É sempre bom lembrar
que toda moeda tem três lados. Para saber se algo é “verdade” ouça no mínimo
três opiniões. Se as três opiniões são divergentes, forme a sua própria opinião
através de fatos. Nunca vá pelo primeiro sim ou desista pelo primeiro não. Ora,
é impossível dizer que uma pessoa, ou algo, é completamente ruim por conta de
uma atitude, ou apenas um fato, mas é possível perceber que essa mesma pessoa,
fato, ou opção de vida é má pela reiteração de ações e consequências sempre danosas.
Assim sendo, todos
erramos; erramos muito, ainda que alguns pareçam errar muito mais do que
outros. Por isso devemos nos respeitar e nos suportar mutuamente, respeito é via
de mão dupla. Se você quer ser respeitado, respeite primeiro. Grande parte das
confusões que ando vendo por aí são por pura falta de respeito com o próximo. As
pessoas veem apenas os fatos, não interpretam de forma imparcial, não entendem,
passam a xingar, passam a tratar de forma depreciativa e desrespeitosa. As
pessoas não acham que preconceito existe, passam a falar que o outro procura
pelo em casca de ovo, que o outro é “sensível e melindroso demais”. As pessoas
acham que são donas da razão, e desmancham a opinião do outro, sem saber qual
foi a vivência que lapidou tal opinião.
Afinal, quem nunca se deparou com
uma situação em que duas pessoas te dizem diferentes versões de um mesmo fato,
ou pessoa, e não saber em qual deles acreditar. Acredite, com nenhuma das
versões está o que realmente aconteceu. Mas isso não quer dizer que apenas um
deles esteja mentindo. Tão pouco que o façam por maldade, é apenas uma
característica de nossa humanidade. Cada um tem uma personalidade, uma história
de vida e um jeito único de enxergar o mundo. Isso faz com que quando cada um
de nós quando contamos, ou vemos um fato, interfiramos com nossas
particularidades a ele. Sendo assim, não necessariamente por maldade ou
benefício próprio, quando contamos algo a alguém sempre tem uma diferenciação,
por mais pequena que seja, da realidade do fato em si mesmo.
É fácil perceber quando a gente entra em contato com a versão dos demais participantes fica muito mais complicado acreditar numa verdade única e absoluta do fato,ou pessoa. Somos geralmente levados a confiar, ou desconfiar no narrador de uma história, simplesmente porque ele é tudo o que temos. E SE a história tivesse sido contata pelo personagem X, qual seria a minha conclusão sobre o assunto? Imaginem a vida, paixão e morte de Cristo, contada por Judas que traiu Jesus? Teríamos um outro grande rol de possibilidades à nossa disposição, concorda? Pensar em perspectiva é lembrar, sempre, que cada um tem a sua, pois todo ponto de vista é a vista de um ponto. É bacana quando a gente consegue misturá-las para entender um pouco melhor o quadro. Seja na literatura ou na vida.
Estar cego em um
ponto de vista levará você a perder grandes oportunidades, grandes amigos e até
mesmo a oportunidade de aprender e evoluir, pois somos um constante vir a ser,
e feliz daquele que está sempre mudando para poder permanecer fiel a seus
princípios. Tenhamos sim, a humildade de reconhecer que um dia já fomos muito diferentes
do que somos hoje, e que no futuro poderemos ser diferentes do que somos e
pensamos agora. A verdade é justamente a parte da história sem nenhuma potência
associada, mas o que ela simplesmente é. Pois a verdade não está no observador,
mas no objeto observado. Como potência associada, posso incluir a raiva que
sinto naquele momento, o medo, o peso de histórias passadas, o momento atual em
que vivemos. Tudo isso contribui para que você enxergue somente o seu ponto de
vista. Ceder e ter a humildade de escutar o outro lado da história, sentir o
que o outro sente e se colocar no lugar do outro é, sim, um aprendizado de
vida, é um treinamento que requer constância. E no dia em que você conseguir
ouvir uma história ou dela ser participante e conseguir se tornar um
participante, tenha absoluta certeza que você deu mais um passo na sua
trajetória de sua maturidade humana.
