Enquanto jesus com sua encarnação,
vida paixão, morte e ressurreição, veio nos libertar das causas do pecado e de
suas consequências para sermos verdadeiramente livres, a
proposta da Teologia da Libertação propõe não a libertação dos pecados de ordem
moral, mas libertar-se da culpa da prática destes mesmos pecados para que a
pessoa possa viver seus pecados livremente e sem culpa. Eis a grande
diferença que tem levado muitos(as) à verdadeiras escravidões, pois a teologia moral da TL propõe a
vivencia dos vícios no lugar das virtudes e da ascese. A partir deste
entendimento podemos compreender certas “práxis” de algumas algumas lideranças
e pseudo pastorais, quando estas acolhem pessoas entregues a toda escravidão
moral, não para ajudarem-nas a libertar-se de seus pecados, mas para que estes
acolhidos(as) aprendam a conviver com eles na sua prática sem se sentirem
culpadas, pois só existe o pecado social, e a toda a práxis da TL se resume na luta
pelo pobre como uma compensação, aliviando suas consciências, iludindo-se de
que estão ajudando e fazendo algo de meritório, esquecendo-se que Deus ama o
pecador, mas odeia o pecado.
O caminho da libertação: do pecado à graça
O pecado entrou na
humanidade através de um exercício errado da liberdade, mas o “faça-se em mim segundo a
tua palavra” que Maria pronunciou, abriu uma nova etapa na História: o
Filho de Deus desceu à terra para dar a vida em um ato supremo de liberdade,
porque se originou no Amor.
Depois que Adão e Eva
comeram do fruto da árvore proibida, o Senhor “tendo expulsado o homem, postou
a oriente do jardim do Éden os querubins, com a espada fulgurante a cintilar,
para guardarem o caminho da árvore da vida”. (Gen 3,24) O drama da história humana
começou: o homem e a mulher caminhariam como exilados de sua verdadeira pátria,
que se caracterizava pela comunhão com Deus. Dante expressa isso lindamente no
início de sua Divina Comédia: “À metade do caminho da vida, / em uma selva
escura eu estava / porque o meu caminho se havia extraviado”[1]. No
entanto, esta caminhada não é uma noite sem luz: o Senhor também anunciou uma
esperança: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a
dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gen 3,15). A vinda
de Cristo marcaria a passagem do pecado para a vida da graça.
A “culpa” original
É o conhecimento de
Deus que dá origem ao sentido do pecado, e não o contrário. Nós
não vamos entender o pecado original e as suas consequências, enquanto não
percebermos, primeiro, a bondade de Deus ao criar o homem, assim como a
grandeza do seu destino. O Catecismo da Igreja Católica afirma:
“O
primeiro homem não só foi criado bom, como também foi constituído num estado de
amizade com o seu Criador, e de harmonia consigo mesmo e com a criação que o
rodeava: amizade e harmonia tais, que só serão ultrapassadas pela glória da
nova criação em Cristo”[2].
É O CONHECIMENTO DE DEUS QUE DÁ ORIGEM AO SENTIDO DO PECADO
O pecado de Adão e Eva introduziu
uma ruptura fundamental na unidade interna do ser humano. A submissão
da vontade humana à Vontade divina, que era a pedra de apoio do arco das
faculdades corporais e espirituais da natureza humana, foi quebrada pela
desobediência a Deus. Então, ao remover o apoio, o arco inteiro
desmoronou. Como consequência, “a harmonia em que se encontravam,
estabelecida graças à justiça original, fica destruída; o domínio das
faculdades espirituais da alma sobre o corpo se quebra (cf. Gen 3, 7)[3]“. Este primeiro pecado é
chamado pecado original, e é transmitido, juntamente com a natureza humana, de
pais para filhos, com a única exceção, por privilégio de Deus, de uma pessoa:
Nossa Senhora. “Pela desobediência de um único homem, todos
eles foram constituídos pecadores” (Rom 5,19), diz São Paulo. Certamente, essa realidade é difícil de entender, até
um pouco escandalosa para a consciência atual:
“Eu
não fiz nada, por que tenho que carregar esse pecado?”
