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exemplos de que "Hobbit e O Senhor dos Anéis" de J.R.R.
Tolkien , é Cristão e Católico!
Muitas pessoas "desinformadas", ou "intencionalmente maldosas", acham
que a obra de Tolkien (autor de O Senhor dos anéis) tem conteúdos malignos e demoníacos.
As acusações fictícias vão desde mensagens subliminares a até bruxaria. Mas,
aqui vamos analisar a FUNDO a obra de Tolkien. Em vez de você confiar em seu "PAXTÔ" que não estudou a
literatura de Tolkien, que tal confiar em quem estudou? Essa é a primeira parte
da Explicação do Padre Paulo Ricardo a respeito da real mensagem que é passada
pelo autor. Existe uma mensagem nas obras deste autor Católico, e a
mensagem é uma belíssima e profunda mensagem cristã! Será mesmo que quem critica tanto assim a obra dele sabe
reconhecer a mensagem Cristã? Por que será que eles não reconhecem o evangelho
em uma obra literária, se afirmam que leem a bíblia dia e noite?...estranho...muito
estranho...
“O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, o segundo
filme baseado na Trilogia de J.R.R. Tolkien, estreou nos cinemas
norte-americanos em 18 dezembro de 2002
Graças à visão e persistência do cineasta
neozelandês Peter Jackson e com o apoio financeiro da Warner Brothers e New
Line Cinema, essas grandes histórias se tornaram mais acessíveis a milhões de
pessoas em todo o mundo! Tolkien tinha esperança
de que outros viriam depois dele e, como outros mitos, adaptariam as histórias
da Terra Média para torná-las aplicáveis e acessíveis para as novas gerações.
Peter Jackson está fazendo isso, e fazendo-o muito bem! O terceiro e
último filme da série foi lançado em dezembro de 2003.J.R.R. Tolkien
escreveu:
“O
Senhor dos Anéis é, naturalmente, de um caráter essencialmente
religioso e uma obra católica. Inconscientemente assim no início, mas
conscientemente na revisão” [1]
Pelo projeto O Senhor dos Anéis não é uma
alegoria cristã, mas sim um mito inventado [2] sobre as verdades cristãs e
católicas!
Mas isso apresenta um problema para os cineastas. Porque
cristã? Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal,
nas regiões celestes. (Efésios 6,12).E quando se trata de filmes, o público DEVE ver
tudo e qualquer coisa que é importante para a história. Assim, o conflito não
pode ser algo que o protagonista se envolve em um nível puramente espiritual ou
emocional – como o perdão, a culpa, a justificação, ou resgate. A fonte do
conflito tem de ser visível.Felizmente – não menos que providencialmente –
Tolkien passou um tempo de vida subcriando (como ele a chamava) a Terra Média,
que contém entidades físicas, representando tudo o que é bom e ruim em nossas
viagens terrestres. Há anões, elfos, orcs, magos, hobbits, ents, trolls,
espectros, Uruk-Hais e pelo menos um Balrog – todos com suas próprias línguas,
culturas, história e mitos – misturando-se com os seres humanos em uma batalha
grandiosa e épica com o mal.Mas não é só uma batalha contra o mal que faz de O
Senhor dos Anéis uma obra fundamentalmente cristã e católica, e vamos
demonstrar. Abaixo estão alguns destes exemplos e um que é exclusivo para os
filmes de Jackson. Você pode dizer qual é?
Aqui estão algumas das formas em que O
Senhor dos Anéis é um mito cristão:
1)- As trevas permeia a Terra-média, onde homem,
feras e natureza são chamados para uma aventura cheia de perigo e de esperança.
Aqui é como Elijah Wood explica o tom dominante do filme: não importa o quão
ruim as coisas estão, não importa quanto mal há no mundo, há sempre algo bom
pelo que vale a pena lutar, um valor para apoiar e vale a pena algum esforço na
realização disso. [3]
2)- O Um Anel ilustra como o mal pode seduzir e
escravizar. Belos anéis de ouro são atraentes para usar. Mas quando o colocamos
em nossos dedos anunciamos a nossa devoção e lealdade ao seu proprietário.
