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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O pecado original afetou apenas o corpo e não a alma? São Tomás de Aquino responde!

 




O pecado afeta tanto a alma quanto o corpo, deixando marcas que precisam ser curadas, e o meio que Deus nos deixou, por exelência, é o sacramento da confissão, ou reconciliação (conforme CIC 1420 – 1470). Ora, dizer que o pecado original afetou apenas o corpo e não a alma, é negar a doutrina da purificação da alma no purgatório antes de entrar na glória celeste, pois essa purificação necessária daqueles (as) que já estão salvos e morreram na amizade com Deus, se dá na alma e não no corpo. De acordo com a fé Cristã, o pecado é o maior inimigo e tem consequências dramáticas para a alma e o corpo, tais como:

 

-O pecado mortal priva o estado de graça e pode levar à exclusão do Reino de Cristo e à morte eterna.

 

-Os pecados veniais também têm consequências negativas e precisam ser evitados. Até mesmo os pecados veniais deixam marcas afetivas que precisam ser curadas.

 

-O pecado pode causar angústias e desordens na nossa alma (psique), que desestruturam a pessoa.




 

(foto reprodução)



A doutrina do pecado original é uma verdade de fé, portanto, deve ser crida por todo católico praticante. Infelizmente, a teologia liberal moderna, representada principalmente pela Teologia da Libertação, insiste em negar a existência do pecado original. Isso acontece porque esta teologia deseja implantar o reino do céu neste tempo. Porém, isso somente seria possível se o pecado original não existisse, caso contrário, o homem continuaria pecando e não poderia ser implantado o “paraíso” aqui na terra. Isso é óbvio, mas a ideia implantada pela TL progressista, de que o pecado original é uma invenção de Santo Agostinho tomou corpo e vem seduzindo a muitos na Igreja Católica. Dizer que Santo Agostinho criou a doutrina do pecado original é outra afirmação sem lógica, pois, como se explicam as diversas referências ao pecado original nas cartas paulinas que são anteriores a Santo Agostinho, conforme vemos abaixo?




Romanos 3,23: "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" 




Romanos 5,12: "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram."



 

O que é o pecado original?



O pecado original é aquele com o qual todos nascemos, é a privação da santidade e justiça originais. O pecado original introduz no mundo uma quádrupla ruptura (a religião, do latim RELIGARE, vem religar essa ruptura original). 




-A ruptura do homem com Deus


-Ruptura do homem com a religião e com a igreja  


-Consigo mesmo


-Com os demais seres humanos 


-Com toda a criação.



Que conseqüências tem o pecado original para nós?



Produto destas rupturas, as conseqüências que tem o pecado original para nós são: a debilitação da natureza humana, que ficou submetida à ignorância, ao sofrimento, à morte e à inclinação ao pecado.



 

SÃO TOMÁS DE AQUINO RESPONDE na suma teológica:



Art. 1 — "Se o pecado original está mais na carne que na alma"?










(II Sent., dist. XVIII, q. 2, a. 1, ad. 3; dist. XXX, q. q, a. 2, ad 4; dist. XXXI, q. 1, a. 1, ad 2, 4; dist. XXXIII, q. 1, a. 3, ad 4; De Malo, q. 4, a. 3).

 



O primeiro discute-se assim.  — Parece que o pecado original está mais na carne que na alma.

 



1. — Pois, a repugnância da carne com a alma procede da corrupção do pecado original. Ora, a raiz dessa repugnância está na carne, conforme aquilo do Apóstolo (Rm 7): sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do meu espírito. Logo, o pecado original está principalmente na carne.

 

2. Demais. — Tudo está mais na causa que no efeito; assim o calor esta mais no fogo que aquece, do que na água aquecida. Ora, a alma sofre a contaminação do pecado original, por meio do sêmen carnal. Logo, o pecado original está mais na carne que na alma.

 

3. Demais. — Contraímos o pecado original do primeiro pai, porque preexistimos nele pelo gérmen seminal. Ora, nele não preexistimos pela alma, mas só pela carne. Logo, o pe¬cado original não está na alma, mas na carne.

 

4. Demais. — A alma racional criada por Deus é infundida no corpo. Se portanto, a alma fosse contaminada pelo pecado original, sê-lo-ia desde a sua criação ou infusão. E assim, Deus, causa da criação e da infusão, seria também a causa do pecado.

 

5. Demais. — Ninguém que tenha sabedoria iria despejar um licor precioso num vaso, do qual sabe que o contaminará. Se portanto a alma, pela sua união com o corpo, pudesse contaminar-se com a mácula da culpa original, Deus, que é a sabedoria mesma, nunca haveria de infundi-la em tal corpo. Ora, se a infunde, é que ela não fica maculada pela carne. Portanto, o pecado original não está na alma, mas na carne.

 

Mas, em contrário, o sujeito de uma virtude e de um vício ou pecado, é o mesmo que o da virtude ou vício contrários. Ora, a carne não pode ser sujeito da virtude, pois, como diz o Apóstolo (Rm 7): "eu sei que em mim, quero dizer, na minha carne, não habita o bem." Logo, a carne não pode ser o sujeito do pecado original, mas só a alma.

