“Enquanto os homens procurarem a sua paz e a sua
salvação em si próprios; enquanto acharem que podem resolver os problemas do
mundo por si mesmos; enquanto pensarem que podem instalar uma paz social e
política e assim trazer a felicidade geral ao mundo, sem a conversão dos
corações a Jesus; sem conhecê-lo como a solução, a salvação para todo o homem e
para a humanidade, longe eles estarão da paz, do Shalom que Deus quer instaurar
na face da terra” (RVSh, 357). E isso torna-se cada vez mais claro no mundo de
hoje, basta olharmos ao nosso redor.“É aí que se manifesta o desígnio de Deus para a nossa vocação. Em
um mundo marcado pelo pecado, ‘que errou bastante acerca do conhecimento de
Deus, onde reinam tantos males, o ocultismo, a não conservação da pureza nem na
vida nem no matrimônio, a impureza, o adultério, sangue, crime, roubo, fraude,
corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio, perseguição dos bons, esquecimento
da gratidão, impureza das almas, inversão sexual, desordens no casamento,
despudor e etc, e ainda se diz em paz’ (Sb 14,22-26); o Senhor nos chama a
sermos anunciadores da sua paz (Is 52), a vivermos e proclamarmos a sua
Paz. A levarmos com a nossa vida, com a nossa palavra e com o nosso
testemunho, o Shalom de Deus aos corações; a sermos instrumentos de
reconciliação do mundo com Deus; a anunciarmos com todo o nosso coração, com
todas as nossas forças a salvação de Jesus Cristo e o seu Evangelho” (RVSh,
359).“Como Cristãos,a melhor obra de
promoção humana que podemos prestar a humanidade que sofre, é oferecer Jesus
Cristo, que quando aceito e assumido,restaura toda dignidade humana perdida e
ofuscada pelo pecado...” (João Paulo II).
Vivemos a era do
desenvolvimento científico e dos avanços tecnológicos.No entanto, embora a
satisfação e o conforto que os avanços proporcionam para a vida material, não
conseguem preencher o vazio da alma.O homem aspira qualquer coisa de superior,
sonha com melhores instituições, deseja a vida, a felicidade, a igualdade, a
justiça para todos.
Mas, como atingir tudo
isso com os vícios da sociedade e, sobretudo, com o egoísmo imperando?
O homem sente a
necessidade do bem para ser feliz e compreende que só o bem pode lhe dar a
felicidade pela qual aspira.
Mas, como ocorrerá
isso?
Ora, se o reino do
bem é incompatível com o egoísmo, é preciso que o egoísmo seja destruído.
Mas, o que pode
destruí-lo?
A predominância do
sentimento do amor, que leva os homens a se tratarem como irmãos e não como
inimigos. A caridade desinteressada, sem esperar recompensas é a base, a pedra
angular de todo edifício social. Sem ela o homem construirá sobre a areia.
Mas como exemplificar
o bem num meio corrompido pela maldade, a violência, a corrupção?
Está nos desígnios de
Deus que, por seus próprios excessos, as más paixões se destruam. O excesso de
um mal é sempre o sinal de que está a chegar ao seu fim, pois onde prolifera o
pecado superambunda a graça de Deus.No entanto, sem a caridade o homem constrói
sobre a areia. Um exemplo torna isso compreensível. Alguns homens bem
intencionados, tocados pelos sofrimentos de uma parte de seus semelhantes,
supuseram encontrar o remédio para o mal em certas doutrinas de reforma social.
Vida comunitária, por
ser a menos custosa; comunidade de bens para que todos tenham a sua parte; nada
de riquezas, mas, também, nada de miséria.O fato é que os autores, fundadores
ou promotores de todos esses sistemas, sem exceção, não visaram senão a
organização da vida material de uma maneira proveitosa a todos, porém de forma
materialista. A finalidade é louvável, indiscutivelmente. Resta saber se, nesse
edifício, não falta a base que, só ela, poderia consolidá-lo, admitindo-se que
fosse praticável. A vida comunitária é a abnegação mais completa da
personalidade.Um sistema que, por sua natureza, requer para sua
estabilidade virtudes morais no mais supremo grau, haveria que ter seu ponto de
partida no elemento existencial e humanista, pois ele não o leva absolutamente
em conta, já que o lado material é a sua finalidade exclusiva, o homem como
mera ferramenta do sistema, ou seja: O homem feito para servir ao Estado, e não o
estado a serviço do homem.
