“Não pensemos que [o diabo] é um mito, uma
representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este engano leva-nos a
diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos. O demónio não
precisa de nos possuir. Envenena-nos com o ódio, a tristeza, a inveja, os
vícios”, alerta, na exortação apostólica ‘Gaudete et Exsultate’ (Alegrai-vos e
exultai).
O texto recorda que a oração do Pai-Nosso se conclui com um pedido de oração contra o Maligno.“A expressão usada não se refere ao mal em abstrato; a sua tradução mais precisa é ‘o Maligno’. Indica um ser pessoal que nos atormenta. Jesus ensinou-nos a pedir cada dia esta libertação para que o seu poder não nos domine”, precisa Francisco.
O documento observa que esta presença do mal consta nas primeiras
páginas da Bíblia, que termina com a vitória de Deus sobre o demónio.“Não admitiremos a existência do demónio, se nos obstinarmos
a olhar a vida apenas com critérios empíricos e sem uma perspetiva
sobrenatural. A convicção de que este poder maligno está no meio de nós é
precisamente aquilo que nos permite compreender o motivo pelo qual, às vezes, o
mal tem uma força destruidora tão grande”, observa o pontífice.O texto
recorda mesmo os casos de possessões demoníacas narrados nos Evangelhos para
sublinhar que nem todos eram situações de “doenças psíquicas”.Francisco apresenta a vida cristã como uma “uma luta
permanente” contra as tentações do demónio.“A corrupção espiritual é pior que a
queda dum pecador, porque se trata duma cegueira cómoda e autossuficiente, em
que tudo acaba por parecer lícito”, adverte. A ‘Gaudete et Exsultate’
convida ao “discernimento” para saber distinguir o que vem do Espírito Santo do
que “deriva do espírito do mundo e do espírito maligno”.Este esforço, admite o
Papa, é dificultado pelas muitas possibilidades de ação e distração.“Todos, mas especialmente os jovens, estão sujeitos a um
zapping constante. É possível navegar simultaneamente em dois ou três visores e
interagir ao mesmo tempo em diferentes cenários virtuais. Sem a sapiência do
discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das
tendências da ocasião”, alerta.O pontífice pede por isso que os cristãos
façam, todos os dias, um “sincero exame de consciência”.O conjunto de reflexões
da terceira exortação apostólica conclui-se com uma referência à Virgem Maria.“Conversar com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A
Mãe não necessita de muitas palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado
para Lhe explicar o que se passa conosco”, escreve Francisco.O Papa
deseja que a sua nova exortação ajude a Igreja a “promover o desejo da
santidade”.
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA "GAUDETE ET EXSULTATE" DO SANTO PADRE FRANCISCO SOBRE A CHAMADA
À SANTIDADE NO MUNDO ATUAL
Capítulo II: DOIS INIMIGOS SUTIS DA
SANTIDADE
35. Neste contexto, desejo chamar a atenção
para duas falsificações da santidade que poderiam extraviar-nos: o gnosticismo
e o pelagianismo. São duas heresias que surgiram nos primeiros séculos do
cristianismo, mas continuam a ser de alarmante atualidade. Ainda hoje os
corações de muitos cristãos, talvez inconscientemente, deixam-se seduzir por
estas propostas enganadoras. Nelas aparece expresso um imanentismo
antropocêntrico, disfarçado de verdade católica. Vejamos estas duas formas de
segurança doutrinária ou disciplinar, que dão origem «a um elitismo narcisista
e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais
e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar.
Em ambos os casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente».
O gnosticismo atual
36. O gnosticismo supõe «uma fé fechada no
subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de
raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em
última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão
ou dos seus sentimentos».
Uma mente sem Deus e sem carne
37. Graças a Deus, ao longo da história da
Igreja, ficou bem claro que aquilo que mede a perfeição das pessoas é o seu
grau de caridade, e não a quantidade de dados e conhecimentos que possam
acumular. Os «gnósticos», baralhados neste ponto, julgam os outros segundo
conseguem, ou não, compreender a profundidade de certas doutrinas. Concebem uma
mente sem encarnação, incapaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros,
engessada numa enciclopédia de abstrações. Ao desencarnar o mistério, em última
análise preferem «um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem
povo».
38. Em suma, trata-se duma vaidosa
superficialidade: muito movimento à superfície da mente, mas não se move nem se
comove a profundidade do pensamento. No entanto, consegue subjugar alguns com o
seu fascínio enganador, porque o equilíbrio gnóstico é formal e supostamente asséptico, podendo assumir o aspecto duma certa harmonia ou duma ordem que tudo
abrange.
39. Mas atenção! Não estou a referir-me aos
racionalistas inimigos da fé cristã. Isto pode acontecer dentro da Igreja,
tanto nos leigos das paróquias como naqueles que ensinam filosofia ou teologia
em centros de formação. Com efeito, também é típico dos gnósticos crer que
eles, com as suas explicações, podem tornar perfeitamente compreensível toda a
fé e todo o Evangelho. Absolutizam as suas teorias e obrigam os outros a
submeter-se aos raciocínios que eles usam. Uma coisa é o uso saudável e humilde
da razão para refletir sobre o ensinamento teológico e moral do Evangelho,
outra é pretender reduzir o ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura que
procura dominar tudo.
