Não pretendo encerrar o assunto com esta reflexão. Quando
lia o livro de Yuval Noah Harari chamado "Sapiens", onde o autor escreve sobre a
evolução do ser humano ao longo dos tempos, a dada altura a questão da
sociedade patriarcal é discutida. A pergunta que continua a persistir no ramo
da antropologia é: “Por
que é que, talvez desde os primórdios da evolução do homo sapiens, sempre vivemos numa hierarquia e numa sociedade
patriarcal, e por que uma organização matriarcal não foi opção?”
A
opinião dos antropólogos e sociólogos segue em diversas vertentes:
1)-
Alguns julgam que a força muscular, geralmente maior nos homens, ditou esta
organização.
2)-
Outros acham que não foi tanto a força, mas a agressividade Cromossômica
hormonal da testosterona, coisa ausente na mulher, pois existem certas
realidades que são IMUTÁVEIS, tais como OS PARES DE CROMOSSOMOS. No indivíduo
masculino é X e Y, na mulher são dois pares XX. Isto é imutável, ou seja, ainda
que se mude a estética, é impossível mudar esta genética. O homem sempre teve,
de forma geral, um temperamento mais agressivo, o que poderá ter condicionado
de forma primitiva a organização social.
3)-
Outros antropólogos referem ainda um possível gene patriarcal, algo intrínseco
ao ser humano, que nos leva irremediavelmente a uma organização patriarcal.
4)-
Outros estudiosos atribuem a incidência masculina sobre o feminino a partir das
escrituras verotestamentárias, mas é importante ressaltar que, o Patriarcado
não foi moldado a partir das escrituras, pois elas só foram escritas
posteriormente milênios depois deste sistema já estar plenamente
instalado,portanto, esta perspectiva é de difícil sustentação e convencimento a
nível antroplógico e socioólogico.
5)-
Como conciliar na mulher a Gravidez e menstruação, com seres humanos em
constantes conflitos de Guerras tribais e o aperfeiçoamento de técnicas dos
Caçadores Coletores? Outra explicação de ordem biológica atribui menos
importância à força bruta e à violência, e sugere que, em milhões de anos de
evolução, homens e mulheres desenvolveram estratégias diferentes de
sobrevivência e de reprodução. Como os homens competiam entre si pela
oportunidade de engravidar mulheres férteis, a chance de reprodução de um
indivíduo dependia, acima de tudo, de sua capacidade de superar em desempenho e
derrotar outros homens. Com o decorrer do tempo, os genes masculinos que
conseguiam passar para a geração seguinte eram aqueles pertencentes aos homens
mais ambiciosos,agressivos e competitivos, e melhores caçadores coletores, pois
não menstruavam, e ter uma mulher como caçadora coletora, independente das
habilidades, colocava em risco o grupo de caça, caso a mulher estivesse
menstruada, o que iria atrair outros predadores felinos e caninos carnívoros
sobre este grupo com o cheiro de sangue, provocado pela menstruação, já que períodos
de caças às vezes eram prolongados.Ter um útero, ou não, segundo alguns
antropólogos, foi determinante para esta supremacia masculina sobre as
mulheres!
Uma
mulher, por outro lado, não tinha dificuldade em encontrar um homem disposto a
engravidá-la. No entanto, se quisesse que seus filhos lhe dessem netos,
precisava carregá-los no útero durante nove árduos meses e depois, ainda cuidar
deles durante anos de infância sob sua completa dependência. Durante esse
período, as mulheres tinham poucas oportunidades de obter comida e necessitava
de muita ajuda. Precisava de um homem para garantir sua própria sobrevivência e
a de seus filhos. Neste caso, a mulher não tinha muita escolha além de
concordar com todas e quaisquer condições que o homem estipulasse para ficar
por perto e dividir o fardo. Com o tempo, os genes femininos que chegaram à
geração seguinte pertenciam a mulheres de caráter cuidador e submisso. Mulheres
que passavam tempo excessivo em disputas por poder não deixaram nenhum desses
genes poderosos para as gerações futuras! O resultado dessas diferentes
estratégias de sobrevivência,segundo esta teoria, é que os homens foram
programados para serem ambiciosos e competitivos e se sobressaírem na política
e nos negócios, enquanto as mulheres tendiam a se recolherem e a dedicarem a
vida a apoiar a provisão do macho dominante e dos filhos.Mas
essa abordagem, apesar de plausível, também é passível negação, pela existência
de algumas evidências empíricas. Particularmente problemática é a suposição de
que a dependência, por parte das mulheres, de ajuda externa as tornou
dependentes única e exclusivamente dos homens, e por que não de outras
mulheres? e de que a competitividade masculina fez dos homens seres socialmente
dominantes, também carece de melhor fundamentos.
Três importantes revoluções definiram o curso da história:
1)- A Revolução Cognitiva deu início à história, há cerca de 70 mil anos.
2)- A Revolução Agrícola a acelerou, por volta de 12 mil anos atrás.
3)- A Revolução Científica, que começou há apenas 500 anos, pode muito bem colocar um fim à história e dar início a algo completamente diferente.