O Catecismo da Igreja Católica aborda esta questão:
“É um pecado que será transmitido
por propagação a toda a humanidade, isto é, pela transmissão de uma natureza
humana privada de santidade e justiça originais. Portanto, o pecado original é chamado “pecado” de maneira análoga[4]: é um pecado ‘contraído’ e não ‘cometido’, um estado e não um
ato”[5]. Refletindo sobre isso Ronald
Knox escreveu que “evitaríamos muito trabalho se combinássemos de chamar o
pecado original de culpa original. Porque o pecado, de acordo com a mentalidade
do homem comum, é algo que ele mesmo comete, e a culpa é algo que pode
corresponder a ele sem qualquer falta de sua parte”[6].
E é isso o que acontece
com o pecado original: nossos primeiros pais pecaram e, ao fazê-lo, perderam a
santidade e a justiça originais que Deus lhes havia dado e sua natureza foi
“ferida em suas próprias forças naturais, submetida à ignorância, sofrimento e
domínio da morte e inclinados ao pecado”[7]. E como que ninguém pode deixar
como herança o que já não possui, Adão e Eva não
puderam deixar-nos o que eles perderam: aquele estado de santidade e justiça
original, e uma natureza sem corrupção. Eles nos transmitiram a
sua natureza como ela era naquele momento: ferida pelo pecado.
É por isso que Santo Agostinho escreveu:
“é
que deles nada podia nascer diferente deles. Realmente, a magnitude da sua
falta acarretou uma sanção que alterou para pior a sua natureza: o que não passava de uma pena para os primeiros homens
pecadores, tornou-se natureza para todos os seus descendentes”[8].
Assim, o pecado
original é a causa do estado em que nos encontramos pela má herança recebida e,
como afirma o Catecismo, “o pecado original não tem, em qualquer
descendente de Adão, caráter de falta pessoal”[9]. Mas todos nós viemos ao mundo afetados pelas
suas consequências: certa ignorância
na inteligência, uma vida marcada pelo sofrimento, subordinados ao império da
morte, a vontade inclinada ao pecado e as paixões desordenadas. Qualquer pessoa
tem experiência dessa desagregação, dessa incoerência, dessa fraqueza interna.
TODOS NÓS VIEMOS AO
MUNDO AFETADOS PELAS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO ORIGINAL, QUALQUER PESSOA TEM
EXPERIÊNCIA DESSA DESAGREGAÇÃO, DESSA INCOERÊNCIA, DESSA FRAQUEZA INTERNA
Quantas vezes já nos
propusemos algo que depois não fizemos: fazer uma dieta necessária para a
saúde, dedicar diariamente um tempo para aprender um idioma, tratar os filhos
com mais doçura, não se chatear com os pais ou cônjuge, não reclamar do
trabalho, ajudar uma pessoa pobre ou doente, acompanhar com generosidade os
mais vulneráveis, falar bem dos outros e alegrar-nos com os seus sucessos,
olhar para o mundo e para as pessoas com um coração limpo… Sem mencionar as situações em que
fazemos exatamente o que não queremos: deixamo-nos levar por uma
explosão de ira injustificada, sucumbimos à preguiça em vez de servir com amor,
desculpamo-nos com uma mentira para não ficar mal, cedemos à curiosidade na
internet.
Experimentamos
também a tirania do desejo que, buscando com veemência
um bem aparente, particular e limitado (um prazer, um privilégio, o poder, a
fama, o dinheiro, etc.), arrasta em sua direção uma vontade enfraquecida, e a
desvia do bem íntegro e verdadeiro da pessoa (a felicidade, a vida com Deus) que
deveria perseguir. Da mesma forma, a inteligência, luz para indicar o
verdadeiro fim, fica obscurecida e corre o risco de se tornar um simples
instrumento para obter o que uma vontade escravizada pelo desejo já tinha
decidido procurar.
Mas nem tudo é amaldiçoado no ser humano, longe disso!
A natureza humana não
está totalmente corrompida, conserva a sua bondade essencial. Nós viemos ao
mundo com as “sementes” de todas as virtudes, chamados a desenvolver-nos com a
ajuda dos outros, com o exercício da nossa liberdade e com a graça de Deus. Na
verdade, a virtude corresponde mais ao que verdadeiramente somos do que o pecado,
porque este último é sempre um ato contra a natureza, um “ato suicida” [10].
Bento XVI o expressava assim: “Diz-se: ele mentiu, é humano. Ele roubou, é
humano. Mas isso não é realmente humano. Humano é ser generoso. Humano é ser bom.
Humano é ser um homem de justiça”[11].