Uma doutrina sem mistério
40. O gnosticismo é uma das piores
ideologias, pois, ao mesmo tempo que exalta indevidamente o conhecimento ou uma
determinada experiência, considera que a sua própria visão da realidade seja a
perfeição. Assim, talvez sem se aperceber, esta ideologia autoalimenta-se e
torna-se ainda mais cega. Por vezes, torna-se particularmente enganadora,
quando se disfarça de espiritualidade desencarnada. Com efeito, o gnosticismo,
«por sua natureza, quer domesticar o mistério», tanto o mistério de Deus e
da sua graça, como o mistério da vida dos outros.
41. Quando alguém tem resposta para todas
as perguntas, demonstra que não está no bom caminho e é possível que seja um
falso profeta, que usa a religião para seu benefício, ao serviço das próprias
lucubrações psicológicas e mentais. Deus supera-nos infinitamente, é sempre uma
surpresa e não somos nós que determinamos a circunstância histórica em que O
encontramos, já que não dependem de nós o tempo, nem o lugar, nem a modalidade
do encontro. Quem quer tudo claro e seguro, pretende dominar a transcendência
de Deus.
42. Nem se pode pretender definir onde Deus
não Se encontra, porque Ele está misteriosamente presente na vida de toda a
pessoa, na vida de cada um como Ele quer, e não o podemos negar com as nossas
supostas certezas. Mesmo quando a vida de alguém tiver sido um desastre, mesmo
que o vejamos destruído pelos vícios ou dependências, Deus está presente na sua
vida. Se nos deixarmos guiar mais pelo Espírito do que pelos nossos
raciocínios, podemos e devemos procurar o Senhor em cada vida humana. Isto faz
parte do mistério que as mentalidades gnósticas acabam por rejeitar, porque não
o podem controlar.
Os limites da razão
43. Só de forma muito pobre, chegamos a
compreender a verdade que recebemos do Senhor. E, ainda com maior dificuldade,
conseguimos expressá-la. Por isso, não podemos pretender que o nosso modo de a
entender nos autorize a exercer um controlo rigoroso sobre a vida dos outros.
Quero lembrar que, na Igreja, convivem legitimamente diferentes maneiras de
interpretar muitos aspetos da doutrina e da vida cristã, que, na sua variedade,
«ajudam a explicitar melhor o tesouro riquíssimo da Palavra. Certamente, a
quantos sonham com uma doutrina monolítica defendida sem nuances por todos,
isto poderá parecer uma dispersão imperfeita». Por isso mesmo, algumas
correntes gnósticas desprezaram a simplicidade tão concreta do Evangelho e
tentaram substituir o Deus trinitário e encarnado por uma Unidade superior onde
desaparecia a rica multiplicidade da nossa história.
44. Na realidade, a doutrina, ou melhor, a
nossa compreensão e expressão dela, «não é um sistema fechado, privado de
dinâmicas próprias capazes de gerar perguntas, dúvidas, questões; e as
perguntas do nosso povo, as suas angústias, batalhas, sonhos e preocupações
possuem um valor hermenêutico que não podemos ignorar, se quisermos deveras
levar a sério o princípio da encarnação. As suas perguntas ajudam-nos a
questionar-nos, as suas questões interrogam-nos».
45. Com frequência, verifica-se uma
perigosa confusão: julgar que, por sabermos algo ou podermos explicá-lo com uma
certa lógica, já somos santos, perfeitos, melhores do que a «massa ignorante».
São João Paulo II advertia, a quantos na Igreja têm a possibilidade de uma
formação mais elevada, contra a tentação de cultivarem «um certo sentimento de
superioridade relativamente aos outros fiéis». Na realidade, porém, aquilo
que julgamos saber sempre deveria ser uma motivação para responder melhor ao amor
de Deus, porque «se aprende para viver: teologia e santidade são um binómio
inseparável».
46. São Francisco de Assis, ao ver que
alguns dos seus discípulos ensinavam a doutrina, quis evitar a tentação do
gnosticismo. Então escreveu assim a Santo António de Lisboa: «Apraz-me que
interpreteis aos demais frades a sagrada teologia, contanto que este estudo não
apague neles o espírito da santa oração e devoção». Reconhecia a tentação
de transformar a experiência cristã num conjunto de especulações mentais, que
acabam por nos afastar do frescor do Evangelho. São Boaventura, por sua vez,
advertia que a verdadeira sabedoria cristã não se deve desligar da misericórdia
para com o próximo: «A maior sabedoria que pode existir consiste em dispensar
frutuosamente o que se possui e que lhe foi dado precisamente para o distribuir. Por isso, como a misericórdia é amiga da sabedoria, assim a avareza é
sua inimiga» - «Há atividades, como as obras de misericórdia e de piedade,
que, unindo-se à contemplação, não a impedem, antes favorecem-na».
O pelagianismo atual
47. O gnosticismo deu lugar a outra heresia
antiga, que está presente também hoje. Com o passar do tempo, muitos começaram
a reconhecer que não é o conhecimento que nos torna melhores ou santos, mas a
vida que levamos. O problema é que isto foi subtilmente degenerando, de modo
que o mesmo erro dos gnósticos foi simplesmente transformado, mas não superado.
