COMENTÁRIOS INICIAIS: Não consigo precisar exatamente
quando o golpe foi pensado. Acho que foi quando a Dilma ganhou a reeleição.
Lula, Temer e Aécio não contavam com isso. Tinham certeza que ela perderia.
Lula lançou uma candidata inviável para o suceder. Como ele poderia imaginar
que ela ganharia? O ditado dizia que o raio não cairia no mesmo lugar pela
segunda vez. Reeleição seria impossível. Mas aconteceu. Já no primeiro mandato, Lula e Dirceu adotaram uma prática em
desconformidade aos anseios da esquerda. Por isso, muitos abandonaram o PT. Os
dissidentes fundaram o PSOL , e a gota d’água que levou à fundação do partido
foi exatamente a reforma da previdência, depois também, da aliança de Lula com
Sarney e Collor, ainda em 2004. Lula já era ali um político que se integrara
perfeitamente ao sistema vigente. Depois do mensalão, o PT aliou-se de vez
ao Temer e ao PMDB. Mas o Lula viu que era inviável ficar no poder porque, para
isso, dependia dos votos da esquerda e do dinheiro do empresariado. Havia uma
contradição e a equação não fechava. Então Lula teve uma ideia: Costurou com o
PMDB, com o PSDB e com os financiadores de campanha lançar uma candidata
inviável, que perderia as eleições, permitindo espaço para os “adversários”
chegarem ao poder e implementarem as políticas pedidas pelos endinheirados.
Isso os tornaria eleitoralmente inviáveis e Lula voltaria em 2014, nos braços
da esquerda e do povo, derrotando os neoliberais, para mais dois mandatos,
ficando o mesmo grupo por, pelo menos, 20 anos no poder, mamando na Petrobras e
onde mais fosse possível. O plano foi posto em prática. Tudo ia bem. A
candidata foi lançada a princípio com apenas 10% de intenções de voto. Fizeram
campanha, para garantir as aparências, mas o impensável aconteceu: Dilma
ganhou. Bom, tudo bem. Ela
inviabilizaria, com sua notória inabilidade, o PT para as eleições seguintes.
Era só empurrar o plano por mais quatro anos. Fez uma campanha fantasiosa.
Pintou um Brasil que não existia. Fez discursos sem pé nem cabeça do nós contra
eles (quem?). Passada a reeleição, Dilma, Lula, Aécio, Serra, Temer e
outros se reuniram para ver o que fazer? Tinham
uma carta na manga: deliberadamente, haviam estudado a legislação e lembraram
que haviam deixado no passado umas tais pedaladas fiscais para serem usadas em
caso de necessidade. Não era muito, mas era alguma coisa, e decidiram usar.
Articularam o processo de impeachment. Era o plano perfeito, convocaram a
figura mais carismática do PT, que era Hélio Bicudo, pessoa que ninguém iria
ficar com raiva dele, para dar o pontapé. Dilma viria na TV irritar o povo até
o limite das panelas. Temer assumiria e poderia implementar finalmente as
políticas que o alto empresariado vinha demandando, sem riscos. Combinaram com
a Dilma que ela não perderia os seus direitos políticos, e que ela ainda sairia
de vítima de uma conspiração “gopista”. Lula gritaria contra o golpe, mas não
muito. Não viajaria o mundo se reunindo com líderes internacionais, nem iria
pessoalmente à ONU nem nada assim. Convinha não exagerar na gritaria para não
estragar o plano. Para garantir as aparências, Serra seria ministro. Ouve um imprevisto estranho e assustador: As
risadas cordiais entre Dilma, Aécio e Lewandowski no dia do julgamento do
impeachment no Senado quase puseram tudo a perder, mas a imprensa colaborou
abafando as imagens. Temer desagradaria o povo o suficiente para garantir que
Lula poderia voltar forte em 2018. Lula uniria as esquerdas e ganharia com
folga 2018 e 2022. Melhor, impossível: 24 anos da turma no poder. Articularam logo
de imediato com a imprensa e “aqueles jornalistas”(aqueles viu!!!) numa
perseguição implacável ao Lula que, assim, se tornaria um mártir, ficando
invencível. Bolsonaro entraria também no jogo: seu papel era fazer um discurso tão
à extrema direita que convenceria até antipetistas convictos a votarem no Lula.