Essas três revoluções afetaram os seres humanos e os demais organismos. Muito antes de haver história, já havia seres humanos. Animais bastante similares aos humanos modernos surgiram por volta de 2,5 milhões de anos atrás. Mas, por incontáveis gerações, eles não se destacaram da miríade de outros organismos com os quais partilhavam seu habitat. Em um passeio pela África Oriental de 2 milhões de anos atrás, você poderia muito bem observar certas características humanas familiares: mães ansiosas acariciando seus bebês e bandos de crianças despreocupadas brincando na lama; jovens temperamentais rebelando-se contra as regras da sociedade e idosos cansados que só queriam ficar em paz; machos orgulhosos tentando impressionar as beldades locais e velhas matriarcas sábias que já tinham visto de tudo. Esses humanos arcaicos amavam, brincavam, formavam laços fortes de amizade e competiam por status e poder, mas os chimpanzés, os babuínos e os elefantes também. Na
realidade, não há um consenso, não há uma resposta clara que justifique o nosso
caminho de milénios que nos trouxe, enquanto seres humanos, até ao dia de hoje,
nesta organização social tal como a conhecemos. Estudar a História não nos vai
dizer qual a escolha certa, mas, pelo menos, dá-nos mais opções. Os movimentos
que procuram mudar o mundo começam muitas vezes por reescrever a História,
fazendo com que as pessoas imaginem um futuro diferente. Seja qual for o
objetivo, que os trabalhadores façam greve, que as mulheres conquistem o poder
sobre os seus corpos ou que as minorias oprimidas exijam direitos políticos,
(esquecendo dos deveres), o primeiro passo é reescrever a História de cada
grupo.
Essa nova história dirá que a situação atual não é natural nem eterna,
que as coisas nem sempre foram assim, que este mundo injusto foi criado por
nada mais que uma sucessão casual de acontecimentos, que se forem inteligentes
é possível mudarem o mundo e criarem outro muito melhor. É por essa razão que
os marxistas contam a sua própria história do capitalismo, e vice-versa, as
feministas estudam a origem das sociedades patriarcais e os afro-americanos
recordam os horrores do comércio escravagista. A sua intenção não é perpetuarem
o passado, mas libertarem-se dele!
A verdade quer gostemos ou não, é que o patriarcado tem sido a norma em quase todas as sociedades agrícolas, industriais, humanas e animais, por questão de sobrevivência! e não de convenções sociais!
Resistiu teimosamente a levantes políticos,
revoluções sociais e transformações econômicas. O Egito, por exemplo, foi
conquistado inúmeras vezes no decorrer dos séculos. Assírios, persas,
macedônios, romanos, árabes, mamelucos, turcos e britânicos o ocuparam, e sua
sociedade sempre permaneceu patriarcal. O Egito foi governado pela lei
faraônica, grega, romana, muçulmana, otomana e britânica, e todas discriminavam
pessoas que não eram consideradas “homens de verdade”. Como
o patriarcado é tão universal, não pode ser produto de algum círculo vicioso, e
que teve início por um acontecimento ao acaso. É particularmente digno de nota
que, mesmo antes de 1492, a maior parte das sociedades tanto das Américas
quanto da África e da Ásia eram patriarcais, embora não tenham tido contato com a civilização durante milhares de anos. Se o patriarcado na África e na Ásia resultou de
algum acontecimento fortuito, por que os astecas e incas eram patriarcais? Por
que sociedades indígenas que tem pouco contato com o mundo civilizado são
patriarcais? É muito mais provável que, embora o conceito preciso de “homem” e
“mulher” varie entre as culturas, exista alguma razão biológica universal para
quase todas as culturas valorizarem a masculinidade em detrimento da
feminilidade. Não sabemos qual é essa razão. Há muitas teorias, nenhuma delas
convincente.O
poder dos músculos A teoria mais comum aponta para o fato de que os homens são
mais fortes que as mulheres e utilizaram sua maior capacidade física para
obrigá-las a se submeterem. Uma versão mais sutil dessa afirmação sustenta que
sua força permite que eles monopolizem tarefas que demandam trabalho braçal,
como arar e colher. Isso lhes dá o controle da produção de alimentos, o que,
por sua vez, se traduz em influência política. Há dois problemas com essa
ênfase no poder dos músculos. Primeiro, a declaração de que “os homens são mais
fortes que as mulheres” é verdadeira apenas na média, e apenas se considerando
certos tipos de força. As mulheres geralmente são mais resistentes a fome,
doenças, a dor, e fadiga que os homens, mas será que apenas isto explica tudo?
O
que sabemos, no entanto, é que durante o último século os papéis sociais de
gênero passaram por uma revolução enorme. Hoje, cada vez mais sociedades não só
concedem a homens e mulheres status jurídico, direitos políticos e
oportunidades econômicas iguais, como também repensam por completo suas
concepções mais elementares de gênero e sexualidade. Embora as diferenças entre
os gêneros ainda sejam significativas, as coisas vêm avançando rapidamente. Em
1913, a ideia de conceder direito a voto às mulheres era vista, nos Estados
Unidos, como um absurdo ultrajante; a perspectiva de uma ministra ou juíza da
Suprema Corte era simplesmente ridícula; a homossexualidade era um assunto que
não se podia nem sequer ser tocado sem constrangimentos, hoje é discutido em várias
instâncias (legislativa, jurídica, sociológica e religiosa). Em 2015, o direito
a voto feminino é ponto pacífico; ministras dificilmente são motivo de
comentário; e cinco juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos, três deles
mulheres, decidiram a favor da legalização do casamento entre membros do mesmo
sexo (invalidando as objeções de quatro juízes homens).Essas
mudanças realmente drásticas, são precisamente o que torna a história do gênero
tão desconcertante. Se, como hoje se vem demonstrando de maneira tão clara, o
sistema patriarcal se baseou em mitos infundados e não em fatos biológicos, o
que explica a universalidade e a estabilidade desse sistema?
Continuemos
nossa jornada do conhecimento! Quaisquer novidades me avisem!
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