Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Em 1928, o Papa Pio XI entregou uma oração urgente a toda a
Igreja: o ato de reparação ao Sagrado Coração de Jesus. Aprenda a rezá-lo e
conheça a teologia por trás dessa importante prática de piedade.Ao longo do mês de junho, muito se fala em reparar as ofensas
cometidas ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria.Porém, no
mundo cada vez mais paganizado em que vivemos, os cristãos de nossa época podem
ser levados a perguntar: o que significa, afinal de contas, a palavra —
"reparação"? Tão ausente de nossas homilias, meditações e
orações quanto as verdades do pecado e do inferno, as palavras
"reparação", "satisfação" e "desagravo", todas
elas sinônimas, foram relegadas por muitos teólogos como "peças de
museu", pertencentes a uma doutrina
arqueológica, da qual o homem moderno deveria desfazer-se de uma vez por todas,
já que não serviria mais, dizem eles, às necessidades "práticas" do
mundo atual.
Achille Ratti, o Papa Pio XI, governou a Igreja de 1922 a 1939
A
verdade, porém, é que "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre"
(Hb 13, 8). Se os primeiros cristãos completavam na sua carne o que faltava à
paixão de Cristo, conforme o testemunho da própria Escritura (cf. Cl 1, 24),
quem somos nós para agir de outra forma ou ainda sugerir o contrário? Afirmar
levianamente que o Evangelho poderia mudar com os tempos, ou que parte dele se
tornou "ultrapassada", é indício, na verdade, de uma grande
petulância, quando não de uma tremenda falta de fé. Ora, se
Jesus de Nazaré é verdadeiramente Deus e homem — como sempre acreditou a Igreja
—, se Ele é, de fato, "a Palavra única, perfeita e insuperável do
Pai", como diz o Catecismo (§ 65), como poderia a sua revelação ser
considerada insuficiente, incompleta ou adaptável? Estariam por acaso
"fora de moda" os ensinamentos do próprio Deus? Será que somos tão
soberbos a ponto de pretendermos corrigir o que Ele mesmo e os seus Apóstolos
não só pregaram como viveram? Se ainda resta, portanto, um pouquinho de fé
que seja na cabeça de nossos contemporâneos, para confirmar o dever que temos
de reparar as ofensas cometidas por nós mesmos contra Deus, nada melhor do que
recordar o ensinamento sólido do Magistério da Igreja sobre esse assunto.
A seguir, você encontra alguns trechos preciosos da encíclica "Miserentissimus Redemptor" [1], com a qual o Papa Pio XI deu à Igreja universal
a belíssima oração do "Ato de Reparação ao Sagrado Coração de Jesus"
(que também se encontra logo abaixo) - Neste documento, o Santo Padre responde, com a
Tradição e as Sagradas Escrituras, aos principais obstáculos que geralmente são
colocados à prática da reparação, ajudando nossa
inteligência a compreender a teologia por trás dessa sadia devoção popular:
Ora,
ainda que a copiosa Redenção de Cristo abundantemente nos tenha "perdoado
todos os nossos pecados" (cf. Col 2, 13), em virtude daquela admirável
disposição da divina Sabedoria, pela qual se deve completar em nossa carne o
que falta às tribulações de Cristo por seu Corpo, que é a Igreja (cf. Col 1,
24), aos louvores e satisfações que Cristo, em nome dos pecadores, ofereceu a
Deus, não só podemos como, ainda mais, devemos acrescentar também os nossos
próprios louvores e satisfações. [...] Mas como
podem estes atos expiatórios consolar a Cristo, que reina ditosamente nos céus?
