A polarização político-partidária e o acirramento de ânimos em voga hoje
no Brasil, afetam o debate sobre diversos problemas sociais, em que contrastam
visões mais progressistas ou conservadoras. Diante disso, as já acaloradas
discussões sobre a violência policial no país tendem a se intensificar. Em
virtude desse viés de crescimento, procuramos trazer alguns apontamentos
oriundos da Criminologia para questionar a efetividade dessas teses para a
segurança pública. Não nos debruçaremos sobre as questões de como a apologia da
ostensiva arbitrariedade policial ignora acordos supranacionais de direitos
humanos, de como faz troça dos direitos civis, de como encara cidadãos como
inimigos, de como reproduz e é alimentada pelas históricas desigualdades
sociais, étnicas e urbanísticas brasileiras, de como se aparenta com o
banditismo dos “esquadrões da morte” atuantes durante o período da contra
revolução Militar (1964-1985),que quer queiramos,ou não,deu resultados
positivos. Não nos centraremos em todos esses relevantes aspectos visto que, de
um lado, já são difundidos entre os críticos de plantão da violência policial.A
premissa do apoio à atuação extralegal é costumeiramente a alegada
incompatibilidade entre o firme respeito à lei e aos direitos humanos pelas
instituições policiais e uma garantia efetiva da segurança pública. Segundo o
criminólogo estadunidense David Bayley, a crença nesse suposto conflito advém
do ceticismo quanto aos trâmites do devido processo legal, o qual daria demasiadas
prerrogativas de defesa a suspeitos, seria moroso e prescreveria procedimentos
de difícil operação para o dia-a-dia policial.Quando se chega a esse ponto, é porque não se acredita mais que a
guerra possa ser vencida dentro das “regras do jogo”. Já não se confia em
instituições, em prisões, muito menos em ressocialização.E é ponto pacífico e consensual que a violência está
presente na realidade brasileira, seja nas grandes cidades, seja nos pequenos
municípios do interior. A criminalidade é enorme e o Brasil foi considerado o décimo primeiro país mais inseguro do
mundo, segundo a ONG norte-americana "Social Progress Alternative". Contudo,
a violência não ocorre apenas da parte dos bandidos. Recentemente o Instituto
Datafolha conduziu uma pesquisa que mostra que 57% da população das grandes
cidades brasileiras concordam com a frase "bandido bom é bandido
morto", o que revela que mais da metade dessa população, de certa forma,
aprova a violência por parte dos agentes da lei. O que você pensa disso? Concorda ou não com essa frase? Por quê? Comente,enriqueça
o debate, apresentando argumentos para justificar o seu ponto de vista,contra,ou
a favor.
ARGUMENTAÇÃO CONTRA:
Bandido bom é bandido morto?
