Confesso que, mesmo quando eu
era militante do marxismo (de 1988 - 1998, em Aracati-Ce), eu nunca gostei de depender do
"Estado", como filho mais velho, sempre fui educado e motivado a me
virar e vencer na vida "sem coitadismos!" Meu pai sempre dizia: "não fique sentindo peninha de você mesmo, porque o mundo ai fora não vai ter pena de você!" O Estado paternalista é viciante e
paralisante! Diz o que é melhor para nós, e está sempre se metendo, e dizendo o
que devemos fazer! Quando investe na saúde, é porque quer seus cidadãos como escravos
pobres, saudáveis, e acima de tudo: que não pensem e nem tenham opinião própria, para melhor servi-los!
Assim, mesmo quando eu
era doutrinado no marxismo, querendo expropriar a burguesia, nacionalizar
os setores ditos estratégicos, e socializar as riquezas e propriedades (dos
outros, claro), na marra, eu nunca fui muito propenso a entregar tudo isso a burocratas,
pessoas formadas do mesmo material da burguesia, ou seja, humanos com suas
fraquezas e fragilidades. Desde essa época sempre tive a curiosidade de querer ver os TRÊS LADOS
DA MOEDA, e foi isso que me fez sair da "bolha".
Nos
textos abaixo, o qual compartilho com vocês (respeitando o direito ao
contraditório, portanto, fiquem livres para questionar e me iluminar com seus
pontos de vistas), recupero e partilho com vocês
através dessas resenhas, a reflexão sistemática (e utópica) sobre o Fim do
Estado e a adesão a uma tresloucada coisa que eu chamei de "governança
global" (como se pode ser ingênuo, não é mesmo?). Mas, sem
mais delongas, vamos ver um pouco do que eu acreditava, e que muitos(as) ainda
hoje acreditam!
Não confie no Estado
Por *Juliana Bravo
Quando folheamos as muitas
páginas da nossa Constituição Federal, as incontáveis garantias a direitos
inalienáveis e a vasta proteção ao cidadão podem, em um primeiro momento,
despertar o mais largo dos sorrisos daqueles que vivem sob a égide da Lei Maior
do Brasil. A realidade, contudo, impõe-se à letra da lei e nos recorda que o
poder do Estado facilmente dilacera cada uma das prerrogativas que, tal qual
indivíduos estabelecidos em uma democracia moderna, dávamos como certas. Um alerta deve estar
claro desde o início: não confie a defesa da sua propriedade ao governo. O
artigo constitucional que garante esse direito é o mesmo que o condiciona ao
atendimento de uma função social, figura que torna legal a intervenção estatal
na sua propriedade, sob o argumento de um interesse público relevante. O
interesse público relevante, contudo, é determinado pelos desejos políticos e
ideológicos de quem tem a caneta na mão. Quando o direito à fruição da sua propriedade
está subordinado às vontades do Estado, o real proprietário é ele, sendo o
indivíduo o mero detentor da coisa.
-Não confie a defesa do seu direito
de expressão ao governo! A capacidade de raciocinar e expressar ideias de maneira complexa
não somente é uma característica que destaca o ser humano de outros animais
como é um importante instrumento para a evolução civilizatória. Por mais desafiador
que seja conviver com ideias dissonantes das nossas, a tolerância a elas só é
possível quando as nossas próprias ideias são igualmente toleradas. Apesar de a
nossa Constituição prever o direito à livre manifestação do pensamento, a
verdade é que quem deveria garanti-lo endossa a censura daquilo que lhe é
contrário ou considerado politicamente incorreto. Bloqueios de contas em redes
sociais, buscas e apreensões infundadas e quebra de sigilos bancários por meio
de decisões monocráticas de ministros do STF – o guardião da Constituição
Federal – ditaram, nos últimos meses, o compasso sob o qual o Estado de Direito
brasileiro era tocado.
-Não confie a defesa da sua
vida ao governo! A vida, direito inviolável e condição para o exercício de inúmeros
outros direitos, também compõe o rol de garantias constitucionais, cabendo ao
Estado assegurá-lo em dupla acepção: o de continuar vivo e o de se ter vida
digna. Do latim dignĭtas, seu significado faz referência ao valor do indivíduo
como ser humano. Dignidade é uma qualidade que depende intrinsecamente da
racionalidade, uma vez que apenas nós, seres humanos, somos capazes de buscar a
felicidade e a altivez moral utilizando-nos da nossa autonomia e do
livre-arbítrio. Como esperar garantia de vida digna quando o Estado lança mão
de todos os recursos disponíveis para assegurar que grande parte dos frutos do
trabalho de cada pessoa seja destinado à manutenção – e ao crescimento – de
privilégios dos “amigos do rei” em detrimento da própria população que os custeia?
-Não confie a defesa das suas
liberdades ao governo! O Estado nos permite desfrutar de liberdade apenas o suficiente
para pensarmos que somos livres, mas não o suficiente para que sejamos, de
fato, indivíduos livres. Se uma crítica ao governo em rede social causa
receio de perseguição a quem a proferiu, se a Lei não é aplicada de forma
equitativa a todos os cidadãos, se o que se conquista por meio de trabalho
árduo é tomado por quem nada produz, então não vivemos pela cartilha de um
Estado Democrático de Direito que tanto se orgulha da própria Constituição.
