Ao
falar com sua Madre Priora sobre seu “pequeno caminho” para a santidade
Teresinha diz:
“Minha Madre, o caminho que desejo trilhar é
o caminho da confiança e do total abandono” (HA 12).
E ao apresentar este caminho ela nos convida a
sermos crianças, ou seja, como as crianças esperam tudo de seus pais e nada
podem por si mesmas, assim também devemos esperar tudo do Pai do céu.
“Quanto
a mim, diz Teresinha numa carta, acho a
perfeição fácil de praticar, porque entendi que é só pegar Jesus pelo Coração…
Veja uma criancinha que acaba de aborrecer a sua mãe, zangando-se ou
desobedecendo-lhe; se ela se esconder num canto com ar amuado e gritar por medo
do castigo, certamente, a mãe não lhe perdoará a falta; mas se lhe estende os seus bracinhos sorrindo e dizendo: ‘dê-me um
beijo, não o farei mais’, poderá a mãe não apertá-la ao seu coração com ternura
e esquecer as faltas infantis?… Todavia ela bem sabe que seu querido filho
recairá na próxima ocasião, mas isso não importa, se ele a prende de novo pelo
coração, jamais será castigado…” (Carta 191).
A espiritualidade da infância espiritual está
inerente à vida de Santa Teresinha. Quando se pensa na santa, instintivamente
se pensa no ser criança diante de Deus. E esta espiritualidade tem como
característica básica sua devoção ao Menino Jesus. Esta devoção não foi apenas
mais uma devoção na vida da carmelita de Lisieux, mas tem uma importância
especial, pois traduz e aprofunda sua “pequena via”, onde a humildade, a pureza
e a simplicidade da criança são elementos essenciais.
O brinquedinho
do Menino Jesus!
Ao entrar no Carmelo Santa Teresinha recebeu a
incumbência de ornar com flores uma imagem do Menino Jesus e ficava feliz
quando recebia flores para este fim, dizendo que era Ele, o Menino Jesus, quem
pagava suas dívidas. Já doente Teresinha oferecia as uvas e o vinho ao Menino
Jesus e gostava de acariciar a sua imagem. Não há dúvida que a infância de
Jesus acompanhou Teresinha toda a sua vida, ainda que ela sempre a unisse à
paixão do Senhor, daí o significado profundo de seu nome “do Menino Jesus e da
Sagrada Face”.
Mas para mim uma das maiores provas da
maturidade humano-espiritual de Teresinha foi o fato de ter-se oferecido para
ser o “brinquedinho do Menino Jesus.” À primeira vista pode parecer uma atitude
infantil e sem sentido, porém, se pensamos no que significa isto na prática
vemos que ultrapassa em muito o infantilismo e nos lança numa verdadeira prova
de fé.
Diz a Santa:
“Havia algum tempo oferecera-me ao Menino Jesus para ser seu
brinquedinho. Tinha-lhe dito para não me usar como brinquedo caro que as
crianças só podem olhar sem ousar tocar, mas como uma bola sem valor que podia
jogar no chão, dar pontapés, furar, largar num cantinho ou apertar contra seu
coração conforme achasse melhor; numa palavra, queria divertir o Menino Jesus,
agradar-lhe, queria entregar-me a suas manhas de criança… Ele aceitou minha
oferta…
Em Roma, Jesus ‘furou’ seu brinquedinho.
"Queria ver o que havia dentro
e, depois de ver, contente com sua descoberta, deixou cair sua pequena bola e
adormeceu… Que fez durante o sono e que foi feito da bola deixada de lado?…
Jesus sonhou que continuava brincando com sua bola, deixando-a e retomando-a, e
que, depois de deixá-la rolar muito longe, a apertou no seu coração, não
permitindo mais que se afastasse de sua mãozinha… Compreendeis, querida Madre,
quanto a pequena bola ficou triste ao ver-se largada… Mas eu não deixava de
esperar contra toda a esperança.”(MA 64f)
Quantas vezes nos vemos num túnel escuro sem ver
onde termina e sem uma fresta de luz, ou ainda vemos nossa vida se tornar um
labirinto de problemas aparentemente sem solução, ou mesmo sentimo-nos
mergulhados num mar de solidão e desânimo! Pensemos que este brinquedo está sendo
“furado” para se ver o que tem dentro, está sendo aparentemente esquecido por
um tempo, mas que tudo isto é sinal de que é um brinquedo amado e desejado pelo
Menino Jesus. Ele joga com suas bolinhas como quer porque sabe que elas
não são frágeis brinquedos de enfeite, mas possuem a força da fé suficiente
para resistir e continuar sendo Dele.
CONCLUSÃO
Para nós hoje, o amor e devoção ao Menino Jesus não
devem se basear apenas nos sentimentos. Os sentimentos são belos, necessários e
nos estimulam, mas precisamos transformá-los em ações concretas. Amar o Menino
Jesus é procurar em primeiro lugar imitá-lo em seu despojamento, simplicidade,
confiança no Pai, em sua bondade e seu amor. Foi só por amor que Ele se
encarnou e veio morar entre nós. Amá-lo é também procurar vê Sua imagem em toda
pessoa pequena, pobre, sofredora, necessitada de nossa ajuda e nosso amor. Santa Teresinha não só amava seu Menino Jesus, mas
quis ser toda Dele e deixar-se brincar por Ele.
"Santa Teresinha do Menino Jesus, rogai por nós !!!"
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