“E será pregado este Evangelho do Reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.”(Mt 24,14)
A missão que Jesus nos confia, como discípulos, é tremenda: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações”. É uma alta e sublime tarefa – ser seus colaboradores para resgatar homens e mulheres da morte e das trevas e conduzi-los ao seu Reino de amor.E a primeira ferramenta que o Senhor nos dá para realizarmos esta tarefa é o Evangelho. Paulo declara que o Evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. O Evangelho é a palavra de Deus aos homens, declarando-lhes o Seu amor, convocando-os ao arrependimento e dando-lhes a grande notícia da salvação. A pregação que realmente forma discípulos é a pregação do Evangelho do Reino.Entretanto, ao fazermos a obra de Deus, devemos ter certeza de estarmos fazendo-a da forma correta. O Senhor não nos mandou fazer qualquer trabalho. Mandou-nos fazer discípulos. E é impossível fazer discípulos se não pregarmos o evangelho corretamente. Temos que pregar o Evangelho genuíno, pregado por Jesus e seus apóstolos.A semente define a qualidade do fruto.
Se
fizermos uma comparação entre a qualidade dos discípulos do início, da Igreja
em Atos, e a qualidade dos cristãos modernos veremos uma enorme diferença:
Qualidade dos discípulos Cristãos em Atos
- Compromisso absoluto com Deus e expansão do evangelho.
- Amor supremo a Deus, acima de seus próprios interesses ao ponto do martírio.
- Vida de santidade, separados dos valores do mundo.
- Pregação acompanhada e milagres e prodígios, no poder do Espírito.
- Vida intensa de oração e intimidade com Deus.
- Testemunho de Comunhão e Fraternidade no amor genuíno uns aos outros.
Qualidade dos Cristãos
modernos
- Busca da própria felicidade e seus próprios interesses.
- Vida dupla, agradando a Deus e ao mundo, sem radicalidade.
- Vida de oração suprimida com outras ocupações.
- Vergonha e falta de Parresia no anúncio do Evangelho.
- Divisões e falta de comunhão entre os proprios Cristãos e suas lideranças.
Qual a razão de tamanha diferença? É possível ter cristãos como esses do inicio do Cristianimso hoje em dia?
A resposta para estas perguntas está na base da conversão daqueles discípulos. Está no Evangelho que eles ouviram. A Igreja de Atos é fruto do evangelho pregado por Jesus e pelos apóstolos! Hoje temos pregações mornas, que nem fedem e nem cheiram, incapazes de suscitar mudanças! Caimos em dois extremos: pietismo, ou ativismo alienante e recompensante, que não exige conversão e musança de vida, sem exigências de santidade.
Qual era o Evangelho que Jesus pregava? Qual era a semente que Jesus semeava?
A qualidade do Evangelho (semente) pregado (lançado) a uma pessoa é importantíssima! Ela vai definir a qualidade de cristão que a pessoa será! Um evangelho verdadeiro produz cristãos verdadeiros! Um evangelho distorcido produz cristãos distorcidos! Se semearmos uma semente mirrada o fruto será mirrado. Da mesma forma, um Evangelho fraco gera cristãos fracos e sem parresia!Se pregarmos um Evangelho inteiro e verdadeiro, obteremos cristãos inteiros e verdadeiros! Os discípulos em Atos eram fruto de um Evangelho verdadeiro, por isso eram verdadeiros discípulos.
Esta é uma lei natural e um princípio espiritual: "toda semente de uma planta contém todas as características genéticas que a planta terá!"
O Evangelho pregado já deve conter todas as características e exigências, sem enganos e meias verdades que se exigirão no futuro discípulo!
Jesus semeou uma boa semente! Ainda que essa tenha caiso em solo ruim, e por isso colheu bons frutos, que foram a geração dos primeiros Cristãos. A qualidade ruim dos cristãos modernos é por causa do evangelho que é pregado, ou seja, da semente que é lançada.O segredo para termos bom fruto está em usar a mesma semente que Jesus usou. Se pregarmos o evangelho genuino que Jesus pregava, teremos discípulos melhores!
E qual era evangelho (semente) que Jesus pregava?
Observemos a semente que Jesus semeava:
-“Daí
por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei- vos, porque está
próximo o reino dos céus.” (Mateus 4,17)
-“Percorria
Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e
curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo.” (Mt 4.23)
-“E
percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando
o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades.” (Mt 9.35)
-“E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.” (Mt 24.14)
Jesus a mando do Pai, pregava o Evangelho do Reino!
-“Ele,
porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus
também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado.” (Luc 4,43)
“Aconteceu,
depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia,
pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele,”
(Luc 8,1)
“A
Lei e os Profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anunciado o
evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele.” (Luc
16,16)
Os textos com as expressões “Evangelho do reino” ou “Reino de Deus” são numerosos, e isto não é mero acaso!
Jesus pregava e anunciava especificamente, um tipo de evangelho: o Evangelho do Reino!
E
os apóstolos e demais discípulos, que evangelho pregavam?
-“Quando,
porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus
e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres.”
(At 8,12)
-“Durante
três meses, Paulo freqüentou a sinagoga, onde falava ousadamente, dissertando e
persuadindo com respeito ao reino de Deus.” (At 19,8)
-“Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto.” (At 20,25)
Falar do Reino de Deus era algo central para os apóstolos e demais discípulos, quando evangelizavam no início do Cristianismo!
-“Havendo-lhe
eles marcado um dia, vieram em grande número ao encontro de Paulo na sua
própria residência. Então, desde a manhã até à tarde, lhes fez uma exposição em
testemunho do reino de Deus, procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto
pela lei de Moisés como pelos profetas.” (At 28,23)
-“Por
dois anos, permaneceu Paulo na sua própria casa, que alugara, onde recebia
todos que o procuravam, pregando o reino de Deus, e, com toda a Parresia, sem
impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo.” (At
28,30-31)
As expressões Reino dos Céus e Reino de Deus eram constantes na pregação de Jesus e dos apóstolos (aparecem mais de 100 vezes no Novo Testamento). Falar do Reino de Deus, quando evangelizavam, era algo fundamental para eles.Logo depois de ser batizado, Jesus começou a pregar para todo mundo que o Reino de Deus estava chegando. Jesus pregou na Galileia e na Judeia, e seus discípulos foram com ele. Aí, Jesus foi para Nazaré, a cidade onde tinha sido criado. Lá, ele entrou na sinagoga e leu em voz alta uma coisa que o profeta Isaías tinha escrito:
— Javé me deu o Espírito Santo para pregar as boas novas!
Sabe
por que Jesus disse isso? Porque as pessoas só queriam que ele fizesse
milagres. Mas Javé tinha dado o Espírito Santo para Jesus pregar sobre o Reino
de Deus. Então, Jesus disse:
— Hoje essa profecia de Isaías se cumpriu!