Você sai de carro e
para em um sinal de trânsito. De repente, do nada, aparece aquele sujeito com
uma arma na mão. É você e ele, a
arma apontada para sua cabeça, e ele pedindo, exigindo algo, seu carro,
sua carteira. O momento é de terror,
porque você vê sua vida por um fio. Aquele sujeito, o assaltante, pode ou não
ter controle sobre seus atos, pode ser um principiante (sim, assaltantes
principiantes têm o gatilho mais leve, o risco é maior), e com certeza estará
tenso. Nessa ocasião, que podem
ser segundos ou minutos, mas para você parecerá uma eternidade, tudo o
que é construído socialmente terá influência, imperceptível na ocasião, mas
terá. Todo esse discurso de ódio,
de bandido bom é bandido morto,
se alastra pela sociedade, pelo consciente e inconsciente das
pessoas, e, espalhado pelo meio social, não tem corrente política, não encontra
limite apenas nas pessoas que se conceituam como pessoas de bem. Aquele sujeito com a arma na sua cabeça
também estará influenciado pelo bandido
bom é bandido morto, um dito tão vulgar e adaptável que, falando
rápido, só sobressai a palavra MORTO.E
não adianta o argumento de que com bandido morto teremos menos
bandidos. Aliás, difícil até para a polícia saber quem são todos os bandidos,
se apenas, nas expectativas mais otimistas, 8% dos crimes de homicídio, por
exemplo, chegam a ser levados à justiça.Não,
o mantra bandido bom é bandido
morto não diminui a quantidade de crimes,
mas, para além de difundir um pensamento que é criminoso por si só, acaba
espalhado pelo meio social, atingindo a todos com sua mensagem de morte e
intolerância, de abandono do estado de direito. Naquele momento
crucial da sua vida, em que você rezará para que o assaltante não puxe o
gatilho, porque o que está em jogo é apenas um bem material, naquele momento em
que você pedirá aos céus tranquilidade para o próprio assaltante, para que ele
não use de violência desnecessária para obter o que é comprável, recuperável, substituível, naquele momento estará lá todo o espectro
propagado pela frase bandido bom é bandido morto. Não vivemos
em uma sociedade saudável, com estabilidade econômica e justiça social, sabemos
disso, a insatisfação se dá em variados níveis. A palavra bandido, como se usa no
Brasil, acaba se encaixando em muitas situações (é o vizinho bandido, o
político bandido, o profissional bandido, incompetente e mal intencionado, o
motorista bandido, o marido ou a esposa bandidos etc), e ela estará lá, a frase
estará lá, pairando sobre a cabeça do assaltante e do assaltado.O tal bandido,
mesmo o bandido que assalta a mão armada, não é bandido vinte e quatro horas
por dia. Fora aqueles minutos do assalto, ele pode ser um pai, um
irmão, um filho...pode ter uma casa e morar em um bairro, pobre, mas um bairro
comum. Com certeza, o assaltante tem contato com a mídia social, televisiva,ouvida, escrita, e ouve constantemente o bandido bom é bandido morto.Os
próprios bandidos institucionalizados nas penitenciárias consideram uns
bandidos e outros não, porque a palavra bandido serve para cristalizar
o mal presente na sociedade em uma pessoa, possibilitando com que o sentimento
sobre o mal, identificado e direcionado, se alivie na imolação do outro.Resta torcer para não
ser assaltado. Contudo, nem as autoridades de segurança
pública têm mais ideia de quantos assaltos, furtos ou roubos, acontecem na
esquina da sua casa. Muitas pessoas sequer se dão ao trabalho de enfrentar a
burocracia de uma delegacia de polícia para narrar um furto a fim de sair de lá
com o seu precioso boletim de ocorrência.O mote bandido bom é bandido morto acaba sendo como uma espécie de
catarse, um grito irracional de desespero onde se deposita o descontentamento
com toda a injustiça social, com a criminalidade e a violência, mas não é, sem
dúvida, uma frase mágica.O bandido
bom é bandido morto não mete medo no criminoso, mas tem ocasionado
mais ódio, mais raiva, mais indiferença, podendo influenciar naquele momento
crucial em que a sua vida ou o seu relógio estão em jogo.
ARGUMENTAÇÃO
FAVORÁVEL:
“Bandido bom? É bandido morto!”
A
fala do título é do personagem Capitão Nascimento, no filme Tropa de Elite 2. É dita logo no início, depois da cena
da solução mortífera dada pelo Bope a uma revolta de presos, quando ele entra
num restaurante onde está o governador, esperando-o para demiti-lo por causa do
ocorrido. Os demais clientes, porém, começam a aplaudi-lo pelo feito. Corta para
a realidade: semana passada, em Curitiba, um assaltante foi morto por um
policial à paisana, quando tentava cometer um roubo na rua, à luz do dia.