48. Com efeito, o poder que os gnósticos
atribuíam à inteligência, alguns começaram a atribuí-lo à vontade humana, ao
esforço pessoal. Surgiram, assim, os pelagianos e os semipelagianos. Já não era
a inteligência que ocupava o lugar do mistério e da graça, mas a vontade.
Esquecia-se que «isto não depende daquele que quer nem daquele que se esfoça
por alcançá-lo, mas de Deus que é misericordioso» (Rm 9, 16) e que Ele «nos
amou primeiro» (1 Jo 4, 19).
Uma vontade sem humildade
49. Quem se conforma a esta mentalidade
pelagiana ou semipelagiana, embora fale da graça de Deus com discursos
edulcorados, «no fundo, só confia nas suas próprias forças e sente-se superior
aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a
um certo estilo católico». Quando alguns deles se dirigem aos frágeis,
dizendo-lhes que se pode tudo com a graça de Deus, basicamente costumam
transmitir a ideia de que tudo se pode com a vontade humana, como se esta fosse
algo puro, perfeito, omnipotente, a que se acrescenta a graça. Pretende-se
ignorar que «nem todos podem tudo», e que, nesta vida, as fragilidades
humanas não são curadas, completamente e duma vez por todas, pela graça. Em
todo o caso, como ensinava Santo Agostinho, Deus convida-te a fazer o que podes
e «a pedir o que não podes»; ou então a dizer humildemente ao Senhor:
«dai-me o que me ordenais e ordenai-me o que quiserdes».
50. No fundo, a falta dum reconhecimento
sincero, pesaroso e orante dos nossos limites é que impede a graça de atuar
melhor em nós, pois não lhe deixa espaço para provocar aquele bem possível que
se integra num caminho sincero e real de crescimento. A graça, precisamente
porque supõe a nossa natureza, não nos faz improvisamente super-homens.
Pretendê-lo seria confiar demasiado em nós próprios. Neste caso, por trás da
ortodoxia, as nossas atitudes podem não corresponder ao que afirmamos sobre a
necessidade da graça e, na prática, acabamos por confiar pouco nela. Com
efeito, se não reconhecemos a nossa realidade concreta e limitada, não
poderemos ver os passos reais e possíveis que o Senhor nos pede em cada momento,
depois de nos ter atraído e tornado idóneos com o seu dom. A graça atua
historicamente e, em geral, toma-nos e transforma-nos de forma progressiva. Por isso, se recusarmos esta modalidade histórica e progressiva, de facto
podemos chegar a negá-la e bloqueá-la, embora a exaltemos com as nossas
palavras.
51. Quando Deus Se dirige a Abraão,
diz-lhe: «Eu sou o Deus supremo. Anda na minha presença e sê perfeito» (Gn 17,
1). Para poder ser perfeitos, como é do seu agrado, precisamos de viver
humildemente na presença d’Ele, envolvidos pela sua glória; necessitamos de
andar em união com Ele, reconhecendo o seu amor constante na nossa vida. Há que
perder o medo desta presença que só nos pode fazer bem. É o Pai que nos deu
vida e nos ama tanto. Uma vez que O aceitamos e deixamos de pensar a nossa
existência sem Ele, desaparece a angústia da solidão (cf. Sal 139/138, 7). E,
se deixarmos de pôr Deus à distância e vivermos na sua presença, poderemos
permitir-Lhe que examine os nossos corações para ver se seguem pelo reto
caminho (cf. Sal 139/138, 23-24). Assim conheceremos a vontade perfeita e
agradável ao Senhor (cf. Rm 12, 1-2) e deixaremos que Ele nos molde como um
oleiro (cf. Is 29, 16). Dissemos tantas vezes que Deus habita em nós, mas é
melhor dizer que nós habitamos n’Ele, que Ele nos possibilita viver na sua luz
e no seu amor. Ele é o nosso templo: «Uma só coisa (…) ardentemente desejo: é
habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida» (Sal 27/26, 4). «Um dia
em teus átrios vale por mil» (Sal 84/83, 11). N’Ele, somos santificados.
Um ensinamento da Igreja frequentemente
esquecido
52. A Igreja ensinou repetidamente que não
somos justificados pelas nossas obras ou pelos nossos esforços, mas pela graça
do Senhor que toma a iniciativa. Os Padres da Igreja, já antes de Santo
Agostinho, expressavam com clareza esta convicção primária. Dizia São João
Crisóstomo que Deus derrama em nós a própria fonte de todos os dons, «antes de
termos entrado no combate». São Basílio Magno observava que o fiel se gloria
apenas em Deus, porque «reconhece estar privado da verdadeira justiça e que é
justificado somente por meio da fé em Cristo».
53. O II Sínodo de Orange ensinou, com
firme autoridade, que nenhum ser humano pode exigir, merecer ou comprar o dom
da graça divina, e que toda a cooperação com ela é dom prévio da mesma graça:
«até o desejo de ser puro se realiza em nós por infusão do Espírito Santo e com
sua ação sobre nós». Sucessivamente o Concílio de Trento, mesmo quando
destacou a importância da nossa cooperação para o crescimento espiritual,
reafirmou tal ensinamento dogmático: «Afirma-se que somos justificados
gratuitamente, porque nada do que precede a justificação, quer a fé, quer as
obras, merece a própria graça da justificação; porque, se é graça, então não é
pelas obras, caso contrário, a graça já não seria graça (Rm 11, 6)».
