militares atuarem descaracterizados (em trajes civis, cabeludos e
barbudos), ocasionava frequentes casos de confrontos entre patrulhas
diferentes, com mortos e feridos por "fogo amigo".Há
que ser destacado que a operação realizada desta forma, com o emprego de
pequenas frações de tropas, ocasionou poucas baixas no combates, principalmente
na população civil.A formação dos líderes
principais era universitária (médicos e engenheiros), sendo desconhecida então pela
inteligência do exército. Contudo, os guerrilheiros tratavam a ocupação
valendo-se da linha de Ernesto Guevara, tentando conquistar a
população com atitudes assistencialistas, posto que o estado era
ausente na região. Após um ano de atuação os grupos lá estacionados, já
julgavam possuir condições de articulação da população em curto período com
mobilização para defesas, baseadas nas táticas empregadas por Ho Chi Min no
Vietnã e em Cuba, por Fidel Castro.Ocorre
que, contrariamente ao esperado, os guerrilheiros não encontraram o apoio
necessário na população local, bem como de seus próprios pares em outras
regiões do país, ficando praticamente isolados na selva, lutando quase sem
recursos.
O trabalho da inteligência do exército
foi muito bem executado!
Mas inicialmente
faltaram os efetivos operacionais necessários à repressão, e aí começaram os
problemas no país. O chefe da agência do SNI na época General Carlos Alberto da Fontoura
determinou o imediato fechamento da área e início das operações militares. Porém,
o que encontrou guerrilheiros e guerrilheiras que, há mais tempo instalados,
conheciam a região. As tropas do governo, por sua vez, recorreram à orientação
de "mateiros" nativos da região, que ajudaram na guia das patrulhas.
Promoveram também ações assistencialistas para aliciar a população. Durante 14
meses, num jogo de gato e rato na selva, os guerrilheiros conseguiram se furtar
à presença dos militares, em meio a choques esporádicos e baixas eventuais.Em
1974 com ataques combinados, Forca Aérea, fuzileiros navais, fuzileiros da
infantaria de selva, infantaria paraquedista, e comandos e forças especiais, a
primeira grande ofensiva apresentou sucesso do lado do Exército Brasileiro,
cujas tropas na ocasião foram lideradas pelo General Hugo Abreu, comandante da
Brigada Paraquedista e veterano da Força Expedicionária Brasileira.Todavia
sabe-se que a ofensiva valeu-se de aproximadamente mil soldados da infantaria
da Aeronáutica, fuzileiros navais, do Exército e policiais militares. A
guerrilha cessou.As manifestações
regionais ocorridas no país a partir do confronto armado, no Araguaia passaram
a exigir dos governantes, uma condição ainda mais acentuada de controle, tendo
as policias militares estaduais, desempenhado esses papéis.
As baixas
Pelo lado do exército,
estima-se que pereceram dezesseis militares. O balanço oficial à época,
indicava sete guerrilheiros mortos. Em 2004, o Ministério da Justiça brasileiro
contabilizava sessenta e um desaparecidos. Segundo testemunhos, a
maioria dos guerrilheiros capturados foi supostamente torturada antes de ser executada, e os
seus corpos ocultados, numa espécie de operação limpeza promovida pelos
militares a partir de 1975.
A operação limpeza
Sabe-se que, após 1975,
foi realizada na região uma espécie de operação limpeza, com a finalidade de
eliminar focos de militantes remanescentes na região. Os militares, para evitar
a disseminação do movimento e mantê-lo encerrado em limites específicos, se
utilizaram das chamadas táticas de combate à guerra revolucionária. Um dos
métodos utilizados era o espalhamento de cartazes em diversos pontos das
cidades, tais como bancos, aeroportos, terminais rodoviários etc. Os cartazes
eram formados com retratos de opositores do regime procurados e com mensagens
que incitavam a população a delatá-los. Normalmente, os cartazes possuíam
fotografias dos procurados que eram integrantes dos grupos de ação armada.
Osvaldo Orlando da Costa (O cruel
Osvaldão)
|
(um assassino frio e cruel - De herói não tinha nada) |
Dentre os muitos nomes
envolvidos na Guerrilha do Araguaia destaca-se o de Osvaldo Orlando da Costa, militante do PCdoB que chegou à região em 1966 com a missão de
organizar a guerrilha rural. Osvaldão era um dos guerrilheiros
mais temidos na época, tendo participado de
diversos roubos e assassinatos antes de chegar à região da guerrilha.
Quando dos combates, foi o responsável pelas mortes de dois militares, bem como
pelo "justiçamento" de companheiros seus acusados de traição ou em
iminência de abandonar os combates. Em 4 de fevereiro de 1974, enquanto abria
uma trilha no mato, Osvaldão deparou-se repentinamente com uma patrulha do
Exército, pela qual foi alvejado no peito com um tiro de espingarda calibre 12
disparado pelo guia-mateiro, no momento exato em que abria os braços para
afastar a folhagem da sua frente. Em seguida, o corpo foi arrastado pela mata e
içado de cabeça para baixo por uma corda presa a um helicóptero. Dizem alguns
que, para ter certeza de que "o morto estaria realmente morto", ao
chegar a grande altura, teriam soltado e arremessado o corpo de Osvaldão ao
solo, sendo em seguida apanhado, amarrado novamente à aeronave e levado para
ser exibido aos camponeses como um troféu.
Um processo foi
instaurado contra a União, em 1982, por vinte e dois parentes de guerrilheiros,
que por meio dele pediram à Justiça que o Exército brasileiro apresentasse
documentos para que pudessem obter atestados de óbito. Ocorre
que, tendo os guerrilheiros atuado na clandestinidade, com nomes e documentos
falsos, não foram localizados documentos comprobatórios dos óbitos.Em
22 de julho de 2003, o Diário da Justiça publicou a decisão da juíza Solange
Salgado, da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, ordenando a quebra de sigilo
das informações militares sobre a Guerrilha do Araguaia, dando um prazo de 120
dias à União para que fosse informado onde se encontram sepultados os restos
mortais dos familiares dos autores do processo, assim como rigorosa
investigação no âmbito das Forças Armadas brasileiras. Em 27 de agosto de 2003,
a Advocacia-Geral da União apelou da sentença que determinou de abertura dos
arquivos, embora reconhecesse o direito dos autores de tentar localizar os
restos mortais de seus familiares desaparecidos. Baseado em argumentos
puramente processuais, especialmente questionando o curto prazo imposto na
sentença para a apresentação de resultados, o recurso da AGU foi severamente
criticado por organizações de defesa dos direitos humanos, familiares dos
desaparecidos e por integrantes da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos. Pressionado e
sensibilizado, o governo Lula criou em 3 de outubro de 2003 uma comissão
interministerial para localizar restos mortais. Esta comissão solicitou os
documentos, sendo informada de que os mesmos não existiam.Atualmente, após
passar pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal, o
processo voltou à justiça de primeira instância para a fase de cumprimento de
sentença. O processo está sob apreciação da Juíza Federal Solange Salgado.Em
abril de 2009, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da
OEA - Organização dos Estados Americanos - baseado em Washington D.C., que
cuida da observância dos direitos humanos nos países pertencentes à
organização, abriu uma ação contra o governo brasileiro por detenção
arbitrária, tortura e desaparecimento de 70 pessoas - entre guerrilheiros,
moradores da região e camponeses ligados à Guerrilha do Araguaia - durante a ditadura
militar brasileira.
Documentos que restaram do Regime Militar
A Revista ISTOÉ, em sua
edição número 1830 (3 de novembro de 2004), contraria o ponto comum nas versões
dos ex-combatentes da guerrilha, dos que a perseguiram e do governo. Segundo eles, nenhum documento da guerrilha teria
sobrevivido. No entanto, são publicados, com exclusividade,
trechos de documentos que comprovam a guerrilha. Fichas de guerrilheiros e listas
de nomes dos envolvidos, dentre outros materiais, vieram a público, trazendo à
tona um assunto de que advogados das vítimas torturadas e pesquisadores do
período já possuíam amplo conhecimento, apesar de nunca
terem provas. Boa parte dos arquivos da ditadura militar
sobreviveu, bem mais do que o admitido pelo Governo. Tantos que, passados mais
alguns meses, possibilitaram a publicação do livro Operação Araguaia: os
arquivos secretos da guerrilha.