3)- Gandalf e Saruman, embora não sejam análogos,
têm características, objetivos e experiências semelhantes aos de Jesus e
Satanás. Gandalf é tentado em uma batalha com Saruman que não é diferente da de
Cristo ser tentado por Satanás no deserto.
4)- O mal é parasitório e só pode destruir o que
foi criado. Tudo o que Eru Ilúvatar (Deus) criou na Terra Média (e em
nosso mundo) é bom. Foi a perversão e corrupção disso que criou o mal. Só o bem
pode existir por si só. O mal só pode viver fora o que é bom.
5)- Como todos os cristãos, Frodo é chamado para
arriscar a sua vida através de grandes perigos para salvar os outros. Frodo,
como nós, não parece estar à altura da tarefa. Ele não tem qualquer talento
óbvio adequado para a guerra. Mas ele é escolhido, como nós somos. Somos todos
necessário para o grande plano de Deus ser cumprido, e até mesmo o improvável e
repugnante Gollum é necessário. E quando Frodo pergunta: “O que pode um pequeno
hobbit fazer?” – Isaías responde “Uma criança os guiará “(11,6).
6)- No condado, os hobbits vivem naturalmente uma
vida beatífica que Cristo chama os cristãos a viver. Os hobbits são os mansos
que herdarão a terra, os misericordiosos que recebem misericórdia, os puros de
coração, e os pacificadores. (Mt 5,3-12)
7)- Como todos os cristãos, os personagens de
Tolkien são chamados a desempenhar funções em um uma história que é muito maior
e mais importante do que eles estão cientes. Assim como não temos conhecimento
de tudo o que aconteceu antes de nós, [4] assim Gandalf, no final do O Hobbit,
diz a Bilbo “você realmente não acha que todas as suas aventuras e fugas foram
geridas por mera sorte, apenas para seu benefício exclusivo? Você é apenas um
pequeno ser em um mundo gigantesco”.
8)- Há um desejo para o retorno do rei. Como
cristãos esperam para o retorno de Cristo Rei, assim os povos livres da
Terra-média esperam que seus reinos estejam unidos mais uma vez na paz e na
justiça sob o herdeiro legítimo. Eu mencionei que Aragorn se parece com Cristo?
9)- A Sociedade do Anel é constituída
de diferentes personagens com diferentes dons adequados para combater mal – a
diversidade os mantém unidos. Isso não é
diferente da diversidade de dons espirituais e talentos temporais dado para os
diferentes membros da comunidade cristã para a unidade da corpo – para que
possamos ser dependentes uns dos outros.
10)- Ao deixar Lórien, cada um dos membros da
Irmandade é equipado com um manto élfico personalizado encapuzado que não é
muito diferentes da armadura de São Paulo em Efésios 6,10-17. Mais uma vez,
Tolkien não gostava de alegoria, assim as capas não são exatamente como a
armadura da salvação de S. Paulo. Mas eles têm traços místicos de grande ajuda
que os mantêm seguros em sua batalha com o mal.
11)- Os sacramentos "não são símbolos"! Para sua
viagem, Galadriel graciosamente dá à Irmandade – uma representação da Igreja –
sete dons místicos; não meros símbolos, mas essas reflexões cintilantes da
Igreja dos sete sacramentos – a transmissão da graça espiritual através de
ritos temporais. E no seu Espelho, Galadriel zomba do escárnio dos reformadores
da magia eucarística na missa quando ela diz: Isto é o que seu povo chamaria de
mágica, eu acho, embora não entenda claramente o que querem dizer, além do fato
de eles usarem, ao que parece, a mesma palavra para os artifícios do Inimigo.
12)- Assim como a graça e a criação são
experimentadas através de um sacramento, da mesma forma o controle e destruição
são experimentados através de um antisacramento: Um Anel. O anel que Frodo
carrega não é simbólico mas funciona como um antisacramento. Dependente da
disposição espiritual de uma pessoa, um sacramento literalmente permite a graça
e vida fluírem para uma pessoa através do reino físico. De mesmo modo, na Terra
Média, a disposição espiritual dos carateres fá-los mais ou menos suscetíveis
ao poder antisacramental do anel que, se usado, literalmente traz a maldade e a
destruição sobre o portador,ou seja, vemos aqui uma clara alegoria ao mal uso dos dons concedidos por Deus a seus discípulos, na passagem de Mateus 7,22-23:
"Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!"
