"A intolerância católica" - Sermão pregado na Catedral de Chartres - Cardeal Pie
É a esse tipo de católico, tolerante, eclético e Irenista "católico", com uma "fé" sem verdade, e com virtude sem nervo, nascido do liberalismo e do modernismo Iluminista, que é dirigida esta matéria.
“Porque quem tolera a mentira, não ama a verdade. Quem não condena o vício, odeia a virtude.” - A Igreja como alguns imaginam deve ser democrática e tolerando tudo, e com espaços para tudo, parece mais uma casa de tolerância (um prostíbulo), e uma torre de Babel.Nunca ouviu-se dizer que Cristo expulsou os vendilhões do Templo?
E você nunca ouviu dizer que a Igreja sempre excomungou os hereges, expulsando-os da Igreja? Se este tipo de católico tivesse vivido no tempo de Cristo, teria pedido a libertação do tolerante Barrabás, e teria condenado Jesus à crucificação como intolerante e maldoso, pois condenou os fariseus.Teria pedido a Pilatos , o modelo dos covardes tolerantes que lavam as mãos no conflito entre a verdade e a mentira .E saiba que, hoje, a Santa Igreja está cheia de vendilhões,discípulos de Pilatos e muitos Fariseus, por isto o relativismo está tomando conta de tudo."Na verdade, se é lícito, algumas vezes, tolerar o mal menor para evitar um mal maior, ou para promover um bem superior, nunca é lícito, nem sequer por razões gravíssimas, fazer o mal, para que daí provenha o bem; isto é, ter como objeto de um ato positivo da vontade aquilo que é intrinsecamente desordenado e, portanto, indigno da pessoa humana, mesmo se for praticado com intenção de salvaguardar ou promover bens individuais, familiares, ou sociais..." (Papa Paulo VI).Escandaliza as verdades acima? Prova quão cego ficamos pelo falso conceito de tolerância e liberdade religiosa.
As falsas religiões e falsas doutrinas devem ser respeitadas, ou toleradas?
Ao respeitarmos as falsas religiões, estamos na verdade respeitando os seus erros! Imagine por exemplo, se um policial respeitasse um ladrão, ou estrupador deixando que ele executasse um crime ?Imagine uma professora dando uma nota 10 a um aluno por respeitá-lo, mesmo que ele fosse merecedor de nota 0 ?Devemos respeitar o direito do assassino assassinar? Do ladrão roubar? Do estuprador violar?Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos Apóstolos (e por conseguinte a todos os seus discípulos) "Ide e ensinai o Evangelho a toda criatura".Ele não disse, "ide e respeitai a opinião dos outros". Quem se preocupa com opinião é o IBOP a Igreja prega a verdade doa a quem doer.
Enganamo-nos ao equivaler respeito com amor, ou severidade com maldade!
Respeito é sinônimo de amor? Nem o pai dos burros o dicionário, deve dizer isso, confiram e vejam o real significado de respeito.A severidade de Deus sempre acontecem para que o pecador se arrependa dos seus pecados.Deus, que é um pai amoroso, corrige às vezes severamente aos seus filhos por amor, de forma a que se emendem.
Nosso século clama: "tolerância, tolerância"!
Tem-se como certo que um padre deve ser tolerante, que a religião deve ser tolerante.Meus irmãos, não há nada que valha mais que a franqueza e eu aqui estou para vos dizer, sem disfarce, que no mundo inteiro só existe uma sociedade que possui a verdade e que esta sociedade deve ser necessariamente intolerante.Mas antes de entrar no mérito, distinguimos as coisas, convenhamos sobe o sentido das palavras para bem nos entendermos,assim não nos confundiremos.
A tolerância pode ser civil ou teológica!