A
lista abaixo reúne apenas os integrantes conhecidos da Guerrilha do Araguaia:
(Nos parênteses os
codinomes pelo quais eram conhecidos, batizados pela guerrilha ou dados pelos
moradores da região)
1)-João Amazonas (Velho
Cid) - integrante do PCB desde a década de 30 e um dos fundadores e
secretário-geral do PCdoB, era o teólogo da guerrilha, e responsável pela
ligação entre os guerrilheiros na selva e a direção em São Paulo. Entrou e saiu diversas
vezes na área do Araguaia durante o período, transportando militantes, dinheiro
e orientações políticas, indo para o exílio na Albânia após o aumento da
repressão militar na área, que impediu sua movimentação. Voltou ao Brasil após
a Anistia e morreu aos 90 anos, em 2002.
2)-Elza Monnerat (Dona
Maria) - integrante da direção do PCB, fazia com Amazonas a ligação entre o
Araguaia e o sul do país. Responsável pelo transporte de diversos
militantes até o local da guerrilha e uma das primeiras a se instalar no
Araguaia, durante os preparativos para a criação do núcleo guerrilheiro, voltou
à clandestinidade urbana após o aumento da repressão militar na área, que a
impediu de retornar à região do conflito, como Amazonas. Presa em fins de 1976
e libertada com a Anistia, morreu em 2004.
3)-Maurício Grabois
(Mário) - Membro da cúpula do PCdoB, integrante da Comissão Militar do Partido
e comandante-em-chefe dos guerrilheiros do Araguaia. Foi morto numa
emboscada na selva em dezembro de 1973. Seu corpo nunca foi encontrado e sua morte
jamais admitida pelo Exército. É dado como desaparecido.
4)-Ângelo Arroyo
(Joaquim) - membro da cúpula do PCdoB e militante comunista desde 1945, foi um
dos líderes da guerrilha, integrante da Comissão Militar. Foi um dos dois únicos
guerrilheiros que escaparam vivos do Araguaia, depois da última campanha
militar que exterminou a guerrilha, fugindo a pé para o Piauí atravessando a
selva e dali para são Paulo. Foi fuzilado em dezembro de 1976 por agentes do
Doi-Codi numa casa no bairro da Lapa, em São Paulo, onde se realizava uma
reunião do Comitê Central do PCdoB, no episódio conhecido como Chacina da Lapa.
5)-Osvaldo Orlando da
Costa (Osvaldão) - o mais carismático e temido guerrilheiro do Araguaia, negro,
forte, 1,98m e ex-campeão carioca de boxe, considerado mítico pelos moradores
do Araguaia, foi morto num encontro com uma patrulha militar em janeiro de
1974.
Seu corpo foi pendurado num helicóptero e mostrado em sobrevoo pelos povoados
da região. Decapitado, foi enterrado em lugar desconhecido. É considerado
desaparecido político.
6)-Líbero Castiglia
(Joca) - Italiano, foi o único estrangeiro que participou da guerrilha. Com treinamento
militar na China, era ligado ao Destacamento A e fazia a segurança da comissão
militar da guerrilha. Foi um dos primeiros militantes a chegar à região do
Araguaia. É dado como desaparecido desde o ataque do exército ao comando
guerilheiro, no Natal de 1973.
7)-André Grabois (Zé
Carlos) - Filho de Maurício Grabois e vivendo na clandestinidade desde os 17
anos por causa da perseguição ao pai, foi comandante do destacamento A da
guerrilha. Morreu em combate junto a outros três guerrilheiros, durante
tiroteio com patrulha do exército em outubro de 1973, após caçarem
porcos-do-mato. Seu corpo nunca foi encontrado, é dado como desaparecido.
8)-Bergson Gurjão
Farias (Jorge) - Ex-estudante de Química da Universidade Federal do Ceará, e
sub-comandante do Destacamento C da guerrilha, sob o codinome de 'Jorge', foi o
primeiro guerrilheiro a ser morto em combate no Araguaia. Ferido a tiros de
metralhadora numa emboscada, foi morto a golpes de baioneta dias depois numa
instalação militar de Marabá em maio de 1972. Dado como desaparecido politico
por trinta anos, seus ossos foram identificados por exames de DNA em 2009, após
exumação do cemitério de Xambioá.
9)-João Carlos Haas
Sobrinho (Dr. Juca) - médico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, chegou ao Araguaia vindo do Maranhão onde morou com alguns dos principais
líderes da guerrilha e atendia a população. Respeitado pelos
caboclos locais pelo auxílio que prestava na área da saúde de Marabá e Xambioá,
o comandante médico-militar foi morto em combate em 30 de setembro de 1972. Seu
corpo nunca foi encontrado e é dado como desaparecido político.
10)-Dinalva Oliveira
Teixeira (Dina) - Geóloga formada pela Universidade Federal da Bahia, popular
no Araguaia como parteira e temida pelos militares pela coragem física e por
ser exímia atiradora, foi a mais famosa das guerrilheiras, lendária entre os
moradores da região. Única mulher a ser sub-comandante de destacamento de
combate, foi presa já no fim da guerrilha, em julho de 1974, e assassinada a
tiros por agentes militares do CIEx. Seu corpo nunca foi encontrado e é dada
como desaparecida.
11)-Helenira Resende
(Fátima) - ex-estudante de Filosofia da USP e vice-presidente da UNE, no
Araguaia conquistou o respeito dos demais pela coragem física e determinação.
Morreu em combate em setembro de 1972, metralhada nas pernas em troca de tiros
com soldados do exército e morta à baioneta depois. O respeito que gozava
no meio dos companheiros fez com que a partir de sua morte um dos destacamentos
da guerrilha passasse a ter o seu nome.
12)-Micheas Gomes de
Almeida (Zezinho) - Filho de camponeses, ex-operário e veterano comunista, é o
único guerrilheiro sobrevivente do Araguaia a nunca ter sido preso. Melhor guia e
conhecedor da selva entre todos os guerrilheiros, fugiu da região guiando
Ângelo Arroyo até o Maranhão, durante os últimos dias de aniquilamento da
guerrilha. Vivendo com identidade trocada e anônimo em São Paulo por mais de 20
anos, dado como desaparecido, reapareceu nos anos 90. Mora em Goiás.
13)-Maria Lúcia Petit
(Maria) - ex-professora primária, participou da guerrilha com os irmãos mais
velhos. Morta em junho de 1972 numa emboscada, seus restos mortais foram
identificados em 1996. Junto com Bergson Gurjão, são os dois únicos
guerrilheiros mortos e identificados posteriormente. Foi enterrada em Bauru,
São Paulo.
14)-Dinaelza Santana
Coqueiro (Mariadina) - ex-estudante de Geografia da PUC de Salvador, chegou o
Araguaia em 1971 com o marido, Vandick Coqueiro e Luzia Reis. Integrante do
destacamento C, foi executada por agentes do CIEx em abril de 1974, após ser
vista presa na base de Xambioá. É dada como desaparecida.
15)-José Genoino
(Geraldo) - Membro do PCdoB desde 1966, com 20 anos, ex- presidente do
Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Ceará, chegou ao
Araguaia em 1970. Foi um dos primeiros presos pela ofensiva militar na área, um
1972. Foi torturado e cumpriu pena até 1977. Tornou-se o nome mais
conhecido da guerrilha nos anos seguintes, elegendo-se deputado federal
diversas vezes pelo Partido dos Trabalhadores. Casou-se com a guerrilheira
Rioko Kayano, a quem conheceu na prisão.
16)-Luzia Reis
(Baianinha) - ex- militante do movimento estudantil de Salvador, chegou ao
Araguaia em janeiro de 1972 e fez parte do destacamento C. Primeira
guerrilheira a ser presa, após uma emboscada, foi torturada na base de Xambioá
e transferida para Brasília, onde cumpriu dez meses de prisão. Solta, abandonou a militância e o Partido. Vive em Salvador, aposentada do serviço público.
17)-Glênio Sá (Glênio)
- Ex-aluno de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, chegou à
guerrilha em 1970 e foi preso em 1972, traído por um camponês, depois de dois
meses perdido na mata, após um tiroteio. Morreu em 26 de julho de 1990 num
acidente de automóvel, quando fazia campanha para o senado no Rio Grande do
Norte.