13)- Os protagonistas buscam absolutos, rejeitando
qualquer espécie de relativismo. Na Terra Média há uma incondicionalidade do
que é certo e errado. Não há a insinuação do relativismo moral que separa os
diferentes povos, raças, ou criadores das terras livres. Aragorn diz a Éomer:
‘O bem e o mal não mudaram desde o ano passado; nem são uma coisa para os elfos
e anões e outra coisa para os homens.
14)- Os protagonistas abraçam o sofrimento como um
requisito para trabalhar pela sua salvação. Não basta simplesmente acreditar ou
ter fé para ser livre da tirania do mal. Cada um de nossos protagonistas devem
se sacrificar e trabalhar duro por meio de grandes perigos para garantir a sua
salvação e a ordem certa de seu mundo.
15)- O Condado, descrito como a comunidade ideal,
reflete os ensinamentos sociais do catolicismo. Os hobbits beneficiam-se de uma
estrutura de comunidade com pouca organização formal e menos conflito. Eles só
trabalham o bastante para sobreviver e para desfrutar da companhia uns dos
outros. Não há nenhum ciúme, nenhuma ganância, e raramente alguém faz algo
inesperado. Há uma inteireza e benevolência que parece vir naturalmente
da abnegação.
16)- Gandalf, o mordomo de todas as coisas boas no mundo, reflete o
papado. Gandalf é líder dos livres e fíeis. Ele é administrador de todas as
coisas boas no mundo, mas ele nunca afirma governar nenhuma terra. Como os
papas da história fizeram com reis e imperadores do nosso mundo, Gandalf coroa
reis e os abençoa a governar com justiça e paz.
17)- A Terra Média reflete a ideologia de uma
hierarquia corporativa moral, e não o individualismo. Não há democracia ou
república na Terra Média. Há líderes espirituais como Gandalf, e reis como
Théoden e Elessar com senhores e vassalos. Não há defesa do individualismo,
nenhuma reclamação de escolha, e nenhuma justificativa para um indivíduo seguir
sua consciência.
18)- Há uma senhora mística, como A Mãe, que
responde milagrosamente a pedidos de ajuda. A senhora é chamada de Varda (ou,
em élfico, Elbereth ou estrela-rainha) e, embora ela nunca seja vista, ela é
descrita como santa e rainha, e quando o seu nome é invocado – “Oh, Elbereth!
Gilthoniel! – como Frodo e Sam fazem ocasionalmente, ocorrem milagres que protegem
a busca e derrotam o inimigo presente.
19)- O Sinal da cruz. No final do primeiro filme (e
o início do segundo livro) Aragorn se ajoelha ao lado do mortalmente ferido
Boromir – e quando ele morre, Aragorn faz um sinal rudimentar que primeiro toca
na testa e depois seus lábios. É uma saudação para Ilúvatar, Aquele que criou
tudo.
20)- Há uma última partilha do cálice e pão (lembas), que não é
diferente do maná do AT e seu cumprimento na Eucaristia. Antes da Irmandade se
afastar de Lórien, Galadriel manda cada um para participar de um ritual de
despedida e beber de um cálice comum. Mais significativo é o pão élfico místico
dado na comunhão – "lembas ou pão de viagem". Uma pequena quantidade desta
nutrição sobrenatural sustenta um viajante por muitos dias de viagem. Tudo isso
deve tornar a visualização ou leitura de O Senhor dos Anéis mais interessante e
uma experiência perspicaz tanto para cristãos e católicos. Uma descrição mais
completa destes temas podem ser encontradas nos livros que foram
utilizados na bibliografia e citados ao longo deste artigo.
-J.R.R. Tolkien’s
Sanctifying Myth: Understanding Middle-earth. Bradley Birzer, 2003. Wilmington,
DE: ISI Books.
-Tolkien: A Celebration.
