Já que só vemos críticas negativas, é sempre
prudente ver os dois lados da moeda para emitir um juízo de valor. Repetência,
desinteresse, evasão, currículo engessado, professores pouco capacitados. A lista de problemas do Ensino Médio
brasileiro, área considerada o grande gargalo da educação atualmente, é longa.
É o que alavanca a média de desistência escolar no País, cerca de três vezes
maior do que na Europa. Enquanto o Ensino Fundamental cresce a olhos vistos
e as taxas de alfabetização entre crianças sobem, o número de adolescentes de
15 a 17 anos que desiste de estudar aumenta drasticamente a cada ano. Hoje já
são 1,7 milhões, 16% da população dessa faixa etária, a indicada para ocupar as
carteiras do Ensino Médio. Diante do
quadro alarmante, o governo brasileiro tomou uma decisão de urgência e anunciou
uma medida provisória para reformar todo o ciclo de maneira revolucionária. É a
maior mudança na educação nacional dos últimos 20 anos, desde a instauração da
Lei de Diretrizes e Bases, que norteia o ensino.Além das disciplinas
obrigatórias, a ideia é possibilitar ao aluno escolher se aprofundar nas áreas
com as quais têm mais afinidade, tornando, assim, o estudo mais atrativo. Há também a preocupação de ampliar o ensino
integral. Os jovens poderão escolher o currículo mais adaptado à vocação. Serão
oferecidas opções e não mais imposições. Apresentada pelo presidente
Michel Temer no dia 22 de setembro, a MP do Ensino Médio flexibiliza os
currículos e amplia progressivamente a jornada escolar. A reformulação da etapa
já estava em discussão no Congresso Nacional no Projeto de Lei 6480/2013, e
agora volta em formato de MP, com o prazo de 120 dias para ser votada. A MP prevê a flexibilização do ensino
médio. Português e matemática serão os dois únicos componentes curriculares
obrigatórios nos três anos do ensino médio. Os demais componentes curriculares
que deverão ser ensinados no período obrigatoriamente serão definidos na Base
Nacional Comum Curricular, que começou a ser discutida este mês e deverá ser
definida até meados do ano que vem, segundo o Ministério da Educação. De acordo com a MP, cerca de 1,2 mil horas,
metade do tempo total do ensino médio, serão destinadas ao conteúdo obrigatório
definido pela Base. No restante da formação, os alunos poderão escolher seguir
cinco trajetórias: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas
- modelo usado também na divisão das provas do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) - e formação técnica e profissional. A medida também amplia
gradualmente a carga horária do ensino médio para 7h por dia ou 1,4 mil horas
por ano.
Os
contras:
O
professor Roberto Franklin de Leão, do Sindicato dos Professores no Ensino
Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) é contra porque a reforma
incentiva o ensino médio de tempo integral e retira a
obrigatoriedade do ensino de disciplinas como sociologia, filosofia, artes e
educação física: "Não é porque sou professor de artes que sou contra a MP,
mas é que entendemos que o ensino médio tem de ter a visão interdisciplinar,
que um assunto tem a ver com outro. Estamos disputando uma outra lógica
de qualidade para a escola pública para o filho do trabalhador. É essa escola
que não escolhe os seus alunos, é essa grande escola que temos de defender.
"Daniel Cava,
coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, diz que o
projeto em discussão falha por não envolver professores e alunos.
"Conclusão: tende a não dar certo. Precisamos entender que o ensino médio
é a transição. Uma parte vai para a universidade, outra vai direto para o mundo
das profissões", diz.
A
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) ingressou com ação
direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra
a Medida Provisória, que altera o ensino médio.
"Trata-se de mais uma medida
para moldar o estado brasileiro a outros interesses, a traquinagens contra a
educação, como a sua privatização e também de outros serviços essenciais. Além
do mais, a reforma tem como pecado original ser baixada por medida provisória,
sem debate. Temos de rejeitar a MP."