Depois, Jesus foi para o mar da Galileia e lá encontrou quatro de seus discípulos. Eles se chamavam Pedro, André, Tiago e João, e os quatro eram pescadores. Então, Jesus disse: Venham comigo, e eu vou ensinar vocês a ser pescadores de homens! Na mesma hora, eles deixaram a pesca e foram com Jesus. Eles andaram por toda a Galileia para pregar sobre o Reino de Javé. Eles pregavam nas sinagogas, nas praças e nas ruas. Por onde Jesus ia, um monte de gente o seguia. Mesmo na Síria, que ficava bem longe dali, as pessoas ouviram falar de Jesus. Mais tarde, Jesus deu para alguns discípulos o poder de curar doenças e de expulsar demônios. Jesus pregava de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, e os discípulos iam com ele. E mulheres fiéis, como Maria Madalena, Joana e Susana, faziam o que podiam para ajudar Jesus e os discípulos. Depois de serem treinados por Jesus, os discípulos saíram para pregar em toda a Galileia. Muitos que ouviram a mensagem do Reino também se tornaram discípulos e se batizaram. Mas muitas pessoas ainda precisavam ouvir sobre o Reino. Eram tantas que Jesus as comparou com um campo pronto para a colheita. Por isso, Jesus disse:
—
Orem para que Javé, o Senhor da Messe, mande mais pessoas pra trabalhar na colheita.
Mais tarde, Jesus escolheu 72 discípulos, e os mandou de dois em dois para pregar sobre o Reino de Deus em toda a Judeia (Lucas, 10,1-7)
Os discípulos ensinaram todo tipo de pessoas. Eles voltaram ansiosos para
contar para Jesus como o trabalho tinha sido bom. Nem mesmo o Diabo podia parar
a pregação.
Jesus precisava retornar ao Pai pois havia cumprido sua obra de Salvção, e agora precisa o Espírito Santo completar essa obra, com a Santificação, mas Jesus queria que seus discípulos continuassem a pregar e os ordenou:
-“Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” - Mateus 28,19
-“Tenho
de anunciar as boas novas do Reino de Deus também a outras cidades, porque fui
enviado para isso.” — Lucas 4,43
A pregação de Jesus era fundamentalmente o anúncio do Reino de Deus. Suas exortações, parábolas, profecias e mesmo as bem-aventuranças, eram centradas e direcionadas no Reino de Deus, buscando explicá-lo, anunciá-lo ou mesmo realizá-lo no mundo. Cabe aos cristãos, uma vez que se declaram seguidores e imitadores de Jesus, buscarem compreender o Reino na pregação de Jesus, a fim de que seu ministério tenha continuidade em plena integridade, de modo que a igreja seja de fato o corpo de Jesus Cristo no mundo. A pregação cristã, portanto, deve incorporar a pregação de Jesus do Reino de Deus. Diversos aspectos da pregação de Jesus não possuem consenso entre os teólogos. O anúncio de Jesus sobre si mesmo, por exemplo, é um problema amplamente discutido e ainda em aberto. Ao mesmo tempo que alguns autores afirmam categoricamente que Jesus não pregava a si mesmo, outros ressaltam a autoafirmação de Jesus.
Edward Schillebeeckx, por exemplo, afirma que “Jesus não se anunciava a si mesmo”, o judeu Jacob Neusner chega a afirmar que Jesus, em sua pregação, não omitiu nada do judaísmo, porém acrescentou uma coisa: “a si mesmo”.
O questionamento de Jesus enquanto objeto de seu próprio ensino se deu especialmente pelo liberalismo no final do século XIX e início do século XX, de tal forma que J. P. Sheraton em um artigo de 1903, em que defendia o ensino de Jesus sobre si mesmo, afirmou que este seria o tema teológico mais relevante daquele momento: “o ensino de Cristo a respeito de si mesmo é, eu creio que posso afirmar sem exagero, o assunto que hoje coloca-se acima de todos os outros na Teologia”. De fato, a ideia de que Jesus se limitou a anunciar o Pai e seu Reino, desenvolveu-se mediante a chamada “busca do Jesus histórico”, e alcançou em Rudolf Bultmann sua culminância, na negação do próprio Jesus histórico frente ao Cristo da fé.
Mas será que a pregação de Jesus deve alterar em algo O OBJTO E CONTEÚDO nossa ATUAL pregação?
Segundo Bultmann, não. Para este autor, “a pregação de Jesus está entre os pressupostos da teologia do NT e não constitui uma parte dela”, de tal modo que o kerygma cristão não se fundamenta tanto nas palavras e na proclamação de Jesus nem no Jesus histórico, mas no Cristo da fé, uma vez que “não o Jesus histórico, e sim Jesus Cristo, o proclamado, é o Senhor”.
Ora, se diferente de Bultmann, compreendemos que o Jesus histórico e o Cristo da fé são um e o mesmo, temos necessariamente como consequência uma relação com o que Jesus pregava. O que Jesus pregava e ensinava torna-se não apenas um referencial para a pregação cristã de todos os tempos como um verdadeiro modelo.
Mas qual era o centro da pregação de Jesus?
Nisso, há um consenso: a pregação de Jesus se centrou no Reino de Deus!
A pregação de Jesus não apenas proclamava o Reino, mas tinha um verdadeiro caráter “reinocêntrico”, uma vez que é a partir do Reino de Deus que se compreende tanto o sentido quanto o significado da sua pregação. Como bem indicou Norman Perrin, “todos os outros aspectos de sua mensagem e do seu ministério servem a uma função relativa a essa proclamação e derivam dela seu sentido”. Para se compreender a ideia de Jesus sobre o Reino de Deus e, consequentemente, sua pregação, faz-se necessário identificar primeiramente o significado do Reino de Deus no Antigo Testamento e no judaísmo de seu tempo. Quando Jesus proclama o Reino de Deus, anuncia uma realidade já conhecida e mesmo aguardada pelos judeus de seu tempo. Ao mesmo tempo, porém, apresenta este de forma diferenciada, explicando didaticamente, por meio de parábolas, o que é exatamente o Reino de Deus. Assim, seja para indicar a concepção usual do judaísmo no seu tempo, seja para indicar se Jesus inovou de alguma forma em seu uso do termo, é necessário um estudo da ideia de Reino de Deus do Antigo Testamento até Jesus.
O REINO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO
São poucos os casos no Antigo Testamento em que a palavra מַ כ ֽלּ ת (malkut) “denota um reino no sentido espacial, um território; quase sempre quer dizer o poder de reinar, a autoridade, o poder dum rei”. Assim, pode-se perceber em diversos textos o uso do termo malkut enquanto um poder ou mesmo o tempo de regência de uma determinada pessoa.