18)-Suely Kanayama
(Chica) - Ex-estudante da Letras na USP, baixinha e magrinha, chegou ao
Araguaia em fins de 1971 e passou a integrar o Destacamento B. Apesar da frágil
compleição física, foi das que mais se adaptou à vida na selva e uma das
últimas guerrilheiras a morrer. Audaciosa e com treinamento de tiro e
sobrevivência na selva, cercada por uma patrulha do exército no início de 1974 recusou rendição, atirou ferindo um policial e morreu
metralhada por mais de 100 tiros. Consta como desaparecida
política.
19)-Lúcia Maria de
Souza (Sônia) - ex-estudante da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de
Janeiro, deixou o curso no 4º ano devido às atividades políticas e entrou na
clandestinidade.
Participante do destacamento A, o episódio de sua
morte é o mais célebre da história da guerrilha, onde feriu dois oficiais do
exército antes de morrer, um deles o notório Major Curió. É
oficialmente desaparecida política.
20)-Adriano Fonseca
Filho (Chico) - ex-estudante de Filosofia da UFRJ, chegou ao Araguaia em abril
de 1972. Integrante do Destacamento B, foi morto a tiros por mateiros de
patrulhas do exército em 3 de dezembro de 1973, na última fase das operaçãos
militares.
Foi decapitado e enterrado em local desconhecido. Permanece como desparecido
político.
21)-Luiza Garlippe
(Tuca) - ex-enfermeira do Hospital das Clínicas, chegou no Araguaia com o
companheiro Pedro Alexandrino (Peri). Integrou-se ao Destacamento B, na área
da Gameleira e substituiu João Carlos Haas Sobrinho depois da morte deste, como
comandante-médica. Presa em julho de 1974 junto com 'Dina', foi executada a
tiros pelo CIEx.
22)-Criméia Schmidt de
Almeida (Alice) - ex-estudante de enfermagem da UFRJ, foi para o Araguaia em
1969 onde tornou-se companheira de André Grabois, comandante do Destacamento A. Engravidou em 1972 e
com problemas na gestação foi levada para São Paulo. Presa na cidade em
dezembro, foi torturada e teve o filho no Hospital do Exército, em Brasília.
Hoje participa da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.
23)-Jaime Petit -
engenheiro e irmão mais velho da família Petit, foi morto em combate em dezembro de 1973.
Decapitado, seu corpo nunca foi encontrado. É dado como desaparecido político.
24)-Lúcio Petit (Beto)
- engenheiro e irmão do meio da família guerrilheira Petit, foi preso durante a
aniquilação final da guerrilha no começo de 1974. Visto pela última vez
amarrado a bordo de um helicóptero do exército, é dado como desaparecido
político.
25)-Antônio Carlos
Monteiro Teixeira (Antônio da Dina) - Geólogo baiano e militante do PCdoB,
marido de 'Dina' - de quem se separou durante a guerrilha - chegou ao Araguaia
em 1970 e integrou-se ao destacamento C. Conhecedor da mata, era o instrutor de
orientação na selva dos militantes recém chegados à região. Morto em combate em
21 de setembro de 1972, na primeira fase das operações anti-guerrilha.
26)-Jana Moroni
(Regina) - cearense, ex-estudante de biologia na Universidade Federal do Rio de
Janeiro, chegou ao Araguaia em abril de 1971, com apenas 21 anos. Trabalhou
como professora primária e agricultora. Casou-se na guerrilha com Nelson Piauhy
(Nelito), dava aulas de tiro e fez parte do
Destacamento A. Oficialmente desaparecida em 2 de janeiro de 1974 junto com
mais dois guerrilheiros, foi vista presa e ferida na base militar em Bacaba.
27)-Áurea Valadão
(Elisa) - Ex-estudante de Física da UFRJ, foi para a guerrilha com o marido
Arildo Valadão em 1970, integrando o destacamento C. Aprisionada por mateiros a
serviço dos militares no começo de 1974, doente, faminta e em farrapos, sua morte consta em
relatório da Marinha como 13 de junho de 1974. É dada como desaparecida
política.
28)-Arildo Valadão
(Ari) - Ex-estudante de Física da UFRJ, onde conheceu a mulher, Áurea, chegou
ao Araguaia em 1970 com a mulher, integrando o destacamento C. Foi assassinado e decapitado por um mateiro amigos dos guerrilheiros que se passou para o
lado dos militares, em 23 de outubro de 1973. Seu corpo nunca foi encontrado.
29)- Carlos Danielli
(Antonio) - Integrante do quadro dirigente do PCdoB, fazia a ligação entre a
área rural e urbana do partido. Morreu sob torturas ao ser preso na OBAN em
São Paulo, em 31 de dezembro de 1972.
30)- Paulo Mendes
Rodrigues (Paulo) - Economista e comandante do destacamento C, morreu em
combate
no dia de Natal de 1973 junto com o comandante geral da guerrilha, Maurício
Grabois. Seu corpo nunca foi encontrado.
31)-José Humberto
Bronca (Zeca Fogoió) - Ex-mecânico de aviões da VARIG no Rio Grande do Sul, foi um dos militantes do PCdoB enviado para treinamento de
guerrilha na Academia Militar de Pequim. Chegou ao Araguaia em
1969, onde foi o vice-comandante do destacamento B e depois integrante da
Comissão Militar da guerrilha. Último integrante da
CM a ser preso, delatado por um camponês a quem pediu ajuda,
subnutrido e cheio de ulcerações provocadas por picadas de mosquitos, foi
executado e dado como desaparecido em março de 1974.
32)-Kleber Lemos da
Silva (Carlito) - economista carioca, integrou o destacamento B. Emboscado com
primeiro grupo a ser desbaratado pelas tropas do exército, pediu aos
companheiros que o deixassem durante a fuga, impedido de caminhar por uma
fístula de Leishmaniose na perna. Delatado por um camponês, foi preso pelos fuzileiros navais
26 de junho de 1972 e executado três dias depois. Seu cadáver foi
fotografado e a foto divulgada anos depois. Seu corpo nunca foi encontrado e é
dado como desaparecido.
33)-Daniel Callado
(Doca) - operário fluminense formado pelo SENAI, chegou ao Araguaia depois de
morar em Rondonópolis, no Mato Grosso, onde era lanterneiro e craque do time de
futebol da cidade. Fez parte do Destacamento C da guerrilha, que foi disperso
pelos ataques militares em dezembro de 1973. Visto por moradores da
região no começo de 1974, preso na base militar de Xambioá, onde era torturado
a socos e pontapés por soldados comandados pelo Major Curió, desapareceu e seu
corpo nunca foi encontrado. O relatório da Marinha registra sua morte como em
28 de junho de 1974.
34)-Guilherme Lund
(Luis) - carioca, formado pelo Colégio Militar e ex-estudante de
arquitetura da UFRJ, no Araguaia integrou a segurança da Comissão Militar da
guerrilha. Foi morto em combate contra tropas do exército com mais quatro guerrilheiros,
incluindo o comandante geral Mauricio Grabois, no dia de Natal de 1973.
35)-Maria Célia Correa
(Rosa) - carioca, bancária e ex-estudante de Filosofia da UFRJ, chegou ao Araguaia em 1971 para se encontrar com o noivo,
'Paulo Paquetá' (que desertou sozinho da guerrilha em 73). Integrante do
Destacamento A, perdeu-se da organização da guerrilha após combate em 2 de
janeiro de 1974. Presa por um camponês quando procurava ajuda, foi entregue aos
militares da base de Bacaba. Transportada de helicóptero para a mata depois de
presa, foi metralhada com mais dois guerrilheiros. É dada como desaparecida.
36)-Regilena da Silva
Carvalho (Lena) - mulher de Lúcio Petit, o mais velho da trinca de irmãos
guerrilheiros, abandonou a guerrilha em 1972. Ferida, com os pés infeccionados
e de muletas entregou-se aos pára-quedistas. Presa em Xambioá e transportada
para Brasília, foi solta em dezembro de 1972, após mandar
mensagem ao companheiros pedindo que se rendessem.
