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Uma breve apresentação dos padres do deserto

Written By Beraká - o blog da família on quarta-feira, 4 de outubro de 2017 | 20:33





“Esses homens estão longe de si mesmos, como ébrios de bebida, ébrios em espírito de mistério e de Deus."(Pseudo-Macário, Homilias espirituais)





Foram talvez os últimos cristãos que viveram autenticamente a Kênosis, e que fizeram a livre opção de seguir os ensinamentos ascéticos da pessoa de Jesus, em detrimento da ordenança da Igreja nascente e instituída, porém, sem fazer nenhuma crítica a ela.




O termo, Padres do Deserto inclui um grupo influente de eremitas e cenobitas do século IV que se estabeleceram mais precisamente no deserto egípcio. As origens do monaquismo oriental se encontram nessas ermidas primitivas e comunidades religiosas. Paulo de Tebas é o primeiro eremita do qual se tem notícia, a estabelecer a tradição do ascetismo e contemplação monástica e Pacômio de Tebaida é considerado o fundador do cenobitismo, do monasticismo primitivo. Ao final do terceiro século, contudo, o venerado Antão do Egito orienta colônias de eremitas na região central. Logo, ele se torna o protótipo do recluso e do herói religioso para a Igreja oriental, uma fama devida em grande parte à vasta louvação na biografia de Atanásio sobre ele. Esses primitivos monásticos atraíram um grande número de seguidores aos seus retiros severamente austeros, através da influência de suas simples vidas abandonadas em Deus, e concentrada na busca pela salvação de suas almas do mundo, na união com o Altíssimo. Os Padres do Deserto eram frequentemente solicitados para direção espiritual e conselho aos seus discípulos. Suas respostas foram escritas pelos seus discípulos, e colecionadas num trabalho chamado "Paraíso" ou "Apotégmas dos Padres". (Por Emily K. C. Strand, tradução Jandira)












Quando o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano, encerrando trezentos anos de perseguição e martírio, algumas pessoas consideraram que sua prática religiosa cristã era incompatível com essa nova religião de Estado que surgia, institucionalizada e poderosa, e decidiram simplesmente ir peregrinar nos desertos do Egito, sozinhas, ou em pequenas comunidades. Essas pessoas, apesar de hoje lembradas como Padres e Madres do deserto, e de serem respeitosamente referidas como “monge” ou “abade”, em sua enorme maioria não eram religiosas ordenadas; não possuíam nenhum treinamento ou formação sacerdotal, teológica, litúrgica; não tinham nenhum apoio ou chancela das instituições cristãs oficiais da época. Eram só pessoas, imbuídas de uma fé profunda e quiçá radical, que se isolaram do mundo para poder viver mais livremente o tipo de vida que consideravam mais adequado à aqueles tempos da PAX ROMANA. Não eram muito sociáveis, não estimulavam visitas. Não tentavam convencer ninguém. Acreditavam simplesmente com máxima intensidade na força do evangelho ascético de Cristo, e nos frutos de suas revelações contemplativas experimentadas na realidade prática.Na Idade Média, foram celebradas; na Renascença, esquecidas; no século XX, recuperadas. 




Um dos responsáveis por sua renovada popularidade é o monge trapista Thomas Merton, que escreveu:






“Os Padres do Deserto insistiam em permanecer humanos e ‘comuns’. Fugir ao deserto para ser extraordinário é somente carregar o mundo como um padrão implícito de comparação. Os homens simples que viveram suas vidas até uma idade avançada entre pedras e areia só o fizeram porque haviam ido ao deserto para serem eles mesmos, para viverem seu eu ordinário, e para esquecerem um mundo que os mantinha afastados de si mesmos. O que ganhamos ao viajar à lua se não formos capazes de cruzar o abismo que nos separa de nós mesmos? Deixar o mundo é ajudar a salvá-lo, salvando-se a si mesmo.Os eremitas cópticos que deixaram o mundo, embora estivessem escapando de um naufrágio, não pretendiam apenas salvar suas vidas. Eles sabiam que eram incapazes de fazer algum bem aos outros enquanto se debatessem no naufrágio. Porém, uma vez que conseguissem colocar os pés em terra firme, as coisas seriam diferentes. Nesse momento eles não apenas teriam o poder, mas a obrigação de trazer todo mundo a salvo atrás deles.”












Precisamos porém, separar aqui também, o joio do trigo em seus os atos, falas, e as histórias dos Padres e Madres do Deserto, que de certa forma pelo seu estilo de vida estranho ao homem moderno, pode causar-nos um impacto profundo.