Mesmo assim, porém, há textos valiosos que relacionam o termo a Deus, especialmente nos Salmos. Se o uso de “Reino de Deus” é raro, a ideia de Deus como rei (melek), com seu trono e governando as nações, é recorrente no Antigo Testamento, especialmente nos Salmos, que “estão repletos desses temas”: “Deus reina [מלַךְ] sobre as nações; Deus senta em seu santo trono [ִכּסּ]א ֵ” (Sl 47,8); “O Senhor vai reinar [ְִמי לֹך] para sempre e sempre” (Êx 15,18). Segundo Victor Maag, o Reino de Deus é construído no Antigo Testamento mediante um movimento teológico, resultante de uma influência cananeia e da preservação do aspecto nômade da religião israelita original. Assim, segundo este autor, a atribuição de Deus como rei é provavelmente “resultado do encontro de Javé com o El cananeu”. A primeiro momento, segundo a teoria, Deus era entendido como rei no sentido de ser um “rei divino”, um deus sobre os demais do panteão. É neste sentido que o autor percebe vários textos (Js 5,13-14; I Rs 22,19; Sl 82,1; Jó 2,6ss), mas tal ideia de um senhor sobre outros deuses “só foi adotada parcialmente”. A particularidade da religião israelita conduziu à constituição da imagem de “um Deus migrante”, cujo trono – que não está assentado em uma cidade ou território não pode ser derrubado. Este movimento do desenvolvimento da ideia do reino/reinado de Deus também fez com que Israel se tornasse “o único povo em todo o âmbito semita a estabelecer uma conexão séria entre o Reino de Deus e a expectativa de uma futura mudança global de todas as condições da vida terrestre”, ou seja, “somente em Israel o domínio real de Deus assume um aspecto evidentemente escatológico”.
Independentemente da validade da teoria de Maag, seu estudo aponta um elemento essencial no conceito veterotestamentário: o Reino de Deus não está preso a um lugar. Não se trata, portanto, de um “Reino” em sentido moderno – um território o qual se comanda, ou mesmo um conjunto de súditos.
O malkutYahweh é antes um “reinado”, enquanto o poder e a autoridade
do rei,
ao mesmo tempo
que a relação
direta entre o
rei e seu súdito.
Tal como bem
apontou Geza Vermes,
“o Reino de
Deus vincula-se antes com
a própria soberania
divina do que
com o Reino governado por Deus”.
Resumindo, compreende-se que a ideia moderna de “Reino”, acaba por perder “a
chave do sentido dessa verdade bíblica
antiga”, uma vez
que, de modo
muito diferente da ideia ocidental de “Reino”, “para a mentalidade
hebraica é, acima de tudo, uma relação pessoal entre um rei e seu povo que está
em questão”.
O REINO DE DEUS "NO JUDAÍSMO DO TEMPO DE JESUS"
Segundo Joachim Jeremias, a literatura do judaísmo antigo apresenta poucos casos do uso do termo “Reino (de Deus)”, de tal forma que quando se compara aos sinóticos, se percebe que “a frequência dos testemunhos nos evangelhos sinóticos é extraordinária”. Acontece, porém, que os usos do conceito de Reino de Deus no judaísmo do Segundo Templo apesar de raros, possuem grande importância, sendo relevantes não somente para a compreensão das ideias escatológicas do período, como para a compreensão da aplicação feita por Jesus. Também as ideias proféticas e escatológicas que não trazem necessariamente o termo, mas constroem a base sobre a qual este será colocado, são relevantes.
Certamente os livros apócrifos e pseudoepígrafos estão entre as principais fontes para o estudo do pensamento judaico no período do Novo Testamento, apesar da dificuldade existente em se definir até que ponto estes livros transmitem as ideias mais aceitas pelo povo judaico naquele contexto. Nestes livros, percebe-se claramente o Reino de Deus enquanto uma realidade escatológica e apocalíptica, a exemplo do capítulo 23 do Livro dos Jubileus, onde está clara a ideia da transformação mediante a Lei do povo de Deus e seu ambiente, em um estado de bênção que deverá durar para sempre.
No livro de 1 Enoque, o Reino de Deus está ligado à ideia da derrocada de Azazel, senhor dos demônios. De fato a ideia do Reino de Deus soberano e vitorioso sobre o Reino das forças do mal está presente também na Comunidade de Qumran, conforme se percebe na Regra da Comunidade e na Regra da Guerra, dos Manuscritos do Mar Morto, segundo os quais o Reino de Deus haveria de ser estabelecido após a vitória do Príncipe das Luzes sobre o Anjo das Trevas.
O REINO NA PREGAÇÃO DE JESUS
O uso de Jesus da expressão “Reino de Deus” (ou, “Reino dos céus”), porém, é peculiar, sendo indicado por Joachim Jeremias como algo sui generis, de modo que “não encontra nenhum paralelo na literatura do [seu] meio ambiente”. Se de fato Jesus empregou o termo com total originalidade, é um problema, especialmente quando se compreende que “no campo da religião, originalidade consiste o mais das vezes em dar um novo direcionamento a ideias em si mesmo muito antigas”.
Qual foi, então, o direcionamento da ideia de Reino de Deus da parte de Jesus?
Ele não apenas
empregou o conceito
inúmeras vezes em sua
pregação, como também se valeu de parábolas e ditos apocalípticos para
explicá-lo e proclamá-lo, além de expressar-se me diante expressões
completamente sem paralelos, que abrem o conceito apocalíptico
de Reino de
Deus para uma
perspectiva de caráter evangelístico, transformando
“secundariamente em linguagem de
missão”.
Qualquer leitor atento notará facilmente nos evangelhos (sinóticos) que, “para Jesus, Deus era Rei e Pai: implicitamente Rei e explicitamente Pai”. É por “Pai” (abba, em aramaico) que Jesus chama a Deus; dessa forma ele se dirige ao grande Rei, cujo Reino é proclamado, mas a quem Jesus não chama de “rei”, senão em raras analogias (em parábolas). Deus não é chamado de “rei” pois não precisa ser entronizado. Deus já é rei – já está entronizado no céu (cf. Mt 5,34).
A proclamação do Reino de Deus, portanto, não é um anúncio da coroação de Deus como rei de Israel, mas a vinda de um reinado já existente, o exercício de um rei já constituído, agora em uma nova dimensão. É assim que se compreende a segunda petição do Pai Nosso: “Venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6,10). Jesus, portanto, vale-se da ideia de um “reinado de Deus”, um poder e influência de um rei divino, cuja ação já está presente no céu, e deve agora atingir a terra. Apesar desta proclamação de Jesus ter um sentido claramente escatológico, é antes expressa de uma forma tão material, viva e existencial, que não deve ser entendida como uma realidade abstrata ou puramente espiritual. A linguagem a qual Jesus se vale para se referir ao Reino é bastante peculiar. Não trata das coisas de Deus “em termos filosóficos ou teológicos, mas numa linguagem existencial”. Em sua pregação, Jesus vale-se das imagens da Galileia rural na qual estava inserido: o reino de Deus é comparado a um campo (Mt 13,24-30; Mc 4,3-9,26-29; Lc 8,4-8), a uma vinha cujos trabalhadores são respeitados e remunerados de forma justa, a uma semente de mostarda que se torna uma grande árvore (Mt 13.31-32; Mc 4,30-32; Lc 13,18-19), assim como é associado aos elementos da pescaria – prática bem conhecida pelos seus discípulos: “O Reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie” (Mt 13,47). O Reino, portanto, não é imaginado à maneira dos reinos e impérios humanos, mas é comparado de forma bastante simples aos elementos presentes na vida diária de Jesus e seus vizinhos. Esta diferença foi bem indicada por Geza Vermes: “No reino tal como por ele concebido, não há tronos, cortesãos, coros celestiais, hostes guerreiras com carros, espadas ou lanças. Encontramos em lugar disso as paisagens, os instrumentos de trabalho e os habitantes do campo galileu e a sua vida à beira do lago”.
