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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Como o Cristão pode “estar no mundo, sem ser do mundo?”








FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA:





-“Se o mundo vos odeia, sabei que, antes de vós, odiou a mim. Se fôsseis do mundo, ele vos amaria como se pertencêsseis a ele. Entretanto, não sois propriedade do mundo; mas Eu vos escolhi e vos libertei do mundo; por essa razão, o mundo vos odeia. Recordai-vos das palavras que Eu vos disse: ‘nenhum escravo é maior do que o seu senhor’. Se me perseguiram, também vos perseguirão. Se obedeceram à minha Palavra, igualmente obedecerão à vossa orientação. Contudo, o mundo vos tratará mal por causa do meu Nome, pois eles não conhecem Aquele que me enviou. Se Eu não tivesse vindo e falado ao mundo, eles não seriam culpados. Mas, agora, eles não têm qualquer desculpa pelos pecados que cometeram. (João 15,18-22).




-“Não amem o mundo nem o que nele há! Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo: a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens, não provém do Pai, mas do mundo.O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.(1 João 2,15-17)




-2 Timóteo 4,1-5 : “Eu te conjuro diante de Deus e de Cristo Jesus que há de julgar os vivos e os mortos, e pela sua vinda e pelo seu reino;prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, convence, repreende, exorta com toda a paciência e ensino.Pois virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas desejosos de ouvir coisas agradáveis, cercar-se-ão de mestres segundo os seus desejos,e desviarão os ouvidos da verdade e se aplicarão às fábulas.Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta os sofrimentos, faze a obra dum evangelista, desempenha bem o teu ministério.”





FUNDAMENTAÇÃO MAGISTERIAL:






DOC. DO VATICANO II - “APOSTOLICAM ACTUOSITATEM” Nº 6 (SOBRE O APOSTOLADO DOS LEIGOS):




“Aparecendo na nossa época novos problemas e grassando gravíssimos erros que ameaçam inverter profundamente a religião, a ordem moral e a própria sociedade humana, este S. Sínodo exorta de coração todos os leigos, conforme a capacidade intelectual e a formação de cada qual, que, segundo a mente da igreja, assumam mais conscienciosamente as suas responsabilidades no aprofundamento dos princípios cristãos, na sua defesa e na adequada aplicação dos mesmos aos problemas”.





O que é Evangelizar para a Igreja?






“Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, mas para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação.” (Evangelii Nuntiandi Nº 18-19. Papa Paulo VI).





Recentemente, falando aos membros das emissoras de televisão católicas da Itália, o Papa Francisco voltou a criticar o que chama de “clericalismo" [Discurso aos membros da associação “Corallo", 22 de março de 2014], isto é, limitar a ação dos leigos “às tarefas no seio da Igreja", ao invés de penetrar “[os] valores cristãos no mundo social, político e econômico" [Evangelii Gaudium, 102]. 





Na prática cotidiana, seria colocá-los em funções que deveriam ser exercidas ordinariamente pelos sacerdotes, o que terminaria por obscurecer, quando não por eliminar completamente, a distinção entre a hierarquia e os fiéis.Para evitar esse mal apontado pelo Santo Padre, nada mais importante que conhecer a identidade e a vocação dos leigos. 







Qual o papel que exercem dentro da Igreja? Ensina o Concílio Vaticano II:







“Por vocação própria, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e atividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência. São chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente, iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem o Criador e Redentor." [Lumen Gentium, 31]






A partir dessas palavras, é possível perceber a “vocação universal à santidade" na Igreja. Contrariamente a uma mentalidade de senso comum, não são apenas os clérigos, religiosos e leigos consagrados que devem ser santos, mas todos os fiéis batizados. O chamado à perfeição, à união com Cristo pelo amor, acontece primeiramente no Batismo. E, deste sacramento, todos podem (e devem) dar testemunho, inclusive os leigos, que estão no mundo, a fim de conquistarem mais almas para Cristo.







FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA:






“Começamos a perceber, com clareza, que Deus não queria somente uma lanchonete e uma livraria, mas muito mas que isto: Ele nos queria fazer seus soldados para irmos reconquistando, palmo a palmo, todos os espaços perdidos devido ao pecado. Assim, com sua graça e pela conversão dos corações, vamos reconquistando as almas e os espaços da sociedade para Jesus Cristo, para lá fincar  sua bandeira e transformá-lo em instrumento de louvor e serviço  ao Pai e de evangelização e formação de novos filhos de Deus. Comunitariamente, nos sentimos chamados  a invadir meios seculares e transformá-los em instrumentos de evangelização, louvor e serviço a Deus e a renovar os meios de apostolado, formando filhos de Deus maduros para que, onde estiverem, possam, concretamente, proclamar a glória de Deus com os seus lábios, atitudes, gestos, trabalhos, pensamentos e obras. Sentimo-nos como uma companhia que pesca e forma almas para Jesus  Cristo e as envia ao mundo para ai construírem o reino de Deus...” (Moyses Azevedo – Escritos Shalom 1984- N° 6-9)







QUAL O MAIOR DESAFIO DA IGREJA HOJE ?