Enfeitam com nomes simbólicos de: Igualdade,fraternidade e solidariedade
mas a fraternidade, assim como a caridade, não se impõe nem se decreta, é algo
que existe no coração e não será um sistema que a fará nascer.Ao mesmo tempo em
que isto ocorre, o defeito antagônico à fraternidade arruinará o sistema e o
fará cair na anarquia, e totalitarismos,já que cada pessoa quererá tirar para
si a melhor parte, isto é inerente a condição humana ferida pelo Pecado
Original.A experiência aí está, diante de nossos olhos, para provar que eles
não extinguem nem as ambições nem a cobiça humana com estes sistemas.Pois os
homens podem fundar Comunas e Gulaks sob o regime da Igualdade tentando fugir
ao egoísmo que os esmaga, mas o egoísmo seguirá com eles como vermes roedores.E
lá, onde se acham, haverá exploradores e explorados,sob outro regime de poder,
pois mudam-se as coleiras, mas o cachorros continuam os mesmos. As pessoas
querem liberdade, justiça, amor e paz, mas isto sem a verdade, torna-se ilusão
e pura alienação.
Por todas essas
razões é que nunca haverá reforma social que se sustente em sistemas que não
levem em conta a dimensão humano-existencial e espiritual, pois somos corpo e
alma espiritual.É incontestável que antes de fazer a coisa para os homens, é
preciso formar os homens para a coisa, como se formam obreiros, antes de lhes
confiar um trabalho, e que eles queiram livremente, e não por imposição.Lembremo-nos:
Cristão não mata, mas da a vida como fez Cristo.Ao falarmos em termos
de pobreza principalmente em países subdesenvolvidos, costumamos atrelar a
pobreza à urgência no atendimento às necessidades básicas de sobrevivência, ou
seja a pobreza social, ou material, fruto do egoísmo e da má distribuição de
bens, renda e oportunidades de crescimento. Mas existem outras pobrezas tão
graves quanto à pobreza social, que são as pobrezas de ordem moral e
existencial, que também causam muitos males a quem sofre pessoalmente deste
mal, bem como toda sociedade,pois tratar uma delas apenas, sem levar em
consideração as demais, é ilusória a solução.As causas são várias, tentaremos
sem grandes pretensões fazer a abordagem do tema neste espaço esperando outras
contribuições a quem interessar-se, pois não temos a pretensão nem capacidade
para encerrar aqui a amplitude deste tema.
“Tem rico que é tão
pobre, que a única coisa que tem é dinheiro”(D.Helder Cãmara).
A POBREZA SOCIAL
Um dos problemas que
mais deixam o homem perturbado é a pobreza. Nada mais desesperador do que não
ter o que comer, do que não ter água para beber. Atualmente milhões de pessoas,
em muitas partes do mundo, passam fome, vivem o desespero da falta de condições
básica de existência. Esses milhões de serem humanos vivem em algum tipo de
periferia, seja a periferia urbana ou rural. Bem ou mal, a periferia física
sempre aparece na mídia, nas políticas do Estado, nos discursos políticos e em
outras manifestações da sociedade.No pobre não há só morte, carência,
encontramos humanidade, pelo facto de ser pobre. A história de Jesus é a de um
judeu marginal, para quem o pobre é representante da pessoa autêntica:
homem/mulher novo/as com os que quer descobrir o Reino.A pobreza, abrangendo
quatro mil milhões de humanos, deve ser eliminada, enquanto causa de destruição
de pessoas. No entanto, ela imprime um modo de ser humano.
Existem dois conceitos vulgarizados de pobre:
1º)-O europeu,
tradicional, clássico.
2º)- O recente,
latino-americano.
Para a Teoria
Clássica o conceito de pobre tem uma conotação moral, pois identifica pobreza e
mal: é mau ser pobre. Neste sentido, as causas da pobreza podem ser de quatro
ordens:
1. O destino. Assim sendo, ser pobre identifica-se com
algo mau. Por isso tem que se acabar com esse estado. Para tal, nascem todas as
actividades de solidariedade assistencialista: A beneficência.
2. A má vontade dos ricos. Se a causa da
pobreza se coloca nos ricos, será essencial tratar de os converter: Se apenas
aproximadadmente 400 pessoas são detentoras de todos os bens do mundo.Daqui
surge a Doutrina Social da Igreja e os Programas para o Desenvolvimento da ONU.