O Evangelho do reino
Não é surpresa, portanto, que “o tema central da pregação pública de Jesus foi a soberania real de Deus”, o que é evidente pela frequência do uso de Jesus do conceito de reino de Deus nos textos sinóticos, assim como pela forma com que este ocupa uma posição de destaque em suas palavras.
O Reino de Deus está presente, por exemplo, nas três formas dos evangelistas sinóticos resumirem a mensagem de Jesus: Marcos, no começo de seu Evangelho, resume a proclamação de Jesus pelo anúncio da proximidade do Reino e a convocação ao arrependimento: “O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!” (Mc 1,15).
Mateus vale-se
da expressão κηρύσσειν τὸ
εὐαγγέλιον τῆς
βασιλείας (keryssein tò evaggélion tês basileías), “anunciar o
evangelho do Reino”
(Mt 4,23; 9,35).
Lucas fala de εὐαγγελίζεσθαι
τὴς βασιλείαν (evaggelítzesthai tèn
basileían), “anunciar a boa nova do reino” (Lc 4,43; 8,1). O Reino de
Deus estava presente nos resumos da mensagem de Jesus justamente por ser
praticamente a própria
mensagem deste. O
Pai Nosso, já mencionado
anteriormente, também expressa a centralidade do Reino na pregação de Jesus,
uma vez que enquanto pregação da
comunidade de Jesus,
é um direcionamento para
a prática e
mensagem de seus discípulos.
O evangelho do Reino, a proclamação da vinda deste, porém, se dava tanto no anúncio do Reino enquanto realidade futura, quanto em uma cobrança ética presente, seguindo a afirmação da presença atual do mesmo Reino.
O Reino de Deus, tal como bem apontou Ladd, é indicado ao longo do Novo Testamento mediante uma “complexidade de ensinamentos”. Não foi à toa que surgiram tantas e tão variadas interpretações e perspectivas escatológicas a partir da proclamação do Reino por Jesus: Albert Schweitzer indicou que Jesus anunciava a chegada do Reino para um futuro próximo, C. H. Dodd situou o Reino no tempo presente, Joachim Jeremias o colocou parte no presente e parte no futuro, e assim por diante.
Isso se dá justamente porque no Novo Testamento o Reino é claramente proclamado para o futuro, quando Cristo vier em glória (cf. Mt 25,34), ao mesmo tempo que é apontado como uma realidade presente (cf. Rm 14,17) ou, ainda, um domínio no qual os seguidores de Cristo já entraram (cf. Cl 1,13).
Trata-se, portanto, de um Reino futuro, um Reino presente, e um Reino presente e futuro, sem que com isto se refira a mais de um Reino: são três aspectos de uma e mesma realidade !
O mesmo se pode perceber na pregação de Jesus, presente nos evangelhos. Como bem indicou Geza Vermes, nos equivocamos quando aplicamos conceitos temporais para a perspectiva escatológica de Jesus.
Quando interrogado pelos fariseus a respeito de quando viria o Reino de Deus, respondeu: “Não vem o Reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17,20b-21).
O Reino de Deus, portanto, é passado, presente e futuro, ao mesmo tempo que não é nenhum dos três!
É uma realidade atemporal que age, que
influencia, e que colocará um fim na realidade temporal. De todo modo, a
linguagem temporal é presente, mesmo
que não na
natureza do Reino,
pelo menos em suas expressões.
O ANÚNCIO DO REINO FUTURO
A indicação futura do Reino é evidente em muitas passagens:
-“Venha a nós o teu Reino” (Mt 6,10);
-“O Reino dos céus será semelhante…” (Mt 25,1);
“Está próximo o reino dos céus” (Mt 10,7);
“Nem todo que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no Reino dos céus” (Mt 7,21).
Fala-se em “entrar no Reino de Deus”, “na vida”, “na alegria”, de modo que “palavras semelhantes perpassam todos os evangelhos”. Na Páscoa, a expressão futura do reino é ainda mais marcante: enquanto estava comendo a Páscoa com seus discípulos, Jesus afirma:
“vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus” (Lc 22,16); e tomando do cálice disse: “de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus” (Lc 22,18 ).
Os discípulos interpretaram estas palavras como a parusia,
a segunda vinda
de Jesus Cristo,
aguardada desde o
início do cristianismo, portanto,
relacionada com o
pleno cumprimento do Reino
de Deus. Também
as bem-aventuranças expressam
o caráter futuro do reino de
Deus:
"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus...Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus...Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céu" (Mt 5.3-10)
Diante da promessa do Reino, somente este deve ocupar os discípulos:
“Buscai, antes de tudo, o seu Reino, e estas coisas vos serão acrescentadas. Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu Reino” (Lc 12,31-32).
A confiança, porém, deve ser expressa em uma entrega total, um desapego completo, em troca de um tesouro prometido, mas muito superior:
“Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome” (Lc 12,33).
Não se trata, no entanto, de uma barganha, senão de uma demonstração de que o coração está com Deus: “porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,34).
Aquele que quiser entrar no reino de Deus deve assumir o jugo de Jesus, um jugo que aparentemente é pesado, mas que na realidade é leve:
-“Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11,30).
Não mais é cobrado o jugo da Lei, mas o jugo do amor, que implica na
obediência a Deus, mediante o amor ao próximo. Cabe ao homem escolher hoje se
dirigir ao futuro Reino de Deus, obedecendo e vivendo a justiça de Deus em sua
vida.
A ÉTICA DO REINO PRESENTE
O Reino
de Deus anunciado
por Jesus possui
um vínculo inseparável com a
justiça, tal como apontou Karl Adam: “Na pregação de
Jesus, ‘o Reino
dos céus’ e
a ‘justiça’ estão
tão intimamente ligados que
formam um só e idêntico ideal: ‘Buscai primeiro o reino de Deus e a sua
justiça’” (diferente da nossa). Assim, se compreende que os ensinamentos éticos de Jesus Cristo
também fazem parte de sua
proclamação do Reino,
uma vez que
tais ensinamentos visam a criação
de uma ética da comunidade do Reino. O aspecto da justiça, não apenas
proclamada, mas verdadeiramente cobrada por Jesus Cristo, evidencia justamente
o aspecto presente do Reino de Deus.
A pregação de Jesus surge como continuação e cumprimento da pregação de João Batista, que é entendido pelos evangelhos como aquele que veio para anunciar o Cristo.