Collected writings on a literary legacy. Edited by Joseph Pearce, 1999. San
Francisco: Ignatius.
-Finding God in The Lord of
the Rings. Kurt Bruner and Jim Ware, 2001. Wheaton: Tyndale House.
-Tolkien: Man and Myth. A
literary life. Joseph Pearce, 1998. San Francisco: Ignatius.
1)- Enquanto Tolkien escreveu que na sub-criando essas
histórias sua lealdade era para Cristo e a Igreja, a fidelidade Jackson foi a
Tolkien. Jackson fez este comentário a um grupo de escritores cristãos:
“Queríamos homenagear Tolkien e, obviamente, ele era uma pessoa muito
espiritual. Nós fizemos uma abordagem de nunca tentar colocar em nossa própria
mensagem ou a nossa própria bagagem para esses filmes. Queremos que os filmes o
respeitem e o que ele era.” (Entrevista, Nova York, 4 de dezembro de 2002)
2)- Para Tolkien, os mitos são verdadeiros porque
eles fazem parte de nossa imaginação criada por Deus e porque elas nos
trazem “uma alegria que tem o gosto de uma primeira verdade”. Para Tolkien, a
história de Jesus Cristo é um “mito verdadeiro.” Quando Tolkien compartilhou
este conceito com C.S. Lewis durante uma caminhada à tarde, Lewis sentiu “uma
corrida de vento que veio tão de repente”, e dentro de dias proclamou sua
crença em Cristo, tornando-se em um dos apologistas mais eficazes
docristianismo. (Veja também o ensaio de Tolkien, Sobre Contos de Fadas)
3)-Entrevista, New York Cit, 4 de dezembro de 2002.
4)- Leia O Silmarillion por J.R.R. Tolkien e
editado poer seu filho Christopher, também o Apêndice que se segue
imediatamente a terceira parte da trilogia: O Retorno do Rei.
Por Stan Williams
A MENSAGEM CRISTÃ EM
HOBBIT
Esse artigo é mais
recomendado para aqueles que viram o último filme da série O Hobbit (A Batalha dos Cinco
Exércitos), ou para ser relido depois de visto o filme, para que seja bem
compreendido. Sou suspeito para
falar, mas ele é, a meu ver, o melhor de todos os demais filmes da série. Não
sei se é minha memória ou se o melhor doce é aquele que a gente está provando
naquele momento. Só sei que fiquei bastante surpresa com o filme, pois ele tem
uma mensagem contrária à filosofia “de-hollywood”, do “self-made man”, da
riqueza e bem-estar a todo custo e a filosofia das novelas, em que vence o mais
esperto, e não o mais honrado.Há uma questão de corrupção pelo amor à riqueza, a ganância é estampada
com todas as letras, nua e crua, em cenas de horror. A guerra, a violência se
faz em nome dele. Muitos vão dizer: esse filme é mal, pois incita a violência e
tem muita magia. Veja lá: os heróis não são os que atacam, mas os que se
defendem, que lutam contra o mal. E essa batalha é honrada em todas as
instâncias e planos. A Bíblia mesma diz: "porque a nossa luta não é contra
o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas
regiões celestes." (Efésios 6,12).Se me perguntassem do
que trata o filme, eu diria: de ganância, corrupção, mas também das virtudes
necessárias para lidar com estes defeitos: lealdade, coragem (ou seria amor?),
fé e esperança, que são as virtudes teologais de São Tomás de Aquino,
aproveitadas por Lewis em “Cristianismo Puro e Simples”. Eu também diria que é
um filme para quem acha problemático assisti-lo. Afinal, o “problema” é não
assisti-lo.Há também que se considerar o herói da história. Veja, o ser mais desprezível
de todos, o menos heroico, um “hobbit”, baixinho e de pés grandes e peludos, é
quem resolve o problema (já nas “quartas de final de campeonato”). Se bem que,
no final de tudo, são as águias, símbolo divino recorrente em Tolkien, que
