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sábado, 13 de janeiro de 2018

Prós e contras ao argumento: “bandido bom é bandido morto?”




 

A polarização político-partidária e o acirramento de ânimos em voga hoje no Brasil, afetam o debate sobre diversos problemas sociais, em que contrastam visões mais progressistas ou conservadoras. Diante disso, as já acaloradas discussões sobre a violência policial no país tendem a se intensificar. Em virtude desse viés de crescimento, procuramos trazer alguns apontamentos oriundos da Criminologia para questionar a efetividade dessas teses para a segurança pública. Não nos debruçaremos sobre as questões de como a apologia da ostensiva arbitrariedade policial ignora acordos supranacionais de direitos humanos, de como faz troça dos direitos civis, de como encara cidadãos como inimigos, de como reproduz e é alimentada pelas históricas desigualdades sociais, étnicas e urbanísticas brasileiras, de como se aparenta com o banditismo dos “esquadrões da morte” atuantes durante o período da contra revolução Militar (1964-1985),que quer queiramos,ou não,deu resultados positivos. Não nos centraremos em todos esses relevantes aspectos visto que, de um lado, já são difundidos entre os críticos de plantão da violência policial.A premissa do apoio à atuação extralegal é costumeiramente a alegada incompatibilidade entre o firme respeito à lei e aos direitos humanos pelas instituições policiais e uma garantia efetiva da segurança pública. Segundo o criminólogo estadunidense David Bayley, a crença nesse suposto conflito advém do ceticismo quanto aos trâmites do devido processo legal, o qual daria demasiadas prerrogativas de defesa a suspeitos, seria moroso e prescreveria procedimentos de difícil operação para o dia-a-dia policial.Quando se chega a esse ponto, é porque não se acredita mais que a guerra possa ser vencida dentro das “regras do jogo”. Já não se confia em instituições, em prisões, muito menos em ressocialização.E é ponto pacífico e consensual que a violência está presente na realidade brasileira, seja nas grandes cidades, seja nos pequenos municípios do interior. A criminalidade é enorme e o Brasil foi considerado o décimo primeiro país mais inseguro do mundo, segundo a ONG norte-americana "Social Progress Alternative". Contudo, a violência não ocorre apenas da parte dos bandidos. Recentemente o Instituto Datafolha conduziu uma pesquisa que mostra que 57% da população das grandes cidades brasileiras concordam com a frase "bandido bom é bandido morto", o que revela que mais da metade dessa população, de certa forma, aprova a violência por parte dos agentes da lei. O que você pensa disso? Concorda ou não com essa frase? Por quê? Comente,enriqueça o debate, apresentando argumentos para justificar o seu ponto de vista,contra,ou a favor.



ARGUMENTAÇÃO CONTRA:

 













Bandido bom é bandido morto?





Você sai de carro e para em um sinal de trânsito. De repente, do nada, aparece aquele sujeito com uma arma na mão. É você e ele, a arma apontada para sua cabeça, e ele pedindo, exigindo algo, seu carro, sua carteira. O momento é de terror, porque você vê sua vida por um fio. Aquele sujeito, o assaltante, pode ou não ter controle sobre seus atos, pode ser um principiante (sim, assaltantes principiantes têm o gatilho mais leve, o risco é maior), e com certeza estará tenso. Nessa ocasião, que podem ser segundos ou minutos, mas para você parecerá uma eternidade, tudo o que é construído socialmente terá influência, imperceptível na ocasião, mas terá. Todo esse discurso de ódio, de bandido bom é bandido morto, se alastra pela sociedade, pelo consciente e inconsciente das pessoas, e, espalhado pelo meio social, não tem corrente política, não encontra limite apenas nas pessoas que se conceituam como pessoas de bem. Aquele sujeito com a arma na sua cabeça também estará influenciado pelo bandido bom é bandido morto, um dito tão vulgar e adaptável que, falando rápido, só sobressai a palavra MORTO.E não adianta o argumento de que com bandido morto teremos menos bandidos. Aliás, difícil até para a polícia saber quem são todos os bandidos, se apenas, nas expectativas mais otimistas, 8% dos crimes de homicídio, por exemplo, chegam a ser levados à justiça.Não, o mantra bandido bom é bandido morto não diminui a quantidade de crimes, mas, para além de difundir um pensamento que é criminoso por si só, acaba espalhado pelo meio social, atingindo a todos com sua mensagem de morte e intolerância, de abandono do estado de direito. Naquele momento crucial da sua vida, em que você rezará para que o assaltante não puxe o gatilho, porque o que está em jogo é apenas um bem material, naquele momento em que você pedirá aos céus tranquilidade para o próprio assaltante, para que ele não use de violência desnecessária para obter o que é comprável, recuperável, substituível, naquele momento estará lá todo o espectro propagado pela frase bandido bom é bandido morto. Não vivemos em uma sociedade saudável, com estabilidade econômica e justiça social, sabemos disso, a insatisfação se dá em variados níveis. A palavra bandido, como se usa no Brasil, acaba se encaixando em muitas situações (é o vizinho bandido, o político bandido, o profissional bandido, incompetente e mal intencionado, o motorista bandido, o marido ou a esposa bandidos etc), e ela estará lá, a frase estará lá, pairando sobre a cabeça do assaltante e do assaltado.O tal bandido, mesmo o bandido que assalta a mão armada, não é bandido vinte e quatro horas por dia. Fora aqueles minutos do assalto, ele pode ser um pai, um irmão, um filho...pode ter uma casa e morar em um bairro, pobre, mas um bairro comum. Com certeza, o assaltante tem contato com a mídia social, televisiva,ouvida, escrita,  e ouve constantemente o bandido bom é bandido morto.Os próprios bandidos institucionalizados nas penitenciárias consideram uns bandidos e outros não, porque a palavra bandido serve para cristalizar o mal presente na sociedade em uma pessoa, possibilitando com que o sentimento sobre o mal, identificado e direcionado, se alivie na imolação do outro.Resta torcer para não ser assaltado. Contudo, nem as autoridades de segurança pública têm mais ideia de quantos assaltos, furtos ou roubos, acontecem na esquina da sua casa. Muitas pessoas sequer se dão ao trabalho de enfrentar a burocracia de uma delegacia de polícia para narrar um furto a fim de sair de lá com o seu precioso boletim de ocorrência.O mote bandido bom é bandido morto acaba sendo como uma espécie de catarse, um grito irracional de desespero onde se deposita o descontentamento com toda a injustiça social, com a criminalidade e a violência, mas não é, sem dúvida, uma frase mágica.O bandido bom é bandido morto não mete medo no criminoso, mas tem ocasionado mais ódio, mais raiva, mais indiferença, podendo influenciar naquele momento crucial em que a sua vida ou o seu relógio estão em jogo.