Da escravidão à libertação
Na raiz de todo pecado
está uma dúvida sobre Deus, a suspeita de que talvez não nos ame ou não possa
nos fazer felizes: ‘É tão bom como diz ser? Não estará nos enganando?’. “É
verdade que Deus vos disse: ‘Não comais de nenhuma das árvores do jardim?’”
(Gen 3,2), diz a serpente a Eva. E quando ela responde que não é assim, que
somente estão proibidos de comer da árvore que está no meio do jardim para não
morrer, a serpente semeia o veneno da desconfiança em seu coração: “De modo
algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que comerdes da
árvore, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do
mal” (Gen 3,4-5). Na
verdade, por trás dessa falsa promessa de liberdade
infinita, de autonomia absoluta da vontade (impossíveis para uma criatura),
se esconde uma grande mentira. Porque ao tentar nos virarmos sozinhos, sem nos
apoiarmos em Deus, aparece o séquito do mal, que nos escraviza e nos prende
porque nos impede de ser felizes com Deus. O pecado pode aparecer
porque somos livres, ele vive dessa liberdade, mas termina por matá-la. Promete
muito, mas dá apenas dor. É um engano que nos converte em “escravos do pecado”
(Rom 6,17). Por isso:
“o
mal não é uma criatura, mas se assemelha a uma planta parasita. Ele vive do que
tira dos outros e no final se mata, como faz a planta parasita quando toma
posse de seu hospedeiro e o aniquila”[12].
O pecado entrou na humanidade por um exercício errado da
liberdade!
Porém o remédio para
ele e o começo de uma nova vida também entraram por uma decisão livre. O
“faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38), que Nossa Senhora pronunciou
de uma forma totalmente livre, abre uma nova etapa na história, a plenitude dos
tempos.Assim, o Filho de Deus desceu à terra para entregar a sua vida em um ato
supremo de liberdade, por estar originado no amor: “Meu Pai, se possível, que
este cálice passe de mim. Contudo, não seja feito como eu quero, mas como tu
queres” (Mt 26,39). E agora isso nos eleva, para que possamos responder –
porque queremos de verdade – a esse convite para viver a “gloriosa liberdade
dos filhos de Deus” (Rom 8,21). É justamente com a nossa liberdade de filhos
de Deus que podemos voltar a deixar-nos olhar e curar pelo Senhor,
dirigindo-nos com humildade a Ele, que nos renova interiormente com a sua
graça. Aprendemos assim que “a vontade de Deus não é uma lei imposta de
fora para o homem, que o obriga, mas a medida intrínseca de sua natureza, uma
medida que está inscrita nele e faz dele uma imagem de Deus, e assim, uma
criatura livre”[13]. Na verdade, Deus é o fiador da nossa liberdade. É livre
quem se deixa amar por Deus, quem não desconfia, quem acredita no seu Amor. Com
a fé desaparecem os limites impostos pela dúvida, falsidade, cegueira e a falta
de sentido. Com a esperança, derrubam-se o medo, o desânimo, a inquietação e a
culpa que nos infernizam. Com a caridade, deixamos para trás o egoísmo, a
ganância, a autorreferência, as frustrações e a amargura que reduzem a medida
da nossa vida.
A RESPOSTA DE DEUS A
NOSSOS PECADOS É A ENCARNAÇÃO E REDENÇÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
São João Paulo II
escreveu em seu último livro que:
“a
redenção é o limite divino imposto ao mal pela simples razão de que nele o mal é radicalmente derrotado para sempre pelo bem, o ódio
pelo amor, a morte pela ressurreição”[14].
A resposta de Deus a
nossos pecados é a Encarnação e Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Jesus
Cristo foi entregue pelos nossos pecados” (Rom 4:25), afirma São Paulo. Ele nos
reconcilia com Deus, nos liberta da escravidão do pecado e nos concede o dom da
graça: “um dom gratuito de Deus, pelo qual Ele nos faz participantes em sua
vida Trinitária e capaz de agir por amor a Ele”[15]. Nós não devemos nos
acostumar com esta realidade: a graça é um dom imerecido, uma participação na
vida divina, introduz-nos na intimidade amorosa de Deus e nos torna capazes de
agir de uma nova maneira: como filhos de Deus. A graça é muito mais abundante
do que o pecado: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rom 5,20). E
muito mais forte. Em
um famoso romance literário, a protagonista vai ao confessionário e, uma vez lá,
manifesta seu pecado qualificando-o como muito grave. A resposta que ele ouve
do confessor é esta: “Não, minha filha” – dizia com
calma e quase friamente –, “você não ofendeu a Deus mais gravemente do que uma
infinidade de pessoas: seja humilde mesmo na confissão de seu pecado! Grande,
em sua vida, foi apenas a Graça. Somente a Graça é sempre grande. O
pecado em si, seu próprio pecado, é pequeno e comum”[16].