A
FAVOR DA REFORMA:
Idealizadora da reforma, a professora Maria Helena Guimarães de Castro, 70 anos, teve apoio de uma equipe técnica para desenhar a reforma que o governo Temer tenta implementar. Ela sustenta:A reforma já vem sendo discutida há duas décadas no Brasil, independentemente de governos e partidos, porque o modelo em vigor é um fracasso.Sobre a necessidade de ser por medida provisória:
“Por uma questão de urgência mesmo. Um projeto de lei que propõe a reforma se arrasta desde 2013 no Congresso e está parado. Enquanto o tempo passa, os jovens ficam enredados em um sistema de péssima qualidade, reconhecido como um dos piores do planeta. A meu ver, a relevância do assunto justifica a medida provisória. ”
Sobre o fato de ter ficado parado tanto tempo no Congresso, ela esclarece:
“Porque a reforma mexe em vários vespeiros. Há uma indústria gigantesca para preparar os jovens para o Enem, passaporte para a universidade que se baseia no atual modelo de ensino médio. São forças que se fazem representar no Congresso. E pesa ainda um fator político. Parlamentares podem entender que encampar tal proposta não é tão vantajoso do ponto de vista eleitoral. ”
A reforma luta contra o estabelecimento proposital da desigualdade, defende a educadora:
“Uma parcela importante dos jovens fica pelo caminho, sem chance nenhuma de um bom futuro. Metade dos que ingressam no ensino médio não se forma. Menos de 20% deles vão para a universidade. Um batalhão entre 15 e 17 anos está fora da escola. O que o Brasil pratica com seu modelo monolítico, único no mundo, é a igualdade da mediocridade. O sistema atual não abre caminhos diferentes para pessoas de capacidades e ambições diferentes. Ele fecha portas, a reforma defende justamente a igualdade de oportunidades. Na flexibilização do novo modelo de ensino médio, metade da grade será comum e, para o restante das aulas, haverá a opção de aprofundamento em cinco habilitações: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e ensino técnico."
Cleverson
Lino Batista, professor de filosofia, ética e sociologia do ensino médio no
Colégio São Pedro do Vaticano e do ensino fundamental na Rede Coleguium, ambas
escolas particulares em Belo Horizonte, diz que a MP é positiva ao trazer o
ensino técnico ao ensino médio. "É muito importante, principalmente para
os mais pobres. É uma oportunidade de inserção no mercado de trabalho".
Para ele, outro ponto positivo é a possibilidade do estudante escolher a
trajetória de ensino:
"A MP é uma tentativa
importante [de melhorar o ensino médio]. Atualmente, ela não dá perspectiva
para muita gente que não vai fazer o vestibular. Não tem essa possibilidade de
encarar, dentro do ensino médio, a especificidade de cada emprego, de cada mercado
de trabalho e profissão. Com o ensino técnico, o estudante pode ter essa
oportunidade de lidar com a profissão", defende.
Sobre
a possibilidade de sociologia, filosofia, artes e educação física deixarem o
currículo obrigatório do ensino médio, o professor diz que não acredita que
isso ocorra. Pela MP, os componentes curriculares obrigatórios, além de
português e matemática, serão todos definidos na Base Nacional Comum
Curricular, atualmente em discussão.
"Eu creio que esses conteúdos dificilmente deixarão de compor o ensino médio. Pelo que acompanhei da Base, as disciplinas estarão contempladas", diz.
"Eu creio que esses conteúdos dificilmente deixarão de compor o ensino médio. Pelo que acompanhei da Base, as disciplinas estarão contempladas", diz.
O
professor de filosofia Djalma Silveira, da Escola Estadual José Barbosa
Rodrigues, em Campo Grande, defende que o ensino médio necessita de reforma.
"Precisa de reforma urgente. Do jeito que está eu tenho 50 minutos de aula
com cada turma, quando eu consigo deixar a sala preparada, já perdi 25 minutos.
O currículo do ensino médio está sobrecarregado. O professor não tem tempo para
fazer o que precisa", diz.Segundo ele, modelos semelhantes existem em
outros países. Ele diz que concorda com a proposta de reforma, mas que é
necessário discutir mais:
"Sobre o ensino técnico, é
preciso levantar o que o país quer. Temos um Estado que mais atrapalha do que
ajuda quando se quer abrir uma empresa, investir, criar renda. O estudante sai
do ensino médio com sonho de emprego e no final não tem. Sou a favor do ensino
técnico, mas é preciso discutir que país se quer para que a escola
acompanhe", defende.
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excelente post, para aplicarmos em nosso colegio objetivo zona norte sp , obrigada, nos ajudou bastante!
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