54. Também o Catecismo da Igreja Católica
nos lembra que o dom da graça «ultrapassa as capacidades da inteligência e as
forças da vontade humana»e que, «em relação a Deus, não há, da parte do
homem, mérito no sentido dum direito estrito. Entre Ele e nós, a desigualdade é
sem medida». A sua amizade supera-nos infinitamente, não pode ser comprada
por nós com as nossas obras e só pode ser um dom da sua iniciativa de amor.
Isto convida-nos a viver com jubilosa gratidão por este dom que nunca
mereceremos, uma vez que, «depois duma pessoa já possuir a graça, não pode a
graça já recebida cair sob a alçada do mérito». Os santos evitam de pôr a
confiança nas suas ações: «Ao anoitecer desta vida, aparecerei diante de Vós
com as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras.
Todas as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos» (Santa Teresinha).
55. Esta é uma das grandes convicções
definitivamente adquiridas pela Igreja e está tão claramente expressa na
Palavra de Deus que fica fora de qualquer discussão. Esta verdade, tal como o
supremo mandamento do amor, deveria caracterizar o nosso estilo de vida, porque
bebe do coração do Evangelho e convida-nos não só a aceitá-la com a mente, mas
também a transformá-la numa alegria contagiosa. Mas não poderemos celebrar com
gratidão o dom gratuito da amizade com o Senhor, se não reconhecermos que a
própria existência terrena e as nossas capacidades naturais são um dom. Precisamos
de «reconhecer alegremente que a nossa realidade é fruto dum dom, e aceitar
também a nossa liberdade como graça. Isto é difícil hoje, num mundo que julga
possuir algo por si mesmo, fruto da sua própria originalidade e liberdade».
56. Só a partir do dom de Deus, livremente
acolhido e humildemente recebido, é que podemos cooperar com os nossos esforços
para nos deixarmos transformar cada vez mais. A primeira coisa é pertencer
a Deus. Trata-se de nos oferecermos a Ele que nos antecipa, de Lhe oferecermos
as nossas capacidades, o nosso esforço, a nossa luta contra o mal e a nossa
criatividade, para que o seu dom gratuito cresça e se desenvolva em nós: «por
isso, vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos
corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus» (Rm 12, 1). Aliás, a
Igreja sempre ensinou que só a caridade torna possível o crescimento na vida da
graça, porque, «se não tiver amor, nada sou» (1 Cor 13, 2).
Os novos pelagianos
57. Ainda há cristãos que insistem em
seguir outro caminho: o da justificação pelas suas próprias forças, o da
adoração da vontade humana e da própria capacidade, que se traduz numa
autocomplacência egocêntrica e elitista, desprovida do verdadeiro amor.
Manifesta-se em muitas atitudes aparentemente diferentes entre si: a obsessão
pela lei, o fascínio de exibir conquistas sociais e políticas, a ostentação no
cuidado da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, a vanglória ligada à
gestão de assuntos práticos, a atração pelas dinâmicas de autoajuda e
realização autorreferencial. É nisto que alguns cristãos gastam as suas
energias e o seu tempo, em vez de se deixarem guiar pelo Espírito no caminho do
amor, apaixonarem-se por comunicar a beleza e a alegria do Evangelho e
procurarem os afastados nessas imensas multidões sedentas de Cristo.
58. Muitas vezes, contra o impulso do
Espírito, a vida da Igreja transforma-se numa peça de museu ou numa propriedade
de poucos. Verifica-se isto quando alguns grupos cristãos dão excessiva
importância à observância de certas normas próprias, costumes ou estilos. Assim
se habituam a reduzir e manietar o Evangelho, despojando-o da sua simplicidade
cativante e do seu sabor. É talvez uma forma subtil de pelagianismo, porque
parece submeter a vida da graça a certas estruturas humanas. Isto diz respeito
a grupos, movimentos e comunidades, e explica por que tantas vezes começam com
uma vida intensa no Espírito, mas depressa acabam fossilizados... ou corruptos.
59. Sem nos darmos conta, pelo fato de
pensar que tudo depende do esforço humano canalizado através de normas e
estruturas eclesiais, complicamos o Evangelho e tornamo-nos escravos dum
esquema que deixa poucas aberturas para que a graça atue. São Tomás de Aquino
lembrava-nos que se deve exigir, com moderação, os preceitos acrescentados ao
Evangelho pela Igreja, «para não tornar a vida pesada aos fiéis, [porque assim]
se transformaria a nossa religião numa escravidão».
O resumo da Lei
60. Para evitar isso, é bom recordar
frequentemente que existe uma hierarquia das virtudes, que nos convida a buscar
o essencial. A primazia pertence às virtudes teologais, que têm Deus como
objeto e motivo. E, no centro, está a caridade. São Paulo diz que o que conta
verdadeiramente é «a fé que atua pelo amor» (Gal 5, 6). Somos chamados a cuidar
solicitamente da caridade: «quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. Assim, é no amor que está o pleno cumprimento da lei» (Rm 13, 8.10). «É que
toda a Lei se resume neste único preceito: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”»
(Gal 5, 14).
