Catarina de Siena, nascida Caterina Benincasa (Siena, 25 de março de 1347 – Roma, 29 de abril de 1380), da terceira da Ordem dos Pregadores (dominicanos), filósofa escolástica e teóloga do século XIV. Lutou arduamente para trazer o papado de Gregório XI de volta para Roma durante o chamado "Cisma do Ocidente", um período de quase quarenta anos no qual se estabeleceu o papado de Avinhão, e também, foi fundamental para a restauração da paz entre as cidades-estado italianas. Nascida em Siena, ela cresceu lá e queria muito cedo se consagrar a Deus, contra a vontade de seus pais. Imagens de Catarina
de Sena mostram-na usando o hábito de uma irmã religiosa, da Ordem dos
Pregadores. Na verdade, ela era leiga – é a única pessoa leiga atualmente reconhecida
como Doutora da Igreja. Então, por que ela aparece assim? Catarina Benincasa
cresceu em Siena, na Itália, ela era a 23ª filha de Lapa Piagenti e Giacomo di
Benincasa (metade de seus filhos morreram cedo). Aos 13 anos de idade, Catarina
era uma adolescente mal-humorada, sem intenção de se casar. Quando jovem, ela
teve uma visão de Cristo sentado em glória com São Pedro, Paulo e João ao seu
lado, e isso a inspirou a fazer um voto particular, dedicando sua vida a Deus.
Ninguém sabia deste voto, então, quando ela chegou à idade de casar, seus pais
procuraram um marido digno. Catarina recusou a ideia, cortou o cabelo e vestiu
roupas esfarrapadas para se tornar pouco atraente até que seus pais enfurecidos
perceberam que novas tentativas de persuadi-la seriam inúteis. Eles
reconheceram a piedade de sua jovem filha e fizeram uma cela particular para
ela em sua própria casa. Catarina estava interessada no carisma evangelizador da ordem dominicana, mas não
sentiu nenhum apelo ao claustro. Ela descobriu em Siena as Irmãs da Penitência
da Terceira Ordem de São Domingos, que serviam aos paroquianos locais. Buscando
admissão, Catarina foi inicialmente recusada porque o grupo era geralmente
composto de viúvas e solteironas. Depois, ela finalmente conseguiu o que
queria. Tornou-se terciária dominicana, ou membra da “Terceira Ordem” e – como
era comum na época – teve permissão para usar o hábito. Depois de um retiro de
três anos em sua “cela” na casa de seus pais, Catarina emergiu e se juntou ao trabalho de catequizar
os jovens, dando orientação espiritual, cuidando dos doentes e servindo os
pobres, o que ela fez incansavelmente pelo resto de sua vida. Enquanto a maior
parte de sua energia foi gasta em Siena, Catarina também foi convocada a viajar
em várias ocasiões para dar seus conselhos altamente procurados. Ela era
correspondente de reis, rainhas, nobres, pessoas ilustres e as mais simples possíveis, e eventualmente, do próprio Papa. Vale a pena ler a
biografia completa desta santa, bem como suas obras escritas. Mas, Catarina não é a única santa dominicana leiga
professa da Ordem Dominicana como terciária. A maioria das pessoas ficam surpresas ao saber
que alguns dos mais proeminentes e amados santos da igreja eram dominicanos, e que
também eram leigos, incluindo Santa Rosa de Lima, São Martinho de Porres, Beato
Pier Giorgio Frassati, a Beata Margarida de Castello e o Beato Bartolo Longo.
Qualquer católico de boa reputação pode ser admitido em uma Ordem Terceira,
incluindo pessoas casadas e padres diocesanos. Ordens Terceiras (ou Oblações ou
Associações) são outro meio pelo qual os fiéis leigos podem buscar a santidade
e se aproximar de Deus em oração e caridade. Enquanto as Ordens Terceiras ainda
existem, o hábito religioso não é mais usado pelos membros, exceto na morte. Os
dominicanos da Terceira Ordem recebem um escapulário branco, os carmelitas da
Terceira Ordem têm um escapulário semelhante, enquanto os Franciscanos
Seculares usam uma cruz (Tau), e os Oblatos Beneditinos usam uma medalha jubilar
de São Bento. Ordens terceiras (ou “seculares”) dão aos leigos uma chance de
infundir suas vidas com orações e boas obras de acordo com uma espiritualidade
específica, para que possam se esforçar para ser “fermento no mundo”. Como
vemos no exemplo de S. Catarina e muitas de suas irmãs e irmãos da Terceira
Ordem, é algo especial e grandioso.