ARGUMENTAÇÃO FAVORÁVEL:










“Bandido bom? É bandido morto!”




A fala do título é do personagem Capitão Nascimento, no filme Tropa de Elite 2. É dita logo no início, depois da cena da solução mortífera dada pelo Bope a uma revolta de presos, quando ele entra num restaurante onde está o governador, esperando-o para demiti-lo por causa do ocorrido. Os demais clientes, porém, começam a aplaudi-lo pelo feito. Corta para a realidade: semana passada, em Curitiba, um assaltante foi morto por um policial à paisana, quando tentava cometer um roubo na rua, à luz do dia. Moradores dos edifícios em torno saíram para aplaudir o policial.Não, não é mera coincidência. A arte espelha a vida e, algumas vezes, também a revela. Obras como Cidade de Deus e os dois Tropa de Elite, tiveram sucesso imenso junto a população, justamente por espelhar a realidade da nossa violência urbana e insegurança pública, com vários personagens, falas e cenas entrando para o imaginário coletivo brasileiro com tal impacto e valor que não é exagero considerar terem fornecido símbolos verdadeiros à nossa cultura. Ou seja, são eles quem dizem, interpretam e explicam mais e melhor nossa realidade social que o contrário.Uma das coisas que nos revelam é o contraste entre a população que aplaude policiais e boa parte da elite intelectual encastelada em suas cátedras universitárias, fornecendo soluções inviáveis para a realidade em que vivemos, ilustrada nas cenas da faculdade de Direito, no primeiro Tropa de Elite, e na aula do professor de História, no segundo.O noticiário recente informou que chegamos aos mais de 60 mil homicídios por ano ; somos o país campeão mundial no setor. É um atestado da existência de um estado de guerra. Como se enfrenta uma guerra? Segundo essa elite pensante, investindo em educação, não em repressão e punição a bandidos. Já estamos tão acostumados com essa conversa que ninguém mais para pra pensar se isso faz sentido. Aceitamos como se fosse uma verdade universal. Mas será? Guerra se enfrenta com educação? Ou, para existir educação, não é preciso, antes, haver um estado de ordem e segurança social suficientes a permiti-la? Japão e Coreia do Sul, sempre citados como exemplos de reconstrução pela educação, não se refizeram durante a guerra, não é?Quem está descolado da realidade e enfeitiçado por mantras como este, jamais entenderá por que, para o povo, “bandido bom é bandido morto”. Quando se chega a isso é porque não se acredita mais que a guerra possa ser vencida dentro das “regras do jogo”. É o resultado de se viver com medo constante de tudo, sem ser protegido por nada, e nem ninguem! É a falência da segurança pública. Já não se confia em instituições, em prisões, muito menos em ressocialização. Em Cidade de Deus, o povo pobre só tem coragem de sair de casa para cumprimentar aquele que enfrentou sozinho os traficantes. 














O capitão Nascimento se tornou um herói para a imensa maioria do público porque no filme a guerra é retratada pelo que ela é de fato, sendo que ele teve a coragem de enfrentá-la não só contra bandidos de fora e dentro do sistema, mas também, contra a hipocrisia de quem acredita que fazer passeata pela paz, andar de branco, soltar pombinhos brancos e se desarmar, ajudaria a resolver o problema. Mas não me entenda errado, parceiro! Sobre guerra, concordo com Karl Krauss:













Qual a solução ?






Como já dizia Santo Ancelmo: "A verdade está sempre no meio". Portanto, a solução não virá dos extremos,ou seja, nem totalmente dos progressistas, e nem dos conservadores,mas do equilíbrio destas duas forças,atuando em unidade, e em conjunto:Repressão,combate a impunidade,penas duras e eficazes, aliadas à ressocialização,cuidado e atenção às famílias, crianças e adolescentes em situação de riscos sociais e morais,com uma política de educação que favoreça o respeito a vida do outro, ao patrimônio público e privado, enfatizando os direitos, mas também, os deveres de cada cidadão.






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Um comentário:

  1. Olá! Parabéns pelo conteúdo postado. Achei muito adequado principalmente a conclusão. É importante a sociedade entender que a violência imposta a bandidos não vai para a criminalidade. O que pode reduzi-la é a punição legal, para isso a lei precisa cumprir literalmente seu papel,o que enfraquece o crime é um sistema eficaz de ressocialização, oo qu pode enfraquecer a violência é uma nação que valorize a vida e respeite o próximo. Porém enquanto os representantes do país não contribuirem, tanto com ações necessárias, como com o exemplo pessoal, dificilmente teremos uma nação livre da violência.

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