A causa está nos pobres que são preguiçosos e parasitas.(Marx dizia que toda
sociedade tem que carregar seus párias).Se esta é a causa, então, importa
EDUCAR, promover,motivar, de modo que os pobres saiam da pobreza.
A causa é estrutural, e cultural: isto é, se o sistema
social gera os empobrecidos, importa capacitar os pobres para substituírem as
estruturas: acabar com a pobreza, nem que seja à força das armas, como
sustentam algumas ideologias.
Quais as
consequências deste modo de ver a pobreza?
Não se valoriza a
condição de pobre. Ora, há que separar e dignificar os conceitos de pessoa e
pobre. Surgem, assim as quatro vertentes de valorização:
1)- VALORIZAÇÃO HUMANISTA: afirma a existência
da pessoa com a característica de ser pobre. O ser pessoa é a marca
fundamental: -"pobre, mas honrado!" Neste caso não é reconhecida a
dignidade, de si inquestionável, quando a pessoa é rica.
2)- VALORIZAÇÃO RELIGIOSA: aconselha reconhecer
a Deus na pessoa do pobre. O mesmo é dizer que, enquanto pobre se carece de
valor. Visto que Deus se fez pobre, há que reconhecer e amar os pobres por amor
a Deus, não por amor aos pobres.
3)- VALORIZAÇÃO TEOLÓGICA: foi a tentativa de
Puebla, já que Jesus se fez pobre... Porém, neste caso, também a questão
antropológica fica oculta.
4)- VALORIZAÇÃO POLÍTICA: originou movimentos
sociais, que se colocaram ao lado dos pobres, na medida em que os pobres
engrossavam e davam força à política e não porque os pobres valem por si
mesmos.
Para a concepção
latino-americana, ser pobre é um dado existencial, aceitando-se a carência como
modo peculiar de olhar a vida. À partida, nem é bom nem mau ser pobre. Emerge
um conceito novo, que produz uma cosmovisão específica:
“Por que é que Deus
escolheu os pobres? Porque se fez pobre? A proclamação de Jesus "felizes
os pobres" é convite a fazer-nos pobres e a ter um novo olhar que não
desclassifica, mas contribui para que o pobre seja sujeito do próprio destino,
mantendo a identidade de pobre. Esta a reflexão dos bispos americanos com o
grito de opção pelos pobres, como modo de viver o cristianismo encarnado, assim
como numa família que se opta preferencialmente (Não exclusivamente) pelo
doente, ou mais frágil.
É certo que a
consciência das carências poderá conduzir à destruição, isto é, à realização de
atos que destroem a dignidade da pessoa, mas a pobreza não se identifica com
essa deterioração. Este sentido de pobre não se identifica com as carências, nem
com a destruição, pois é de tipo existencial e cultural. Mais: atualmente, o
conceito de pobre tem em conta a vivência dessas carências, pois elas
determinam uma cosmovisão específica, inseparável dessas carências: aí o seu
valor e possibilidade.
A pobreza como efeito
das carências, é, pois, uma condição existencial. Mas, o que significam no
pobre essas carências?
A mudança de
perspectiva tem consequências: antropologicamente, a imagem do pobre torna-se
positiva. Como aproximar-se do pobre, identificando a cosmovisão que o
caracteriza?Assumir essa atitude acarreta uma tarefa: comprometer-se em
libertar o pobre daquilo que o pode destruir, devido às carências.
Ninguém pode libertar
o pobre - Só ele a si mesmo:
Porque a pobreza
deve-se aos efeitos da carência. Estamos perante uma imagem positiva de pobre,
que se torna tarefa de libertar-se da degradação física e existencial.Ser pobre
torna-se missão: assumir os seus valores e lutar contra a própria destruição. A
globalização ameaça esta cosmovisão. Só quando o pobre acredita no seu próprio
potencial, opta pelo outro pobre. Trabalhar com os pobres tem de tender a que
eles vivam os valores da sua classe, lutando contra a própria destruição. E
isto faz-se em comunidade: ECONOMIA SOLIDÁRIA é grupo que partilha.
As ajudas materiais
assistencialistas geralmente os aprisionam mais ainda:
"Ninguém se
educa sozinho e ninguém educa ninguém, educamo-nos uns com os outros"
(Platão).
Criam-se, então novas
atitudes no trabalho com o pobre:
1)-Dar prioridade à
relação interpessoal, baseada no profundo respeito quase venerável.