A pregação de João Batista é centrada no arrependimento (Mt 3,1; Mc 1,4; Lc 3,3-8). Mesmo seu batismo é relacionado ao arrependimento, como método de remoção de pecados (cf. Mc 1,4). Jesus, assim como João, foi um pregador do teshuvah, do arrependimento, assim como do Reino de Deus. Tal como apontou Günther Bornkamm, “o chamado de Jesus à conversão possui um horizonte inteiramente novo [pois] Ele se faz ouvir em face do Reino de Deus que está para irromper”.
Porém, o que
distingue a pregação de Jesus da pregação de seu predecessor “é o fato de que
Jesus anuncia a chegada do Reino convocando os seres humanos a uma
alteração total em
seus relacionamentos e
forma de vida”. Jesus, portanto, estabelece uma nova
forma de anúncio do Reino:
coloca-se não mais
somente como alguém
que anuncia apenas o reino vindouro, mas como aquele que
inaugura o Reino de Deus. O chamado ao arrependimento está em conjunto com uma
nova forma de vida, a vida segundo os padrões do Reino.
Junto às bem-aventuranças do Reino vindouro, os evangelistas Mateus (Mt 5-7) e Lucas (Lc 6,17ss) colocam o ensino de Jesus a respeito dos mandamentos !
Mateus o faz de modo mais destacado que Lucas, colocando Jesus sobre o monte, anunciando a Lei como um novo Moisés. Tanto o Sermão da Motanha (Mt 5-7) quanto o Sermão da Planície (Lc 6,20-49), partem das bem-aventuranças e apresentam a nova ética anunciada por Jesus.
É evidente que esta ética e sua justiça, é o requisito básico para a entrada efetiva no Reino de Deus: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus” (Mt 5,20).
Porém, também se apresenta como uma forma de realização do próprio Reino de Deus no presente. Após o ensino da ética do Reino, seja no Sermão da Montanha, ou no Sermão da Planície, Jesus realiza milagres. Assim, depois de anunciar a ética do Reino, Jesus realiza a obra que manifesta o Reino de Deus de forma evidente: os milagres.
Os milagres, tanto de cura quanto de expulsão de demônios, indicavam a chegada do Reino de Deus!
Quando Jesus envia seus doze discípulos a pregarem, Lucas deixa claro que estes são enviados “para pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos” (Lc 9,2). A cura estava diretamente associada à pregação do Reino, uma vez que era justamente a principal forma de evidenciar e proclamar que o reino havia chegado.
Quando João Batista pergunta a Jesus “És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?”, Jesus lhe responde com seus milagres: “Ide e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho” (Lc 7,22). Os milagres são, portanto, a evidenciação da chegada do Reino esperado. Também a expulsão de demônios não somente estava entre as missões dos discípulos de Jesus (Mt 10,7-8; Mc 6,7), como era um sinal claro da chegada do Reino: “Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o Reino de Deus sobre vós” (Lc 11,20).
Cabe aqui uma explicação sobre esse texto. Quando Jesus é acusado pelos judeus de agir pelo “poder de Belzebu, o maioral dos demônios” (cf. Mt 12,24; Mc 3,22; Lc 11,15), Ele explica aos seus acusadores que um reino não pode estar dividido. Não age pelo reino de Satanás, mas se o combate, é porque age pelo poder de outro reino, que combate este: o Reino de Deus. Assim, tão importante quanto Jesus agir pelo “dedo de Deus” (Lucas) ou pelo “Espírito de Deus” (Mateus), é o que esta ação evidencia: “é chegado o Reino de Deus sobre vós” (Mt 12,28; Lc 11,20).
O REINO DE DEUS PRESENTE E FUTURO
O Reino de Deus é, portanto, tanto uma realidade futura quanto uma realidade presente. De certa forma, portanto, o Reino “se expressa em diferentes estágios ao longo da história da redenção”, nunca tendo sido plenamente concretizado ou mesmo vislumbrado. O Reino de Deus é uma realidade que chama o homem à sua situação existencial presente.
No encontro do amanhã com o hoje, o homem é encarado e confrontado!
Assim, a proclamação “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo”, faz com que a realidade futura anunciada implique em escolha no aqui e agora.
O aspecto presente e futuro do Reino é expresso em parábolas: Jesus relata que o Reino de Deus é como um grão de mostarda, que se torna uma planta grande o suficiente para os pássaros fazerem ninhos (Mc 4,30ss); ou ainda como o fermento que é colocado na farinha para fermentar (Mt 13,33; Lc 13,20-21).
Assim é o Reino de Deus: “Tal como a semente plantada no
solo, ele já está em vir a ser. Tal como o fermento na massa, ele já está em
ação”. É aquela tensão escatológica entre o já e não ainda!
O homem não pode fugir da decisão, uma vez que “o Reino, quando confronta os homens, exige decisão – decisão eterna. O amanhã encontrou o hoje. A era por vir alcançou esta era. A vida futura é-nos oferecida aqui e agora”. O momento da decisão, tal como enfatizou Rudolf Bultmann, “é a situação em que está abolido qualquer caráter de espectador”.
No momento da decisão, portanto, o ser humano é encarado e confrontado, sendo a falta de decisão já uma decisão negativa: “quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12,30; Lc 11,23).
Pelo Reino vindouro que já está presente, o ser humano é chamado não para a espera, quieta e passiva, mas para a esperança, viva e atuante. Aquele que ouve a proclamação do Reino deve viver conforme as exigências do Reino e também proclamá-lo. Os discípulos são o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5,13ss). Isso significa que suas vidas devem apontar para o Reino de Deus, uma vez que suas obras devem resultar na glorificação do Pai, que está nos céus (Mt 5,16), já que sua conduta é de acordo com a perfeição do próprio Pai (Mt 5,48). Assim, se compreende que o Reino de Deus “realiza-se pela proclamação da boa-nova por meio de palavras e de atos”.
Apesar de existir quem afirme que o cristianismo desde suas origens substituiu a proclamação do Reino pela proclamação do próprio Jesus Cristo, não se pode separar completamente Jesus do Reino de Deus anunciado por Ele.
A ideia de Jesus como o Filho do Homem, por exemplo, relaciona-se diretamente com o Reino proclamado. Segundo George Eldon Ladd, a relação se dá até mesmo em termos de estrutura, uma vez que da mesma forma que o Reino glorioso futuro é anunciado e já começou a operar no presente, o Filho do Homem que virá glorioso nas nuvens “já está presente entre os seres humanos, mas de uma forma que eles dificilmente esperariam”. Assim, da mesma forma que Jesus Cristo já veio ao mundo, mas virá em toda sua glória, também o Reino já é operante, mas se concretizará plenamente no futuro. É neste sentido que os discípulos compreendem a morte e ressurreição de Jesus Cristo como manifestação do Reino de Deus, mesmo que ainda não completa: cabe ainda a ressurreição dos mortos, dos quais Jesus foi o primeiro.