O Papa Bento XVI, em catequese sobre esta Santa, nos diz:
“Quando
a fama de sua santidade espalhou-se, foi protagonista de uma intensa atividade
de aconselhamento espiritual na relação com todas as categorias de pessoas:
nobres e políticos, artistas e gente do povo, pessoas consagradas,
eclesiásticos, incluindo o Papa Gregório XI que, naquele período, residia em
Avignon e ao qual Catarina exortou enérgica e eficazmente que retornasse para
Roma. Viajou muito para solicitar a reforma interior da Igreja e promover a paz
entre os Estados: também por esse motivo, o Venerável João Paulo II desejou
declará-la copadroeira da Europa: o Velho Continente nunca poderá esquecer as
raízes cristãs que formam a base de seu caminho e continua a desenhar, a partir
do Evangelho, os valores fundamentais que asseguram a justiça e a harmonia.”[1]
Dentro da espiritualidade de
Santa Catarina podemos destacar três pontos:
1)- A Intimidade com Deus.
2)- Piedade e arrependimento.
3)- A Divina Providência.
Em cada um deles, Catarina
deixa-nos uma lição:
1)- A intimidade com Deus
Na sua obra “O Diálogo”, Santa Catarina preocupa-se
com a busca do conhecimento da Verdade e do sumo Bem, que é Deus. É
importante lembrar que esta obra de Santa Catarina, na verdade, foi organizada
pelo Beato Raimundo de Cápua, e ditada por ela, a alguns ajudantes, que
registravam as experiências místicas que a Santa tinha com Deus, ora reveladas
por Deus Pai, ora por Deus Filho. Em uma das locuções, Jesus nos ensina
que o passo inicial e fundamental para a busca da Verdade é o autoconhecimento:“O Caminho para atingir o conhecimento
verdadeiro e a experiência do meu ser – Vida eterna que eu sou – é este: nunca
abandones o autoconhecimento! Ao desceres para o vale da humildade,
reconhecer-me-ás em ti, e de tal conhecimento receberás tudo aquilo de que
necessitas.”[2] Diante de tal conhecimento, o homem depara-se com o
nada que é, e reconhece que o seu egoísmo é a fonte de todo o seu pecado. Por
isso, há uma importância em reparar os nossos pecados.
Para chegarmos à perfeição, existe o que a Santa chama de “degraus do
amor”, que são três:
1º)- Amor servil.
2º)- Amor interesseiro.
3º)- Por último, amor amizade.
O amor amizade reflete o mais sublime estado que o
nosso relacionamento com Deus pode chegar. O Senhor revela a Santa Catarina o
que significa este amor amizade:“A amizade íntima consiste nisto: que são
dois corpos, mas uma só alma no amor, pois o amor transforma (o amante) na
coisa amada. E quando (os amigos) se tornam uma só alma, entre eles já não
haverá segredo. Por isso dizia meu Filho: ‘Viverei e moraremos juntos.’ [3]” Portanto, no amor amizade, aquele que alcança esse
estado de graça, tem uma grande semelhança com os sentimentos de Cristo. Deseja
estar constantemente em comunhão e escuta com o Pai: “Filha querida, convence-te de que na oração
contínua, fiel e perseverante que todas as virtudes são adquiridas.”[4] Ou ainda, fazendo um paralelo entre a vida de
oração e o autoconhecimento: “Como é agradável ao orante e a mim, a prece
feita na cela do autoconhecimento.”[5]
Ademais, o Papa Bento XVI faz-nos lembrar do
místico e profundo relacionamento que Santa Catarina tinha com Jesus:
“Em uma visão que jamais se apagou do coração
e da mente de Catarina, Nosso Senhor apresentou-se e lhe deu um
esplêndido anel de ouro, dizendo: ‘Eu, teu Criador e Salvador, esposo-te na fé,
que conservarás sempre pura, até quando vieres celebrar comigo no céu as tuas
núpcias eternas’ (Raimundo de Cápua, S.
Caterina da Siena, Legenda maior, n. 115, Siena, 1998). Aquele anel foi
visível somente para ela.”[6]
Vale fazer a ressalva que, para Santa Catarina, a
graça de deparar-se de forma humilde com os nossos pecados só é eficaz se
estivermos com o olhar na paixão de Cristo, pois o erro ocorreria se formos
falseados por nossos sentimentos de autocondenação:“Se não forem acompanhados pelo pensamento da
paixão, o autoconhecimento e a reflexão sobre os próprios pecados, confundem a
alma.” [7] Esta Santa também soube equilibrar o seu
autoconhecimento a ponto de vivenciar tão grande humildade que, por muitas,
vezes saiu o demônio vergonhosamente humilhado diante da vida virtuosa de Santa
Catarina. “Maldita sejas tu, pois de nenhum modo
consigo vencer-te! Se te rebaixo ao desespero, tu te elevas à misericórdia; se
te engrandeço de vaidade, tu te rebaixas até o inferno pela humildade e aí me
persegues. Não voltarei mais; tu combates com a lança da caridade” [8], disse a
ela o demônio.
