A polícia
existe desde que o mundo é mundo, e seus profissionais são diferenciados. Por
isso, eles não têm o direito legal de entrar em greve e nem de fazer ações que
reduzam a eficiência do seu trabalho. É importante que a classe observe essa
limitação e reivindique no estrito terreno legal para evitar revezes e,
principalmente, a morte tanto de integrantes da classe quanto de pessoas do
povo como decorrência dos movimentos. Em suma: se a polícia parar,
é o caos e, além de patrimônio, vidas são colocadas em jogo. Os governantes não
devem se aproveitar desse espaço menor de pressão para negligenciar as
reivindicações pois, aí, não restará alternativa diferente do que apelar à
ilegalidade, com todos os riscos que isso representa. Não se
deve ignorar as agruras que o policial passa para defender a sociedade e
arriscando suas vidas todos os dias nas ruas, sem ganhos suficientes, ter de
morar em locais perigosos da periferia onde nem ao menos pode orgulhar-se em
mostrar sua profissão porque seus vizinhos são muitas vezes os marginais, ou
inimigos da corporação. Policiais precisam dividir o transporte público muitas
vezes com aqueles que combate profissionalmente e, principalmente, por não
conseguir pagar suas contas com o que ganha. É preciso considerar o grande
número de suicídios e de moléstias de ordem psicológica existente nas tropas
policiais. Durante as últimas décadas, quando o país caiu nas mãos dos
demagogos que buscaram encurtar a ação dos meios de segurança pública para com
isso obter votos, todos os policiais foram prejudicados. Governos federal,
estaduais, lideranças políticas e sociais devem se preocupar com isso. Ouvir e
atender aos reclamos da classe naquilo que for possível. Até porque, sem contar
com os trabalhos dos policiais, a vida fica mais difícil para todos, quer
gostemos, concordemos ou não com suas ações. Vale, nesse caso, o velho jargão:
"ruim com ela? Pior sem ela!"
Desmilitarização, extinção, ou investimento em formação? "qual é o
melhor modelo para a polícia brasileira?"
Por Estevão Ferreira
"Conversamos com especialistas para entender o que aconteceria se o Brasil seguisse outros modelos?"
Amarildo, o pedreiro morador da favela da Rocinha que desapareceu após operação policial, e as recentes manifestações que tomaram as ruas colocaram em evidência um tema antigo: a desmilitarização da PM. A violência policial somada a uso abusivo da força do Estado produziram o retorno de reivindicações, que podem vir na forma de “extinção da PM” ou “unificação das polícias”, resultando em uma corporação estruturada e subordinada a valores e regras estritamente civis. Em maio, o Conselho de Direitos Humanos da ONU pediu o fim da Polícia Militar no país, bem como o combate a “esquadrões da morte”, responsáveis por assassinatos “extrajudiciais”, como se suspeita ter ocorrido com Amarildo. A orientação ao Brasil era pela extinção do “sistema separada da Polícia Militar” e pela "revisão dos programas de formação em direitos humanos para as forças de segurança, insistindo no uso da força de acordo com os critérios de necessidade e de proporcionalidade, e pondo fim às execuções extrajudiciais". Hoje o debate se divide entre os que são a favor da total desmilitarização, unificando as polícias, ou criando uma nova; os que desmilitarizariam, mas acreditam ser necessária a existência de diversas polícias separadas e com objetivos específicos; e os que defendem o modelo atual e apostam em saídas como melhor treinamento e integração visando resultados menos negativos para a imagem dos órgãos de segurança do país. Conversamos com especialistas da área para ter um aperitivo dos argumentos que giram em torno do assunto. São eles:
-O cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas, Guaracy Mingardi;
-O sociólogo e secretário geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima;
-O tenente da Polícia Militar da Bahia e autor do blog Abordagem Policial, Danillo Ferreira;
-E o vereador de São Paulo (PSD) e ex-comandante da Polícia
Militar do Estado, o Coronel Álvaro Camilo.
O que significa desmilitarizar?
As forças de segurança no
Brasil são as nacionais Polícia Federal, Rodoviária e Ferroviária, e as
estaduais Militar, responsável pelo policiamento ostensivo (rondas) e de
preservação da ordem (abordagem e encaminhamento para delegacia), e a Civil,
que cuida da parte investigativa e judiciário (encaminhamento de inquérito, por
exemplo). A
Polícia Militar não tem o título por acaso. Sua raiz é de fato militar, e seu
objetivo mais comum, no mundo, é o de funcionar como uma corporação de reserva
das Forças Armadas, para atuar no interior do país em situações de guerra ou
conflito. Isso implica que a sua formação histórica é diferente dos agentes
civis, assim como a sua formação, seus títulos de hierarquia (capitão, tenente,
coronel e major), código penal e objetivos. Tanto é que a Polícia Militar está
subordinada à Inspetoria Geral das Polícias Militares (IGPM), um órgão do
Exército, criada em 1967 e regulamentada pela Constituição de 1988, e o
policial está submetido a uma Justiça Militar (além da civil) e, se preso, é
enviado a presídios especiais. Para Renato Sérgio de Lima, desmilitarizar
demanda reformas estruturais que tenham o fim de orientar a polícia para a
defesa da sociedade e não do Estado, como é hoje. “Para defender o Estado já
existe uma corporação que só em São Paulo tem 5 mil efetivos, a tropa de
choque, que dificilmente deixará de de ser militarizada. A questão é: como
mudar a mentalidade das demais polícias para uma lógica de trabalho em favor da
sociedade?” Lima pondera que seria inviável fazer a desmilitarização de
repente. “A polícia de São Paulo tem mais de 100 mil policiais. Sem uma lógica
militar é quase inconcebível manter e controlar essa força”, diz. Para ele, a
saída seria aumentar o poder dos municípios e dividir as forças para melhorar o
controle. “Hoje não ocorre o que se chama de ciclo de polícia, que é começar e
terminar um caso. Seria importante haver uma instituição cuidando disso, que
pode ser desmembrada em várias, o importante é que o policial possa fazer o
ciclo completo”. Para Lima, mudar o modelo militar pelo civil também não daria certo,
porque a estrutura da Polícia Civil atual não é o ideal. “A gente precisa de um
modelo novo, precisamos inovar tomando como base modelos de sucesso na Europa e
nos Estados Unidos, melhor do que remendar um tecido já estragado”, diz. “Segurança é assunto tabu
para governantes, mas é preciso que alguém tenha força política para avançar a
discussão, se não daqui a dez anos estaremos com os mesmos problemas e
discutindo as mesmas possibilidades de hoje.”