Segue apenas uma “palhinha” da sabedoria dos Padres do Deserto:





“Um irmão perguntou a Pai Sisoes: ‘Padre, o que devo fazer, pois caí em tentação?’ Pai Sisoes disse: ‘Levanta-te novamente!’ O irmão retrucou: ‘Eu me levantei, mas voltei a cair!’ E o Padre aconselhou: ‘Então te levanta de novo e toda vez!’ O irmão perguntou: ‘Até quando?’ E o ancião respondeu: ‘Até seres aceito ou no bem ou na queda.’” (Grun, 53)





“Ao ser requerido a proferir um discurso diante do Arcebispo Teófilo, Padre Pambo teria dito: ‘Se ele não tirar nenhum benefício do meu silêncio, tampouco poderá tirá-lo do meu discurso’.” (Grun, 64)





“Um irmão foi até Cétia pedir boas palavras ao abade Moisés. O ancião respondeu-lhe: ‘Volte para sua cela, sente-se e ela lhe ensinará tudo o que precisa.” (Merton, 33)





“O abade Hiperéquio disse: ‘É melhor comer carne e beber vinho do que devorar a carne do seu irmão, desprezando-o.” (Merton, 35)






“Certa ocasião, no vale das celas, os irmãos estavam reunidos, comendo no local de assembléia. Um dos irmãos presentes disse ao que servia à mesa: “Eu não como nenhum alimento cozido, apenas um pouco de sal.’ O irmão que servia à mesa chamou outro irmão e, à frente de todos na assembleia, disse em voz alta: ‘Aquele irmão não come alimentos cozidos, traga um pouco de sal para ele.’ Um dos anciãos levantou-se e disse ao irmão que só queria sal: ‘Seria melhor você ter comido carne sozinho na sua cela hoje do que ter deixado que isso fosse dito na presença de tantos irmãos.’” (Merton, 44)





 “Um irmão perguntou ao abade Pastor: ‘Eu perco a calma quando estou sentado sozinho, em minha cela, orando. O que devo fazer?’ O ancião respondeu-lhe: ‘Não despreze ninguém, não condene ninguém, não censure ninguém. Deus lhe dará a paz e sua meditação não será perturbada.’” (Merton, 45)





“O abade Pastor disse: ‘ A malevolência nunca acabará com a malevolência. Se alguém lhe fizer mal, faça o bem a essa pessoa, assim, a sua boa ação pode destruir a malevolência.’” (Merton, 47)





“O abade Pastor recebeu a seguinte dúvida de um irmão: ‘Como devo me comportar no local onde vivo?’ O ancião respondeu: ‘Seja cauteloso como um forasteiro. Onde quer que esteja, não deseje que suas palavras tenha força diante de si, e terá paz.’” (Merton, 59)





“O diabo apareceu a um dos irmãos transformado em anjo da luz, e lhe disse: ‘Eu sou o anjo Gabriel e fui enviado a você.’ Porém, o irmão respondeu: ‘Pense bem, você deve ter sido enviado a outra pessoa. Não fiz nada para merecer um anjo.’ Imediatamente, o diabo desapareceu.” (Merton, 60)





“O abade Pastor disse: ‘Qualquer prova colocada a você pode ser vencida pelo silêncio.’” (Merton, 61)





“O abade Pastor contou que o abade João, o anão, orara ao Senhor e que o Senhor o livrara de todas as paixões, tornando-se assim impassível. Nessa condição, foi até um dos anciãos e disse: ‘Você tem diante de si um homem que está em pleno descanso e livre de todas as tentações.’ O ancião disse-lhe: ‘Vá e reze ao Senhor para que lhe envie alguma luta a ser travada dentro de si, porque a alma é amadurecida por meio de batalhas.’ Então, quando as lutas começaram a aparecer novamente, ele não pediu para que fossem afastadas, apenas disse: ‘Senhor, dê-me forças para resistir à luta.’” (Merton, 64)





“Certa vez, alguns ladrões invadiram o mosteiro e disseram a um dos anciãos: ‘Viemos para levar tudo que há em sua cela.’ Ele respondeu: ‘Meus filhos, peguem tudo o que desejarem.’ Então, eles pegaram tudo o que acharam na cela e foram embora. Porém, deixaram uma pequena bolsa que estava escondida na cela. O ancião pegou-a e foi atrás deles, gritando: ‘Meus filhos, vocês esqueceram isso na cela!’ Surpresos com a resignação do ancião, trouxeram tudo de volta para a cela e se arrependeram, dizendo: ‘Esse é realmente um homem de Deus.’” (Merton, 66)















“O abade Agatão admoestava frequentemente seu discípulo, dizendo: ‘Nunca adquira para si nada que hesitasse dar a seu irmão se ele lhe pedisse.Se alguém lhe pedir algo, dê; se alguém quiser algo emprestado, não recuse.’” (Merton, 67)






“O abade José perguntou ao abade Pastor: ‘Diga-me como posso me tornar um monge.’O ancião respondeu: ‘Se você quiser descanso nessa vida e também na próxima, em todo conflito com outro, diga: ‘Quem sou eu?’ e não julgue ninguém, se tiver disposto a isto, poderá ser monge.” (Merton, 70)