2) - Dom das Lágrimas
Percebemos o quanto estava aflorado no íntimo de
Santa Catarina a busca constante e intensa do autoconhecimento, e isto era
fruto da sua contínua e profunda vida de oração, já que quando nos aproximamos de
Deus, conhecemos a Ele e a nós mesmos. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de
cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de
cima, e não nas que são da terra; Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo,
que é a nossa vida, se manifestar, então também vós, vos manifestareis com ele
em glória...” (Col 3, 1-4). Ora, o amor sincero leva-nos a uma reta postura
diante de Deus e também dos homens. Ao deparar-nos com a nossa fraqueza e
miséria, numa graça particular de arrependimento de coração, chegamos ao choro.
As lágrimas, então, são os frutos externos de algo que acontece de forma
intensa e verdadeira no nosso interior, que é o desejo de mudança de vida.
Existem cinco tipos de lágrimas
que se diferenciam pelo estado em que a pessoa se encontra:
1)- No primeiro, ocorrem as lágrimas por estarmos
em estado mortal.
2)- No segundo, compreendemos os males dos nossos
pecados e há uma busca de conversão.
3)- No terceiro tipo, há uma superação do
temor servil e, em seguida, atingimos o amor e a esperança.
4)- O quarto tipo de lágrimas refere-se à prática
das virtudes.
5)- Já no quinto, o Senhor fala a Santa Catarina
das lágrimas de fogo do Espírito Santo:“Existe alguma lágrima que não saia dos
olhos? Sim, existe um pranto de fogo, procedente do desejo santo e que faz
consumar-se no amor por mim. (…) Ao que parece, foi quanto pretendia afirmar o
glorioso apóstolo Paulo, ao dizer que o Espírito Santo chora em mim ‘com
gemidos inenarráveis’ (Rm 8, 26), a vosso favor.”[9]
Por isso, não se pode queixar-se quem, por conta de
seu tempo de caminhada com Deus, não tem o dom das lágrimas simplesmente porque
não derrama as lágrimas que deseja. A Deus não interessa se nós derramamos
lágrimas externas ou lágrimas do espírito: “Em todo estado de vida e ocasião, tais
pessoas podem agradar-me. A menos que seu espírito se afaste de mim por falta
de fé e de amor.”[10]
3)- confiar-se a Providência Divina
Para Santa Catarina, o amor a Deus e o desejo de
conversão e santidade não ficavam parados apenas em um olhar em si mesma, mas
ela tinha um olhar voltado para a humanidade, para o padecimento do homem
diante da vida de pecado e engano. Santa Catarina olha para Deus, criador e
redentor, e o vê à frente da história do homem. Não que Ele seja causador ou
indiferente aos males do homem, mas ela vê Deus que intervém na história. A
isto chamamos de Providência Divina. Pela Providência Divina, foi criado o homem.
Este, no mau uso de sua liberdade, desobedece a Deus e peca, e todos os homens
herdam, a partir do pecado original, a concupiscência e a culpa. O que restaria
à humanidade? A separação eterna do homem de Deus. Mas Deus intervém,
providenciando a Encarnação, vida, paixão e morte de Cruz do seu Filho, para
que, em sua obediência, Ele salve e repare o pecado de toda a humanidade.
Santa Catarina relaciona a
Providência Divina como a verdadeira esperança do homem, como ensina Deus Pai:
“Também dei à humanidade o conforto de uma
esperança. Ao dar valor ao preço do sangue com que foi remido, o homem sente
uma firme esperança e grande certeza de salvação. Se é verdade que sempre me
ofende com todos os sentidos, também foi com o corpo inteiro que meu Filho
tolerou grandíssimos tormentos. Por sua obediência, ele cancelou vossa
desobediência. Ainda mais: de sua obediência recebestes a graça, da mesma forma
como da desobediência de Adão havíeis herdado a culpa.”[11]
Por último, é importante
ressaltar a relação entre a experiência pessoal e o amor e a providência de
Deus:
“A esperança humana é mais ou menos perfeita
conforme o amor da pessoa; será igualmente nessa medida que cada um terá a
experiência da minha providência.