"Dá-me um coração que ame e entenderás o que digo", respondemos com
estas palavras de Santo Agostinho, tão convenientes a este ponto. Com
efeito, quem ama verdadeiramente a Deus, se considera os fatos passados, vê e
contempla a Cristo trabalhando em favor do homem, sofrendo, suportando as mais
duras penas, quase desfeito sob o peso da tristeza, de angústias e opróbrios
"por nós homens e para a nossa salvação", "esmagado por nossas
iniquidades" ( Is 53, 5) e curando-nos com suas chagas. Ora, quanto mais
profundamente penetram as almas piedosas estes mistérios, mais claro veem que
os pecados e crimes dos homens, em qualquer tempo perpetrados, foram a causa de
que o Filho de Deus se entregasse à morte; e ainda agora esta mesma morte, com
suas mesmas dores e tristezas, de novo Lhe é infligida, já que cada pecado
renova a seu modo a Paixão do Senhor: "Novamente crucificam o Filho de
Deus e O expõe a vilipêndios" (Hb 6, 6). E se por
causa também dos nossos pecados futuros, por Ele previstos, a alma de Cristo
padeceu aquela tristeza de morte, não há dúvida de que algum consolo Cristo
recebeu também de nossa futura, mas também prevista, reparação, quando "o
anjo do céu Lhe apareceu" (Lc 22, 43) para consolar seu Coração oprimido
de tristeza e angústias. Por isso, podemos e devemos consolar aquele Coração
Sacratíssimo, incessantemente ofendido pelos pecados e pelas ingratidões dos
homens, por este modo admirável, mas verdadeiro, pois, como se diz na Sagrada
Liturgia, o mesmo Cristo, pelos lábios do salmista, se queixa a seus amigos de
ter sido abandonado: "Impropério e miséria esperou meu coração: e busquei
quem compartilhasse da minha tristeza e não houve ninguém; busquei quem me
consolasse e não encontrei" (Sl 69, 21).
Acrescenta-se que a Paixão expiatória de Cristo se renova e, de certo modo, continua e se completa em seu Corpo Místico, que é a Igreja, já que, servindo-nos outra vez das palavras de Santo Agostinho ( In Ps., 86):
"Cristo
padeceu quanto devia padecer, e nada falta à medida de sua Paixão. A Paixão,
pois, está completa, mas na Cabeça; faltava ainda a Paixão de Cristo no
Corpo". Nosso Senhor mesmo se dignou declará-lo quando, ao aparecer a
Saulo, "que respirava ameaças e morte contra o discípulos" (At 9, 1),
lhe disse: "Eu sou Jesus, a quem persegues" (At 9, 5), significando
claramente que nas perseguições contra a Igreja é a Cabeça divina da Igreja a
quem se atinge e impugna. E isso com razão, porque Jesus
Cristo, que ainda padece em seu Corpo Místico, deseja ter-nos por sócios na
expiação, e isto no-lo exige nossa própria incorporação a Ele: pois sendo como
somos "corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus
membros" (1Cor 12, 27), é necessário que o que padece a Cabeça, padeçam-no
com Ela os seus membros (cf. 1Cor 12, 26).
Quão necessárias sejam, especialmente em nossos tempos, a expiação e a reparação, é coisa clara a quem olhe e contemple este mundo que, como dissemos no início, "está sob poder do mal" ( 1Jo 5, 19).