Deveríamos
ter aprendido há muito tempo que governos que mentem, trapaceiam, perseguem e
extorquem seu povo, não são confiáveis e, de forma alguma, são amigos da
liberdade. Como já disse o economista austríaco Friedrich Hayek, em sua obra O
Caminho da Servidão: “sob o Estado de Direito, o indivíduo é livre
para perseguir seus fins e desejos pessoais, com a certeza de que os poderes do
governo não serão usados deliberadamente para frustrar seus esforços.” - No papel, podemos até ser tecnicamente livres,
mas, na realidade, somos tão livres quanto um burocrata estatal pode permitir.
*Juliana Bravo – Associada II do Instituto
Líderes do Amanhã.
Fonte-https://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/nao-confie-no-estado/
Hora de enfrentar o Estado paternalista
Por Fernando Schuler
Li a
entrevista de um jovem professor de história sobre a reforma da Previdência.
Cara articulado, 28 anos e “de esquerda”. Diz que seu sonho era se
aposentar aos 53 e abrir um clube de poesia. Mas que agora tudo se desfez. Terá
que repensar as coisas. Li aquilo e fiquei pensando: “O que há com esse cara?
Podia pensar em ser empreendedor, abrir uma editora, um ‘Ted poesia’, uma ‘casa
do saber’, sei lá. Vai lá no Sebrae, pesquisa, pede alguns conselhos. O cara é
jovem, sem uma ruga no rosto, joelhos em dia. Compra um
livro de auto-ajuda”. Daqui a 25 anos não sei nem se ainda vão existir livros
de papel ou computadores pessoais. E o sujeito preocupado em se aposentar pelo
INSS?
-O Brasil velho é assim. Feito
de 76% de jovens com até 24 anos e preocupados em se aposentar ainda
cinquentões. Isso num país que gasta 12% do PIB com Previdência, quase três
vezes a média do que gastam países com mesmo perfil demográfico. Não acho que
as pessoas estejam preocupadas com números ou com a “sustentabilidade fiscal”.
Estamos simplesmente imersos em uma cultura política que desconfia do
“mercado”, foge do risco e das escolhas difíceis. País de cultura paternalista,
da qual a “esquerda” é sem dúvida a vanguarda, mas está longe de andar sozinha.
-O Brasil velho gosta de coisas
esquisitas como o imposto sindical. Criado na Constituição de 1937, a “polaca”,
o tributo sustenta hoje uma enorme máquina feita de 10.817 sindicatos de
trabalhadores, 5.251 sindicatos patronais, 549 federações, 43 confederações e 7
centrais sindicais. Lembranças nebulosas nos dão conta de que o sindicalismo liderado
por Lula, nos anos 70, teria defendido a livre associação sindical, o princípio
elementar de que as pessoas, querendo apoiar o seu sindicato, decidam pagar por
isso. O tempo tratou de apagar tudo isto. A esquerda que um dia ensaiou alguns
passos de independência caiu de boca no colo quente do Estado.
-O Brasil velho
gosta de voto obrigatório! Dia desses fui a um debate
com uma professora da Universidade de São Paulo. O debate andava meio morno e
resolvi dar uma provocada. Disse que precisávamos acabar
com a obrigatoriedade do voto. A senhora retrucou que não. Que isso iria apenas
favorecer os “mais ricos”. Na sua visão, brasileiro pobre precisa de um
empurrão do governo para votar. Se não acaba ficando em casa, no domingo,
assistindo ao Faustão. Olhei pra ela e me lembrei de Kant. O velho filósofo
dizia que a gente só aprende a ser livre exercitando a própria liberdade. É
como andar de bicicleta. As pessoas, independentemente da renda, vão aprendendo
a exercitar seus direitos. Leva algum tempo, mas
aprendem. Olhei pra ela e fiquei quieto. Mudei de assunto e continuei o debate.
-O mesmo vale para o
financiamento eleitoral. Sugeri, em um seminário, que os próprios indivíduos,
eleitores, apoiadores, deveriam financiar, com recursos próprios, os partidos
políticos. Cada um vai lá e
apoia o partido de sua preferência. Meu debatedor, bom cientista político,
pareceu irritado. O Brasil não tem tradição de apoio individual a coisa
nenhuma, disse ele. Ninguém põe dinheiro, ninguém acredita. Não tem jeito, o
Estado tem que bancar. Ato seguinte sugeriu um aumento do fundo partidário para
coisa de R$ 2,5 bilhões. Lembrei a ele que o tempo “gratuito” de TV, para os
partidos, já custa R$ 500 milhões e que o fundo partidário era de pouco mais de
R$ 300 milhões antes das últimas eleições. Ele olhou pra mim com cara de tio
sabido e disse: “Democracia custa caro, Fernando”. O debate seguiu, e hoje
estamos perto de aprovar no Congresso um fundo partidário “turbinado” de algo
mais do que R$ 2 bilhões. O ponto é que vivemos em um tempo surpreendente
e confuso. Há a reforma da Previdência, há a chance real de acabar com o
imposto sindical e há mesmo a chance de fazer uma minirreforma política, que
devolva ao voto o sentido de um direito. Há um Brasil que tenta se livrar de velhos
fantasmas do Estado Novo, da velha conversa fiada de que nossa gente é incapaz
de andar com as próprias pernas. Há um país que, talvez embalado por essa crise toda, tenta andar
um bocadinho à frente. Oxalá.
*Fernando Schüler é cientista político e
professor do Insper
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