A pregação do reino de Deus hoje
Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão cuja crítica ao cristianismo se deu com verdadeiros golpes de martelo, destacava principalmente a inércia dos cristãos, que seria resultado, segundo ele, da incompreensão dos mesmos sobre o Reino de Deus. Segundo Nietzsche, o Reino de Deus seria não uma fé, mas uma ação, de modo que a passividade cristã se dava principalmente pelo “Reino de Deus considerado como ato final, como promessa”.
Sua crítica tem grande importância
quando se percebe que o anúncio do Reino futuro muitas vezes apagou o aspecto
presente do Reino. Nietzsche, apesar de romper com o cristianismo, destacava a
presença atuante do Reino, lembrando a expressiva sentença de Jesus “o Reino de
Deus está em vós”. Assim sendo, o Reino não é algo que deva apenas ser
esperado, mas é uma
realidade presente no
interior do ser
humano, que altera o seu ser e o
leva a agir de modo diferente no mundo. Não é apenas uma realidade “para além
da Terra, ou depois da morte”, mas é, também, uma realidade para a vida
presente, para o aqui e agora. A fé e a esperança, direcionadas para o futuro,
acabaram anulando a prática, que deveria estar voltada ao presente:
"...a prática cristã, uma vida tal como a viveu aquele que morreu na cruz, apenas isso é cristão...o cristianismo autêntico, o cristianismo primitivo, será possível em todas as épocas… Não uma fé, mas uma ação, um não fazer certas coisas e, sobretudo, um modo diferente de ser."
É evidente
que Nietzsche ultrapassa
a visão tradicional
da igreja, mas certamente lembra a esta o seguinte: a pregação cristã
atual deve acompanhar a pregação de Jesus Cristo sobre o Reino de Deus em sua
integralidade, proclamando tanto o Reino enquanto realidade presente quanto o
Reino enquanto realidade futura, assumindo a tensão entre presente e futuro que
é característica do cristianismo.
A crítica de
Nietzsche, portanto, não deveria ser rejeitada, mas assumida e
encarada pelos cristãos, a fim de proclamarem não ideias, mas atitudes, não
conhecimentos, mas princípios, não questões da alma, mas do ser humano em sua
integralidade e em sua existência aqui e agora. O futuro do Reino de Deus
anunciado deve começar hoje: não deve gerar uma espera, mas uma esperança, que
implica necessariamente em ação e transformação.
Considerações
Finais
O próprio Jesus indicou que o Reino de Deus deveria ser pregado: “E este Evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim” (Mt 24,14). Segundo Ladd, esse versículo é “um dos mais importantes de toda a Palavra de Deus para garantir o sentido e o propósito da história humana”. Tal como bem mostrou Ladd em seu livro O evangelho do Reino, hoje, mais do que nunca, o ser humano está em situação de crise quanto ao destino da história. Com o fim das Grandes Guerras, tal como bem indicou Rudolf Bultmann, a grande crença no progresso caiu por terra, de tal modo que “hoje não podemos afirmar que conhecemos o fim e o objetivo da história”.
Mais do que nunca, o mundo expõe sua necessidade em relação à proclamação do Reino de Deus – esperança para o mundo, para a história, e para cada indivíduo.
Mais
do que nunca, para as inquietações provocadas pela existência humana, pelas
crises tanto a
nível social quanto
individual, e mesmo para a busca
de sentido e propósito, o evangelho do Rei no é a resposta.
Fonte:fabapar.com.br
O CONTEÚDO DA PREGAÇÃO DOS APÓSTOLOS NA "IGREJA PRIMITIVA"
Redação Minha Biblioteca Católica - Data da Publicação: 14/05/2024
O
que é a Igreja Primitiva?
A
Igreja Primitiva iniciou-se no período depois de Cristo (d.C.) e terminou por
volta de 325 d.C., portanto, aproximadamente três séculos (entrando no século
IV).
Segundo
o que é narrado nos Atos dos Apóstolos, poucos anos depois da morte de Jesus ,
o grupo de seus seguidores recompôs-se em Jerusalém sob a orientação dos doze
Apóstolos — somente após o discurso de Pedro, narrado por Lucas no capítulo 2
de Atos, cerca de 3.000 pessoas passaram a integrar a comunidade dos primeiros
cristãos.
Esta
primeira comunidade da Igreja Primitiva era composta exclusivamente por judeus
e tomou múltiplos elementos do judaísmo: as suas Sagradas Escrituras, o
monoteísmo, a fé num Messias, no caso, Jesus Cristo, as formas de adoração, os
conceitos de lugares e tempos sagrados, o uso dos Salmos nas orações comuns.
Os
primeiros fiéis reuniam-se coletivamente para rezar e celebrar dois ritos,
nomeadamente o batismo e a bênção do pão.
A
pregação dos apóstolos e a difusão do Evangelho na Igreja Primitiva
Aos
doze apóstolos juntaram-se sete diáconos escolhidos do grupo helenista com o
objetivo de prover às necessidades materiais da comunidade e às obras de
caridade, mas logo eles também começaram a pregar.
Os
Atos dizem que o primeiro pagão convertido à fé cristã, foi o centurião
Cornélio de Antioquia, batizado pelo apóstolo Pedro entre 33 e 40. Esta
conversão trouxe à tona o problema de como aceitar dentro da comunidade de
homens fiéis incircuncisos, como os que vieram do paganismo e não do judaísmo.
Entretanto, novas comunidades já surgiam em Roma, Damasco, Samaria, Fenícia e Chipre, juntando-se à já mencionada Antioquia onde o termo “cristãos” foi usado pela primeira vez. O Apóstolo Tomé fundou uma comunidade no sul da Índia em 52, da qual se originaram os cristãos de São Tomé, enquanto Judas Tadeu e Bartolomeu espalharam a mensagem na Armênia. O historiador Eusébio de Cesaréia diz que Marcos, considerado pela tradição um dos quatro evangelistas, organizou a comunidade de Alexandria no Egito.
As primeiras comunidades segundo Atos dos Apóstolos
Por
volta de 49-52, realizou-se o Concílio de Jerusalém, importante reunião dos
mais altos representantes da comunidade. Presidido pelos pilares da Igreja de
Jerusalém – Pedro, João e Tiago – o concílio foi chamado a dar uma primeira
organização à missão de difundir a mensagem de Jesus entre o povo.
O
concílio confiou a Paulo de Tarso, um judeu com cidadania romana que se
converteu por volta de 35-37, foi designado aos “gentios”, isto é, aqueles de
origem não judaica e muitas vezes pagãos.
Pregação de São
Paulo na Igreja Primitiva
Foi
precisamente graças a São Paulo e às suas incansáveis viagens missionárias pela
Ásia e pela Europa, que o cristianismo rapidamente se enraizou entre as
populações de cultura grega e romana, atingindo em alguns casos altas
personalidades da administração pública da época.
Paulo
de Tarso viajou extensivamente com o objetivo de divulgar o novo Credo. Em
39-40 viajou por Chipre e pelo sul da Ásia Menor, em 50 chegou à Macedônia, à
Grécia e aos Coríntios, enquanto por volta de 54 visitou a região em redor de
Éfeso e finalmente, por volta de 58, empreendeu uma longa viagem por mar que o
levou a Roma.