 




SOLUÇÃO — Uma coisa pode estar em outra de dois modos: como na causa, principal ou instrumental, ou como no sujeito. Por onde, o pecado original de todos os homens preexistiu por certo, em Adão, como na causa primeira principal, conforme aquilo do Apóstolo (Rm 5): no qual todos pecaram. Por outro lado, o pecado original preexistia no sêmen do corpo, como na causa instrumental, porque é pela virtude ativa do sêmen que ele se transmite à prole simulta-neamente com a natureza humana. Mas, o pecado original de nenhum modo pode ter a carne como sujeito, mas só a alma.

 



E a razão é que, como já dissemos, pela vontade do primeiro pai, o pecado original se lhe transmitiu aos descendentes, por via de geração, assim como da vontade de um homem o pecado atual se lhe deriva para as outras partes. E nesta derivação notamos o seguinte. Tudo o redundante da moção da vontade, de pecar, para qualquer parte do homem, de algum modo participante do pecado, seja, como sujeito, seja, como instrumento, tudo isso implica essencialmente a culpa. Assim, a vontade da gula faz o concupiscível desejar o alimento, e leva as mãos e a boca a tomarem-no, que, enquanto movidas pela vontade ao pecado, são instrumentos deste. Porém o ulterior redundante na potência nutritiva, e nos membros interiores, de natureza a não serem movidos pela vontade, não implica a culpa essencialmente. Assim pois, podendo a alma ser sujeito da culpa, e a carne, em si mesma, não, toda a corrupção do primeiro pecado, que atinge a alma, implica a culpa; o que porém não a atinge implica, não culpa, mas a pena. Portanto, a alma, e não a carne, é o sujeito do pecado original.

 

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como diz Agostinho, o Apóstolo se refere no lugar citado ao homem já redimido, libertado da culpa, mas sujeito à pena, e por isso diz que o pecado habita na carne. Mas daqui se não segue seja a carne sujeito da culpa, mas só da pena.

 

RESPOSTA À SEGUNDA. — O pecado original tem no sêmen a sua causa instrumental. Ora, não é necessário que o existente na causa instrumental nesta exista mais principalmente que no efeito, senão só na causa principal. E deste modo o pecado original existiu mais principalmente em Adão, em quem existiu como pecado atual.

 

RESPOSTA À TERCEIRA. — A alma de um homem qualquer não preexistiu, seminalmente em Adão pecador, como no seu princípio efe¬tivo, mas como no princípio dispositivo. Por¬que o sêmen corpóreo, transmitido por Adão, não tem a virtude de produzir a alma racional, mas, só a de dispô-la.

 

RESPOSTA À QUARTA. — A mácula do pecado original de nenhum modo foi causada por Deus, mas só pelo pecado do primeiro pai, mediante a geração carnal. Logo, a criação, implicando relação da alma só com Deus, não se pode dizer que por ela fosse maculada. A infusão porém implica relação com Deus, que infunde, e com a carne, na qual é a alma infundida. Logo, considerada a relação com Deus, que infunde, não se pode dizer que pela infusão a alma seja maculada, mas só levando-se em conta a relação com o corpo em que é infundida.

 


RESPOSTA À QUINTA. — O bem comum tem preferência sobre o particular. Por isso, Deus, de conformidade com a sua sabedoria, não derroga para evitar o contágio particular de uma alma, a ordem universal das coisas, que exige seja ela infundida em tal corpo. Sobretudo por ser da natureza da alma não começar a existir senão unida ao corpo, como se demonstrou na Primeira Parte. Pois, é-lhe melhor a ela assim existir, segundo a natureza, do que não existir de nenhum modo; sobretudo por poder, pela graça, livrar-se da condenação.

 



Art. 2 — Se o pecado original está mais na essência da alma que nas potências?

 

 

(II Sent., dist. XXXI, q. 2, a. 1; De Verit., q. 25, a. 6; q. 27, a. 6, ad 2; De Malo, q. 4, a. 4).

 



O segundo discute-se assim. — Parece que o pecado original não está mais na essência da alma que nas potências!

 



1. — Pois é natural à alma ser sujeito do pecado, por poder ser movida pela vontade. Ora, não a essência da alma é a movida pela vontade, mas sim as suas potências. Logo, o pecado original não atingiu a essência da alma, mas só as suas potências.

 

2. Demais. — O pecado original se opõe à justiça original. Ora, esta havia de estar em alguma potência da alma, sujeito da virtude. Logo, também o pecado original está mais nas potências que na essência da alma.

 

3. Demais. — Assim como da carne o pe¬cado original derivou para a alma, assim da essência desta derivou-lhe para as potências. Ora, o pecado original está mais na alma que na carne. Logo, também mais nas potências, que na essência da alma.