2)- Primeiro atender
às necessidades básicas: a vida em primeiro lugar (Quais os sacramentos da vida
da vida para o pobre? E não aquilo que quero impor a eles ?Como relacionar-nos
com eles?).
3)- Distinguir entre
dar e partilhar, assistir e ajudar.
Enquanto no
capitalismo, o pobre tem que ter para valer, no caso atual, porque vale por que
tem e pelo que e pelo que produs,tem que
ter o necessário, bem como produzir o mínimo necessário.Este conceito de pobre
dá-nos a chave de entendimento do rico e integra todas as formas de pobreza. É
valorizado como pessoa pobre (não porque pessoa).Existem milhões de excluídos.
Incorporar os pobres nas nossas categorias do pensamento. É torná-los OUTROS
que nos interpelam.
Antes da Revolução
Francesa em 1789, a pobreza era assunto da Igreja e não do Estado. Havia uma
valoração inversa da que se tem hoje. A pobreza era cultuada e a riqueza
demonizada. Em que pese a demonização da riqueza, era tarefa da Igreja e
cristãos ricos dar assistência social aos pobres. A situação era tratada no
campo da caridade, da esmola. Os pobres, contudo, não tinham imunidade
tributária, ou seja, também pagavam impostos.
Se observarmos nossa
Constituição de 1988, logo no início, no art. 3º, III, existe uma determinação
de que constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil
“erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais”. Tudo que é possível de ser feito, portanto, que vise diretamente
atingir esse desiderato é legitimado pela nossa Constituição. Nossa
Constituição, pois, não quer a existência de pessoas vivendo sem o mínimo
existencial, ou seja, em estado de extrema pobreza.
O MÍNIMO EXISTENCIAL:
O art. 7º, IV, que
trata da proteção aos trabalhadores, nos dá uma indicação do que a Constituição
considera como mínimo existencial. Ali se diz que o salário mínimo deve atender
as necessidades vitais básicas “com moradia, alimentação, educação, saúde,
lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”. Esse catálogo de
necessidades vitais básica já estava praticamente elencado na Declaração
Universal dos Direitos do Homem (1948).
Na Constituição de
1946, art. 15 § 1º, já havia previsão de não incidência do imposto de consumo
sobre os bens que a lei considerasse como o mínimo indispensável à habitação,
vestuário, alimentação e tratamento médico das pessoas de restrita capacidade
econômica. Não se tratava de um “favor legal”. Era uma determinação
constitucional. Era um pacto social.
O mínimo existencial
não tem a ver somente com uma determinada expressão monetária fixada em lei.
Mas se relaciona, também, com a própria existência e desenvolvimento do ser humano.
Não é o caso de se considerar os miseráveis apenas como um repositório de
benefícios sociais.Devemos, pois,
considerar o pobre como “agentes ativos de mudança” social. A pobreza deve ser
vista como um fator de limitação da capacidade do indivíduo e não somente como
uma questão de se ter baixo nível de renda.Combater a pobreza é permitir que o
cidadão pobre usufrua de sua liberdade.
A POBREZA EXISTENCIAL (Falta do logos):
No entanto, há um
tipo de periferia que quase não aparece, que tem profunda dificuldade de se
mostrar e, muitas vezes, não quer aparecer.Trata-se de um tipo de periferia
muito específica que o Papa Francisco vê como uma das origens, na sociedade
contemporânea, da pobreza material. Trata-se da periferia existencial.
A periferia
existencial não é um bairro, uma rua, uma cidade ou outro tipo de espaço na
cidade ou no campo. A periferia existencial é o vazio da vida, é a falta de
sonho, de utopias, de esperança.Lamentavelmente o mundo está cheio de
periferias existenciais. A sociedade está cheia de periferias existenciais. A
sociedade está cheia de pessoas que tem casas confortáveis, cheias de móveis,
com geladeiras cheias de comida, com dinheiro no banco, com carro e coisas
semelhantes. No entanto, essas mesmas pessoas não são felizes, vivem uma vida
vazia, sem sonhos, sem projetos que possam dar um sentido maior a vida. Muitas
vezes, essas mesmas pessoas, para poderem suportar o vazio da vida e do cotidiano,
precisam recorrer a algum tipo de vício ou de experiência traumática, como, por
exemplo, o uso de drogas, o excesso de bebidas alcoólicas, o excesso de
remédios antidepressivos e coisas semelhantes.