Por isso São Josemaria podia afirmar:
“Nosso Pai do Céu perdoa qualquer
ofensa quando o filho volta de novo para Ele, quando se arrepende e pede
perdão. Nosso Senhor é de tal modo Pai, que prevê os nossos desejos de sermos
perdoados e a eles se antecipa, abrindo-nos os braços com a sua graça”[17]. Uma
graça que nos é concedida abundantemente na oração e nos sacramentos. E que é
recuperada no sacramento da Penitência[18] se a perdemos pelo pecado grave.
Um dos hinos da Liturgia das Horas diz:
“Cura,
Senhor, com o orvalho da tua graça, as feridas da nossa alma doente, para que,
sufocando os maus desejos, deplore seus pecados com lágrimas”[19].
A Graça cura as feridas
de pecado em nossa alma: identifica a vontade humana com a Vontade Divina por
meio do amor de Deus, ilumina a inteligência através da fé, ordena paixões ao
verdadeiro fim do homem e sujeito à razão, etc. Em uma palavra: é o remédio de
todo o nosso ser. Resumindo: “Nada é melhor no mundo do que estar em
graça de Deus”[20].
Talvez algumas pessoas se perguntem: “Se
a graça de Deus é tão poderosa, por que não tem efeitos mais decisivos sobre as
pessoas?” Outra vez tropeçamos
com o mistério da liberdade humana. A graça “previne, prepara e desperta a
livre resposta do homem”[21], mas não força essa liberdade. “Quem te criou sem
ti não te salvará sem ti”[22], sentenciou Santo Agostinho. Temos à nossa disposição uma
usina nuclear com milhares de megawatts, mas temos que conectar a rede da nossa
casa, se quisermos que essa energia nos ilumine, aqueça e sirva de proveito.
Temos que receber a graça com humildade, gratidão e arrependimento dos nossos
pecados e lutar com amor para seguir humildemente os seus impulsos. Sem nunca
perder de vista, como o Papa Francisco nos lembra, que “essa luta é muito bonita, porque
nos permite celebrar cada vez que o Senhor vence em nossa vida”[23].
Vamos evitar assim, todos os sinais de voluntarismo, conscientes da absoluta
prioridade da graça na nossa vida.
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(Paradoxal: Pessoas escravas de sua própria liberdade)
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"DEUS IRROMPEU NA
HISTÓRIA DE UMA FORMA MUITO MAIS SUAVE DO QUE GOSTARÍAMOS. MAS ESSA É A
RESPOSTA PARA A LIBERDADE" (CARD. RATZINGER).
Mas acontece que, além
disso, “nesta vida as fraquezas humanas não são curadas completamente e
definitivamente pela graça”[24]. “A graça, justamente porque supõe a nossa
natureza, não nos transforma de repente em super-homens. Pretender isso seria
confiar demais em nós mesmos (...). Porque se não notarmos nossa realidade
concreta e limitada, não poderemos ver os passos reais e possíveis que o Senhor
nos pede a cada momento, depois de nos ter capacitado e cativado com seu dom. A
graça atua historicamente e, normalmente, nos toma e nos transforma de forma
progressiva. Portanto, se rejeitamos esta maneira histórica e progressiva, de
fato, podemos chegar a negá-la e bloqueá-la, ainda que a exaltemos com nossas
palavras”[25]. Deus é delicado e respeitoso conosco. Assim refletia o cardeal
Ratzinger certa vez:
“Creio
que Deus irrompeu na história de uma forma muito mais suave do que gostaríamos.
Mas essa é a resposta para a liberdade. E se queremos e aprovamos que Deus
respeite a liberdade, devemos respeitar e amar a suavidade das suas mãos”[26],
que é o mesmo que amar a suavidade de sua graça.
Sentimento de culpa apesar do perdão dos pecados?