Naquela
conjuntura, o Cristianismo já havia abandonado definitivamente as fronteiras da
Palestina para se estender a uma grande parte do Império Romano.
As pedras no caminho da igreja primitiva (IMPACTANDO NO CONTEÚDO DA PREGAÇÃO):
Com a dissipação da Igreja Primitiva, os pagãos convertidos ao cristianismo tornaram-se numericamente superior aos judaico-cristãos (vindos do judaísmo). Entre os poucos elementos em comum estava o abandono total do culto aos ídolos e a utilização do batismo como rito de libertação do pecado e como sinal tangível de pertencimento à comunidade.
Os primeiros cristãos representavam uma
minoria e muitas vezes isolada na sociedade da época.
Segundo o que é relatado nos Atos dos Apóstolos, desde o início as autoridades judaicas de Jerusalém se opuseram a eles, tentando por vários meios impedir a sua pregação, chegando ao ponto de fazer acusações de heresia e blasfêmia. O apóstolo Tiago foi uma das primeiras vítimas, enquanto Pedro se salvou fugindo de Jerusalém; Paulo, em suas cartas, diz que foi repetidamente chicoteado, espancado e apedrejado. O historiador Daniel Rops1 escreve que Tiago foi decapitado, tornando-se o primeiro apóstolo de Jesus a morrer, na defesa de Sua Causa, por volta de 41 d.C.
Igreja
Primitiva e Pentecostes
Na Igreja Primitiva de Jesus Cristo, Pentecostes perde o seu significado judaico para designar a descida do Espírito Santo, que surge como a nova lei dada por Deus aos seus fiéis e marca o nascimento da Igreja a partir da comunidade de Jerusalém.2 Segundo o narrado, no dia da festa de Pentecostes, enquanto os discípulos de Jesus estavam todos no mesmo lugar, ouviram um grande barulho e um vento forte encheu a casa onde estavam hospedados, então viram algo semelhante a línguas de fogo que se separaram e pousaram sobre cada um deles; todos os presentes ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas (glossolalia).
Posteriormente, o Espírito Santo também, é dado aos pagãos que ouvem a Palavra na casa do centurião Cornélio, antes de serem batizados sacramentalmente, nas águas!
No discurso proferido na casa de Cornélio, São Pedro anuncia Jesus Cristo como o mediador da paz e do perdão, revelado já durante a sua missão terrena. Somente depois que Deus o ressuscitou no terceiro dia, Ele também se revela como juiz natural e universal (juiz pré-estabelecido por Deus, e juiz de todos os vivos e mortos), através das testemunhas escolhidas. Enquanto Pedro pronunciava estas palavras, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra, entregando-se aos estrangeiros que começaram a falar glorificando a Deus, e aos judeus convertidos que puderam compreender as suas línguas: a manifestação do Espírito Santo é a compreensão e glorificação da Palavra.
O
Império Romano e os Primeiros Cristãos
O
Império Romano inicialmente não serviu para dispersar as comunidades cristãs,
mas para reforçar a sua solidez e solidariedade internas.
Durante
o reinado dos outros imperadores dos primeiros três séculos d.C., os cristãos
não foram perseguidos tão duramente, mas ser cristão ainda era ocasionalmente
objeto de julgamentos, denúncias e hostilidade popular bastante generalizada.
A
perseguição aos cristãos
Nero (54 a 68 d.C.): em 64 d.C., Nero, que desaprovava os cristãos pela sua rejeição ao culto do imperador, ateou fogo aos bairros populares para favorecer a sua vida urbana e seus projetos, e culpou os cristãos pela tragédia, que foram perseguidos por isso. São Pedro é preso durante a perseguição de Nero e depois crucificado de cabeça para baixo, a seu pedido, pois não se sentia digno de morrer como seu Senhor, enquanto São Paulo, condenado à morte pela corte romana, é decapitado. A tradição relata que o seu martírio ocorreu no mesmo dia: 29 de junho do ano 67. São Pedro morre no circo de Nero, na colina do Vaticano, São Paulo na Via Ostiense. Em seus túmulos estão a Basílica de São Pedro e a Basílica de São Paulo Fora dos Muros3.
-Décio
(249 a 251 d.C.): durante a anarquia militar, querendo restaurar a autoridade
do imperador e com ela os cultos oficiais, submeteu os cristãos a ferozes
perseguições.
-Diocleciano
(284 a 305 d.C.): Em seu plano para restaurar a autoridade imperial e o culto
ao imperador, ele perseguiu os cristãos que viram suas reuniões proibidas e
seus bens confiscados.
Mas,
as perseguições aos Imperadores, os preconceitos que circulavam em torno dos
cristãos, as dificuldades em que se viam obrigados a professar a sua fé, nunca
tiveram o efeito desejado de dispersar as antigas comunidades cristãs em Roma,
mas sim de cimentá-las ainda mais.
O
cristianismo, embora permanecendo uma religião minoritária, continuou a
expandir-se em Roma apesar das dificuldades, favorecido pelo sentimento de
incerteza que pesou sobre os cidadãos durante a crise em que o Império entrou
no século III, e pela capacidade dos seus fiéis em espalhar sua fé.
Este enraizamento do Cristianismo na sociedade romana, começou a fazer dos cristãos uma comunidade difícil de se eliminar externamente pela força!
Constantino
e o Edito de Milão (da liberdade de religião)
Em 306, Constantino se tornou imperador romano, a religião cristã conheceu uma legitimação e uma afirmação impensáveis apenas alguns anos antes, recebendo primeiro direitos e depois até privilégios.
Era costume que cada novo imperador
propusesse o culto a uma nova divindade, a escolha de Constantino em favor do
Deus dos cristãos foi explicada por ele após um sonho premonitório antes de sua
grande vitória na batalha da Ponte Mílvia.
Com o Édito de Milão de 313, mais provavelmente um acordo com Licínio do que um verdadeiro édito, Constantino iniciou uma integração cada vez mais sistemática da Igreja nas estruturas político administrativas do Estado, passando a considerar-se o alto patrono da Igreja, e acreditava ser necessário promover o desenvolvimento e a pureza das doutrinas. Uma série de decretos subsequentes devolveram propriedades anteriormente confiscadas à Igreja Cristã, subsidiando as suas atividades e isentando o clero de cargos públicos. Graças a tudo isto, os cristãos puderam manifestar-se como nunca antes; Foram, portanto, construídas igrejas muito grandes, como Arquibasílica de São João de Latrão, então capaz de acolher até 10.000 fiéis. Os bispos cristãos puderam gozar de afirmação social, seguida de importantes cargos públicos. Um exemplo desta alta classe episcopal foi Eusébio de Cesaréia, conselheiro de confiança do próprio imperador, de quem escreveu uma biografia.
Período dos Padres
Apostólicos e Autores Eclesiásticos
Os Padres Apostólicos são os primeiros escritores cristãos que viveram e escreveram no período imediatamente após os apóstolos do Novo Testamento.