O Papa Francisco
convoca os homens e mulheres de boa fé a irem combater a pobreza material,
dentro das periferias materiais. No entanto, ele adverte que se as periferias
existenciais não forem alcançadas, se a pobreza existencial, a falta de sonho e
de esperança, não for combatida, muito provavelmente a pobreza material irá
crescer e se multiplicar.O atual Papa, com suas homilias e pregações, tem ajudado a fundamentar o
neoexistencialismo. O neoexistencialismo é uma corrente filosófica que procura
analisar e refletir sobre os dramas, traumas e conflitos da existência humana
na sociedade contemporânea. E um dos dilemas que o neoexistencialismo afirma e
que mais perturba o homem contemporâneo é justamente o que o Papa Francisco
chama de periferias existências, ou seja, o homem vazio, sem sonho, sem
esperança. Para melhorar o mundo, para combater a pobreza material e outras
formas de opressão, como bem chama a atenção o próprio Papa Francisco, é
preciso reencantar o homem, o homem precisa voltar a sonhar, a confiar em Deus
e a ter fé. Não basta ter casa e dinheiro, é preciso ter fé em Deus e amor ao
próximo.
A POBREZA MORAL
A NATUREZA DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
DSI Nº 72: A doutrina
social da Igreja não foi pensada desde o princípio como um sistema orgânico;
mas foi se formando pouco a pouco, com progressivos pronunciamentos do
Magistério sobre os temas sociais. Tal gênese torna compreensível o fato que
tenham podido intervir algumas oscilações acerca da natureza, do método e da
estrutura epistemológica da doutrina social da Igreja. Precedido por um
significativo aceno na «Laborem exercens»[100], um esclarecimento decisivo
nesse sentido está contido na Encíclica «Sollicitudo rei socialis»: a doutrina
social da Igreja pertence, não ao campo da ideologia, mas ao «da teologia e
precisamente da teologia moral»[101]. Ela não é definível segundo parâmetros
sócio-econômicos. Não é um sistema ideológico ou pragmático, que visa definir e
compor as relações econômicas, políticas e sociais, mas uma categoria a se. É
«a formulação acurada dos resultados de uma reflexão atenta sobre as complexas
realidades da existência do homem, na sociedade e no contexto internacional, à
luz da fé e da tradição eclesial. A sua finalidade principal é interpretar
estas realidades, examinando a sua conformidade ou desconformidade com as
linhas do ensinamento do Evangelho sobre o homem e sobre a sua vocação terrena
e ao mesmo tempo transcendente; visa, pois, orientar o comportamento
cristão»[102].
DSI Nº 73: A doutrina
social, portanto, é de natureza teológica e especificamente
teológico-moral,«tratando-se de uma doutrina destinada a orientar o
comportamento das pessoas»[103]: «Ela situa-se no cruzamento da vida e da
consciência cristã com as situações do mundo e exprime-se nos esforços que
indivíduos, famílias, agentes culturais e sociais, políticos e homens de Estado
realizam para lhe dar forma e aplicação na história»[104]. Efetivamente, a doutrina
social reflete os três níveis do ensinamento teológico-moral: o nível fundante
das motivações; o diretivo das normas do viver social; o deliberativo das
consciências, chamadas a mediar as normas objetivas e gerais nas situações
sociais concretas e particulares. Estes três níveis definem implicitamente
também o método próprio e a específica estrutura epistemológica da doutrina
social da Igreja.
Por que muitas nações
são pobres, miseráveis, atrasadas, enterradas em crime e fome?
As causas são geográficas?
Culturais? Religiosas? Étnicas?. Não.A diferença está num modo de organização
política e social específico que cria condições para as pessoas buscarem
livremente seus interesses. Democracia liberal, igualdade perante a lei e
garantias de que as pessoas podem agir livremente no mercado de trabalho e de
produtos. Numa palavra, sociedade de mercado. Foi isso que causou a derrota do
comunismo, mas muitos já esqueceram.Infelizmente entre
nós, ainda se pensa que o Capitalismo seja simplesmente um modo cruel de viver,
negador da “solidariedade” e defensor da “ganância”. Muito pelo contrário: é só
a riqueza que torna a solidariedade possível, não há solidariedade na pobreza,
isso é mito.Apesar de as indicações históricas serem evidentes, ainda
insistimos em não entender que a sociedade de mercado (longe de ser perfeita)
dá ao ser humano a liberdade necessária para cuidar da sua vida e se tornar
adulto.Só dessa forma as
pessoas entendem uma coisa óbvia que o economista Friedrich Hayek pensava.
