“A burguesia fede
A burguesia quer
ficar rica
Enquanto houver
burguesia
Não vai haver
poesia...
Vamos acabar com a
burguesia
Vamos dinamitar a
burguesia
Vamos pôr a burguesia
na cadeia
Numa fazenda de
trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas
eu sou artista...
Porcos num chiqueiro
São mais dignos que
um burguês
Mas também existe o
bom burguês
Que vive do seu
trabalho honestamente
Mas este quer
construir um país
E não abandoná-lo com
uma pasta de dólares
O bom burguês é como
o operário
É o médico que cobra
menos pra quem não tem
E se interessa por
seu povo...”
(Burguesia – Cazuza)
Contrariando Cazuza que se contradiz em sua
letra: “Só existe poesia, por causa da burguesia.” Existem vários
“elogios” na literatura universal, sendo os mais conhecidos o clássico de
Erasmo sobre a loucura; um outro sobre a preguiça (pasmem !!! feito por um
discípulo de Marx). Não me lembro, porém, de ter lido, alguma vez, em qualquer
lugar, um elogio à burguesia e, menos ainda, à aristocracia. Não espero, por
certo, encontrar no ambiente acadêmico alguma referência positiva a essas duas
personagens coletivas, que são historicamente importantes. Não existe a menor
chance disso ocorrer nesse ambiente, pois ambas as classes são erradamente
identificadas a elites reacionárias e, em consequência, execradas pelo
pensamento esquerdista, supostamente marxista, que grassa anacronicamente em
nossas faculdades de Humanidades (anacronicamente dito stricto sensu, posto que
os acadêmicos em questão se enganam de século). A possibilidade de que uma
delas (certamente jamais a segunda, em todo caso) possa ser vista ou
considerada como “útil”, por algum papel positivo na história da humanidade, é
próxima de zero, para não dizer abaixo disso. E, no entanto, não preciso
lembrar que um jovem discípulo de Hegel efetuou rasgados elogios à burguesia em
um panfleto juvenil a quatro mãos, com seu amigo Engels: o Manifesto do Partido
Comunista de 1848. Claro, o ódio à aristocracia era visível em muitas
páginas, mas a burguesia era glorificada por vários feitos revolucionários do
mais alto significado histórico, entre eles o de ter, supostamente, derrotado a
primeira no curso de uma luta titânica, que levou, inclusive, à substituição do
velho modo de produção “feudal”. Marx cometeu uma tremenda injustiça em relação
à burguesia revolucionária, uma classe ainda ascendente em seu tempo. Nem
menciono seus ataques à equivocadamente desprezada classe aristocrática, que,
antes da burguesia, tinha preservado as luzes da civilização em face da
barbárie inculta que se impunha à Europa, no rastro das invasões de povos
nômades (visigodos, ostrogodos e outros godos). Marx, tão enfático ao
condenar o despotismo asiático, falhou terrivelmente ao diminuir, de maneira
genérica, os méritos humanistas de aristocratas e burgueses, os primeiros
resistindo bravamente em face da ignorância tirânica dos velhos bárbaros, os
segundos defendendo as liberdades democráticas nas cidades livres e desmantelando
os regimes exclusivos das velhas corporações feudais.
