A dificuldade de falar em tecnologia e sexo na mídia
Christopher West esclarece como caiu em uma polêmica nos Estados Unidos
(Por Genevieve Pollock)
EXTON, domingo, 13 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).
O trabalho de Christopher West, no Instituto de Teologia do Corpo, tem sido objeto de debate desde o surgimento de uma polêmica, em maio passado, em Nightline do ABC, devido a má apresentação de seus pontos de vista.
Esta situação levou o cardeal Justin Rigali, arcebispo de Filadélfia, e Kevin Bishop Rhoades, bispo de Harrisburg, na Pensilvânia, a fazerem uma declaração pública em agosto, apoiando o trabalho da organização e do carisma particular de West para levar adiante sua missão.
No mês passado, o popular escritor e palestrante publicava sua própria resposta à crítica, intitulada: "O debate da Teologia do Corpo: uma questão fundamental.
Agora, nesta entrevista a Zenit, West revela como a crítica tem afetado seu trabalho, as lições da má exposição nos meios de comunicação e por que falar sobre sexo pode desencadear um debate tão apaixonado.
1)–Na sua resposta e explicação de sua posição, você afirma ser grato por diversas críticas ao seu trabalho. Estas críticas alguma vez te levaram a pensar de maneira diferente ?
–West: Sim, há sempre espaço para melhorar e para maior clareza. Eu tinha em mente os comentários de muitos críticos em quase todas as conferências que dei desde o debate no verão passado aqui nos EUA. Isso mudou a minha forma de expressar diversas coisas. Esta é a forma correta de agir quando se é um apresentador de fé: estar sempre aberto à mudança e aperfeiçoamento.
Colocar para leigos a densa teologia de João Paulo II era um desconhecido território, quando eu comecei meu trabalho em meados dos anos noventa, encontrando a linguagem, as imagens e anotações corretas, foi um processo de tentativas e erros. Aqueles que têm seguido o meu trabalho costumam comentar como mudou e se desenvolveu.
2)–Quais idéias obteve com estas experiências?
–West: Para começar, eu acho que foi ingenuidade acreditar que um tema tão sensível pudesse ser apresentado num programa de notícias populares. Sabia, naturalmente, dos riscos, mas eu nunca imaginei que o assunto acabaria fazendo pensar que eu considero Hugh Hefner um "herói" como João Paulo II; isso me soa estranho e causou muita consternação em alguns grupos católicos, o que é compreensível, tendo em vista o que foi ao ar na ABC.
Lamento verdadeiramente a forma com que a minha própria ingenuidade contribuiu para tal consternação. Vários conselheiros da Igreja me ajudaram e compartilharam de algumas experiências difíceis com a mídia. A sabedoria deles ajudou-me a abrir os olhos. Se no futuro eu der entrevistas similares, terei muito mais cuidado e discernimento.
3)–Você comenta que grande parte do seu trabalho é incompreendida. Por que isso acontece?
–West: Talvez porque o sexo seja uma questão muito sensível. Nossas opiniões sobre o nosso corpo e nossa sexualidade estão intimamente ligadas ao nosso senso de nós mesmos, nossa identidade. Esta, ao que parece, é a razão do por que falar sobre a sexualidade tende a criar uma grande polêmica.
Quando as emoções são aquecidas, talvez não estamos tão inclinados a questionar. Você pode ouvir coisas que irritam e, nesse estado, podemos encarar como verdade o que não é, ou nós podemos estar inclinados a exagerar, ver as coisas fora de contexto, ou mesmo interpretar alguém mal. Eu posso entender porque isso acontece. Não é divertido quando você é o alvo, mas posso compreender. Eu também acho que poderia ter algo a ver com a natureza impessoal e incorpórea da internet. Parece que, por algum motivo, estamos dispostos a dizer e fazer coisas que não falaríamos em um contexto diferente.
4)–Você diz que a questão fundamental do debate se refere a se graça de Deus que nos redime ou não, eficazmente, nesta vida, de distúrbios e inclinações sexuais? Por que é tão importante responder corretamente esta pergunta? O que está em jogo?
–West: Falta um matiz importante em tudo o que diz. Você diz que eu acho que a questão-chave "tem a ver com o fato de que se a graça de Deus nos redime ou não eficazmente nessa vida de distúrbios tendências sexuais".
Eu não falaria desta forma, pois é muito vaga. Ninguém na terra pode dizer, "Deus me livrou de minha orientação sexual desordenada". A redenção nunca é completa deste lado do céu. Tudo o que posso dizer é: "Estou no caminho da redenção de minhas tendências sexuais desordenadas".
Como escrevi na minha resposta, de uma forma muito clara, os debates sobre o que somos capazes de fazer na batalha com a luxúria nos levam ao coração do Evangelho. Isso é o que está em jogo - declarou João Paulo II – "a realidade da redenção de Cristo. Cristo redimiu-nos!". Isso significa que ele nos deu a possibilidade de realizar toda a verdade do nosso ser e nossa liberdade na dominação da concupiscência "(Veritatis Splendor, 103).