61. Por outras palavras, no meio da densa
selva de preceitos e prescrições, Jesus abre uma brecha que permite vislumbrar
dois rostos: o do Pai e o do irmão. Não nos dá mais duas fórmulas ou dois
preceitos; entrega-nos dois rostos, ou melhor, um só: o de Deus que se reflete
em muitos, porque em cada irmão, especialmente no mais pequeno, frágil, inerme
e necessitado, está presente a própria imagem de Deus. De facto, será com os
descartados desta humanidade vulnerável que, no fim dos tempos, o Senhor
plasmará a sua última obra de arte. Pois, «o que é que resta? O que é que tem
valor na vida? Quais são as riquezas que não desaparecem? Seguramente duas: o
Senhor e o próximo. Estas duas riquezas não desaparecem».
62. Que o Senhor liberte a Igreja das novas
formas de gnosticismo e pelagianismo que a complicam e detêm no seu caminho
para a santidade! Estes desvios manifestam-se de formas diferentes, segundo o
temperamento e as caraterísticas próprias. Por isso, exorto cada um a
questionar-se e a discernir diante de Deus a maneira como possam estar a
manifestar-se na sua vida.
Fonte: Vatican.va
Pequenos textos da Santa Teresinha
que podem ser lidos ou meditados em nosso caminho de busca da santidade
Um Caminho Completamente
Novo!
Bem sabeis, minha Madre, que sempre desejei ser santa. Mas, ai de mim! sempre verifiquei, ao comparar-me
com os Santos, que há entre eles e eu a mesma diferença que existe entre uma
montanha, cujo cume se perde nos céus, e o obscuro grão de areia pisado
pelos pés dos caminhantes. Em vez de desanimar, disse para comigo: Deus não
pode inspirar desejos irrealizáveis. Posso, portanto, apesar da minha pequenez,
aspirar à santidade. Fazer-me crescer a mim mesma é impossível; tenho de suportar-me
tal como sou, com todas as minhas imperfeições. Mas quero procurar a maneira de
ir para o Céu por um caminhito muito direito, muito curto; um caminhito
completamente novo.(História de uma Alma, Ms C 2vº)
Se alguém for pequenino
Estamos num século de invenções! Agora já não se tem a maçada de subir os degraus de uma escada; em casa dos ricos o ascensor substitui-a vantajosamente. Eu queria também encontrar um ascensor que me elevasse até Jesus, porque sou demasiado pequena para subir a rude escada da perfeição. Então, procurei nos Livros Sagrados a indicação do ascensor — objecto do meu desejo —, e li as estas palavras saídas da boca da Sabedoria eterna: Se alguém for pequenino, venha a mim. Então, aproximei-me, adivinhando que tinha encontrado o que procurava, e querendo saber, ó meu Deus!, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso apelo. Continuei as minhas buscas, e eis o que encontrei: — Como uma mãe acaricia o seu filho, assim eu vos consolarei; levar-vos-ei ao colo e embalar-vos-ei nos meus joelhos! Ah!, nunca palavras tão ternas e tão melodiosas me vieram alegrar a alma.O ascensor que me há-de elevar até ao Céu, são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena. Ó meu Deus! excedestes a minha esperança, e eu quero cantar as vossas misericórdias. (História de uma Alma, Ms C 3rº)
Um Pouco De Boa Vontade
Tu fazes-me pensar numa criancinha que começa a erguer-se de pé, mas que ainda não sabe caminhar. Querendo a todo o custo subir ao alto duma escada para estar com a sua mamã, levanta o pézito para subir o primeiro degrau. Mas é um esforço inútil! Cai uma e outra vez, sem chegar a avançar. Muito bem: aceita ser essa criança. Pela prática de todas as virtudes, levanta sempre o teu pézito para subires a escada da santidade. Não conseguirás subir o primeiro degrau sequer. Mas o que Deus apenas te pede é a tua boa vontade. Do alto da escada Ele olha-te com amor. Rapidamente vencido pelos teus inúteis esforços, Ele-mesmo baixará e tomando-te nos seus braços, levar-te-á para sempre para o seu reino, onde jamais te afastarás dEle. Mas se não chegares a levantar o teu pézito Ele deixar-te-á muito tempo na terra.(Caderno Vermelho, escrito pela Irmã Maria da Trindade)
Desejo ser Santa!