37)-Lúcia Regina
Martins (Lúcia) - ex-estudante de obstetrícia da USP, chegou ao Araguaia
acompanhando o marido Lúcio Petit. Desiludida com a
guerrilha e o casamento, deixou a região grávida, em lombo de burro,
para tratar de uma curetagem mal feita num hospital de Anápolis. Fugiu do hospital em
dezembro de 1971, ainda antes da primeira ofensiva militar, voltando a São
Paulo para viver com a família e recusando-se a voltar ao Araguaia. Só
foi presa em 1974, quando a guerrilha já estava aniquilada. Foi acusada por
Elza Monnerat de ter contado aos militares sobre a guerrilha, permitindo que
ela fosse descoberta. Vive em Taubaté, SP.
38)- Antônio de Pádua
Costa (Piauí) - ex-estudante de astronomia na UFRJ, entrou na clandestinidade
após ser preso no XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, 1968. Na guerrilha, atuou
como sub-comandante do destacamento A e comandante depois da morte de André
Grabois.
Após o confronto armado entre guerrilheiros e militares de 14 de janeiro de
1974, ele desapareceu junto com mais dois guerrilheiros. Mais tarde, foi preso na casa de
um camponês que o traiu e obrigado a passar semanas guiando batedores do
exército nas matas, até possiveis esconderijos de armas e mantimentos dos
guerrilheiros. Executado após perder a utilidade,
seu corpo nunca foi encontrado.
39)-Divino Ferreira de
Sousa (Nunes) - guerrilheiro com treinamento militar na China, foi um dos primeiros
no Araguaia e integrou o Destacamento A. Ferido no tiroteio que matou outros
três guerrilheiros em 14 de outubro de 1973, foi levado à Casa Azul, base
militar dirigida pelo Major Curió no Araguaia, e executado.
40)-Elmo Correa
(Lourival) - ex-estudante da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro,
cursou até o 3ª ano e participava do movimento estudantil. Chegou ao Araguaia
com a mulher Telma Regina Correia (Lia) em 1971, e mais tarde a irmã, Maria
Célia Correa, (Rosa) juntou-se a eles. Desaparecido da guerrilha após o
ataque de Natal de 1973, foi morto na localidade de Carrapicho, segundo
testemunhos de locais, no dia 14 de maio de 1974, segundo relatório da Marinha.
41)- Tobias Pereira
Junior (Josias) - ex-estudante carioca da Universidade Federal Fluminense, integrou o
destacamento C da guerrilha. Entregou-se no fim de 1973 e passou semanas
acompanhando os militares na localização de esconderijos de armas, munições e
mantimentos. Desenhou mapas de localização e reconheceu fotografias. Mesmo auxiliando os militares depois de preso e torturado,
foi assassinado em 14 de
fevereiro de 1974.
42)-Gilberto Olímpio
Maria (Pedro) - jornalista e genro de Maurício Grabois, chegou à região no fim
da decada de 60 e morreu em combate junto com o sogro, no Natal de dezembro de
1973, durante encontro com patrulhas militares.
43)-Antonio Guilherme
Ribas (Ferreira) - ex-presidente da UPES (União Paulista de Estudantes
Secundaristas), foi preso no XXX Congresso da UNE, em 1968, e cumpriu um ano e
meio de prisão.
Depois de solto, viveu alguns meses clandestino na Baixada Fluminense com José
Genoíno e dali foi para o Araguaia. Integrante do destacamento B comandado por
Osvaldão, foi morto em novembro de 1973, durante a última campanha militar na
região. Seu corpo nunca foi encontrado e é dado como desaparecido político.
44)-Rodolfo Troiano
(Mané) - ex-estudante secundarista mineiro, filiado ao PCdoB, foi preso por
participar de manifestações estudantis em 1969, cumprindo pena em Juiz de Fora.
Depois de solto, em 1971 foi para o Araguaia e integrou o destacamento A da
guerrilha.
Morto em 12 de janeiro de 1974 segundo a Marinha, executado após ser preso, seu
corpo nunca foi encontrado.
45)-Pedro Alexandrino
de Oliveira (Peri) - Bancário mineiro, integrante do destacamento B. Morto com
um tiro na cabeça em agosto de 1974, após ser encontrado sozinho na selva. Seu corpo foi
transportado de helicóptero para a base de Xambioá, onde foi chutado e cuspido
pelos soldados, o que causou a intervenção de um oficial da FAB ordenando que o
inimigo fosse respeitado.
46)-Telma Regina
Correia (Lia) - ex-estudante de geografia da Universidade Federal Fluminense
(UFF), de node foi expulsa em 1968 por sua atividades políticas, foi para a
região do Araguaia em 1971, juntamente com seu marido Elmo Corrêa, e integrou o
destacamento B. Foi presa e desapareceu em janeiro de 1974.
47)- Luis Renê Silveira
(Duda) - carioca e ex-estudante de medicina, chegou ao Araguaia com apenas 19
anos.
Preso com a perna quebrada por tiro perto da base de Bacaba, desapareceu no
início de 1974.
48)-Walkiria Afonso da
Costa (Walk) - ex-estudante de Pedagogia na Universidade Federal de Minas
Gerais, integrou o destacamento B e foi a última guerrilheira morta, fuzilada após ser
capturada, em outubro de 1974. Sua morte encerrou a Guerrilha do Araguaia.
49)-Vandick Raidner
Coqueiro (João Goiano) - ex-estudante de economia baiano, chegou ao Araguaia
com a mulher Dinaelza Coqueiro, a guerrilheira 'Mariadina'. Integrante do
Destacamento B, foi o penúltimo guerrilheiro preso e executado pelo exército,
em setembro de 1974.
50)-José Piauhy Dourado
(Ivo) - ex-estudante da Escola Técnica Federal da Bahia, era fotógrafo em
Salvador até entrar na clandestinidade, junto com o irmão, Nélson. Combatente do
destacamento C, não foi mais visto pelos guerrilheiros a partir de dezembro de
1973. Relatório sigiloso da Marinha registrou sua morte em 24 de janeiro de
1974. Seu corpo nunca foi encontrado.
51)-Cilon Brum (Simão)
- Também conhecido como 'Comprido', era um ex-estudante de Economia da PUC-RS.
Presidente do DCE da universidade, chegou ao Araguaia fugindo da repressão
política.
Não foi mais visto pelos companheiros depois de dezembro de 1973 e foi visto
preso por mais de dois meses numa base militar na região de Brejo Grande. Dado
oficialmente como desparecido, anos depois, foram descobertas e publicadas
fotografias que mostravam 'Simão' preso, escoltado por militares, em algum
lugar da mata do Araguaia, comprovando que morreu sob custódia de tropas
federais. Seu corpo nunca foi encontrado.
52)-Rioko Kayano -
militante do PCdoB, levada ao Pará por Elza Monnerat, não chegou a se juntar à
guerrilha, sendo presa na pensão de Marabá onde aguardava transporte para a
zona de conflito, em 15 de abril de 1972. Na prisão, começou a namorar José
Genoino com quem é casada e tem três filhos.
53)-Pedro Albuquerque
Neto - ex-militante do movimento estudantil cearense preso no Congresso da UNE
em Ibiúna em 1968, chegou no Araguaia com a mulher em fevereiro de 1971. Fugiu da guerrilha em junho do mesmo ano, acompanhando a
mulher que não aguentava mais as condições de vida da selva. Foi sua
prisão em Fortaleza e posterior tortura, que se imagina deu aos militares o
primeiro conhecimento da existência da Guerrilha do Araguaia.
54)-João Carlos
Wisnesky (Paulo Paquetá) - ex-estudante de medicina da UFRJ, desertou da guerrilha em 1973, deixando a companheira 'Rosa'. Descoberto muitos anos
depois trabalhando como médico em Niterói, não fala da guerrilha.
55)-Danilo Carneiro
(Nilo) - Primeiro guerrilheiro preso, em abril
de 1972, nas proximidades da Transamazônica quando cumpria missão de mensageiro
da Comissão Militar, foi preso e torturado com golpes de fuzil, estocadas de
baioneta e, arrastado por um jipe, ficou com metade do corpo em carne viva.
Solto após um ano e meio de prisão, passou por 30 cirurgias para recuperar os
danos da tortura. vive em Florianópolis.