A vitória de Cristo é definitiva, mas assumimos a vitória como uma tarefa, uma viagem. Cristo nos convida a sair da barca e se continuarmos a olhar fixamente para ele, podemos caminhar sobre as águas. Ou seja, nós podemos fazer o que parece humanamente impossível. Superar tendências sexuais desordenadas parece impossível, mas com Deus tudo é possível (cf. Mt 19:26).
5)–Na declaração que publicou recentemente, observa que o debate centra-se na distinção entre "o homem dominado pela luxúria" ou "o homem redimido por Cristo". Mas nem todos os homens têm a mesma tendência para a luxúria Como pode classificar as pessoas em uma ou outra categoria?
West: Na verdade, são distinções de João Paulo II. Em resposta àqueles que desejam atenuar o ensinamento da Igreja sobre a sexualidade, a fim de combinar com as "possibilidades concretas do homem", João Paulo II perguntou: "Mas, quais são as "concretas possibilidades do homem"? E de que homem se fala? Do homem dominado pela concupiscência ou do homem redimido por Cristo?" (Veritatis Splendor, 103).
Todo o mundo experimenta a concupiscência, essa desordem de nossas paixões é causada pelo pecado original. Nesse sentido, somos todos o "homem da concupiscência" - uma frase que João Paulo II usou repetidamente na Teologia do Corpo. Mas este é o ponto chave; não somos um mero homem da concupiscência.
Nós somos meros decaídos. Somos decaídos e redimidos. E a redenção de Cristo nos chama, diz João Paulo II - e nos chama enfaticamente - a experimentar uma vitória "verdadeira e profunda" sobre as distorções da luxúria.
Penso que a seguinte declaração do Papa João Paulo II deixa claro: "Enquanto o homem continua a ser, naturalmente, como homem da concupiscência... É ao mesmo tempo o homem do 'chamado'. É ‘chamado’ através do mistério da redenção do corpo, um mistério divino que é ao mesmo tempo - em Cristo e por Cristo em cada homem - uma realidade humana".
6)–João Paulo II, na encíclica Veritatis Splendor, disse que Cristo "deixou a nossa liberdade livre da dominação da concupiscência". Como isso se aplica ao nosso cotidiano? A que se refere, especialmente em relação com nossa vida sexual? Em um nível prático, uma pessoa pode assumir que estará sempre vigiando suas paixões sexuais?
West: Devemos estar sempre vigilantes quando vem a tentação, sexual ou de outro tipo. A vigilância irá variar dependendo de onde estamos em nossa viagem. Como João Paulo II escreveu: "Com o tempo, se perseverarmos a seguir Cristo, nosso Mestre, iremos nos sentir cada vez menos carregados pela luta contra o pecado, e gozaremos cada vez mais da luz divina que permeia toda a criação".
"Seguir Cristo é o mais importante, porque nos permitirá escapar do constante estado de exposição interna ao risco de cometer um pecado – ainda que nesta terra sempre está presente o risco de pecar em algum grau" (Memória e Identidade).
Mas, para responder à primeira parte da pergunta, como atua a "liberdade da dominação da concupiscência" em nossa vida diária? João Paulo II escreveu que para experimentar essa liberdade, temos de lidar com "uma progressiva educação a partir dos gestos simples, o que torna relativamente fácil implementar esta decisão interna".
Por exemplo, podemos analisar os nossos hábitos alimentares. Se uma pessoa não pode dizer não a um pedaço de bolo, como dizer não a um e-mail pedindo-lhe para assistir a filme pornô? O jejum é uma forma maravilhosa de fazer crescer o domínio sobre nossas paixões. Se não faz parte ainda da vida de uma pessoa, deveria começar com um pequeno sacrifício que fosse relativamente fácil.
À medida que exercita este músculo, você verá que a sua força aumenta. O que antes era "impossível" se torna gradualmente possível. A analogia do músculo, no entanto, é apenas parcialmente correta. O aumento da pureza requer o esforço humano, mas também recebe o auxílio de uma força sobrenatural.
Penso que é fundamental distinguir entre repressão e entrada na redenção.
Quando a luxúria enlameia, em vez de reprimi-la empurrando-a ao subconsciente, ou tentando não fazer caso, podemos entregar nossas luxúrias a Cristo e permitir que Ele "as crucifique" (ver Gálatas 5, 24). Ao faze-lo, "o Espírito do Senhor dá nova forma aos nossos desejos" (Catecismo da Igreja Católica 2.762)
Em outras palavras, quando nós permitimos que a luxúria seja "crucificada", experimentamos a "ressurreição" do desejo sexual como Deus o entende. Não imediatamente, não de modo tão fácil, mas aos poucos, de maneira gradual.
Tomando a cruz de cada dia e seguindo adiante, podemos experimentar o desejo sexual como o poder para amar à imagem de Deus.
Quando as tentações sexuais nos assaltam, como costumam fazer, devemos fazer uma oração como esta:
"Senhor, te agradeço o dom de meus desejos sexuais. Te entrego meus desejos sensuais e peço-te, por favor, pelo poder de tua morte e ressurreição, que corrija em mim o que o pecado corroeu, de maneira que eu possa chegar à experiência do desejo sexual como tu o entendes – como o desejo de amar à tua imagem..."
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