A primeira não nos diz respeito e não falarei senão uma pequena palavra sobre ela: se a lei tolerante quer dizer que a sociedade permite todas as religiões porque a seus olhos, elas são todas igualmente boas ou porque as autoridades se consideram incompetentes para tomar partido neste assunto, tal lei é ímpia e atéia. Ela exprime não a tolerância civil como a seguir indicaremos, mas a tolerância dogmática que, por uma neutralidade criminosa, justifica nos indivíduos a mais absoluta indiferença religiosa. Ao contrário, se, reconhecendo que uma só religião é boa, a lei suporta e permite que as demais possam se exercer por amor à tranqüilidade pública, esta lei poderá ser sábia e necessária se assim o pedirem as circunstâncias como outros observaram antes de mim.Deixo porém este campo cheio de dificuldades e volto-me para a questão propriamente religiosa e teológica em que exponho estes dois princípios: primeiro, a religião que vem do céu é verdade e ela é intolerante com relação às doutrinas errôneas; segundo, a religião que vem do céu é caridade e ela é cheia de tolerância quanto às pessoas.Faz parte da essência de toda verdade não tolerar o princípio que a contradiz, pois uma verdade não pode ser e não ser ao mesmo tempo. A afirmação de uma coisa exclui a negação dessa mesma coisa, assim como a luz exclui as trevas. Onde nada é certo, onde nada é definido, pode-se partilhar apenas os sentimentos,não a verdade, e neste caso podem variar as opiniões.Compreendo e peço a liberdade de opinião nas coisas duvidosas: in dubiis, libertas. Mas logo que a verdade se apresenta com as características certas que a distinguem, por isso mesmo que é verdade, ela é positiva, ela é necessária e por conseqüência ela é una e intolerante: in necessariis, unitas. Condenar a verdade à tolerância é condená-la ao suicídio. A afirmação se aniquila se ela duvida de si mesma, e ela duvida de si mesma se ela admite com indiferença que se ponha a seu lado a sua própria negação. Para a verdade, a intolerância é o instinto de conservação, é o exercício legítimo do direito de propriedade. Quando se possui alguma coisa é preciso defendê-la sob pena de ser despojado dela bem cedo.O filósofo de Genebra [Rousseau] disse, falando do Salvador dos homens: "Não vejo que meu divino Mestre tenha formulado sutilezas sobre o dogma". Bem verdadeiro, meus irmãos! Jesus Cristo não formulou sutilezas sobre o dogma, mas trouxe aos homens a verdade e disse: se alguém não for batizado na água e no Espírito Santo; se alguém, recusa-se a comer a minha carne e a beber o meu sangre, não terá parte em meu reino.
E disse ainda mais: “ João 14,5: Eu sou o caminho a verdade e a vida e NINGUEM vem ao Pai senão por mim...” - Confesso que nisso não há sutilezas, há verdade, há intolerância com o erro, há exclusão, a mais positiva, a mais franca.E mais, Jesus Cristo enviou seus Apóstolos para pregar a todas as nações, isto é, derrubar todas as religiões existentes para estabelecer em toda a terra a única religião cristã e substituir todas as crenças dos diferentes povos pela unidade do dogma católico.E prevendo os movimentos e as divisões que esta doutrina vai incitar sobre a terra, Ele não se deteve e declarou que tinha vindo para trazer não a paz mas a espada e acender a guerra não somente entre os povos, mas no seio de uma mesma família e separar, pelo menos quanto às convicções, a esposa fiel do esposo incrédulo, o genro cristão do sogro idólatra.O estabelecimento da religião cristã, foi por excelência, uma obra de intolerância religiosa. No momento da pregação dos apóstolos, quase todo o universo praticava essa tolerância dogmática tão louvada.Como todas as religiões eram igualmente falsas e igualmente desarrazoadas, elas não se guerreavam; como todos os deuses valiam a mesma coisa uns para os outros, eram todos demônios, não eram exclusivos, eles se toleravam uns aos outros.
Quando aparece o cristianismo (prestem atenção a isso, meus irmãos, são dados históricos de algum valor com relação ao assunto presente), o cristianismo quando apareceu pela primeira vez, não foi logo repelido subitamente.O paganismo perguntou-se se, ao invés de combater a nova religião, não devia dar-lhe acesso ao seu solo. A Judéia tinha se tornado uma província romana. Roma, acostumada a receber e conciliar todas as religiões, recebeu a princípio, sem maiores dificuldades, o culto saído da Judéia. Um imperador colocou Jesus Cristo assim como Abraão entre as divindades de seu oratório, como viu-se mais tarde um outro César propor prestar-lhe homenagens solenes.Mas a palavra do profeta não tardou a se verificar: as multidões de ídolos que viam, de ordinário sem ciúmes, deuses novos e estrangeiros serem colocados ao lado deles, com a chegada do deus dos cristãos, lançam um grito de terror, e, sacudindo sua tranqüila poeira, abalam-se sobre seus altares ameaçados: ecce Dominus ascendit, et commovebuntur simulacra a facie ejus.Roma estava atenta a esse espetáculo. E logo, quando se percebeu que esse Deus novo era irreconciliável inimigo dos outros deuses; quando viu-se que os cristãos, dos quais se havia admitido o culto, não queriam admitir o culto da nação; em uma palavra, quando constatou-se o espírito intolerante da fé cristã, é aí então que começou a perseguição. "Não são criminosos, (diz o historiador Tácito dos primeiros Cristãos), mas são intolerantes, misantropos, inimigos do gênero humano. Há neles uma fé teimosa em seus princípios, e uma fé exclusiva que condena as crenças de todos os povos": apud ipsos fides obstinata, sed adversus omnes alios hostile odium.Assim, meus irmãos, o principal agravo contra os cristãos era a rigidez absoluta do seu símbolo, e, como se dizia, o humor insociável de sua teologia.Se só se tratasse de um Deus a mais, não teria havido reclamações; mas era um Deus incompatível, que expulsava todos os outros: eis porque a perseguição. Assim, o estabelecimento da Igreja foi uma obra de intolerância dogmática. Toda a história da Igreja não é outra que a história dessa intolerância.