56)-Manuel José Nurchis
(Gil) - ex-operário paulista, integrou o Destacamento B de Osvaldão e foi morto em combate em 30 de setembro de
1972, junto com João Carlos Haas Sobrinho e Ciro Flávio Salazar. Seu corpo
nunca foi encontrado.
57)-Dower Cavalcanti
(Domingos) - aprisionado ferido após a emboscada que matou Bergson Gurjão em
junho de 1972,
foi torturado com choques, pau-de-arara e simulação de afogamento depois de
levado para Brasília. Ficou preso até 1977. Após reconquistar a liberdade,
formou-se em medicina em Fortaleza e trabalhou no Ministério da Saúde. Morreu
ao 41 anos, em 1992, de ataque cardíaco.
58)-Dagoberto Alves da
Costa (Miguel) - Integrante do Destacamento C, foi preso apenas 52 dias depois
de chegar o Araguaia e passou um ano e meio na cadeia. Hoje é psicólogo e vive
em Recife.
59)-Uirassu de Assis
Batista (Valdir) - estudante baiano, integrante do movimento secundarista e
perseguido por sua atuação política , foi para o Araguaia e integrou-se ao
Destacamento A.
Preso com mais dois guerrilheiros no inicio de 1974, foi visto na base de
Xambioá,algemado e mancando com a perna coberta por uma leishmaniose, sendo
levado em direção a um helicóptero do exército. Desapareceu e seu corpo nunca
foi encontrado.
60)-Pedro Matias de
Oliveira (Pedro Carretel) - posseiro do Araguaia que se juntou aos guerrilheiros,
teve o último contato em 2 de janeiro de 1974. Foi visto amarrado
numa base militar sendo levado para a mata. É dado como desaparecido político.
61)-Rosalindo de Sousa
(Mundico) - advogado baiano, chegou ao Araguaia em 1971 e era famoso na região
pelos cordéis que fazia. Foi fuzilado pelos próprios
guerrilheiros após um julgamento por um 'tribunal revolucionário' dentro da mata, que o
condenou por 'traição ideológica' e adultério.
62)-João Qualatroni
(Zebão) - ex-militante do movimento estudantil secundarista do Espírito Santo,
integrou-se ao Destacamento A da guerrilha. Morreu em
combate em
13 de outubro de 1973, aos 23 anos, vítima de uma emboscada junto com André
Grabois e mais dois guerrilheiros.
63)-Batista - caboclo
morador do Araguaia que se juntou aos guerrilheiros durante os combates, nunca
se soube muito sobre ele. Desapareceu no início de 1974, após ser preso
junto com a ex-professora e guerrilheira Áurea Valadão.
64)-Lourival Paulino –
barqueiro da região ligado aos guerrilheiros, acusado pelos militares de informante
e de dar apoio logístico à guerrilha, foi preso e torturado pelo exército em
1972. Três dias depois de entrar arrastado na delegacia de Xambioá, sua morte foi anunciada como suicídio. Seu
corpo nunca foi encontrado.
65)-Antonio Alfredo de
Lima (Alfredo) - Paraense morador do Araguaia,entrou para a guerrilha após ser
ameaçado por grileiro da região. Aprendeu a ler e escrever com os companheiros
e ensinou-lhes táticas de orientação e sobrevivência na selva. Morreu em combate com mais três guerrilheiros em 14 de outubro de 1973. Dado como desaparecido.
Antonio Ferreira Pinto
(Antonio Alfaiate)
Antônio de Pádua Costa
(Piauí)
José Toledo de Oliveira
(Vitor)
Idalísio Soares
(Aparício)
Helio Luiz Navarro
(Edinho)
Nelson Piauhy Dourado
(Nelito)
Custódio Saraiva Neto
(Lauro)
Antonio Teodoro (Raul)
Ciro Flávio Salazar
(Flávio)
José Maurílio Patricio
(Manuel do B)
Paulo Roberto Marques
(Amauri)
Miguel Pereira dos
Santos (Cazuza)
ARAGUAIA: UMA
GUERRILHA VERGONHOSAMENTE DISTORCIDA PELA ESQUERDA!
*Lício Augusto Ribeiro
Maciel - Cel Ref. EB
A narrativa é bem rica
em detalhes e bem condizente com o relato de outros participantes desse combate
aos chamados guerrilheiros na década de 70. São todos unânimes em confirmar
as maldades e os atos de crueldade, alem da permanente covardia com que estes guerrilheiros agiam inescrupulosamente em combate para atingir seus objetivos revolucionários.
O incrível discurso feito na Câmara dos
deputados em Brasília em 2005:
*Lício Augusto Ribeiro Maciel era major-adjunto do Centro de Informações do Exército, quando atuou na linha de frente do combate à guerrilha do Araguaia.(N.R. Neste texto são citadas pelo autor claramente as fontes e locais onde os fatos narrados ocorreram)
O SR. LÍCIO AUGUSTO, Senhor
Presidente, Congressistas, demais autoridades presentes, minhas senhoras, meus
senhores, não é preciso dizer da minha emoção por ter encontrado aqui velhos
companheiros de luta, que ainda a estão levando à frente. Lício foi o comandante do grupo que prendeu José Genuíno e revela que
ele não sofreu tortura na mata, informações confirmadas por Genuíno em
entrevista em janeiro de 2004.Durante esse período, o Exército mobilizou cerca
de cinco mil militares, numa das maiores movimentações de tropas do país.
Depois de duas operações fracassadas em 1972, partiu-se para uma terceira
ofensiva, em outubro de 1973, com o apoio das Policias Militares dos estados da
região e das outras Forças Armadas. Foi quando o major Lício Augusto Ribeiro,
hoje um pacato senhor de 74 anos, começou a atuar. "Dr. Asdrúbal",
nome de guerra de Lício, participou ativamente do combate aos revolucionários. Depois de 30 anos de silêncio, ele decidiu
contar sua história ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho. Seu depoimento está no
livro O Coronel Rompe o Silêncio, um relato impressionante, dramático e
revelador, que nos ajuda a reconstruir um dos episódios mais sombrios de nossa
história recente.Planejada e organizada pelo Partido Comunista do Brasil, o PC
do B, a guerrilha do Araguaia resistiu de 1972 a 1975, desafiando o Exército,
numa tática que pretendia, a partir da criação de "comitês populares"
no interior do país, formar um amplo movimento camponês, capaz de derrotar a
“ditadura.” Muito
obrigado (Palmas.) - É muito difícil falarmos em
conclusões de uma luta de 4 anos. Citarei apenas 2 itens das conclusões.
Permitam-me que os leia. Por isso, coloquei os óculos. Não há mais necessidade
de os bandidos me olharem no fundo dos olhos. Estou à disposição deles, a
qualquer momento. Quem quiser confirmar comigo o que disse, o meu endereço está
na Internet. Terei muita satisfação em olhar no fundo dos olhos deles e repetir
tudo o que acabei de dizer aos senhores: nada temos a esconder.Primeira
conclusão:
tenho imenso orgulho de ter participado dessa luta, por ter agido positivamente
para evitar que os guerrilheiros do PCdoB implantassem no País um regime
comunista igual ao de Cuba, com paredão e tudo - e esse risco não acabou.Segunda
conclusão:
além de prestar homenagem às bravas esposas dos militares, tanto daquela época
quanto da atual, estendo aos membros da minha valorosa equipe a honra de que
estou sendo alvo presentemente.Eles, então, achando que havíamos
pressentido a emboscada, aqueles valentes guerrilheiros, fugiram. Claro que
eles teriam matado todos nós. Não tenham dúvida. Nós estávamos completamente
sem atenção. A minha equipe estava levando o seu comandante quase morto para o
primeiro local onde a ambulância poderia alcançar. Na localidade de São José,
eles pediram uma ambulância para levar um ferido. De São José, a ambulância me
levou para Bacaba, de lá para Marabá e de Marabá para Belém, onde passei uns
dias para me restabelecer e ter condições de viajar. Depois fui levado para
Brasília onde fui operado. A operação se revestia de cuidados especiais,
porque, do contrário, eu ficaria paraplégico para o resto de minha vida. Graças
a Deus, as seqüelas foram muito menores e hoje eu estou falando aos senhores
aqui, com muita honra. Altas horas da noite, os soldados
que estavam me carregando passaram os seus fuzis para o outro do lado. E o que
ia levando 2 fuzis, um fuzil batendo no outro, fazia muito barulho na mata. E
era um barulho que se propagava muito a longa distância. Eles armaram uma
emboscada, teria sido o fim. Mas, aquele companheiro, com o qual eu brigava
tanto pedindo que deixasse de fumar, nos salvou. Ele, que assumiu o comando da
equipe, pediu para parar para dar uma pitada. Isso, a uns 50 metros da emboscada.