Você sempre tem sentimento
de culpa e uma consciência ruim, apesar de ter recebido o perdão dos pecados? O
perdão dos pecados é um presente a nós homens, porque Jesus nos resgatou com
seu próprio sangue. Isso precisa ser recebido através da fé. Se o coração foi
purificado (não justificando o pecado) pela graça do perdão, a consciência
também precisa ser purificada. Isso acontece pela fé, não é algo que ganhamos
com atos. Se for o caso de termos causado danos a outras pessoas através de
nossas ações, então também temos que ter a humildade de pedir perdão a elas,
pelos danos que lhe causamos. Isso é possível. O malfeitor na cruz não tinha
essa possibilidade, mas ele tinha o sentimento para isso, e por isso Jesus
abriu a ele o caminho para o paraíso. Jesus reconheceu o querer dele como uma boa
obra. Porém, pode ser que sejamos atormentados pela consciência e nos
sintamos culpados, embora tenhamos recebido o perdão dos pecados de Deus e
através de seus ministros ordenados, às vezes ainda nos sentimos culpados(as).De
onde vem isso?
É o diabo e seus asseclas que nos dão o sentimento de culpa
por pecados já arrependidos e confessados
“Nós
temos um adversário, o diabo, que anda
em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar...”(1. Pedro 5,8)
Ele semeia dúvida onde
não há e em tudo o que tem ligação com o reino de Deus. Ele é a serpente velha
e o acusador de nossos irmãos. Ele é um espírito atormentador, e embora
tenham-se colocado as coisas em ordem nunca é o suficiente para o demônio. E tudo
pode se tornar muito difícil se temos uma consciência fraca, como humanos. Para
tanto temos esta exortação de Pedro:
“Ao
qual resisti firmes na fé!” (1 Pedro 5,9)
Não adianta apenas
argumentar assim; precisa ser simplesmente combatido brutalmente. A promessa
diz que ele vai fugir de nós, então. Se ele voltar, temos que rejeitar todas as
suas acusações e apontar para Jesus que deu a sua vida, o seu perdão e:
Anulou
todas as cartas de culpa, que eram contrárias a nós. (Colossenses 2, 14)
“Sabendo que, se o
nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas
as coisas”(1 João 3, 20) Nossos próprios
sentimentos e opiniões não devem ser a autoridade máxima na nossa vida, pois
eles são enganosos. Deus é maior
e o que ele falou deve ser a nossa autoridade, que direcionam e julgam nossos
pensamentos e sentidos. Essa espada do Espírito, a palavra de Deus, até o diabo
se dá por vencido por ela, e então vem a paz de Jesus e o peso fica leve. No
homem tem muita justiça própria que atrapalha o caminho da fé. Mas a justiça de
Deus é maior e temos que nos submeter confiadamente a ela conforme as suas promessas.
Duvidar não leva a nada e a semente da fé e da confiança em Deus não germina,
pois seria como plantar uma semente e todos os dias e desenterra-la para ver se
estar germinando. Então, nunca
seremos livres das acusações do diabo, assim também foi na vida de todos os santos.
A decisão de servir a Deus precisa ser firme. Os crimes precisam ser confessados
a Deus (e às autoridades constituídas quando necessário), e então precisamos
nos distanciar deles. (Provérbios 28,13). Nomear o pecado sem justificativas e
meditar em suas consequências, fomenta o ódio contra o pecado e nos dá o escudo
da fé, o qual necessitamos para apagar todos os dados inflamáveis do maligno.
(Efésios 6,16) Então, recebemos paz na luta e o maligno não nos tocará com
eficácia. (1 João 5, 18). Por fim lembre-se sempre: Pecado reconhecido, arrependido e
confessado e quando possível e necessário, reparado, pecado perdoado, o
que vier além disso vem do maligno:
Apoc 12,10: “Porque o acusador de
nossos irmãos (o diabo) é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de
dia e de noite...”
I João 1, 8-10: “Se declaramos que
não temos pecado algum enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em
nós. Se confessarmos os nossos pecados,
Ele é fiel e justo para nos perdoar todos os pecados e nos purificar de
qualquer injustiça. Se afirmarmos que
não temos cometido pecado, nós o fazemos mentiroso, e sua Palavra não está em
nós.”