Mas ai surgiu aquela dúvida: e se
ninguém caísse no teatro de Bolsonaro, e de repente começassem a acreditar
nesta proposta da direita? Era melhor não dar mole. Lula teria que ser
invencível em 2018. Bolsonaro conseguiu vários aliados na imprensa para
fortalecer seu teatro. Até a eleição dos EUA e da Argentina foi acertada com a
cúpula do PT para dar credibilidade ao plano. E está tudo correndo conforme o
previsto: A reforma da previdência, as terceirizações, tudo vai sendo aprovado,
sem desgastar Lula nem Dilma, que levantaram esse discurso no passado mas o
deixaram pra lá, pois articulando então esse golpe, sairiam mais fortes. Por
enquanto, está dando certo. Tudo se encaminha para a volta do Lula quando já
implementadas as políticas que ele sabia que, de outra forma, não seriam
implementadas. Todo mundo hoje em dia tem uma teoria da conspiração. Esta é a
minha, mas é apenas uma teoria minha gente, calma...
Vale a
pena ainda apostar na teoria da Conspiração do “GOPI”?
Por
Sérgio Mauro (*)
Diante
das gravíssimas denúncias que envolvem Temer, Aécio e “companhia bela”, os
arautos do golpismo trataram de não perder tempo em reafirmar as suas teorias,
conclamando mais uma vez o povo a ir às ruas e pedir a renúncia do presidente
em exercício. Que Temer deveria renunciar, ninguém discute, a menos que se
considerem falsas as gravações do milionário dono da JBS, ou se acreditarmos
numa conspiração tramada por petistas radicais inconformados com a
“perseguição” contra Lula!
Neste
caso, os argumentos, fantasiosos e inconsistentes, repetiriam o raciocínio já
gasto, fraco e simplista do eterno golpismo, da eterna conspiração, ora de
americanos, ora da Rede Globo. Há quem veja nas histórias em quadrinhos do Pato
Donald ou do Mickey uma ardilosa propaganda financiada pela CIA, com o apoio do
FBI.Na
verdade, tais teorias da conspiração e do eterno golpismo contra os defensores
dos fracos e oprimidos (ou contra a democracia, contra a família e a
propriedade, de acordo com o contexto histórico) escondem nossa imaturidade
política. Embora respeite e compreenda perfeitamente os nobres
propósitos de certos jornalistas e estudiosos, não concordo com os que
defendem, aqui e no exterior, a nossa suposta e tão almejada maturidade
política. A operação Lava Jato e outras mais, apenas refletem o trabalho árduo
e eficaz de alguns magistrados e da Polícia Federal.Infelizmente, o que se vê
na mídia, em parte do ambiente acadêmico e artístico, sobretudo nas opiniões
veiculadas pelas redes sociais, com honrosas exceções, é o fanatismo típico de
torcidas esportivas transposto para a análise política, o que não constitui
apenas uma atitude irresponsável, mas também um possível e perigoso pretexto
para que salvadores da Pátria entrem em ação.
Incrivelmente,
quem ainda se refere ao suposto golpe deixa de considerar que tanto os
deputados e senadores supostamente golpistas como a chapa Dilma/Temer foram
eleitos pelo povo. Temer já foi útil para Dilma quando o PT visava à perpetuação no poder
por meio de alianças com o que há de mais retrógrado nos partidos “liberais” e
“conservadores”. Dilma já foi útil a Temer quando, sozinho, o PMDB não poderia
chegar ao poder, sendo necessária uma aliança com os outrora “radicais
petistas”, rapidamente (e convenientemente) elevados à categoria de amigos no
combate comum contra a injustiça social.Há que se considerar, claro, a
escassa conscientização e a baixa capacidade de discernimento da maioria da
população na hora da escolha dos seus governantes, além da influência enorme da
mídia, mas estes fatores não desvalorizam o único processo, por mais relativo e
inconstante, de uma alternativa democrática a formas de governo baseadas na
concentração do poder em um único homem ou num punhado de homens.
A
visão maniqueísta que separa mocinhos de bandidos, defensores dos operários e
dos agricultores sem terra, dos cruéis industriais e latifundiários, há muito
deixou de ser uma lente adequada com a qual se pode observar um quadro político
tão complexo de um país como o nosso, ainda imaturo e com baixíssimo nível de
escolaridade. O momento requer domínio das paixões e lucidez na análise dos
acontecimentos. Não há espaço para revanchismos ou pequenas vinganças pessoais,
pois, o vazio de poder que se estabelece nessa polarização radical pode
facilmente ser preenchido por aventureiros, mesmo que sejam aventureiros
habilitados pelo voto popular, tão sujeito ao calor do momento e à influência
midiática, tão propenso a soluções drásticas e pouco lúcidas.
(*)
Sérgio Mauro é professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de
Araraquara
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