salvam a situação. Mas o hobbit foi peça fundamental na obra de redenção de
Terra-Média.Na verdade, há uma hierarquia de situações, como na “Divina Comédia” de Dante,
em que os males infernais vão se intensificando na medida em que a história vai
avançando, mas aí então vem a libertação, em doses homeopáticas: para cada mal
a sua cura e para cada situação a sua solução (muitas vezes inverossímeis
demais, confesso, a ponto de arrancar risos da plateia). Então, mais uma vez,
como em “O Senhor dos Anéis” (sobre o qual escrevi o livro “O Senhor dos Anéis:
da fantasia à ética”, aqui pela Editora Ultimato) o grande ponto positivo do
filme é sua moral, seu código e ética, e, no caso, código de guerra.O primeiro autor que eu li a respeito dos benefícios que a guerra pode trazer
foi C.S. Lewis. Em “Learning in wartime” (“Aprendendo em tempos de guerra”,
capítulo de “The Weight of Glory” – “O Peso da Glória”), ele fala, por exemplo,
que a perspectiva da morte eminente faz com que as pessoas reavaliem a sua
tábua de valores. De repente, surge a solidariedade; de repente, o trabalho em
equipe, mas surge também, o mau-caráter, que até em tempos de guerra quer tirar
proveito. Então, estão expostos os dois lados da guerra: do horror e do
artifício divino (ou seria milagre?) de transformar o mal em bem. E o bem
sobrepuja o mal, mesmo estando em minoria, mesmo quando se tem todos os motivos
para perder a esperança.De forma parecida com o livro “O Senhor dos Anéis” ainda, há muitas cenas
depois da derrota do inimigo. Cenas de purga, de reparação do mal causado à
Terra Média. E no final de tudo, há um retorno, um regresso ao lar perdido, à
toca querida, quase expropriada. Não vou falar muito do final para não tirar a
graça, mas preste atenção nas últimas cenas! Elas contêm muito da moral Cristã.
Por que O Hobbit é
Católico?
O filme de Peter Jackson atrai fãs por ser fiel à
carga religiosa da saga de J.R.R Tolkien
Ao
assistir ao filme O Hobbit –
uma jornada inesperada, do diretor neozelandês Peter Jackson, senti
a mesma alucinação recorrente que tive quando vi os três filmes de O senhor dos Anéis, também
de Jackson, no início da década passada. O ambiente concebido pelo escritor
inglês J.R.R. Tolkien e recriado em alta tecnologia digital (filmagem em 3D e
48 quadros por segundo) por Peter Jackson é o dos romances da Idade Média, com
seus cavaleiros, senhores de territórios fragmentários, o amor cortês, o
misticismo ardente e superstições materializadas em seres fantásticos. Mas voltemos à alucinação.
Consigo perceber uma cruz invisível atravessando todas as sequências. A cruz
não se encontra estampada nos trajes dos elfos e não está fincada no topo da
Montanha Solitária, mas é como estivesse lá, sub-reptícia, uma marca d’água. É
como se Tolkien houvesse subtraído o símbolo mais ostensivo do Cristianismo -
talvez porque fora utilizado militarmente durante as Cruzadas - para que
viessem à tona os valores que a cruz oculta e ofusca. Assim,
o jogo de ausência e presença simbólica da religião no filme e na obra de
Tolkien é tão sutil como insidioso. Não apenas Tolkien faz uma defesa dos
fundamentos cristãos, como sobretudo enfatiza a beleza e a aura divina do
catolicismo. Isso se dá não só porque Tolkien era um católico fervoroso que
trabalhou ao abrigo da Universidade Oxford – assim como seu amigo C.S. Lewis,
autor das Crônicas de Nárnia,
outra manifestação cristã (Lewis era anglicano, o que não deixa de ser uma
forma de catolicismo desprovida de papa) sob a forma de alegoria fantástica.