O policial que não está nos jornais
O tenente baiano Danillo
Ferreira não vê tanta importância na pauta da desmilitarização, e analisa que
mais importante é a atenção à integração das corporações (apesar da histórico
desavença entre as duas) e à melhor gestão da segurança. “Não é na estética militar, na
exaltação aos símbolos, na prática da disciplina que reside o defeito das
policias. É no desrespeito aos direitos, é na ‘filosofia de guerra’, na
formação de um ‘guerreiro’, no privilégio à repressão truculenta que está
disseminado nas instituições de segurança pública”, afirma. “Uma
desmilitarização precisa atingir de forma incisiva esta cultura, e tudo que
possibilita que ela sobreviva.” O Ferreira também defende o chamado ciclo
policial completo e critica o modelo atual que coloca o policial militar e o
civil com “meias funções”. Para isso, defende o investimento em comunicação
coordenada, gestão inteligente da informação e a estruturação organizacional
dividida por modalidade criminal ou por território. “Em qualquer dos dois
modelos ambas são autônomas e podem constituir sua cultura organizacional
(esteticamente militar ou não).” Para o militar, seria necessária a criação de agências
fiscalizadoras externas à polícia, já que, segundo ele, “corregedorias internas
têm sérias restrições em sua capacidade de atuação”. “Essa mudança passa até
mesmo por um posicionamento mais responsável da própria mídia – que
espetaculariza a ação policial repressiva, "especial",
"tática", como se todo policial devesse ter este perfil para
tornar-se positivado”, alfineta. “Precisamos enaltecer o policial comunitário,
que gerencia pequenos conflitos, que conhece a vizinhança do bairro, mas que
não está nas capas dos jornais como protagonista de uma grande ação policial.”
Desmilitarizar
pode ser ruim para o cidadão, diz Coronel
O
vereador Coronel Camilo ouviu às reivindicações, mas prefere ver a coisa toda
de um ponto de vista mais prático. Para ele, a história da segurança nacional
sempre foi a de opiniões sobre revisão da estrutura, mas o que importante mesmo
é fazer com que “as coisas funcionem”. O caráter militar da
corporação que chefiou por três anos em São Paulo não está baseado em insígnias
e títulos. “O regime militar é para controlar pessoas que tem o poder de tirar
vidas. Por isso submeter à duas justiças, civil e militar (que no código prevê
inclusive pena de morte). Hierarquia e disciplina são fundamentais para o
controle de um efetivo que é maior do o próprio Exército e é treinado em
combate diariamente”, diz o coronel. O vínculo com o IGPM e sua formação militar
também são explicados, dessa vez por uma questão de segurança nacional.
“Vivemos na América Latina, onde ainda há necessidade de proteção de
território. Quando o Exército uniu as polícias do Brasil e colocou a PM como
força reserva foi para cuidar do país. Se houver guerra, quem cuida do ambiente
nacional é a polícia militar.” Sobre o IGPM, diz que a
Inspetoria antes tinha maior ingerência sobre a Polícia Militar, hoje não, mas
assim o vínculo é importante. “Em caso de convocação para guerra, quem faz o
gerenciamento é o IGPM.” Para o militar, casos com o do Amarildo mostram não um
defeito do caráter militar da corporação, mas sim de desvios de atuação de
policiais e violação de direitos humanos, que devem ser punidos. “Da mesma
forma, há desrespeito à vida em delegacias, por civis e não por militares. A
hierarquia e ética militar, pelo contrário, ajuda na prevenção disso”, opina.
“Por mais que a entrada na corporação seja rigorosa, é inevitável que um ou
outro acabe se desvinculando.”
Mudança a longo prazo
O cientista político Guaracy
Mingardi, para falar do Brasil, lembra da polícia londrina, a Scotland Yard. Criada em 1829, a polícia
metropolitana era responsável pela segurança, porém sem caráter militar, o que
explica o “chapelão” usado hoje pelos oficiais, que é uma derivação da cartola
usada antigamente, dando um visual de cavalheiro aos policiais. A corporação
passou por uma grande reforma e foi criada uma nova chamada New Scotland Yard
(nome atual), que responde ao Parlamento. “Para imitarmos o modelo inglês, que
é diferente, seria muito difícil mas podemos aprender que dá para fazer, mas a
transição deve ser lenta. Embora acredite que a legislação deva ser feita de
uma vez, etapas importantes como ingresso nas corporações e treinamento único
devam ser implementados aos poucos, mas tudo com prazo estabelecido em lei para
acontecer, se não, não vai andar.” “Acho que é uma coisa a longo prazo, o ideal seria a instalação
de uma comissão na Câmara para estudar o tema e deixar material para pronto
para a próxima legislatura. É preciso comer pela borda, mas é bom que se comece
já.”
Fonte:
http://revistagalileu.globo.com/
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