De todas
as partes chega a Nós o clamor de povos que gemem, cujos príncipes ou
governantes se congregaram e conspiraram juntos contra o Senhor e sua Igreja
(cf. Sl 2,2). Por essas regiões vemos atropelados todos os
direitos divinos e humanos; demolidos e destruídos os templos, os religiosos e
as religiosas expulsos de suas casas, afligidos com ultrajes, tormentos,
cárceres e fome; multidões de meninos e meninas arrancadas do seio da Madre Igreja
e induzidos a renunciar e blasfemar contra Jesus Cristo e a cometer também os
mais horrendos crimes da luxúria; todo o povo cristão duramente ameaçado e
oprimido, colocado a todo instante em ocasião de, ou apostatar da fé, ou
padecer uma terrível morte. Tudo isso é tão triste que nestes acontecimentos
parece prenunciar-se "o princípio daquelas dores" que precederiam
"o homem de pecado que se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é
cultuado" (2Ts 2, 4). E ainda é mais triste,
veneráveis irmãos, que entre os próprios fiéis, lavados no Batismo com o sangue
do Cordeiro Imaculado e enriquecidos com a graça, haja tantos homens de toda
classe que, com inacreditável ignorância das coisas divinas e envenenados de
falsas doutrinas, vivem longe da casa do Pai uma vida repleta de vícios; uma
vida, pois, não iluminada pela luz da verdadeira fé, nem reconfortada pela
esperança da felicidade futura, nem aquecida e fomentada pelo calor da
caridade, de modo que eles parecem verdadeiramente jazer na escuridão e na sombra
da morte. Ademais, aumenta cada vez mais entre os fiéis a negligência da
disciplina eclesiástica e daquelas antigas instituições em que toda a vida
cristã se funda e pela qual a sociedade doméstica é governada e se defende a
santidade do matrimônio; totalmente menosprezada ou depravada com lisonjas de
bajulação a educação das crianças, até mesmo negado à Igreja o poder de educar
a juventude cristã; o esquecimento deplorável da modéstia cristã na vida e
principalmente no vestido da mulher; a cobiça desenfreada das coisas
perecíveis, o desejo desproporcional das honrarias mundanas; a difamação da
autoridade legítima e, finalmente, o desprezo da palavra de Deus, de maneira
que a fé é destruída ou é posta à beira da ruína. Formam o cúmulo destes
males tanto a preguiça e a negligência dos que, dormindo ou fugindo como os
discípulos, vacilantes na fé, miseravelmente desamparam a Cristo oprimido de
angústias e rodeado dos sequazes de Satanás, quanto a deslealdade dos que, à
imitação do traidor Judas, ou temerária e sacrilegamente comungam, ou desertam
para os acampamentos inimigos. Deste modo, inevitavelmente se nos apresenta ao
espírito a ideia de que se aproximam os tempos preditos por Nosso Senhor:
"E, ante o progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos se
esfriará" ( Mt 2, 24).
Ato
de Reparação ao Sacratíssimo Coração de Jesus
“Dulcíssimo
Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é por eles tão ingratamente
correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos
aqui prostrados na Vossa presença, para Vos desagravarmos, com especiais
homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é
de toda parte alvejado o Vosso amorosíssimo coração. Reconhecendo, porém, com a
mais profunda dor, que também nós mais de uma vez cometemos as mesmas
indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a Vossa misericórdia,
prontos a expiar não só as próprias culpas, senão também as daqueles que,
errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não
Vos querendo como pastor e guia, ou, conculcando as promessas do batismo,
sacudiram o suavíssimo jugo da Vossa santa lei.De todos estes tão deploráveis
crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-Vos, mais particularmente da
licença dos costumes e imodéstia do vestido, de tantos laços de corrupção armados
à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias
contra Vós e Vossos Santos, dos insultos ao Vosso Vigário e a todo o Vosso
clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do
divino amor e, enfim, dos atentados e rebeldias das nações contra os direitos e
o Magistério da Vossa Igreja. Oh! Se pudéssemos lavar com
o próprio sangue tantas iniqüidades! Entretanto, para reparar a honra
divina ultrajada, Vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe,
de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação, que Vós
oferecestes ao eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os
dias sobre nossos altares. Ajudai-nos Senhor, com o auxílio da Vossa
graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a vivência da fé,
com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade
evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nosso próximo,
impedir, por todos os meios, novas injúrias de Vossa divina Majestade e atrair
ao Vosso serviço o maior número de almas possível.Recebei, ó
benigníssimo Jesus, pelas mãos de Maria santíssima reparadora, a espontânea
homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos
constantes, até à morte, no fiel cumprimento de nossos deveres e no Vosso santo
serviço, para que possamos chegar todos à pátria bem-aventurada, onde Vós
com o Pai e o Espírito Santo viveis e reinais por todos os séculos dos séculos.”
Amém!
Notas:
(1) - Limitamo-nos a fazer apenas algumas pequenas
correções de detalhe, a fim de que o texto em português se ajustasse melhor
tanto ao teor quanto à forma do original latino.
Fonte:
padrepauloricardo.org/blog
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