Tolkien e Lewis acreditavam na literatura como um estágio necessário para a
transformação espiritual da humanidade e sua elevação aos rituais mais belos...
que se encontram no Vaticano, cuja origem está na ritualística pomposa do
Império Romano.Tolkien fez o seu catolicismo
penetrar no romance O Hobbit (1937) e na sua sequência, a trilogia de romances Senhor dos
Anéis (1954-1955). Embora ele quisesse, no fim das contas, narrar
uma boa história, esperava que seus leitores evoluíssem espiritualmente com
ela. Dizia que um dos objetos “subcriativos” de seu projeto era “a elucidação
da verdade, e o encorajamento da boa moral neste mundo real, através do antigo
artifício de exemplificá-las em personificações pouco conhecidas, que podem
tender a prová-las”. A citação está no livro Encontrando Deus em O Hobbit (Thomas
Nelson, 200 páginas, R$ 29,90), de tolkienólogo Jim Ware, um dos muitos
lançamentos “místicos” e de autoajuda (ou autoilusão) na esteira do lançamento
do filme de Peter Jackson. Jim Ware diz que garante que o leitor “vai encontrar
Deus” ao ler O Hobbit. Talvez isso seja difícil. Mais fácil é encontrar
os preceitos da Cúria Romana na saga. Aqui
me permito um desvio sobre a composição das obras, que ajudará a compreender
melhor o processo criativo e a crença de Tolkien. O Hobbit é um prelúdio da trilogia do Anel, e
nesse sentido mantém um estreito parentesco espiritual e estrutural com a
tetralogia operística O Anel
dos Nibelungos (1876), de Richard Wagner, com seu prólogo e a saga
dos deuses dominados pelo ouro do rio Reno (Wagner foi acusado por Nietzsche de
se render ao catolicismo bávaro ao fim da vida).No
ensaio Explorando o universo
do Hobbit (Lafonte, 258 páginas), o medievalista (como Tolkien)
Corey Olsen afirma que Tolkien revisou O
Hobbit, pensado inicialmente como um livro infantil, com o objetivo
de ampliar a história da Terra-média e inseri-lo na composição final de Senhor dos Anéis. Alterou,
por exemplo, o encontro do Gollum com Bilbo Bolseiro, para que o achado do anel
ganhasse mais consistência. Na versão original, Bilbo, um depositório
inconsciente da ética católica, apossou-se do anel e se despediu do Gollum de
maneira amistosa, não sem uma dose de culpa, já que o Gollum não havia notado o
furto. Na nova versão, o Gollum percebe-o e jura odiar para sempre o hobbit. O
ódio se torna um alicerce para a trama levada adiante pelo sobrinho de Bilbo,
Frodo, em O Senhor dos Anéis.
Curiosamente, Peter Jackson faz quase a mesma coisa: ele seguiu Tolkien para
encaixar O Hobbit
como prelúdio a Senhor dos
Anéis. Mesmo assim, Jackson desrespeitou a organização da obra para
prolongar O Hobbit
em três filmes – o que tornou o primeiro longa-metragem arrastado e repleto de
flash-backs irritantemente explicativos.
A
organização retroativa proposta por Tolkien fornece às aventuras dos hobbits,
anões, elfos, trolls, magos e orcs um qualidade arquitetônica, em meio ao caos!
Sua tetralogia
como que derrete a ordem perfeita da Catedral de São Pedro no Vaticano para
reencenar com suas figuras, alegorias e simbologia uma aventura de revelação em
um ambiente alienígena, em uma geografia imaginária. No mapa de Tolkien
ingressam transfigurados os princípios elementares do catolicismo. Assim como a
viagem de Gandalf, Bilbo (interpretado no filme pelo ator inglês e católico
Martin Freeman) e os 13 anões é uma representação da volta à Terra Prometida
(os anões pertencem a um povo valoroso, porém espoliado de seus tesouros pelo
dragão Smaug), abençoada por um hobbit bondoso, a história da peregrinação a
Mordor e a devolução do anel pode ser lida como uma alegoria do Evangelho
encoberta sob o manto da fábula. Pode-se deduzir que O Hobbit é o Velho
Testamento; Senhor dos Anéis,
o Novo. Todos os volumes da história da Terra-média de Tolkien (Os filhos de Húrin, O Silmarilion etc.)
compõem uma versão fabulosa e medievalesca da Vulgata Latina, a tradução da
Bíblia para o Latim feita por São Jerônimo no século III d.C., considerada o
texto oficial das Sagradas Escrituras pelo Vaticano.