 

4. Demais. — Tem-se como concupiscên¬cia o pecado original, conforme já se disse. Ora, a concupiscência tem sua sede nas potências da alma. Logo, também o pecado original.

 

Mas, em contrário, o pecado original é considerado um pecado natural, como já se disse. Ora, a alma é por essência, e não pelas suas po¬tências, como já se estabeleceu na Primeira Parte, a forma e a natureza do corpo. Logo, ela é principalmente e por essência o sujeito do pecado original.

 



SOLUÇÃO. — A alma é principalmente sujeito de um pecado, pelo que a torna primariamente causa motora desse pecado. Assim, se a causa motiva do pecado for o deleite sensível, residente na potência sensitiva, como seu objeto próprio, segue-se que essa potência é o sujeito próprio desse pecado. Ora, é manifesto, o pecado original foi causado pela geração. Portanto, por onde a alma entra primeiramente em contato com a geração do homem, por aí ela é o sujeito primeiro do pecado original. Ora, a geração entra em contato com a alma, como seu termo, enquanto forma do corpo, o que por essência própria lhe convém, segundo já demonstramos na Primeira Parte. Logo, a alma é por essência o sujeito primeiro do pecado original.

 



DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Assim como o movimento da vontade do homem atinge-lhe propriamente, as potências, e não a essência da alma, assim o movimento da vontade do primeiro gerador atinge primeiramente, por via da geração, a essência da alma, como já se disse.

 

RESPOSTA À SEGUNDA. — Também a justiça original se inclina, primordialmente na essência da alma;pois, era um dom de Deus à natureza humana, próprio mais de tal essência, que das suas potências. Pois, estas pertencem mais à pessoa, enquanto princípio de atos pessoais. Por onde, os sujeitos próprios dos pecados atuais é que são pecados pessoais.

 

RESPOSTA À TERCEIRA. — O corpo está para a alma como a matéria para a forma; esta, embora posterior na ordem da geração, é anterior na da perfeição e da natureza. Ora, a essência da alma está para as potências, como o sujeito para os acidentes próprios, posteriores ao sujeito, tanto na ordem da geração, como na da perfeição. Portanto a comparação não colhe.

 

RESPOSTA À QUARTA. — A concupiscência desempenha, no pecado original, o papel de matéria e conseqüência, segundo já se disse.

 

 

 

Art. 3 — Se o pecado original contaminou mais a vontade que as outras faculdades?

 

 

(II Sent., dist. XXX, q. 1, a. 3; De Verit., q. 25, a 6; De Malo, q. 4, a. 5).

 




O terceiro discute-se assim. — Parece que o pecado original não contaminou mais a vontade que as outras faculdades.

 


1. — Pois, todo pecado pertence principal¬mente à potência por cujo ato foi causado. Ora, o pecado original foi causado pelo ato da potência geratriz. Logo, dentre as demais potências da alma, parece pertencer antes à potência geratriz.

 

2. Demais. — O pecado original transmite-se pelo sêmen carnal. Ora, as outras potências da alma são mais próximas da carne, que a vontade; como se vê claramente em todas as potências sensitivas, que se servem de órgão corpóreo. Logo, nelas, mais que na vontade, está o pecado original.

 

3. Demais. — O intelecto tem prioridade sobre a vontade, pois esta não pode querer senão o bem conhecido. Se portanto o pecado original contaminou todas as potências da alma, parece que contaminou primeiro o intelecto, como sendo a mais importante.

 

Mas, em contrário, a justiça original diz respeito, primariamente, à vontade, pois, consiste na retidão da vontade, como diz Anselmo. Logo, o pecado original, que se lhe opõe, respeita, antes de tudo, a vontade.


 

SOLUÇÃO. — Dois aspectos devemos levar em conta no contágio do pecado original. Primeiro, a sua inerência ao sujeito; e por aí diz respeito, primariamente, à essência da alma, como já se disse. Em seguida devemos considerar-lhe a inclinação para o ato; e, por aí respeita às potências da alma. Ora, ele há de respeitar, primária e necessariamente a que tem a inclinação primeira para o pecado. E como esta é a vontade, segundo já se demonstrou, o pecado original há de lhe dizer respeito em primeiro lugar.

 

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O pecado original não é causado no homem pela potência geratriz da prole; mas pelo ato da potência geratriz do pai. Por onde, não é necessário seja a sua potência geratriz o sujeito primeiro do pecado original.

 

RESPOSTA À SEGUNDA. — O pecado original tem dupla derivação: uma, da carne para a alma; outra, da essência da alma para as potências. A primeira é conforme à ordem da geração; a segunda, à da perfeição. E portanto, embora as potências sensitivas sejam mais próximas à carne; como porém a vontade está mais chegada à essência da alma, como potência su¬perior que é, será a primeira a receber a contaminação do pecado original.

 

RESPOSTA À TERCEIRA. — O intelecto de certa maneira precede à vontade, por propor-lhe o seu objeto. De outro modo porém a vontade precede o intelecto, na ordem da moção para o ato, moção essa que implica o pecado.




 





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