Foram
a base na definição da doutrina cristã e na organização da igreja primitiva. Embora
nem todos tenham sido necessariamente discípulos diretos dos apóstolos, suas obras
refletem a continuidade da tradição apostólica.
Clemente de Roma, ou Clemente Romano, tradicionalmente identificado como Clemente I, foi bispo de Roma no final do século I. Inácio de Antioquia, foi discípulo dos apóstolos, foi bispo de Antioquia no início do século II. Clemente foi responsável pela Epístola aos Coríntios I e II, e é a única obra que sobrevive de Clemente de Roma e é uma das mais antigas escritas cristãs fora do Novo Testamento. A carta foi escrita para a comunidade cristã em Corinto e oferece conselhos pastorais e exortações sobre a unidade da igreja e a importância da obediência à autoridade eclesiástica. Inácio escreveu suas cartas durante sua viagem para o martírio em Roma: cartas aos Efésios, Magnésios, Tralianos, Romanos, Filadélfios e Esmirnenses. Cada carta é endereçada a uma igreja específica e aborda questões teológicas, éticas e eclesiais relevantes para cada comunidade. Ainda oferecem uma visão valiosa da vida e da teologia cristã primitiva.
Policarpo de Esmirna, foi bispo de Esmirna e um dos discípulos de João, o Apóstolo!
Justino Mártir, foi um dos primeiros apologistas cristãos, escreveu várias obras defendendo o cristianismo contra o paganismo e o judaísmo. Epístola aos Filipenses foi a única carta sobrevivente de Policarpo de Esmirna. Ela foi escrita para a comunidade cristã em Filipos e contém exortações pastorais e encorajamento espiritual. A carta também oferece informações sobre a perseguição aos cristãos e o martírio de alguns membros da comunidade. Pápias de Hierápolis, autor cristão do século II, conhecido principalmente por seus escritos sobre as tradições dos apóstolos e sobre os Evangelhos. E, por fim, Hermas, autor da obra “Pastor de Hermas”, que é uma das obras mais conhecidas da literatura cristã primitiva, composta por visões, mandamentos e parábolas.
Existem
diversos autores eclesiásticos dos séculos I e II que contribuíram para o
desenvolvimento do pensamento cristão e para a expansão da literatura cristã
primitiva. Alguns dos mais importantes são:
-Josefo
(37-100 d.C.): Embora não seja estritamente um autor cristão, Flávio Josefo foi
um historiador judeu que escreveu extensivamente sobre o Judaísmo e a história
judaica do século I, incluindo informações sobre Jesus Cristo e o início do
Cristianismo em suas obras “Antiguidades Judaicas” e “Guerra Judaica”.
-Taciano
(c. 120-180 d.C.): convertido do paganismo ao Cristianismo, Taciano foi um
autor cristão sírio conhecido por sua obra “Discurso aos Gregos” (ou “Oratio ad
Graecos”), na qual ele defende a superioridade do Cristianismo sobre o
paganismo.
-Aristides
de Atenas (século II): filósofo e apologista cristão, conhecido por sua obra
“Apologia”, que é uma das primeiras defesas intelectuais do Cristianismo contra
a perseguição romana.
-Quadrato
de Atenas (século II): autor de uma apologia cristã dirigida ao imperador
romano Adriano, que é mencionada por Eusébio de Cesareia.
-Apolônio
de Éfeso (século II): apologista cristão cujas obras foram preservadas apenas
em fragmentos, mas que foram citadas por outros autores antigos.
-Melito
de Sardes (século II): Bispo de Sardes e um prolífico escritor cristão, embora
muitas de suas obras tenham se perdido. Conhecido por seu trabalho na defesa da
fé cristã e pela sua contribuição ao cânone bíblico.
As grandes heresias PRIMITIVAS: "o gnosticismo e o montanismo" (ENQUANTO OS REGIMES TOTALITÁRIOS E IMPERIALISTAS TENTAM DESTRUIR A IGREJA A PARTIR DE FORA, AS HERESIAS SÃO AS TENTATIVAS DE DESTRUIR A IGREJA A PARTIR DE DENTRO)
No
século II o universo cristão era muito variado, com muitas comunidades
espalhadas por um vasto território, cada uma delas substancialmente autônoma
das outras. As próprias comunidades locais eram por vezes fragmentadas
internamente em pequenos grupos independentes, tanto administrativamente como
em questões relacionadas com o culto.
É,
portanto, óbvio que diferenças doutrinárias poderiam proliferar dentro do
Cristianismo. Um dos casos mais marcantes foi a penetração do Gnosticismo,
movimento filosófico religioso já presente há algum tempo no mundo helenístico
greco-romano, que deu origem a uma corrente definível como “Gnosticismo
Cristão”.
Tradicionalmente, este movimento remonta a Simão, o Mago, citado nos Atos dos Apóstolos, no entanto, certas evidências de uma presença substancial desta doutrina, cujo centro de propagação foi Alexandria no Egito , só são encontradas no século II seguindo os ensinamentos de Valentino, fundador da escola valentiniana, e de Basilides.Desvios da doutrina majoritária também foram adotados por movimentos extáticos de tipo profético.
Entre estes, o Montanismo surgiu na Frígia entre 151 e 171 seguindo as profecias do neófito Montanus. Ele, juntamente com as profetisas Maximila e Priscila, afirmavam que o espírito consolador prometido por Jesus havia descido à Terra e falado através delas, questionando a estrutura organizacional sobre a qual se formava a Igreja da época.
Os numerosos desvios levaram à necessidade de definir uma linha doutrinal precisa na qual todas as comunidades pudessem reconhecer-se; ao mesmo tempo foi definido o conceito de “heresia”, em oposição ao de “ortodoxia” para definir, respectivamente, os desvios e a verdadeira fé. Este processo começou com o filósofo Justino e atingiu a sua conclusão inicial com o bispo e teólogo Irineu de Lyon, autor do famoso Adversus Haereses, no qual condenou, em particular, o gnosticismo. 4A obra de Irineu contribuiu para o surgimento da ideia de uma Igreja única, mais tarde definida como a “Grande Igreja”. Citada como “muito grande e antiga e conhecida de todos, fundada e estabelecida em Roma pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo“, para distingui-lo dos grupos marginais de inspiração cristã que desenvolveram doutrinas próprias que não foram aceitas pela maioria.
1.Daniel
Rops. A Igreja dos apóstolos e dos mártires – Volume I, 2022. ︎
2.Atos
2,42-48. ︎
3.Vatican
News. Disponível
em:https://www.vaticannews.va/it/santo-del-giorno/06/29/san-pietro-apostolo–patrono-dell-alma-citta-di-roma.html
︎
4.Giovanni Filoramo (Autor), Edmondo Lupieri (Autor), Salvatore Pricoco (Autor), D. Menozzi (Editor). Storia del cristianesimo. L’antichità, 2002, 484 p.
Fonte: Minha Biblioteca Católica
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