Paramos e ficou aquele silêncio. Eu fui estendido no chão, dentro da rede,
sangrava muito, quase desacordado.Continuamos a perseguição do grupo,
e eles atravessaram o córrego. Resolvi voltar, já estava escurecendo. Quando me
agachei ela me atirou à queima roupa. Ela me deu um tiro na mão e acertou na
face, que atravessou o véu palatino e se encaixou atrás da coluna, e eu caí. O
outro tiro que ela deu acertou o braço do Capitão Curió, Subcomandante da minha
equipe. O restante da minha equipe revidou, claro, encerrada a carreira de
bandido da Sônia, nome da guerrilheira. Fui carregado em uma rede e
transportado na mata.Continuando na perseguição ao
bando, encontramos pegadas nítidas no chão de um grupo numeroso. Esse grupo do
Zé Carlos era do Grupamento A. Fomos
encontrar as batidas, depois, soubemos que era do Grupamento B, do Osvaldão. Então,
eu já estava a menos de 100 metros do grupo. O guia já estava saindo para a
retaguarda. O
guia era morador. Ele não tinha nada com a guerra. Ele estava lá auxiliando o
Exército a pegar os "paulistas", que era como eles chamavam os
guerrilheiros. Quando o guia começou
a retrair, vi que a coisa estava feia, e continuei. Nisso, um dos guerrilheiros
retorna, volta inesperadamente, e deu de cara comigo. Eu agachado e ele olhando
para mim. Foi quando dei ordem de prisão
para ele: Mãos na cabeça. Ele levantou uma mão, e foi quando vi que era uma
mulher. Ela levantou uma mão fazendo sinal de... para eu ficar olhando para a
mão enquanto ela desamarrava o coldre. Dei 3 ordens de prisão, mas ela não
obedeceu. Quando eu vi que ela estava desamarrando o coldre ainda dei 3 ordens
para ela - Não faça isso - gritando, pois sempre falei alto, meu tom de voz é
esse. Quando ela sacou a arma vi que não tinha jeito e atirei. Acertei a perna
dela e ela caiu, caiu feio. Ela não caiu, desmoronou. Ela deu um salto como se
tivesse recebido uma patada de elefante. Ela caiu uns 3 metros depois, tal o
impacto. Eu corri, ela não estava mais com a arma, estava nos estertores da
dor, chorando e gritando. Eu disse: Fica calma que vamos te salvar. Olhei a
arma, a selva muito cheia de folhas, não achei a arma. Meu erro: não deixei um sentinela com ela. Éramos poucos, eles eram
vinte, eu precisava de gente. Em seguida, ocorreu o incidente do dia 23 de
outubro, 10 dias depois. Foi destruído o grupo militar da Guerrilha.
Todos eram formados na China, em Pequim, em Cuba. Não me lembro do nome de
todos, mas citarei alguns: André Grabois; o pai, Maurício Grabois, que mandou o
filho fazer curso em Cuba; o Calatroni, o Nunes. O João Araguaia se entrincheirou atrás de um
tronco de árvore e não se mexeu, depois do tiroteio, saiu correndo, sem arma.
Ninguém atirou no João Araguaia porque ele estava sem arma. O Nunes
estava gravemente ferido, mal falava e, quando o fazia, o sangue corria pela
boca, mas ele conseguiu dizer a importância do grupo e citou os nomes - não sei
se nome ou codinome - de todos eles: o Zequinha, ele disse: esse é o André
Grabois. Estava morto.Eu estava a menos de 10 metros do
primeiro homem, que era o comandante do grupo, André Grabois, filho de Maurício
Grabois. Ele estava sentado, com o gorro da PM que tomou do tenente na cabeça,
e vi que tinha a arma na mão. Olhei para os meus companheiros, que vinham
rastejando, e perguntei: Será que vamos encontrar um bando de PMs aí? Olhei,
eles entraram em posição, e eu me levantei. Quase encostei o cano da minha arma
em André Grabois: Solte a arma. Ele deu aquele pulo, e a arma já estava na
minha direção. Não deu outra. Os meus companheiros, que chegavam, acertariam o
André, caso eu tivesse errado, o que era muito difícil, pois estava a um metro
e meio, dois metros dele. No terceiro dia, para resumir, houve um encontro.
Eles estavam tão certos de que o Exército não iria lá que estavam caçando
porcos. Às 6 da manhã, eu escutei o primeiro tiro e o grito dos porcos. Às 15
horas houve o combate. Vejam bem o espaço de tempo: de 6 da manhã às 15 horas. Pude ver as suas pegadas bem nítidas,
porque eles estavam carregados com cunhetes de munição, fuzis da PM, revólveres,
e foi fácil seguir o grupo. Infelizmente, Criméia, seu marido morreu por isso.Eu peguei a minha equipe e fui para
São Domingos. Atravessei o rio. A ponte estava destruída, mas atravessei a vau.
Cheguei a São Domingos, o quartel estava incendiado. Ao alvorecer daquele dia -
se não me engano, 10 de outubro de 1973 -, eles destruíram e incendiaram o
quartel. Deixaram todos os militares nus, inclusive o tenente comandante do
destacamento, e pegaram todo o armamento, toda a munição, todo o fardamento.
Entraram na mata e deixaram um recado: "Não ousem nos seguir, porque o pau
vai quebrar".O combate contra o grupo militar da
Guerrilha foi comandado por André Grabois. E a esposa dele, a Criméia, que
talvez esteja me olhando, diz que houve uma emboscada. Não houve emboscada.
Como o Exército saiu da área para fazer operação de informações, a Operação
Sucuri, eles cantaram vitória: "Seu Exército é de fritar bolinho".
Muito bem, fritamos bolinho.Terminada a Operação Sucuri, já
sabíamos de que se tratava, confirmadas todas ou quase todas as informações que
o Genoino tinha dado. Três grupos, comando militar e a chefia em São Paulo, sob
o comando de João Amazonas - que fugiu da área ao primeiro tiro. Grande
valentia! Herói, João Amazonas! João Amazonas fugiu da área ao primeiro tiro,
junto com Elza Monnerat. Deixou lá garotos, estudantes e os fanáticos
comunistas, tipo Maurício Grabois, que influenciou seu filho, André Grabois, o
personagem central do evento que vou relatar agora. Elementos
militares descaracterizados, à paisana, foram postos dentro da mata,
desarmados, com identidade falsa, ao lado dos bandidos. Qualquer um de nós, em sã consciência, reconhece que esses homens são uns
heróis. Se me derem uma arma eu vou lá caçá-los de novo hoje. Mas, naquela
época, se me tirassem as armas e me botassem na mata, não sei não. No
ímpeto da juventude, talvez eu fosse, como eles foram. Eram capitães, tenentes
e sargentos.A Operação Sucuri fez um
levantamento de informações: de que se tratava, qual o valor do inimigo, onde
ele estava, enfim, todos os itens necessários para que fosse elaborada uma
ordem de operações para o combate da Guerrilha. Isso durou 5 ou 6 meses. Já
existe literatura muito boa a respeito.Um homem que entra numa mata para
combater em nome de um regime de Fidel Castro, esse cara tem que ser morto!