(para estes a igreja está errada e só eles certos)
Quando nos arrependemos
e confessamos o nosso pecado, diante de Deus e de sua justiça misericordiosa, nos
livramos da Culpa, não das penas e reparações necessárias. Com relação
às penas temporais, teremos de pagar perante a justiça dos homens, cumprindo
aquilo que foi determinado judicialmente. Perante Deus, poderemos ainda no
purgatório por pura graça e misericórdia, pagar ainda resquícios destas penas temporais
como consequências dos pecados que afetaram a pureza de nossa alma, para que
totalmente purificados tenhamos acesso ao Céu.
José Brage
Tradução: Mônica Diez
REFERÊNCIAS
[1] DANTE ALIGHIERI,
Divina comedia, Inferno, Canto I, 1-3.
[2] Catecismo da Igreja
Católica, nº 375.
[3] Catecismo da Igreja
Católica, nº 400.
[4] Convém aqui
entender bem o conceito de analogia: é a relação de semelhança entre coisas
diferentes. Aplicado ao nosso caso: A queda original tem semelhança com o
pecado, mas é diferente do pecado original.
[5] Catecismo da Igreja
Católica, nº 404.
[6] KNOX, R., A
torrente oculta.
[7] Catecismo da Igreja
Católica, nº 405.
[8] SANTO AGOSTINHO, A
Cidade de Deus, Livro XIII, III, 1.
[9] Catecismo da Igreja
Católica, nº 405.
[10] SÃO JOÃO PAULO II,
Exort. Ap. Reconciliação e Penitência (2-XII-1984), nº 15.
[11] BENTO XVI,
Encontro com os párocos da diocese de Roma, 18-II-2010.
[12]
RATZINGER, J., Dios y el mundo, Galaxia Gutemberg, Barcelona 2002, p. 120.
[13] BENTO XVI,
Homilia, 8-XII-2005.
[14] SÃO JOÃO PAULO II,
Memória e Identidade, 2004 nº 15.
[15] Compêndio do
Catecismo da Igreja Católica, nº 423.
[16]
LE FORT, G. Von, El velo de Verónica, Encuentro, Madrid 1998, p. 314.
[17] SÃO JOSEMARIA, É
Cristo que passa, nº 64.
[18] Cfr. Compêndio do
Catecismo da Igreja Católica, nº 310.
[19] Hino latino de
Vésperas da terça-feira da XXV semana do Tempo Comum.
[20] SÃO JOSEMARIA,
Caminho, nº 286.
[21] Compêndio do
Catecismo da Igreja Católica, nº 425.
[22] Sermão 169, 13.
[23] FRANCISCO, Ex. Ap.
Gaudete et exultate (19-III-2018), nº. 158.
[24] Ibidem, nº 49.
[25] Ibidem, nº 50.
[26] RATZINGER, J., O
sal da terra.
Bibliografia recomendada sobre o pecado e a graça:
- Catecismo da Igreja
Católica nºs 374-421 1846-1876 e 1987-2029.
- Compêndio do
Catecismo da Igreja Católica, nºs. 72-78 e 422-428.
- São João Paulo II,
Exort. Ap. Reconciliação e Penitência (2-XII-1984).
- Concilio Vaticano II,
Constituição pastoral “Gaudium et spes” (7-XII-1965), nºs. 13 e 37.
- Bento XVI, Homilia
(8-XII-2005); Discurso aos alunos do Colégio Universitário Santa Maria de
Twickenham, Londres, 17-IX-2010; Encontro com os párocos da diocese de Roma, 18
de fevereiro de 2010.
- Francisco, ex. Ap.
Gaudete et exultate (19-III-2018), nºs. 47-62 e 158- 165. Palavras na visita a
Auschwitz, 29 de agosto de 2016. Palavras da janela da sede da Arquidiocese de
Cracóvia.
- Joseph Ratzinger,
Criação e pecado; Deus e o mundo, pag. 106-130: “Sobre a criação”.
- Santo Agostinho, A
Cidade de Deus, Livros XIII y XIV: “A morte como pena do pecado” e “O pecado e
as paixões”.
- Santiago Sanz, A
elevação sobrenatural e o pecado original em Resumos dos ensinamentos
Católicos”, tema 7 (www.opusdei.org.br).
-
Juan Luis Lorda, Antropología teológica, EUNSA, Barañáin 2009, pag. 287-438.
- Ronald Knox, A
torrente oculta.
-Thomas Merton, A
montanha dos sete patamares.
- Dante Alighieri, A
divina comédia.
- Evelyn Waugh, O
retorno a Brideshead.
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