Quem são os mártires? Intolerantes em matéria de fé, moral e costumes depravados, que preferem os suplícios a professarem e viverem o erro!
O que são os símbolos? São fórmulas de intolerância, que determinam o que é preciso crer e que impõem à razão os mistérios necessários. O que é o Papado? Uma instituição de intolerância doutrinal, que pela unidade hierárquica mantém a unidade de fé.Porque os concílios? Para freiar os desvios de pensamentos, condenar as falsas interpretações do dogma; anatematizar as proposições contrárias à fé. Nós somos então intolerantes, exclusivos em matéria de doutrina; nós disto fazemos profissão; nós nos orgulhamos da nossa intolerância. Se não o fôssemos, não estaríamos com a verdade, pois que a verdade é uma, e conseqüentemente intolerante. Filha do céu, a religião cristã, descendo sobre a terra, apresentou os títulos de sua origem; ela ofereceu ao exame da razão fatos incontestáveis, e que provam irrefutavelmente sua divindade.Ora, se ela vem de Deus, se Jesus Cristo, seu autor, pode dizer: Eu sou a verdade: Ego sum veritas, é necessário por uma conseqüência inevitável, que a Igreja Cristã conserve incorruptivelmente esta verdade tal qual a recebeu do céu; é necessário que ela repila, que ela exclua tudo o que é contrário a esta verdade, tudo o que possa destruí-la.
Recriminar à Igreja Católica sua intolerância dogmática, sua afirmação absoluta em matéria de doutrina é dirigir-lhe uma recriminação muito honrável.Se todas as religiões podem ser postas num mesmo nível, é que elas se equivalem todas; se todas são verdadeiras é porque todas são falsas; se todos os deuses se toleram, é porque não há Deus. E se se pode aí chegar, não sobra mais nenhuma moral incômoda.Quantas consciências estariam tranqüilas, no dia em que a Igreja Católica desse o beijo fraternal a todas as seitas suas rivais!Jean-Jacques [Rousseau] o Guru dos Iluministas, foi entre nós o apologista e o propagador desse sistema de tolerância religiosa. A invenção não lhe pertence, se bem que ele tenha ido mais longe que o paganismo, que nunca chegou a levar a indiferença a tal ponto. Eis, com um curto comentário, o ponto principal do catecismo genebrino, tornado infelizmente popular: todas as religiões são boas. Isto é, de outra forma, todas as religiões são ruins.A filosofia do século XIX se espalha por mil canais sobre toda a superfície da França. Esta filosofia é chamada eclética, sincrética e, com uma pequena modificação, é também chamada progressiva. Esse belo sistema consiste em dizer que não existe nada falso; que todas as opiniões e todas as religiões podem se conciliadas; que o erro não é possível ao homem, a menos que ele se despoje da humanidade; que todo o erro dos homens consiste em crer possuírem exclusivamente toda a verdade, quando cada um deles só tem um elo e que, da reunião de todos esses elos, deve-se formar a corrente inteira da verdade. Assim, segundo essa inacreditável teoria, não há religiões falsas, mas elas são todas incompletas umas sem as outras.A verdadeira seria a religião do ecletismo sincrético e progressivo, a qual ajuntaria todas as outras, passadas, presentes e futuras: todas as outras, isto é, a religião natural que reconhece um Deus; o ateísmo que não conhece nenhum; o panteísmo que o reconhece em tudo e por tudo; o espiritualismo que crê na alma, e o materialismo que só crê na carne, no sangue e nos humores; as sociedades evangélicas que admitem uma revelação, e o deísmo racionalista que a rejeita; o cristianismo que crê no messias que veio e o judaísmo que o espera ainda; o catolicismo que obedece ao Papa, o protestantismo que olha o Papa como o anti-Cristo. Tudo isto é conciliável. São diferentes aspectos da verdade. Da união desses cultos resultará um culto mais largo, mais vasto, o grande culto verdadeiramente católico, isto é, universal, pois que abrigará todas as outras no seu seio.
A que ponto de loucura nós então chegamos?
Nós chegamos ao ponto onde deve logicamente chegar todo aquele que não admite o princípio incontestável que estabelecemos, a saber: que a verdade é uma, e por conseqüência intolerante, exclusiva de toda doutrina que não é a sua. E, para juntar em poucas palavras toda a substância deste meu discurso, eu lhes direi: procurais a verdade sobre a terra? Procurai a Igreja intolerante!
Todos os erros podem se fazer concessões mútuas; eles são parentes próximos, pois que tem um pai comum: Vos ex patre diabolo estis. A verdade, filha do céu, é a única que não capitula.Sim, Santa Igreja Católica, vós tendes a verdade, porque vós tendes a unidade, e porque vós sois intolerante, não deixais decompor esta unidade.
Cardeal Pie
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