Quando perguntarem a você o que é a economia, a resposta certa é: a economia
somos nós!O Capitalismo não
algo planejado por “cabeções” teóricos que controlam a vida dos outros, como
pensava John Maynard Keynes.Os políticos adoram Keynes porque sua teoria os faz
parecer responsáveis pela riqueza, quando na realidade quem produz riqueza
somos nós em nosso cotidiano, quando nos deixam claro em paz. Para estes Keynes
é a servidão, Hayek, a liberdade.
Por ocasião da
Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, o Papa Francisco recomenda aos
cristãos católicos e a todos os homens de boa vontade a unirem-se no combate a
três grandes formas de miséria que assolam a humanidade:
1ª)- A miséria
material que atinge todos aqueles que vivem numa condição que fere a dignidade
humana; privados dos direitos fundamentais e bens de primeira necessidade.
2ª)-A miséria moral
que torna o humano escravo dos vícios, das drogas lícitas, ilícitas e submisso
ao pecado.
3ª)-A miséria
espiritual que distancia o ser humano de Deus, raiz primeira de sua existência.
QUAL O MAIOR DESAFIO DA IGREJA HOJE ?
“Certamente, a Igreja
já fez, está fazendo muito no campo social, e precisará fazer mais ainda. Mas,
é preciso que fique claro: não é essa a missão originária, "própria” da
Igreja, como repete expressamente o Vaticano II (cf. GS 42,2; e ainda 40,2-3 e
45,1). A missão social é, antes, uma missão segunda, embora derivada,
necessariamente, da primeira, que é de natureza "religiosa”. Essa lição
nunca foi bem compreendida pelo pensamento laico. Foram os Iluministas que
queriam reduzir a missão da Igreja à mera função social. Daí terem cometido o
crime, inclusive cultural, de destruírem celebres mosteiros e proibido a
existência de ordens religiosas, por acharem tudo isso coisa completamente
inútil, mentalidade essa ainda forte na sociedade e até mesmo dentro da Igreja.
Agora, se perguntamos: Qual é o maior desafio da Igreja?, Devemos responder: É
o maior desafio do homem: o sentido de sua vida. Essa é uma questão que
transcende tanto as sociedades como os tempos. É uma questão eterna, que,
porém, hoje, nos pós-moderno, tornou-se, particularmente angustiante e
generalizada. É, em primeiríssimo lugar, a essa questão, profundamente
existencial e hoje caracterizadamente cultural, que a Igreja precisa responder,
como, aliás, todas as religiões, pois são elas, a partir de sua essência, as
"especialistas do sentido”. Quem não viu a gravidade desse desafio, ao
mesmo tempo existencial e histórico, e insiste em ver na questão social "a
grande questão”, está "desantenado” não só da teologia, mas também da
história.”(Frei Clodovis M. Boff).
E eu acrescentaria para encerrar apenas este parágrafo:
“Para
instaurar a Paz nos corações e no mundo o Senhor nos chama a anunciar Jesus
Cristo e a formar autênticos filhos de Deus” (RVSh, 360). A
evangelização, o anúncio do querigma, são essenciais para que o homem conheça e
encontre a Deus. Contudo, entendemos que Deus pede mais de nós, Ele quer não só
que evangelizemos, mas que formemos os seus filhos. Por isso, não basta para
nós que as pessoas sejam alcançadas pela graça de Deus, é preciso que sejam
também acompanhadas, formadas para a santidade, para uma fé madura e coerente. “É preciso
reconciliar o coração do homem com o próprio homem, reconciliar o coração do
homem com a natureza e com as coisas. Somente pelo poder do Espírito Santo isto
pode ser realizado. É necessário ensinar os homens a orar, a se voltarem para o
Senhor. É necessário estabelecer o amor de Deus nos lares, nas famílias, nos
relacionamentos, nas profissões, na sociedade, no mundo! É necessário
estabelecer a paz, mas tudo isto só acontece quando recebemos Jesus no coração.
‘Homem, converte-te ao Senhor Jesus e encontrarás a Paz que tanto buscas!’”
(RVSh, 367).
“Só há ato moral
quando somos livres para escolher, ou seja:Solidariedade compulsória, sob a
mira de uma arma estatal, não é solidariedade, nem aqui e nem na China...”
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