Quanto aos
revolucionários presumidos dos últimos 100 anos, não é preciso registrar os
resultados regressistas dos assaltos obscurantistas dos novos bárbaros, as
hostes de revolucionários profissionais de extração fascista ou bolchevique,
que desmantelaram o que havia restado de humano e democrático em tempos
anteriores a eles. Sim, porque o que assistimos na Europa, desde o início do
século 20, não foi exatamente um “assalto ao céu” por parte de uma nova classe
educada para promover o enriquecimento cultural da sociedade, e sim um
rebaixamento cultural e intelectual efetivamente ocorrido durante a vigência
dos totalitarismos nazi-fascistas e leninistas, responsáveis, ademais, por
várias dezenas de milhões de mortos no auge de seus respectivos regimes (quem
duvidar pode ler o livro de Anne Applebaum, sobre o Gulag, ou a descrição
realista das horas mais sombrias da Europa, em Tony Judt). Pois bem, alguém me
corrija se estou errado, mas acredito que não existem elogios diretos e
declarados à burguesia e menos ainda à aristocracia, fora de livros de história
que tentam recriar o velho mundo burguês, em grande medida identificado com a
era vitoriana, como, por exemplo, na série de cinco livros de Peter Gay,
enfeixados sob o título geral de “experiência burguesa” (1: The Education of
the Senses; 2: The Tender Passion; 3: The Cultivation of Hatred; 4: The Naked
Heart; 5: Pleasure Wars; ao que eu saiba, nenhum deles traduzido e
publicado no Brasil). Existe também o livro do economista (aliás, da
economista, posto que ele mudou de sexo) Deirdre McCloskey, The Bourgeois
Virtues, mas não se trata exatamente de um elogio à burguesia enquanto classe
“universal” – no sentido hegeliano da palavra – mas uma discussão
essencialmente de história econômica e de história intelectual da formação da
moderna sociedade capitalista na passagem do mercantilismo para o sistema
fabril. De certa forma não deixa de ser um elogio à burguesia, mas vista apenas
pelo seu lado empreendedor e inovador, e não exatamente como portadora de
valores humanistas que aqui se procura destacar. Trata-se, basicamente, de uma
defesa da economia de mercado, tal como encarnada na burguesia enquanto agente
econômico, não de um elogio filosófico à burguesia, genericamente.Uma
pesquisa sumária na literatura brasileira, publicada no Brasil, não registrou
nenhum trabalho que pudesse ser aproximado, de perto ou de longe, com uma visão
positiva da burguesia. Os mais amplamente utilizados em nossos meios
universitários são o enviesado História da Riqueza do Homem, do marxista
americano Leo Huberman, e o inacreditável Veias Abertas da América Latina, do
perfeito idiota Eduardo Galeano, um jornalista mal informado que é recomendado
por professores perfeitamente idiotas por não reconhecerem sua total má
qualidade histórica. Não é preciso dizer que ambos exibem, a
propósito da burguesia, uma visão tão risivelmente simplista que seria
empobrecedor para este texto sequer pretender criticá-los.
MAS QUE DIABOS SÃO OS
BURGOS E A BURGUESIA?
Burgo
é uma divisão administrativa em vários países. Em princípio, o termo designa
uma cidade murada autogovernada, embora, na prática, o uso oficial do termo
varia amplamente. A palavra vem do latim burgus, que significa "pequena
fortaleza, povoado" que, pelo germânico burgs, ficou cidadela
fortificada.Em alemão a palavra Burg é associada a construções mais
antigas e fortificadas, e a palavra Schloss é associada aos palácios e
castelos construídos na Europa no final da Idade Média. Ela deriva do germânico
comum *burgs, de significado forte: compare com bury
(inglês, que nesta língua derivou também para os termos borough, brough,
burgh), burgh (escocês), Burg (alemão), borg
(escandinavo), burcht (holandês) e o empréstimo germânico presente em
línguas indo-europeias vizinhas tal como borgo (italiano), bourg
(francês), burgo (espanhol e português). A incidência destas palavras como
sufixos de nomes de lugar (por exemplo, Cantuária (Canterbury), Estrasburgo, Luxemburgo, Edimburgo, Hamburgo,
Gotemburgo, Joanesburgo), geralmente indica que eles eram assentamentos
fortificados. (nada diferentes dos atuais condomínios lotados com
nossos representantes da ESQUERDA CAVIAR).Os burgos surgiram na Baixa Idade
Média, na época da decadência feudal e crescimento comercial e urbano.Os burgos
desenvolveram-se pelo processo de troca de produtos entre um feudo e outro. Os
produtores levavam seus produtos até o burgo (que ficava "dentro" de
um feudo) e lá faziam uma espécie de feira trocando seus produtos por outros ou
por dinheiro.Os habitantes dos burgos dedicavam-se ao comércio e à produção
artesanal, que era realizada pelo mestre em sua oficina, e seus habitantes eram
chamados de burgueses.