(Palmas). Porém, antes, as tropas do Exército
saíram da área, vendo que aquele era um movimento mais grave, mais planejado em
Cuba, com as mentes que todos estamos vendo. Sabemos como funciona a mente de
um comunista. Um
comunista tranqüilo, sem arma na mão, tudo bem. Aquilo é o que ele pensa, e a
nossa democracia permite isso. Mas aquele que pega em arma tem de ser
trucidado. Na minha versão, o Álvaro deu voz de prisão ao
bandido, eles atiram. Outro que estava atrás atirou nas costas do Álvaro,
arrancando-lhe a omoplata. Depois desse ferido, houve vários feridos, e
finalmente eu fui ferido e tive que sair da área. Genoino preso e identificado, a
Guerrilha prossegue. Depois de matar o João Pereira, eles mataram o Cabo Odílio
Cruz Rosa;
depois do Rosa, eles mataram dois sargentos; depois dos dois sargentos, eles
atiraram no Tenente Álvaro, que deve contar a história. Como estou contando a história aqui, Álvaro, conte a
sua história. Peçam desculpas ao Antônio Pereira, se ele estiver vivo! Tenham a
coragem de reconhecer que toda a Xambioá sabe disso! Foi o crime mais hediondo
de que eu soube. Nem na Guerra da Coréia e na do Vietnã fizeram isso. Algo parecido só
encontrei quando trucidaram o Tenente Alberto Mendes Júnior. O Tenente se
apresentou voluntariamente para substituir dois companheiros que estavam
feridos. A turma do Lamarca pegou o rapaz, trucidou-o, castrou-o e o obrigou a
engolir os órgãos genitais. O crime contra o João Pereira foi muito
mais grave, muito mais horrendo. E eles sabem disso. Pois bem. Eles fizeram
isso porque o rapaz nos acompanhou durante 6 horas, para servir de exemplo aos
outros moradores, de forma que não tivessem contato com o pessoal do Exército,
das Forças Armadas.Esse relatório está no Centro de Instrução Especializada
CIE, porque foi escrito por mim, e eles não abrem para os historiadores com
medo de que o relato apareça. Genoino,
aquele rapaz foi esquartejado! Toda a Xambioá sabe disso, todos os moradores de
Xambioá sabem da vida do pobre coitado do Antônio Pereira, pai do João Pereira,
e vocês nunca tiveram a coragem de pedir pelo menos uma
desculpa por terem esquartejado o rapaz! Cortaram primeiro uma orelha, na
frente da família, no pátio da casa do Antônio Pereira; cortaram a segunda
orelha; o rapaz urrava de dor; a mãe desmaiou. Eles continuaram,
cortaram os dedos, as mãos, e no final deram a facada que matou João Pereira.O pobre coitado do rapaz nos seguiu
durante uma manhã, das 5h até o meio-dia, quando encontramos os três nos
aguardando para almoçar. Pois bem. Depois que nos retiramos, os companheiros do
José Genoino pegaram o rapaz e o esquartejaram. Triste notícia veio depois. O
grupo do Genoino prendeu um filho do Antônio Pereira, aquele senhor humilde,
que morava nos confins da picada de Pará da Lama, a 100 quilômetros de São
Geraldo. O filho dele era um garoto de 17 anos, que eu não queria levar como
guia, porque ao olhar para ele me lembrei do meu filho que tinha a mesma idade.
Então, eu disse ao João: Não quero levar o seu filho. Eu sabia das implicações,
ou já desconfiava.E mandei o Geraldo para Xambioá.
Ele foi recolhido ao xadrez, posteriormente enviado a Brasília; em seguida, 3
ou 4 dias depois, não me lembro, veio o veredicto da identificação: o
guerrilheiro Geraldo era o José Genoino Neto, presente em frente ao vídeo,
olhando para os meus olhos - eu sempre tive olhos arregalados; não foi só lá na
mata, não. Os meus olhos sempre foram arregalados, principalmente em combate. Peguei
aquele papel e ainda comentei com ele: Pô, meu amigo, tu és um cara importante
desse negócio aí, hein? Eu me levantei do chão, fui até um
córrego próximo beber um pouco d'água. Voltei, o papel estava cheio, com toda a
composição da Guerrilha nomes, locais, Grupo C, ao sul; Grupo B, da Gameleira,
perto de Santa Isabel; e Grupo A, perto de Marabá. Eram esses os 3 grupos
efetivos, em que se presumiam 30 homens por grupamento, além de um grupo
militar comandado por Maurício Grabois. Um elemento da minha equipe, fumador
inveterado, abriu um pacote de cigarro, aproveitou aquele papel branco do
verso, pegou um toco de lápis não sei de onde, e o João Pedro começou a anotar
o que o Genoino falava fluentemente - nervoso como estava, começou a falar. Ele
disse: "Eu falo". Eu disse: É bom você falar. Genoino, olhe no meu
olho, você está me vendo. Eu prendi você na mata e não toquei num fio de cabelo
seu. Não lhe demos uma facãozada, não lhe demos uma bolacha - coisa de que me
arrependo hoje. (Palmas.) - Então, o Genoino foi mandado para
Xambioá preso. A essa altura ele já deixou de ser detido para ser preso, e
disse tudo sobre a área. Quando eu olhei para ele e disse: Você não tem mais
alternativa porque aqui está a mensagem. Companheiro, fique tranqüilo porque
nós não vamos fazer nada com você, você é morador da área. E abri o tubo. Lá
encontrei material típico de sobrevivência linha de pesca fina, anzóis. Era
material típico de sobrevivência. Como eu havia feito um curso e só sabia
teoricamente sobre o assunto, interessei-me por aquele exemplo prático, em um
local de difícil acesso na selva amazônica. À medida que eu ia puxando aquelas
linhas, o Genoíno aliás, o Geraldo ia ficando mais desesperado. E quando eu
tirei o tubo, olhei para ele, e ele estava branco como papel. E lá no fundo eu
vi um papel pautado, de caderneta, dessas que todo dono de bodega na área
anotava as suas vendas. Cortei uma talisca do meu lado, puxei o papel e lá
estava a mensagem do Comandante do Grupamento B da Gameleira, o Osvaldão, para
o Comandante do Grupamento C, Antônio da Dina. Estava lá a mensagem que o
Genoino transportava para o Antônio da Dina. Era uma mensagem tão curta que
ele, como bom escoteiro que era, poderia ter decorado, porque até hoje, mais de
30 anos passados, eu me lembro do que dizia essa mensagem, mas eu quero que ele
mesmo diga o que constava nessa mensagem. Era uma dúzia de palavras em
linguajar militar, de próprio punho do Osvaldão, que era o Comandante do
Grupamento B da Gameleira, o grupamento mais perigoso da guerrilha, como
constatamos no desenrolar das lutas. Foi o grupo que matou o primeiro militar na área. Antes de
qualquer pessoa morrer, o grupo do Osvaldão matou o Cabo Rosa, Odílio Cruz
Rosa. Depois de esse Odílio Cruz Rosa ser morto, eles mataram mais 2 sargentos e
fizeram muito mal aos militares que nada sabiam até então. Só quem
sabia era o pessoal de informações. E eu era da área de informações, embora eu
operasse à paisana.Eu, como homem de selva, peguei a
mochila do Geraldo e comecei a abri-la. Tirei pulôver, rede e um bocado de
bagulho da mochila do Geraldo, quando encontrei um tubo de remédio no fundo da
mochila. Ao pegar aquele tubo e olhar para o Genoino, vi que ele estava lívido,
pálido. Eu ainda lhe disse:O
pessoal, Inclusive está presente um desses companheiros, o Cid conversou
bastante tempo com o Genoino, quando o Cid veio a mim e disse:
"Comandante, não tem nada, não". Está bom respondi.Como eu já estava há muito tempo no
mato, já tinha resolvido, intimamente, levar o Genoino preso para Xambioá, mas
não disse que essa era minha determinação. Peguei a mochila dele. Havia um
elemento na minha equipe que era especialista em falar com o pessoal da área já
falecido, um elemento excepcionalmente bom. Rendo minhas homenagens a João
Pedro do Rêgo. (Palmas.) O João Pedro, apelidado por nós de Jota Peter ou
Javali Solitário, onde estiver estará escutando. João Pedro era um homem que
falava com o matuto, com o pessoal da área, porque eu, na minha linguagem urbana,
não era entendido nem entendia o que eles falavam. O Javali veio a mim e disse:Eu
perguntei: Por que você está fugindo? Nós apenas estamos querendo conversar com
você. Para você não fugir, vamos ter de algemá-lo. "Eu sou morador"
disse ele. Eu deixei o pessoal especializado em inquirição conversando com o
Genoino, até então Geraldo. Por que eu descobri que o Genoino