Além dessas transposições, é possível identificar
quatro aspectos mais evidentes do Catolicismo no enredo de O Hobbit e Senhor dos Anéis:
1)-
Em primeiro lugar, Bilbo, um hobbit aparentemente conformista, torna-se o
escolhido para viver uma aventura: seguir com os anões à Montanha Solitária,
atravessando terras ermas e perigosas, para enganar Smaug e restituir o tesouro
e a terra aos seus donos originais. Trata-se, portanto, de uma jornada
iniciática. “No final, você não será o mesmo”, avisa Gandalf. Bilbo irá
conquistar o anel, ficar rico e atingir a espiritualidade. É o mesmo percurso
exigido ao católico, que galga os degraus rumo à perfeição, do batismo à
extrema-unção na vida profana e, na sacerdotal, do noviciado à sagração como
bispo e até mesmo papa.
2)-
Um dos pré-requisitos para Bilbo e amigos seguirem adiante é a obediência.
Dessa forma, se fazem presentes a submissão e até mesmo a admiração de todos os
personagens “bons” a uma hierarquia imperial, a um poder central liderado pelo
Papa, o mandatário direto de Deus na Terra, segundo a Igreja Católica. Como a
cruz, não há um papa explícito em O
Hobbit, mas Gandalf parece ser o mais próximo de empunhar o cajado
e a cruz de São Pedro. Ou Bilbo, a longo prazo.
3)-
As virtudes teologais, em terceiro lugar, são o motor da trama de combate ao
Mal: Fé, Esperança e Caridade. Bilbo reúne-as como nenhum outro personagens.
Mesmo quando tomar para si o anel, usa seu poder para reforçar a fé entre os
companheiros de jornada.
4)-
Desse modo, quando o objetivo dos justos contra os ímpios está próximo a ser
alcançado, contará o quarto e maior elemento católico da história de Tolkien: a
Divina Providência. É ela que vem resgatar o herói nos instantes de maior
perigo. Como na terra dos orcs, quando águias gigantes salvam os anões
liderados por Thórin e Bilbo da morte. As águias simbolizam ali o Espírito
Santo, parte da Santíssima Trindade, ao lado do Pai e do Filho. A Divina
Providência retornará ao longo de O
Hobbit e Senhor
dos Anéis para organizar os reinos caóticos da Terra-média.
Bilbo e companheiros fazem o papel de
apóstolos!
São
soldados de Cristo em uma Cruzada, ainda que sem cruz. Eles conduzem o leitor e
o espectador às altas esferas da crença, para assim promover sua conversão por
meio da catequese. No entanto, à parte a crença e persuasão doutrinária, o
texto de Tolkien consiste em uma peça artística, uma narrativa de ficção, onde
as leis da lógica são alteradas. E é na fantasia que o aspecto mais profundo do
catolicismo de Tolkien se revela, na crença de que o reino deste mundo é
maléfico. Assim, Mordor ou Ereborn, os reinos caóticos deste mundos, não valem
a pena ser conquistados, pois o reino está em outro lugar, no plano espiritual
e divino. Nem mesmo o Condado do Bolsão, onde moram os hobbits, é recomendável.
“Meu reino não é deste mundo”, poderia dizer o mago Gandalf, ecoando Jesus
Cristo. No entanto, apesar de poder ser compreendida como páginas de doutrinação
religiosa, a experiência mais enriquecedora é ler e ver O Hobbit e Senhor dos Anéis como obra
de arte literária e cinematográfica. Tolkien parece demonstrar a observação do
escritor argentino Jorge Luis Borges, segundo o qual a metafísica (e, por
extensão, a religião) deve constituir uma subcategoria da literatura
fantástica.
*Luís Antônio Giron - Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do
universo da literatura, do cinema e da TV
Fonte: Revista Época
PARA OS CINÉFILOS: "O SENHOR DO ANEIS EM FILME"
1)-O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001)
2)-O
Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002)
3)-O
Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003)
"HOBBIT" EM FILMES:
1)-O
Hobbit: Uma Jornada Inesperada – 2012
2)-O
Hobbit: A Desolação de Smaug - 2013
3)- O
Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos -
2014
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