A Idade Média (476 a
1453) costuma ser conhecida como a época em que a economia europeia esteve
praticamente estagnada. Essa afirmação é feita porque a maior parte da
população vivia nos feudos, que eram grandes áreas cercadas e isoladas uma das
outras, com uma economia quase auto-suficiente. Desse modo, costuma-se dizer
que o comércio de produtos praticamente desapareceu no período medieval.No
entanto, devemos relativizar essa ideia. Durante a Idade Média continuaram a
existir profissionais como os artesãos (ferreiros e construtores de máquinas,
por exemplo), comerciantes e negociantes. As pessoas não deixaram de adquirir
certos equipamentos fundamentais à prática da agricultura (como enxadas e
arados), que eram, portanto, fabricados e comercializados. Ainda que
essas atividades de comércio tenham sido bastante restritas, numa Europa
separada por feudos e ameaçada por guerras entre os povos do continente, isso
não significa que elas tenham desaparecido.O período de auge do feudalismo foi
o que se costuma chamar de Alta Idade Média (séculos 5 a 10). Mas, a partir do
século 10, as coisas começaram a mudar. Diversos fatores ajudam a explicar por
que a agricultura deixara de ser a principal atividade econômica, abrindo
espaço para o chamado Renascimento comercial, que, a partir do século 11,
inaugurou definitivamente a Baixa Idade Média, que se estenderia até o século
15.
A Europa vivia em
meados do século 10 uma relativa época de paz, já que os ataques de um reino a
outro haviam diminuído bastante. Essa queda no número de conflitos foi
responsável por um considerável aumento populacional: em 300 anos a população
da Europa cresceu de 8 milhões para 26 milhões de habitantes. Isso gerou um
excedente populacional, que começou a necessitar de mais espaço e a expandir-se
para fora dos feudos.Anteriormente, havia a população de comerciantes,
negociantes e artesãos que, devido à sua prática profissional itinerante,
começaram a se fixar no entorno dos feudos, constituindo, assim, as vilas e
burgos. Dessa forma, aqueles que moravam nessas localidades eram conhecidos
como burgueses e, ao longo dos séculos, essa denominação passou a denominar os
comerciantes que se destacavam e tinham sucesso em seus negócios.Com o
aumento demográfico na Europa, a população dos burgos foi crescendo também.
Isso se dava porque muitos servos acabavam por fugir dos feudos para escapar
das imposições da relação servil. Ou ainda, porque aqueles servos que mais
causavam problemas aos seus senhores eram expulsos de suas terras, indo
engrossar a população das vilas. Assim, essas pequenas localidades
começaram a crescer e se tornar importantes concentrações de trabalhadores
livres e comerciantes, onde passaram a ser organizadas feiras permanentes, o
que resultou no surgimento de inúmeras cidades.
O renascimento
das cidades e favorecimento da burguesia
Como anteriormente a maior parte da Europa era constituída
por feudos, esse processo foi chamado de "Renascimento urbano", pois
as cidades voltaram a se tornar importantes núcleos econômicos. Ao mesmo tempo,
isso indicou também a decadência dos vínculos feudais, pois os moradores da
cidade passaram a negociar com os senhores O fim do pagamento de tributos e
serviços, através da compra da chamada carta de franquia. O aumento da
liberdade política e econômica foi propiciando o aprimoramento do trabalho
urbano. Os artesãos, que faziam os produtos consumidos pelos europeus, passaram
a ser organizar em entidades para além de suas cidades. Para isso, formaram as
guildas e as corporações de ofícios, que eram associações de trabalhadores de
determinados profissões (O embrião dos primeiros Sindicatos).
CONCLUSÃO
Não há como recusar:
tudo o que se pode visitar de notável, de rico e de culturalmente enriquecedor,
atualmente, numa Europa largamente dedicada ao turismo de massa, foi obviamente
construído como habitação exclusiva para nobres e burgueses, tais como:
castelos, palácios, mansões, ou como lugares de culto abertos a todo o povo:
igrejas e catedrais, eventualmente, também, como residências monacais, como
abadias e mosteiros (estes bem mais rústicos). Tudo isso foi praticamente
convertido, pela burguesia (que os conservou também), em museus e monumentos
nacionais, grandiosidades abertas à visitação pública, ao custo de muito
dinheiro público e privado (já que custa caro manter essas imponentes construções,
algumas na origem da decadência econômica da aristocracia).
