Por Fernando Geronazzo
“Perseveravam na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações” (At 2,42).
Essa afirmação sintetiza os alicerces da vida dos cristãos já nos primeiros séculos. Em outros textos do Novo Testamento e de autores da época, também é possível identificar a centralidade da oração, especialmente da Eucaristia, na Igreja primitiva.Uma das fontes que mostram com detalhes esse aspecto das primeiras comunidades é a Didaqué (ou Doutrina dos Doze Apóstolos), uma espécie de catecismo antigo redigido entre o I e o II séculos.
Sobre a Eucaristia, a DIDAQUÉ destaca:
"Reunidos no dia do Senhor (Dies Domini), parti o pão e dai graças, depois de confessardes vossos pecados, a fim de que vosso sacrifício seja puro. Quem tiver divergência com seu companheiro não deve se juntar a nós antes de se reconciliar, para que não seja profanado vosso sacrifício, conforme disse o Senhor: Que em todo lugar e tempo me seja oferecido um sacrifício puro, pois sou um rei poderoso, diz o Senhor, e meu nome é admirável entre as nações".
Esse trecho, inclusive, mostra que os
primeiros cristãos já tinham a consciência da celebração eucarística não apenas
como um banquete, mas como o "memorial" do sacrifício de Cristo.
A Liturgia primitiva - A Didaqué também descreve os detalhes dessa celebração, que são semelhantes aos da liturgia celebrada hoje
“Primeiro,
sobre o cálice: Damos-te graças, Pai nosso, pela santa videira de Davi, teu
servo, que nos deste a conhecer por Jesus, teu Servo. Glória a ti nos séculos!
Depois sobre o pão partido: Damos-te graças, Pai nosso, pela vida e pela
sabedoria que nos deste a conhecer por Jesus, teu Servo. Glória a ti nos
séculos!”, ensina.
“Que ninguém coma ou beba da vossa
Eucaristia se não for batizado em nome do Senhor, pois a este respeito disse
Ele: Não deis aos cães o que é santo (Mt 7,6)”, reforça a Didaqué.
Além do catecismo primitivo, há relatos sobre a Eucaristia feitos pelos chamados santos padres da Igreja:
Os primeiros
grandes teólogos, como as Apologias de São Justino, escritas por volta do ano
150. Nesse texto, o Mártir descreve a celebração:
“Terminadas as orações, damos mutuamente o
ósculo da paz. Apresenta-se, então, a quem preside aos irmãos, pão e um vaso de
água e vinho, e ele, tomando-os, dá louvores e glória ao Pai do universo pelo
nome de seu Filho e pelo Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças
em razão dos dons que dele nos vêm”, destaca o Mártir, acrescentando: “Este
alimento se chama entre nós Eucaristia, não sendo lícito participar dele senão
ao que crê ser verdadeiro o que foi ensinado por nós e já se tiver lavado no
banho (Batismo) da remissão dos pecados e da regeneração, professando o que
Cristo nos ensinou”.
São Justino continua o relato, explicando que, uma vez dadas as graças e feita a aclamação pelo povo, os diáconos oferecem a cada um dos assistentes parte do pão, do vinho, da água, sobre os quais se disse a ação de graças, e levam-na aos ausentes. Nota-se aí o hábito de levar a comunhão àqueles que não podiam participar da celebração, como os enfermos e os muitos encarcerados.Esse Santo também descreve a prática da oferta de dons durante a celebração, que eram partilhados com os mais necessitados da comunidade. “Os que têm, e querem, dão o que lhes parece, conforme sua livre determinação, sendo a coleta entregue ao presidente, que assim auxilia os órfãos e viúvas, os enfermos, os pobres, os encarcerados, os forasteiros, constituindo-se, numa palavra, o provedor de quantos se acham em necessidade”, escreve.
evolução da Oração Eucarística
Na obra “Tradição Apostólica”, Santo
Hipólito de Roma descreve os costumes da Igreja no século II e mostra como a
celebração dos santos mistérios evoluiu e permite identificar as raízes da
oração eucarística feita atualmente.
“Logo que se tenha tornado bispo,
ofereçam-lhe todos o ósculo da paz, saudando-o por ter se tornado digno.
Apresentem-lhe os diáconos a oblação e ele, impondo as mãos sobre ela, dando
graças com todo o presbiterium, diga: O Senhor esteja convosco. Respondam
todos: E com o teu espírito. Corações ao alto! Já os oferecemos ao
Senhor’. Demos graças ao Senhor. É digno e justo!”
Santo Hipólito continua a descrição com uma espécie de prefácio, como os da liturgia atual:
“Graças te damos, Deus, pelo
teu Filho querido, Jesus Cristo, que nos últimos tempos nos enviastes, Salvador
e Redentor, mensageiro da tua vontade, que é o teu Verbo inseparável, por meio
do qual fizestes todas as coisas e que, porque foi do teu agrado, enviaste do
Céu ao seio de uma Virgem; que, aí encerrado, tomou um corpo e revelou-se teu
Filho, nascido do Espírito Santo e da Virgem”.
Corpo e sangue - (distinção entre memorial e presença real)
1 Cor 11,20-34: "Pois, quando vos reunis como igreja, não é para apenas comer a Ceia do Senhor. Porque, quando comeis, cada um toma antes a sua própria ceia sem esperar pelos outros. E, dessa maneira, enquanto um fica com fome, outro se embriaga. Será que não tendes em casa o que podeis comer e beber? Ou, de fato, desprezais a Igreja de Deus, humilhando os que nada possuem? Que vos direi? Acaso vos elogiarei por isso? Certamente que não vos elogio por essas atitudes! Pois eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, logo após haver dado graças, o partiu e disse: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo, depois de comer, Ele tomou o cálice e declarou: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de mim”. Portanto, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice proclamais a morte do Senhor, até que Ele venha. Por esse motivo, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine, pois, cada um a si próprio, e dessa maneira coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem ter consciência do corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. Por essa razão, há entre vós muitos fracos e doentes e vários que já dormem. Contudo, se nós tivéssemos a cautela de julgar a nós mesmos, não seríamos condenados. No entanto, quando somos julgados pelo Senhor, estamos sendo corrigidos a fim de que não sejamos condenados juntamente com o mundo. Portanto, meus caros irmãos, quando vos reunirdes para comer a Ceia, aguardai uns pelos outros. Se alguém tiver fome, coma em casa, para que, quando vos reunirdes, isso não seja para vossa própria condenação"
Retomando a Apologia de São Justino, é possível também identificar que, já nos primeiros séculos, os cristãos não compreendiam a Eucaristia como uma mera representação ou recordação simbólica da ceia (a missa é memorial, mas a presença é real)
“Não tomamos estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma forma
que Jesus Cristo, Nosso Senhor, se fez carne e sangue por nossa salvação, assim
também se nos ensinou que, por virtude da oração do Verbo, o alimento sobre o
qual foi dita a ação de graças – alimento de que, por transformação, se nutrem
nosso sangue e nossas carnes – é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus
encarnado”, afirma.
Esse mesmo Santo explica de onde vem essa verdade de fé professada pela Igreja nascente:
“E foi assim que os apóstolos,
nas memórias por eles escritas, chamadas Evangelhos, nos transmitiram ter-lhe
sido ordenado fazer, quando Jesus, tomando o pão e dando graças, disse: ‘Fazei
isto em memória de mim, isto é o meu corpo’”.
Fonte:
https://osaopaulo.org.br/catequese/como-os-primeiros-cristaos-celebravam-a-eucaristia/
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