era guerrilheiro? Ele se dizia Geraldo e se dizia morador da área. Claro:
elemento na área, suspeito, eu mandei deter. Mesmo algemado e com tudo nas
costas, uma mochila pesada e grande, ele fugiu. O Cabo Marra deu três tiros de
advertência, e ele parou. Mas não parou por causa da advertência, parou porque
se emaranhou no cipoal, e o pessoal foi pegá-lo."Seu
mentiroso! Confesse! Você não tem mais alternativa".Não sei, não posso me lembrar, se
foi o Cid ou se foi o Cabo Marra que pegou o Genoino. Esse elemento era o
Geraldo, posteriormente identificado como Genoino que naturalmente está me
olhando agora. E eu tirei os óculos justamente para ele me reconhecer, porque
da minha cara ninguém esquece, principalmente com aquela cara que eu estava na
mata, depois de vários dias passando fome e sede, sujo, cheio de barba. Mas é a
mesma cara. É o mesmo olhar da hora em que eu encarei ele. E demos uma
meia parada, nessa destruição do equipamento deles, quando pressentimos a vinda
de alguém na trilha. Nós estávamos andando no meio da mata e esse elemento
vinha pela trilha. Nós nos agachamos e, nisso, veio aquele elemento forte, com
chapéu de couro, mochila nas costas e facão na cintura. Então, quando ele
chegou no meio do nosso grupo, eu dei a ordem: Prendam esse cara!Nós estávamos perseguindo esse
grupo e estávamos avançando. Embora chovesse bastante, estávamos nos
aproximando. Eles resolveram soltar a carga que estavam levando, e o guia,
morador da área, me disse: "Agora, nós não vamos pegar eles porque estão fugindo
para a gameleira".Pedro, você está me escutando? Você
deve-se lembrar de que declarou isso: que você fugiu porque obrigaram sua
mulher a fazer um aborto.Pedro Albuquerque nos levou até o
Destacamento C, onde havia estado. Ele fugiu porque os bandidos exigiram que
ele fizesse um aborto em sua mulher, que estava grávida. Eles não se
conformaram com a ordem, principalmente porque outra guerrilheira grávida tinha
sido mandada para São Paulo para ter o filho nas mordomias daquela cidade. Ela
era casada com o filho do chefe militar da guerrilha, Maurício Grabois. Continuamos nossa missão. Como os
três elementos fugitivos avisaram para o resto do grupo do Destacamento C, mais
ao sul, em frente a São Geraldo do Araguaia, que estávamos indo para lá, ao chegar
lá nós os vimos fugindo com muita carga, até violão levavam. Eles estavam se
retirando do Destacamento C, do Antônio da Dina e do Pedro Albuquerque.Voltamos. Deixamos o pessoal fugir,
claro. E o Pedro Albuquerque retornou com dois companheiros nossos e foi
recolhido ao xadrez de Xambioá. Como disse, destruímos todos os
seus aparelhos; metralhamos uma grande quantidade de frutas melancia, jerimum e
muitas outras coisas. Ficamos inteiramente impressionados com a quantidade de
comida que havia lá, várias sacas de arroz; havia até oficina de rádio com
equipamentos sofisticados. Era uma oficina rústica, não era como bancada de
laboratório da cidade, mas funcionava. O gerador, lá atrás, também funcionava.Ora, em qualquer situação, teríamos
atirado naqueles homens. Estávamos a 80 metros, um tiro de fuzil os atingiria
facilmente. Eles estavam sentados. Mas nosso objetivo não era matar, não era
trucidar. Nosso objetivo era saber o que eles estavam fazendo lá. De acordo com
Pedro Albuquerque, eram guerrilheiros. Estavam na área indicada por Pedro
Albuquerque, que viu toda a operação.Aproximamo-nos do local só para
conversar com eles, para saber o que eles estavam fazendo lá. Eram três e, no
nosso grupo, havia seis; então, não tinha problema. Eles fugiram. Chegamos ao
local. Fiquei inteiramente abismado com o estoque de comida, de material
cirúrgico; havia até oficina de rádio; 60 mochilas de lona, costuradas no local
em máquina industrial grande, que tive o prazer de jogar no meio do açude.
Tocamos fogo em tudo e voltei sem fazer prisioneiro.Chegamos à casa de Antônio Pereira,
pernoitamos no campo, nos telheiros e, no dia seguinte, às 4h, prosseguimos em
direção ao local onde Pedro Albuquerque indicou. Ao chegarmos lá, avistamos
três homens, isto é, três elementos, sendo uma mulher, descansando para almoço,
presumo.Chegamos ao Rio Araguaia, pegamos
uma canoa grande, com motor de popa, fomos até ao local de Pará da Lama. Pedro
deve lembrar muito dele: era uma picada ao longo da floresta no sentido do
Xingu. Andamos o dia inteiro. Chegamos ao anoitecer na casa do último morador, com
o Pedro sendo levado por nós, livre. Não estava algemado, amarrado ou coisa
assim. Ele foi acompanhando nossa equipe. Há várias testemunhas desse episódio
aqui presentes, as quais não vou citar, que fizeram parte da minha equipe.Recuperado o documento de que ele
falou, o documento resultante das declarações de Pedro Albuquerque foi enviado
diretamente de Fortaleza para Brasília e chegou às mãos do General Bandeira,
que imediatamente mandou buscar o preso. Enquanto eu preparava a equipe, o
preso chegou, foi incluído na minha equipe, e partimos, junto com Pedro, para o
local onde ele dizia que era o inicial: Xambioá.O fato, porém, que nos permitiu
chegar à área foi a prisão, em Fortaleza, do guerrilheiro Pedro Albuquerque.
Naturalmente, ele está olhando para mim, e eu estou olhando para a câmera, para
que olhe no fundo dos meus olhos e confirme que o que eu estou dizendo é
verdade. Pedro Albuquerque foi preso quando tentava tirar documentos em
Fortaleza. Recolhido ao xadrez, ele tentou suicídio cortando os pulsos. A
sentinela, por acaso, passou, viu, deu o alarme e ele foi levado para um
hospital da guarnição.Detentor do curso de Forças
Especiais e considerado, à época, o elemento com credenciais para desenvolver
as operações de selva, percorri milhares de vezes a rodovia Belém-Brasília, de
Brasília a Belém, estrada pioneira de barro. Eu e minha equipe, de 3 ou 4
homens, chegamos à conclusão, por indícios, de que a Guerrilha do Araguaia
estava naquela área, entre o Bico do Papagaio, Xambioá, Marabá, Tocantinópolis
e Porto Franco.Eu estava chegando a Brasília em
1968, já pela segunda vez. No meu passado, em 1954, fiz o curso de
pára-quedista e, em seguida, o curso de Forças Especiais da Divisão de
Pára-Quedistas, e especializei- me na modalidade guerra na selva.
Posteriormente, o curso de operações especiais foi desenvolvido com outras
modalidades e, em seguida, foi criado o Centro de Instrução de Guerra na Selva,
CIGS.Em 1969, após a morte do terrorista
Mariguella, em São Paulo, em seus documentos foram feitas várias citações sobre
o local da grande área: grande área de treinamento de guerrilha.O primeiro item selecionado se
refere à razão da minha escolha para a missão de descobrir o local da
guerrilha, que hoje se diz Guerrilha do Araguaia. Como participante dos
acontecimentos que passo a relatar, fiz um resumo dos itens mais perguntados;
apenas como itens porque a dissertação será a rememoração dos fatos. Para isso,
tirei os óculos, a fim de que aqueles que vou citar me olhem bem no fundo dos
olhos e tenham suficiente coragem de afirmar, se for preciso, que tudo o que
foi dito aqui é a pura verdade. Se bem que não há necessidade, porque eles
mesmos já confirmaram em outras ocasiões.Hoje, os remanescentes vivem às nossas expensas, gozando de
polpudas e imerecidas aposentadorias, além de alardear heroísmo em torturas
que, como se viu no depoimento apresentado, nem eram necessárias. Se essa corja
vencesse, estaríamos fritos. São da ideologia cubana com lavagem
cerebral nos inocentes. Parte deles estão ainda por aí, dando cartas.
Pobre país!
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-STUDART, Hugo - A Lei da Selva — Estratégias, Imaginário e
Discurso dos Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia, Geração Editorial, ISBN
8575091395
-http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerrilha_do_Araguaia
-http://www.mensageiro.com.br/html/index_historia.htm
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