Aqueles que me servem e só em mim confiam, experimentá-la-ão mais profundamente
do que as almas cuja esperança se fundamenta em interesses e compensações.”[12]
Peçamos a Deus, por intercessão de Santa Catarina
de Sena, a graça de termos Cristo como o Esposo de nossa fé, e, apaixonados e
servos da Igreja, sejamos atentos ao que o Espírito Santo deseja de nós como
discípulos e missionários de Cristo, servindo à Igreja e à humanidade.
REFERÊNCIAS:
[1] BENTO XVI. Catequese de Bento XVI sobre Santa
Catarina de Sena: 24 de Novembro de 2010. Disponível em:
http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=279012.
[2] SANTA CATARINA DE SENA. O Diálogo. Paulus. 1984. p. 33.
[3] Idem. p. 132.
[4] Idem. p. 139.
[5] Ibidem.
[6] BENTO XVI. Catequese de Bento XVI sobre Santa
Catarina de Sena: 24 de Novembro de 2010. Disponível em:
http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=279012.
[7] SANTA CATARINA DE SENA. O Diálogo. Paulus. 1984. p. 141.
[8] Idem. p. 142.
[9] Idem. p. 187.
[10] Ibidem.
[11] Idem. p. 305.
[12] Ibidem.
Por: Márcio André Barradas - Missionário da Comunidade Católica Shalom - Artigo originalmente publicado na Revista Shalom Maná.
ATENÇÃO! PROTESTANTES tiraram MAIS UMA "FRASE SANTA" DO CONTEXTO PARA SERVIR DE PRETEXTO CONTRA O
PAPADO,QUERENDO INDUZIR QUE SANTA CATARINA DEFENDIA A "OBEDIÊNCIA CEGA" AO PAPA!
Protestantes e inimigos da igreja, propositalmente, não levam em consideração o
significado relativo (não absoluto) das expressões. O contexto da citação da imagem é uma conhecida
carta de Santa Catarina de Sena a um nobre, quando ela diz:
“Ainda que ele fosse um demônio encarnado, jamais devo levantar a
cabeça contra ele..."
Santa Catarina de Sema apenas pede para que o nobre não cometa um assassinato ou
qualquer ato de crueldade contra o Papa, para que não caia na tentação de fazer “justiça com as
próprias mãos”, mas deixe que Deus faça a sua justiça. A santa lembra que o demônio
já usou a virtude da justiça, de forma equivocada, como pretexto demoníaco fomentando o desejo e planos de se fazer “justiça contra os
pastores maus”, sem autoridade para isso.
Eis o contexto, extraído da obra “Cartas Completas de Santa
Catarina de Sena, Carta 28”: Cesse a Guerra
contra o Papa, Para Bernabó Visconti, pág. 204”
“Ainda
que ele fosse um demônio encarnado, jamais devo levantar a cabeça contra ele.
Sempre devo humilhar-me e implorar misericórdia. É a única maneira de receber
ou participar dos frutos da redenção. Peço vos que nada façais contra o vosso
chefe. Não vos admireis se o demônio, como já o fez (no
passado), venha pôr uma coloração de virtude no desejo de fazer justiça contra
os pastores maus e culpados. Não acrediteis nele. Não façais justiça em
assuntos que não vos dizem respeito. Nosso Salvador não o quer. Ele afirma que
os pastores são seus ungidos (Sl 104,15). Deus não
quer que vós e qualquer outra pessoa façais justiça. Ele a fará. Assim
como não convém que um servo assuma a autoridade de juiz para exercer a justiça
contra um malfeitor. Seria uma atitude má, porque não compete a ele fazer tal
coisa.”
São Pedro também dizia
aos escravos que "obedecessem a seus senhores mesmo que fossem maus" (I Pedro 2,
18) mas, certamente, não queria dizer com isso que se deve obedecer às más
ordens dos maus senhores, nem a Igreja jamais orientou assim (caso contrário,
os mártires teriam oferecido sacrifícios aos deuses para obedecer ao
imperador). É descartado por qualquer Católico que estude a Sã doutrina e tenha um conhecimento mínimo de gramática e figuras de linguagem, concluir que Santa Catarina de Sena esteja a exigir uma obediência “absoluta” ao
Papa, como quis fazer a página de apologética protestante em referência, na imagem acima. Na verdade, a Igreja ensina que a absoluta obediência é devida somente a
Deus. A isto complementa-se com o que ensinou um outro santo da Igreja: São Bernardo de Claraval foi nomeado Doutor da Igreja em 1830 pelo Papa Pio VIII, no Breve Quod Unum:
"Aquele
que faz o mal sob o pretexto de obediência, faz antes um ato de rebeldia do que
de obediência. Faz uma inversão das coisas: deixa de obedecer a Deus para
obedecer aos homens."
.............................................
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