Ó meu Deus! Trindade Bem-aventurada! Desejo amar-Vos e fazer‑Vos amar, trabalhar pela
glorificação da Santa Igreja, salvando as almas que estão na terra, e
libertando as que estão no Purgatório. Desejo cumprir plenamente a vossa
vontade, e chegar ao grau de glória que me preparastes no vosso Reino; numa
palavra, desejo ser santa. Mas conheço a minha impotência, e peço-Vos, ó meu
Deus, que sejais Vós mesmo a minha Santidade. Já que Vós me amastes até me dardes o vosso Filho
único para ser o meu Salvador e o meu Esposo, os tesouros infinitos dos seus
méritos são meus: ofereço-Vo-los com alegria, suplicando-Vos que não olheis
para mim senão através da Face de Jesus e no seu Coração ardente de Amor.(Oração 6: 1-2)
O Pequeno Passarinho
O passarinho quereria voar para o Sol brilhante que lhe fascina o olhar; quereria imitar as Águias, suas irmãs, que vê
elevarem-se até ao fogo divino da Santíssima Trindade... Pobre dele! tudo
quanto pode fazer é agitar as suas pequenas asas; mas levantar voo, isso não
está no seu pequeno poder! Que será dele? Morrerá de desgosto, ao ver-se
impotente?... Oh, não! o passarinho nem sequer se vai afligir. Com um audacioso
abandono, quer ficar a fixar o seu divino Sol. Nada seria capaz de o assustar,
nem o vento nem a chuva; e se nuvens sombrias chegam a esconder o Astro do
Amor, o passarinho não muda de lugar, pois sabe que para além das nuvens o seu
Sol brilha sempre, e que o seu brilho não se poderia eclipsar nem por um
instante sequer.É verdade que às vezes o coração do
passarinho se vê acometido pela tempestade; parece-lhe não acreditar que existe
outra coisa, a não ser as nuvens que o envolvem. É então o momento da alegria
perfeita para a pobre e débil criaturinha. Que felicidade para ela, permanecer
ali, apesar de tudo, e fixar a luz invisível que se esconde à sua fé!Jesus, até agora compreendo o teu amor para com o
passarinho pois ele não se afasta de Ti. Mas eu sei, e Tu também o sabes,
muitas vezes a imperfeita criaturinha, ficando embora no seu lugar (isto é, sob
os raios do Sol), deixa‑se distrair um pouco da sua única ocupação; apanha um
grãozito à direita e à esquerda, corre atrás de um vermezito... Depois,
encontrando uma pocita de água, molha as penas ainda mal formadas; quando vê
uma flor que lhe agrada o seu espírito entretém-se com essa flor... Enfim! não
podendo pairar como as Águias, o pobre passarinho entretém-se ainda com as
bagatelas da terra. Não obstante, depois de todas as suas travessuras, em vez
de se ir esconder num canto para chorar a sua miséria e morrer de
arrependimento, o passarinho volta-se para o seu Bem‑amado Sol, expõe as asitas
molhadas aos seus raios benfazejos, geme como a andorinha e, no seu doce
cantar, confia, conta em pormenor as suas infidelidades, pensando, no seu
temerário abandono, conseguir assim maior influência e atrair mais plenamente o
amor d’Aquele que não veio chamar os justos mas os pecadores... Se o Astro
Adorado continuar surdo ao chilrear plangente da sua criaturinha, se permanecer
velado..., pois bem: a criaturinha continua molhada, aceita ficar transida de
frio, e ainda se alegra com esse sofrimento que, aliás, mereceu...Ó Jesus! como o teu passarinho está contente por
ser débil e pequeno. Que seria dele se fosse grande?... Nunca teria a audácia
de aparecer na tua presença, de dormitar diante de Ti... Sim, aí está mais uma
fraqueza do passarinho: quando quer fixar o Divino Sol, e as nuvens o impedem
de ver um único raio, contra sua vontade os seus olhitos fecham-se, a sua cabecinha
esconde-se debaixo da asita, e a pobre criaturinha adormece, julgando fixar
ainda o seu Astro Querido. Ao acordar, não fica desolado, o seu coraçãozinho
fica em paz, e recomeça o seu ofício de amor. Invoca os Anjos e os Santos que
se elevam como Águias em direção ao Fogo devorador, objecto do seu desejo.E as Águias, compadecendo-se do seu irmãozinho,
protegem-no, defendem-no, e põem em fuga os abutres que o queriam devorar. Os
abutres, imagem do demónio, o passarinho não os teme, pois não está destinado a
ser presa deles, mas da Águia que contempla no centro do Sol do Amor.Por tanto tempo quanto quiseres, ó meu Bem-amado, o
teu passarinho ficará sem forças e sem asas; permanecerá sempre com os olhos
fixos em Ti. Quer ser fascinado pelo teu divino olhar, quer tornar‑se a presa
do teu Amor... Um dia, assim o espero, Águia adorada, virás buscar o teu
passarinho e, subindo com ele para o Fogo do Amor, mergulhá‑lo‑ás eternamente
no ardente Abismo desse Amor, ao qual se ofereceu como vítima...(História de uma Alma, Ms B 5rº-vº)
A Oração levanta o Mundo!
Um sábio disse:«Dai-me uma alavanca, um ponto de apoio, e
levantarei o mundo». O que Arquimedes não pôde obter, porque o seu pedido não
se dirigia a Deus, e por não ser feito senão sob o ponto de vista material, os
Santos obtiveram-no em toda a plenitude: o Todo-poderoso deu-lhes, como ponto
de apoio: Ele mesmo e Ele só; e como alavanca: a oração, que abrasa com fogo de
amor. E foi assim que levantaram o mundo; é assim que os santos que ainda
militam na terra o levantam, e que, até ao fim do mundo, os futuros santos o
levantarão também.(História de uma Alma, Ms C 36rº-vº)
Lançar Flores
Sim, meu Bem-amado!Assim se consumirá a minha vida... Não tenho outro
meio de Te provar o meu amor, senão o de lançar flores, isto é, não deixar
escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra; aproveitar
todas as mais pequenas coisas e fazê-las por amor... Quero sofrer por amor e gozar
por amor. Assim lançarei flores diante do teu trono. Não encontrarei nenhuma
sem a desfolhar para Ti...(História de uma Alma, Ms B 4rº-vº)
O Fogo do Amor
Celina, Deus não me pede já nada...No princípio pedia-me uma infinidade de coisas.