O desafio hoje em dia não é acumular informação e, sim, saber discernir a informação. Conceitos, temos aos montes, mas o verdadeiro aprendizado para a maturidade humana, está em aplicar tais conhecimentos adquiridos. A informação é importante quando agregada à prática. O discernimento é igual à proporção entre informação e conhecimento, o resto é desperdiçado.As experiências negativas são tesouros que alimentam o discernimento. É necessário estudá-las para entendê-las a fim de que se tornem realmente formação. Aquele aspecto vivenciado e entendido dará frutos, pois a vivência já existiu, devemos, então, aproveitar os frutos. Só enxergo e percebo no outro aquilo que enxergo e percebo em mim mesmo.A clareza e assertiva da decisão depende de como você vê o fato. Então, para que perder tempo com coisas que lhe fazem mal ? Se o seu ponto de vista for absolutista em qualquer situação que não seja espiritual o levará ao fracasso e a decepção. Neste caso, cada falha é uma decepção e não uma dificuldade a ser superada.
No exercício do amor, do dar e receber, é que damos oportunidade de
desenvolver quatro princípios fundamentais: o amor, o respeito, a dignidade e a
simplicidade. Quem consegue ter esses princípios bem estabelecidos se adequa a
qualquer meio. Para desenvolver o princípio do amor é preciso sair da teoria e
praticar esse princípio, para que haja a troca necessária. “Ponha amor onde não
há amor e colherá amor...”(São João da Cruz). O princípio do respeito se
concretiza quando você reconhece o espaço do outro e o seu. O princípio da
dignidade é que dá sustentação a superação das intolerâncias tão comum nos dias
de hoje. O princípio da dignidade reconhece que você é tão digno quanto o
outro. Quando eu me sinto digno, eu me posiciono com firmeza. Eu não sou mais
pessoa que você, e você não é mais pessoa do que eu. O princípio da
simplicidade é a capacidade de expressar o seu conteúdo de forma simples na medida
da compreensão do outro, e não da minha.
Querer ser justo em excesso, na maioria das vezes, leva você a uma exposição desnecessária e muitas vezes à decepção, pois, ser justo é entender que há medidas diferentes do que quer que seja para você e para o outro. Um exemplo característico é o tamanho de cada luva, nem todas as pessoas usam o mesmo tamanho de luva.Aí, então, caímos na vaidade. A vaidade dá rasteira na justiça, o poder subiu à cabeça e a justiça se perdeu. Somente quando este princípio está bem consolidado é que entendemos que as coisas são sempre relativas a algo, alguém, ou a algum contexto, social, cultural e ou, religioso, e que existe o desigual, o diferente, o que não se encaixa em nossos conceitos e esquemas prontos, por mais lógicos e bem intencionados que sejam. Este desigual consiste no momento de vida em que a pessoa se encontra, no seu grau de percepção e entendimento, nas suas experiências, histórias, decepções e bloqueios que já viveu. Normalmente, julgamos os outros equivocadamente porque temos preguiça de analisar e identificar suas crenças e aprender a gerenciá-las.Tudo, então, só começa a melhorar quando tomamos consciência de nós mesmos, de nossos limites e incoerências. Então, quando a energia do equilíbrio se estabelece e os bloqueios se desfazem, o perdão se concretiza e atingimos outro patamar de realidade, onde não há mais espaço para os falsos julgamentos, e teremos os mesmos sentimentos de Cristo com relação ao outro: Imagem e semelhança de Deus, e portanto deve ser tratado com toda dignidade, seja pobre ou rico, cidadão ou marginal.
Por fim lembremo-nos: A moeda tem três lados. Não basta cara ou coroa,
lembre-se que ela sempre tem a lateral, que fica no meio das duas partes, nos
recordando que a verdade nunca está nos extremos, mas sempre no meio.
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