Supõe-se que, a menos que nossos pequenos burgueses acadêmicos prefiram
visitar, turisticamente, tugúrios camponeses e cortiços operários, em países
pobres, ou então participar, voluntariamente, do corte de cana em Cuba, nas
épocas de safra, eles também apreciariam visitar o que de melhor a civilização
ocidental criou em vários séculos de dominação das classes aristocráticas e
burguesas.
Acredito que, no fundo, eles prefiram o desfrute desse tipo de requinte, mesmo com a prevenção ideológica e o desprezo ritual que eles devotam às “classes exploradoras”. Afinal de contas, não se pode culpá-los por desejar exibir solidariedade, mesmo falsa ou forçada, com as “classes trabalhadoras”, ao mesmo em que gozam, secretamente, de alguns prazeres burgueses, até mesmo aristocráticos, sem contudo, revelar o “pecado” aos companheiros de militância. A carne é fraca, sabemos disso.
Voltemos, entretanto, ao que pode motivar um “elogio à burguesia” num
texto provocador como este. Deve-se, em primeiro lugar, agradecer à burguesia o
fato de ter preservado tão bem o legado das antigas classes dominantes, em face
de tantas batalhas, revoluções, guerras civis e outras turbulências políticas:
castelos, armaduras, afrescos, tapetes, quadros, objetos que de outra forma
poderiam ter sido perdidos ao longo dos séculos. Obras de arte de todo tipo, e
qualquer quantidade de manifestações do espírito e do intelecto, que eles
arrematavam, aos borbotões, numa Europa devastada por guerras e genocídios
escabrosos.
Como é que nossos
acadêmicos pequenos burgueses não podem achar geniais essas trouvailles da
civilização burguesa, essas maravilhas do capitalismo, seja na preservação dos
raros vestígios do passado, seja na reprodução perfeita dos originais
praticamente destruídos ou inacessíveis? Como não apoiar essas demonstrações de
prestígio da civilização burguesa? Numa dimensão digamos assim, mais acadêmica,
como não elogiar esses mecenas saídos de uma modesta condição de origem para os
pináculos da riqueza capitalista, que dotam suas universidades de formação com
milhões de dólares, em troca, simplesmente, de um mármore no hall de salas de
concerto, gravado para a eternidade com seus nomes? Como não admirar a
multiplicação dessas oportunidades de também reproduzir o mesmo modelo de
benfeitoria social através de bolsas concedidas a estudantes de extratos
inferiores, que podem assim aceder às melhores universidades do país, que de
outra forma estariam fora de suas possibilidades de estudo? Todas essas
orquestras sinfônicas juvenis, espaços de preservação ambiental, museus com
coleções magníficas, bibliotecas inteiras doadas a instituições de estudo e
pesquisas, tudo isso é obra da burguesia, bem mais do que um Estado por vezes
muito lento a se movimentar e bem mais pobre do que se pode imaginar (aliás,
por definição, posto que todo o dinheiro “do” Estado vem do trabalho de burgueses
e trabalhadores, será que nossos acadêmicos não sabem disso?).
Em face de todas essas contribuições ao enriquecimento intelectual das sociedades, parece risível o fato de nossas “elites” acadêmicas insistirem em recusar a “cultura burguesa”, promovendo, em seu lugar, manifestações de “cultura popular” que aparecem como artificialmente popularescas em sua demagogia simplória. No lugar de Bethoven, hip-hop, no lugar de Villa-Lobos, funk ou um batuque qualquer, em troca de Machado de Assis, sabe-se lá que cantor de rap ou “poeta popular”. Nunca o grotesco popular ocupou um lugar tão grande em nosso cenário cultural; jamais os acadêmicos foram tão omissos na defesa da produção intelectual de qualidade: tudo em nome do combate à sociedade burguesa, é verdade. De minha parte, não tenho hesitação em elevar um:
“Viva a burguesia!”
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