“Certamente, a Igreja já fez, está fazendo muito no campo social, e precisará fazer mais ainda. Mas, é preciso que fique claro: não é essa a missão originária, "própria” da Igreja, como repete expressamente o Vaticano II (cf. GS 42,2; e ainda 40,2-3 e 45,1). A missão social é, antes, uma missão segunda, embora derivada, necessariamente, da primeira, que é de natureza "religiosa”. Essa lição nunca foi bem compreendida pelo pensamento laico. Foram os Iluministas que queriam reduzir a missão da Igreja à mera função social. Daí terem cometido o crime, inclusive cultural, de destruírem celebres mosteiros e proibido a existência de ordens religiosas, por acharem tudo isso coisa completamente inútil, mentalidade essa ainda forte na sociedade e até mesmo dentro da Igreja. Agora, se perguntamos: Qual é o maior desafio da Igreja?, Devemos responder: É o maior desafio do homem: o sentido de sua vida. Essa é uma questão que transcende tanto as sociedades como os tempos. É uma questão eterna, que, porém, hoje, nos pós-moderno, tornou-se, particularmente angustiante e generalizada. É, em primeiríssimo lugar, a essa questão, profundamente existencial e hoje caracterizadamente cultural, que a Igreja precisa responder, como, aliás, todas as religiões, pois são elas, a partir de sua essência, as "especialistas do sentido”. Quem não viu a gravidade desse desafio, ao mesmo tempo existencial e histórico, e insiste em ver na questão social "a grande questão”, está "desantenado” não só da teologia, mas também da história.”- ( Frei Clodovis M. Boff).













Antigamente, os padrões da Igreja e os da sociedade marcadamente modelada pela cultura e moral Cristã, eram em grande parte até compatíveis entre si, mas hoje há um grande abismo, que está se tornando cada vez maior. O Senhor Deus quer que permaneçamos fiéis a seus princípios e não encarnemos esta cultura mundana. Ao mesmo tempo, Ele espera que ao invés de sermos influenciados, exerçamos uma boa influência com os valores Cristãos naqueles que nos rodeiam.















O conceito de mundo precisa ser visto de duas maneiras:





1)- O mundo atual, a história que se vive atualmente, com suas forças de oposição a Deus.




2)- E o mundo que há de vir com o reinado de Deus, onde “a morte não existirá mais, e não haverá mais luto, depravação moral, nem gritos de angústia e nem dor, porque as coisas anteriores passaram”. (Ap. 21,4b).






Precisamos entender também a diferença entre ser e estar!

 



Ser é fazer parte, é comungar dos ideais, é impreguinar-se, possuir-se de uma realidade, é algo imutável. Estar é transitório, passageiro, diz de conviver; quem faz parte hoje, pode amanhã já não fazer mais. Portanto, estamos no mundo, usufruímos de suas riquezas,e de tudo que Deus criou,mas tudo que há nele passa.Deste mundo não somos! Somos do mundo novo, onde Deus é tudo em todos. 






São Paulo já nos exorta em: I Cor 15,19:





“Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima”.






Então, diante disso, concluímos que, "não tem como não estar" neste mundo!






O que precisamos é tomar consciência de que não somos deste mundo; somos do mundo vindouro, onde não há falsidades, falcatruas, crimes, mentiras, depravação, morte e dor, e já devemos trabalhar neste mundo a antecipação do vindouro. 




Neste mundo que vivemos, cabe a nós estando nele, mirar no horizonte da fé e vislumbrar o mundo que há de vir, onde a paz tão sonhada chegará.Estejamos neste mundo sem ser dele, sem ser tragado pelos males que ele trás muitas vezes pelas mídias ou pelos acontecimentos, pois “a figura deste mundo passa!” (1cor 7,31).






Os fiéis estão “no mundo". Bem antes do Concílio Vaticano II, foi o próprio Jesus quem o observou. Mas, se “eles estão ainda no mundo", também, assim como Ele, “não são do mundo" [Jo 17, 11-14].







Como se dá isso? Não nasceram os homens,e também os cristãos, de pais e mães desta terra? Como entender, então, que não sejam “do mundo"?





É simples: o verdadeiro nascimento do cristão acontece no Batismo. É este sacramento que o torna “de outro mundo", como diz Jesus a Nicodemos: “Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus" [Jo 3, 3-5].






Santos do ordinário, de calças Jeans. Nascidos do alto, pelo batismo, mas colocados “no mundo", os cristãos são chamados à imitação de Cristo, no meio dos homens. Não é possível, em uma atitude de escapismo, “fugir" do mundo ou da realidade de sofrimento que aflige o homem neste “vale de lágrimas". Nem foi isso que Cristo pediu. Ainda em sua oração sacerdotal, Ele roga ao Pai: “Não peço que os tires do mundo, mas sim que os preserves do mal" [Jo 17, 15]. Este “mal", define-o Santa Teresa assim:






“Nesta vida, só o pecado merece ser chamado de mal, por acarretar males eternos e para sempre. Isso (...) é o que nos deve encher de temor e o que havemos de pedir a Deus em nossas orações" [Castelo Interior, Primeiras Moradas, 2, 5].