Pensei durante algum tempo, visto que Jesus não me pedia nada, que agora era
preciso caminhar suavemente na paz e no amor fazendo somente o que Ele me
pedisse... Mas tive uma luz. Santa Teresa diz que é preciso alimentar o amor. A
lenha não se encontra ao nosso alcance quando estamos nas trevas, na aridez,
mas não estaremos ao menos obrigadas a lançar nele algumas palhinhas? Jesus é
suficientemente poderoso para conservar sozinho o fogo, todavia fica contente
por nos ver alimentá-lo, é uma delicadeza que Lhe agrada e então lança Ele no
fogo muita lenha, nós não o vemos mas sentimos a força do calor do amor. Tenho
feito disto a experiência, quando não sinto nada, quando sou incapaz de rezar,
ou de praticar a virtude, é então o momento de procurar pequenas ocasiões, não das que me dão gosto, mais gosto a Jesus do que o império do mundo ou mesmo do
que o martírio sofrido generosamente, por exemplo, um sorriso, uma palavra
amável quando teria vontade de não dizer nada ou de mostrar um ar aborrecido,
etc., etc.(Carta 143)
O Divino Prisioneiro
Como ter medo d’Aquele que Se deixa prender por um cabelo que esvoaça no nosso
pescoço? Saibamos pois conservar prisioneiro este Deus que
Se faz mendigo do nosso amor. Ao dizer-nos que um só cabelo pode realizar este
prodígio, mostra-nos que as mais pequenas ações feitas por amor são as que Lhe
cativam o coração...Ah! se fosse preciso fazer grandes coisas, quanto
seríamos para lastimar?... Mas como somos felizes visto que Jesus se deixa
prender pelas mais pequeninas...(Carta 191)
Amor, a chave da vocação!
Considerando o corpo místico da Igreja, não me tinha reconhecido em nenhum
dos membros descritos por S. Paulo; ou melhor, queria reconhecer-me em todos… A
caridade deu‑me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um
corpo composto de diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos
não lhe faltava: compreendi que a Igreja tinha um coração, e que esse coração
estava ardendo de amor. Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da
Igreja; que se o Amor se apagasse, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho,
os mártires recusar-se-iam a derramar o seu sangue... Compreendi que o Amor
encerra todas as Vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos os tempos e
todos os lugares... numa palavra, que é Eterno!...(História de uma Alma, Ms B 3vº)
Ato de oferenda ao amor misericordioso
Ó meu Deus! Trindade Bem-aventurada! Desejo amar-Vos e fazer‑Vos amar,
trabalhar pela glorificação da Santa Igreja, salvando as almas que estão na
terra, e libertando as que estão no Purgatório. Desejo cumprir plenamente a
vossa vontade, e chegar ao grau de glória que me preparastes no vosso Reino;
numa palavra, desejo ser santa. Mas conheço a minha impotência, e peço-Vos, ó
meu Deus, que sejais Vós mesmo a minha Santidade.Já que Vós me amastes até me dardes o vosso
Filho único para ser o meu Salvador e o meu Esposo, os tesouros infinitos dos
seus méritos são meus: ofereço-Vo-los com alegria, suplicando-Vos que não
olheis para mim senão através da Face de Jesus e no seu Coração ardente de
Amor.Ofereço-Vos também todos os méritos dos Santos (que
estão no Céu e na terra), os seus actos de Amor, e os dos Santos Anjos.
Finalmente, ofereço-Vos, ó Bem-aventurada Trindade, o Amor e os méritos da
Santíssima Virgem, minha querida Mãe: é a ela que entrego o meu oferecimento,
pedindo-lhe que Vo-lo apresente.O seu divino Filho, meu Esposo Bem-amado, nos dias
da sua vida mortal, disse-nos: «Tudo o que pedirdes ao meu Pai em meu nome, Ele
vo-lo concederá!». Tenho, portanto, a certeza de que atendereis os meus
desejos.Bem sei, ó meu Deus, quanto mais quereis dar, mais
fazeis desejar. Sinto no meu coração desejos imensos, e é com confiança que Vos
peço que venhais tomar posse da minha alma. Ah! não posso receber a Sagrada
Comunhão tantas vezes quantas desejo, mas, Senhor, não sois Todo-poderoso?...