“O abade João costumava dizer: ‘Nós nos desincumbimos de uma carga leve, que é a repreensão a nós mesmos, e no lugar dela optamos por carregar uma carga pesada de nos justificar e recriminar os outros.’” (Merton, 79)





“Um grande nobre desconhecido de todos veio até a Cétia, trazendo consigo ouro, e perguntou ao padre do local onde poderia deixar aquele ouro para os irmãos. O padre disse a ele: ‘Os irmãos não precisam disso.’ O nobre insistiu e não aceitaria ‘não’ como resposta; então, colocou a cesta com o ouro na porta de entrada da igreja e disse ao padre: ‘Aqueles que desejarem um pouco, podem pegar à vontade.’ Porém, ninguém tocou no ouro, alguns nem mesmo olharam para a cesta. O ancião disse ao nobre: ‘O Senhor aceitou sua oferta. Vá agora e doe aos pobres.’” (Merton, 80-81)





“Certa vez, o abade Macário, depois de ter dado a benção aos irmãos na igreja de Scete, lhes disse: ‘Irmãos, retirai-vos.’ Um dos anciãos replicou: ‘Como podemos nos retirar mais do que isso, visto que já estamos no deserto?’ Então, Macário colocou o dedo em seus lábios, dizendo: “Retirai-vos a partir daí.” Dito isso, entrou em sua cela e fechou a porta.” (Nouwen, 41)





CONCLUSÃO:












O Vaticano II nos convida a renovar a Teologia à luz de suas fontes no Evangelho e nos Padres da Igreja, do Oriente e Ocidente e dos Padres do Deserto; (ver "Unitatis Redintegratio" 15ss). Este blog com esta postagem, quer prestar um serviço à Igreja peregrina e propiciar aos que ainda não tiveram um contato com os Santos Padres do Deserto,ter este primeiro contato. Que eles mesmos nos inspirem um retorno salutar às fontes do Pão da Palavra e do Pão Eucarístico e assim sermos capazes de também matar a fome do homem de hoje. Fome do Pão e da Palavra. E que assim tenhamos Vida em abundância.












"No Oriente se encontram também as riquezas daquelas tradições espirituais, expressas sobretudo pelo monaquismo. Pois desde os gloriosos tempos dos santos Padres floresceu no Oriente aquele elevada espiritualidade monástica, que de lá se difundiu para o Ocidente e da qual a vida religiosa dos latinos se originou como de sua fonte e em seguida, sem cessar, recebeu novo vigor. Recomenda-se, por isso, vivamente que os católicos se abeirem com mais frequência destas riquezas espirituais dos Padres do Oriente que elevam o homem todo à contemplação das coisas divinas." (UR 15)





Capítulo LXXIII - Regra de S. Bento:







"Aquele que aspira à vida perfeita, esse tem os ensinamentos dos santos Padres, cuja observância conduz o homem aos cumes da perfeição. Com efeito, que página ou palavra da autoridade divina, tanto do Antigo como do Novo Testamento, que não seja retíssima norma de vida humana? Ou que livro dos santos Padres católicos, que não nos pregue bem alto o reto caminho para chegarmos ao nosso Criador? E as "Colações" dos Padres, as suas "Instituições" e "Vidas" , bem como a Regra do nosso Pai S. Basílio, que outra coisa são senão documentos autênticos das virtudes de monges de vida santa e obedientes? Para nós, remissos e de mau viver e negligentes, são de nos fazer corar de confusão. Quem quer que sejas, portanto, que te dás pressa por chegar à pátria celeste, põe em prática, com a ajuda de Cristo, este esboçozinho de Regra que escrevemos para principiantes. E então chegarás finalmente, com a proteção de Deus, a essas sublimes alturas de doutrina e de virtudes, a que acima nos referimos. Amém" (Fim da Regra - Colações" e "Instituições", de João Cassiano - Vidas dos Santos Padres)






BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:





-Para quem lê inglês, recomenda-se a edição da Penguin, traduzida e editada por Benedicta Ward. Para quem só lê português, o livro do Merton é uma excelente seleção:A sabedoria do deserto: ditos dos Padres do Deserto do século IV, de Thomas Merton, 1960, inglês. [Trad: Helio de Mello Filho, 2004.]



-A orientação espiritual dos Padres do Deserto, de Anselm Grün, 2002, alemão. [Trad: Enio Paulo Giachini, 2013.]



-O caminho do coração: a espiritualidade dos Padres e Madres do Deserto, de Henri Nouwen, 1981, inglês. [Trad: Denise Jardim Duarte, 2012.]



-The desert fathers, c.III-IV, copta. [Trad, org: Hellen Waddell, 1936.]



-The desert fathers, sayings of the early Christian monks, c.III-IV, copta. [Trad: Benedicta Ward, 2003.]





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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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