Cristo passou a maior parte de sua vida humana no ofício de carpinteiro, na presença de seu pai e de sua mãe, aparentemente “oculto", mas já oferecendo a Sua oblação de coração, que culminaria na Cruz. O próprio Senhor de todo o universo, que lançou sobre Adão e Eva este castigo por seu pecado, veio tirar da terra o seu sustento, com trabalhos penosos [Cf. Gn 3, 17]. Há dúvida de que, já aqui, ele tomava sobre Si as nossas enfermidades e carregava os nossos sofrimentos [Cf. Is 53, 4]? E, se a santidade consiste em seguir o exemplo de Cristo, há dúvida de que é na vida oculta das atividades penosas que devemos nos santificar?






São Josemaría Escrivá, em sua famosa homilia “Amar o mundo apaixonadamente", dizia que “Deus nos espera cada dia" nas “tarefas civis, materiais, seculares da vida humana". E salientava:“Há algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir" [Questões atuais do Cristianismo, 114].





O grande segredo para descobrir Deus no trabalho está na atitude interior de quem labuta. Qualquer serviço pode converter-se em sacrifício, se feito com o espírito de Cristo. Como ensina São João XXIII:





“Todo o trabalho e todas as atividades, mesmo as de caráter temporal, que se exercem em união com Jesus, divino Redentor, se tornam um prolongamento do trabalho de Jesus e dele recebem virtude redentora: 'Aquele que permanece em mim e eu nele, produz muito fruto' (Jo 15, 5)." [Mater et Magistra, 257]






A CARTA A DIOGNETO, É O TESTEMUNHO CONCRETO DE ESTARMOS NO MUNDO SEM SERMOS DO MUNDO














Esta Carta é um dos mais antigos documentos que conta a vida dos primeiros cristãos; é de um autor desconhecido, que escreveu a Diogneto; é do século II. Em seguida, temos um trecho da Carta:






Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto a quem é devido; a taxa a quem é devida; a reverência a quem é devida; a honra a quem é devida [Rom 13,7].





Os cristãos residem em sua própria pátria, mas como residentes estrangeiros. Cumprem todos os seus deveres de cidadãos e suportam todas as suas obrigações, mas de tudo desprendidos, como estrangeiros… Obedecem as leis estabelecidas, e sua maneira de viver vai muito além das leis… Tão nobre é o posto que lhes foi por Deus outorgado, que não lhes é permitido desertar.Os cristãos não diferem dos demais homens pela terra, pela língua, ou pelos costumes. Não habitam cidades próprias, não se distinguem por idiomas estranhos, não levam vida extraordinária. Além disso, sua doutrina não encontraram em pensamento ou cogitação de homens desorientados. Também não patrocinam, como fazem alguns, dogmas humanos…Qualquer terra estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha. Tem a mesa em comum, não o leito. Vivendo na carne, não vivem segundo a carne. Na terra vivem, participando da cidadania do céu. Obedecem às leis, mas as ultrapassam em sua vida. Amam a todos, sendo por todos perseguidos… E quando entregues à morte, recebem a vida. Na pobreza, enriquecem a muitos; desprovido de tudo, sobram-lhes os bens. São desprezados, mas no meio das desonras, sentem-se glorificados. Difamados, mas justo; ultrajados, mas benditos, injuriados prestam honra.Fazendo o bem são punidos como malfeitores; castigados, rejubilam-se como revificados. Os judeus hostilizam-nos como alienígenas; os gregos os perseguem, mas nenhum de seus inimigos pode dizer a causa de seu ódio. Para resumir, numa palavra, o que é a alma no corpo, são os cristãos no mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma, assim os cristãos, por todas as cidades do universo…”






CONCLUSÃO:












Que as batalhas travadas de acordo com nossas condições de vida, das quais não podemos fugir, nos façam frutificar e nos tornem, em nossas ocupações, verdadeiros “ministros de Cristo". Sem confundir a vocação laical com o ministério ordenado, mas comprometendo radicalmente a nossa vida, como diz Santo Agostinho:






“Ó irmãos, quando ouvis o Senhor dizer: 'Onde estou eu aí estará também o meu ministro', não deveis pensar somente nos bons bispos e nos bons clérigos. Também vós, a vosso modo, deveis ser ministros de Cristo, vivendo bem, fazendo esmolas, pregando o seu nome e a sua doutrina a quem puderdes, de modo que cada qual, mesmo se pai de família, reconheça dever, também por esse título, um afeto paterno à sua família. Por Cristo e pela vida eterna, ninguém deixe de exortar os seus, e os instrua, exorte, repreenda, demonstrando-lhes sempre benevolência e mantendo-os na ordem; exercerá assim em casa o ofício de clérigo e, de certo modo, o de bispo, servindo Cristo, para com ele permanecer eternamente." [Santo Agostinho, Sobre o Evangelho de São João, t. 51, n. 13. Apud Summi Pontificatus, 62]







“Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”






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