Ficai em mim, como no Sacrário. Nunca Vos afasteis da vossa hostiazinha...Quereria consolar-Vos da ingratidão dos maus, e
suplico-Vos que me tireis a liberdade de Vos desagradar. Se, por fraqueza, cair
algumas vezes, que logo o vosso divino olhar purifique a minha alma, consumindo
todas as minhas imperfeições, como o fogo, que transforma em si próprio todas
as coisas...Agradeço-Vos, ó meu Deus, por todas as graças que
me concedestes, especialmente por me terdes feito passar pelo crisol do
sofrimento. Será com alegria que Vos contemplarei no último dia, levando o
ceptro da Cruz. Já que Vos dignastes dar-me em herança esta Cruz tão preciosa,
espero parecer-me convosco no Céu, e ver brilhar no meu corpo glorificado os
sagrados estigmas da vossa Paixão... Depois do exílio da terra, espero ir gozar
de Vós na Pátria, mas não quero acumular méritos para o Céu, quero trabalhar só
por vosso Amor, com o único fim de Vos agradar, de consolar o vosso Coração
Sagrado, e de salvar almas que Vos amarão eternamente.Na noite desta vida, aparecerei diante de Vós com
as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras. Todas
as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me
com a vossa própria Justiça, e receber do vosso Amor a posse eterna de Vós
mesmo. Não quero outro Trono, nem outra Coroa, senão Vós, ó meu Bem-amado!...Aos vossos olhos, o tempo não é nada: um só dia é
como mil anos; podeis, portanto, num instante, preparar-me para aparecer diante
de Vós...A fim de viver num ato de perfeito Amor,
ofereço-me como vítima de holocausto ao vosso amor misericordioso,
suplicando-Vos que me consumais sem cessar, deixando transbordar para a minha
alma as ondas de ternura infinita que estão encerradas em Vós, e que assim eu
me torne Mártir do vosso Amor, ó meu Deus!...Que este Martírio, depois de me ter preparado para
aparecer diante de Vós, me faça, enfim, morrer, e que a minha alma se lance,
sem demora, no eterno abraço do vosso Amor misericordioso...Quero, ó meu Bem-amado, a cada palpitação do meu
coração, renovar-Vos este oferecimento um número infinito de vezes, até ao
momento em que, desvanecidas as sombras, possa reafirmar-Vos o meu Amor num
face-a-face eterno!...
A caridade perfeita
Ah! compreendo agora que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos
dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas, em edificar-se com os
mais pequenos atos de virtude que se lhes vir praticar; mas compreendi,
sobretudo, que a caridade não deve ficar encerrada no fundo do coração:
«Ninguém, disse Jesus, acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire,
mas coloca-a sobre o candelabro para alumiar todos os que estão em casa». Creio
que essa luz representa a caridade, que deve iluminar e alegrar, não só os que
são mais queridos, mas todos aqueles que estão em casa, sem exceptuar ninguém.(História de uma Alma, Ms C 12rº)
A Rainha do Céu
Sabemos muito bem que a Santíssima Virgem é a Rainha do Céu e da terra, mas ela
é mais mãe do que rainha, e não se deve dizer, por causa dos seus privilégios,
que ela eclipsa a glória dos santos todos, como o sol, ao surgir, faz
desaparecer as estrelas. Meu Deus! que estranho! Uma Mãe que faz desaparecer a
glória dos filhos! Eu, por mim, penso absolutamente o contrário; acredito que
ela engrandecerá muito o esplendor dos eleitos.Está certo falar dos seus privilégios, mas não se
deve dizer apenas isso e se, num sermão, somos obrigados do princípio ao fim, a
exclamar Ah! Ah!, já chega! Quem sabe se alguma alma não irá sentir até um
certo afastamento em relação a uma criatura de tal maneira superior, e não
pensará: «Se é assim, mais vale ir brilhar conforme se puder em qualquer outro cantinho!»O que a Santíssima Virgem tem a mais do que nós, é
que não podia pecar, estava isenta do pecado original; mas, por outro lado,
teve muito menos sorte do que nós, porque não teve uma Santíssima Virgem para
amar. É uma doce consolação a mais para nós, e a menos para ela!(Últimos Conselhos, 21.VIII.3)
A Justiça de DEUS
Sei que é preciso ser muito puro para aparecer diante de Deus de toda a
Santidade, mas também sei que o Senhor é infinitamente justo e esta justiça que
assusta tantas almas é a razão da minha alegria e confiança. Ser justo, não é
somente exercer a severidade para castigar os culpados, é também reconhecer as
intenções rectas e recompensar a virtude. Espero tanto da justiça de Deus como
da sua misericórdia. É porque é justo que «Ele é compassivo e cheio de doçura,
lento para a ira e cheio de misericórdia. Porque conhece a nossa fragilidade,
lembra-Se de que não somos senão barro. Como um pai sente ternura pelos filhos,
assim o Senhor tem compaixão de nós» [...]Aqui tendes, meu Irmão, o que penso sobre a justiça
de Deus, o meu caminho é todo de confiança e de amor, não compreendo as almas
que têm medo de um Amigo tão terno. Às vezes quando leio certos tratados espirituais
em que a perfeição é apresentada através de inúmeras dificuldades, rodeada por
uma quantidade de ilusões, a minha pobre inteligência cansa-se muito depressa,
fecho o sábio livro que me quebra a cabeça e me seca o coração e pego na
Sagrada Escritura. Então tudo me parece luminoso, uma só palavra revela à minha
alma horizontes infinitos, a perfeição parece-me fácil, vejo que basta
reconhecer o próprio nada e abandonar-se como uma criança nos braços de Deus.Deixando às almas grandes, às grandes inteligências,
os belos livros que não posso compreender, e ainda menos pôr em prática,
regozijo-me por ser pequenina visto que só as crianças e os que se assemelharem
a elas serão admitidas ao banquete celestial. Sinto-me muito feliz por haver
várias moradas no reino de Deus, porque se houvesse apenas aquela cuja
descrição e caminho me parecem incompreensíveis, não poderia lá entrar.(Carta 226, de 9.V.1897, ao P. Roulland)
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