Moradores dos edifícios em torno saíram para aplaudir o policial.Não, não é
mera coincidência. A arte espelha a vida e, algumas vezes, também a revela. Obras
como Cidade de Deus e os dois Tropa de Elite, tiveram sucesso imenso junto a
população, justamente por espelhar a realidade da nossa violência urbana e
insegurança pública, com vários personagens, falas e cenas
entrando para o imaginário coletivo brasileiro com tal impacto e valor que não
é exagero considerar terem fornecido símbolos verdadeiros à nossa cultura. Ou
seja, são eles quem dizem, interpretam e explicam mais e melhor nossa realidade
social que o contrário.Uma das coisas que nos revelam é o
contraste entre a população que aplaude policiais e boa parte da elite
intelectual encastelada em suas cátedras universitárias, fornecendo soluções
inviáveis para a realidade em que vivemos, ilustrada nas cenas da faculdade de
Direito, no primeiro Tropa de Elite,
e na aula do professor de História, no segundo.O
noticiário recente informou que chegamos aos mais de 60 mil homicídios por ano ;
somos o país campeão mundial no setor. É um atestado da existência de um estado
de guerra. Como se enfrenta uma guerra? Segundo essa elite pensante, investindo em
educação, não em repressão e punição a bandidos. Já estamos tão acostumados com
essa conversa que ninguém mais para pra pensar se isso faz sentido. Aceitamos
como se fosse uma verdade universal. Mas será? Guerra se enfrenta com educação?
Ou,
para existir educação, não é preciso, antes, haver um estado de ordem e
segurança social suficientes a permiti-la? Japão e Coreia do Sul,
sempre citados como exemplos de reconstrução pela educação, não se refizeram
durante a guerra, não é?Quem está descolado da realidade
e enfeitiçado por mantras como este, jamais entenderá por que, para o povo,
“bandido bom é bandido morto”. Quando se chega a isso é porque não se
acredita mais que a guerra possa ser vencida dentro das “regras do jogo”. É o
resultado de se viver com medo constante de tudo, sem ser protegido por nada, e nem ninguem! É a falência da segurança pública. Já não se confia em instituições, em prisões, muito menos em ressocialização.
Em Cidade de Deus, o povo pobre só
tem coragem de sair de casa para cumprimentar aquele que enfrentou sozinho os
traficantes.
O capitão Nascimento se tornou um herói para a imensa
maioria do público porque no filme a guerra é retratada pelo que ela é de fato,
sendo que ele teve a coragem de enfrentá-la não só contra bandidos de fora e
dentro do sistema, mas também, contra a hipocrisia de quem acredita que fazer
passeata pela paz, andar de branco, soltar pombinhos brancos e se desarmar, ajudaria a resolver o problema. Mas não
me entenda errado, parceiro! Sobre guerra, concordo com Karl Krauss:
Qual a solução ?
Como já dizia Santo
Ancelmo: "A verdade está sempre no meio". Portanto, a solução não virá dos
extremos,ou seja, nem totalmente dos progressistas, e nem dos conservadores,mas do equilíbrio destas duas
forças,atuando em unidade, e em conjunto:Repressão,combate a impunidade,penas
duras e eficazes, aliadas à ressocialização,cuidado e atenção às famílias,
crianças e adolescentes em situação de riscos sociais e morais,com uma política
de educação que favoreça o respeito a vida do outro, ao patrimônio público e
privado, enfatizando os direitos, mas também, os deveres de cada cidadão.
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Olá! Parabéns pelo conteúdo postado. Achei muito adequado principalmente a conclusão. É importante a sociedade entender que a violência imposta a bandidos não vai para a criminalidade. O que pode reduzi-la é a punição legal, para isso a lei precisa cumprir literalmente seu papel,o que enfraquece o crime é um sistema eficaz de ressocialização, oo qu pode enfraquecer a violência é uma nação que valorize a vida e respeite o próximo. Porém enquanto os representantes do país não contribuirem, tanto com ações necessárias, como com o exemplo pessoal, dificilmente teremos uma nação livre da violência.
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