“Não tomarás o nome do
Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu
nome em vão”(Ex 20,7).
Fico
preocupado com alguns irmãos quando fazem o que vem na cabeça dizendo ser a
vontade de Deus.É tanta “profecia”, “revelação” e “experiências sobrenaturais”
que começo a duvidar se de fato sou um cristão genuíno, pois às vezes essas coisas
me parecem um certo abuso nominalista.(O Nominalismo é um artifício argumentativo muito usado em oratória que se caracteriza pelo uso de outra autoridade para dar credibilidade e sustentabilidade a uma afirmação do próprio argumentador. Ex.: "Rui Barbosa,Albert Einstein disse que..."Quando na realidade nenhum dos dois disse nada daquilo).
Não
quero com isso limitar o poder de Deus nem tão pouco menosprezar as
experiências verdadeiras que alguns irmãos têm e tiveram. Até porque não sou
sectário e incrédulo da Teologia dos dons do Espírito santo, muito pelo
contrário, acredito piamente nos dons
espirituais e nos milagres que seguem os que creem.
A
questão é a forma que muitos têm usado o nome de Deus para seu próprio
benefício. Quanta carnalidade escondida no excesso de “espiritualidade” ostentada
a vista da plateia. Quando me deparo com alguém falando que foi ao terceiro
céu, ou que viu anjo, ou se não, viu o próprio Jesus, logo na minha miséria me
vem à mente: “ou este irmão é muito “ungido”, ou ele é um
tremendo de um “picareta” e está querendo apenas seus cinco minutos de glória.”
Há
muita falta de temor por traz destas coisas. Gente que não conhece a ação e os
planos do Deus verdadeiro,mas que fala
em seu nome. Não é bom o zelo sem o conhecimento (Pv 19,2).
Se
queremos caminhar na verdade,temos que ser honestos, mesmo que nosso ministério
não ganhe popularidade. Fomos chamados para ser fiel e não para ser astros de
sucesso (Madre Teresa de Calcutá).
Se o
apóstolo Paulo fosse um charlatão faria um grande sucesso perante os gregos e
judeus. Um homem que foi até o terceiro céu,viu coisas que nunca poderão ser
compreendidas neste corpo mortal. Este mesmo Paulo não se beneficiou nem um
pouco da visão que lhe foi dada. Pelo contrário,preferiu não ir além do que
está escrito e devidamente revelado (1 Co 4,6).
O
cristão é de poucas palavras, pois do muito falar, nascem às palavras néscias.
Há mais esperança para o insensato do que para o homem que é precipitado no
dizer (Pv 29,20).
Até
Paulo que foi ao terceiro céu, disse que caso mudasse sua doutrina da que foi
transmitida por ele no começo do seu ministério, e mesmo que um anjo do céu
endossasse tal ensino, deveria ser rejeitado e considerado como anátema (Gl 1,8).
É
necessário no temor lembrar que Deus está no Céu e nós estamos na terra. Tomar
o nome de Deus em vão é falar daquilo que não se conhece para receber se
auto-promover, tomando para si e conduzindo um plano que pertence ao único
Digno de louvor. Muito cuidado, pois o Senhor não dará por inocente aquele que
tomar Seu Santo Nome em vão.
Cuidado
com este evangelho esotérico pragmático apresentado em algumas igrejas, tanto
por padres, bem como pastores. Nestes lugares há sempre um líder que recebe as
visões e toda comunidade é coagida a acatar como sendo canônicas,imunes de erros
e julgamentos, como se gozassem da infalibilidade Papal. Isso não tem respaldo
bíblico, nem magisterial.Tratam de pessoas carnais, manipuladoras e sem temor a
Deus,que reivindicam uma “unção” e um pastoreio a qual não lhes foi dado esta
prerrogativa.
Quanto
a estes, as Escrituras são claras,pois está escrito:
“Ninguém
se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos,
baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal”. (Cl
2,18)
Pensemos
duas vezes antes de falar “ah Deus me mostrou, Deus me falou ou Deus me
revelou”, mas procuremos ser fieis e obedientes a fazer a
vontade do Pai que se revela nas escrituras e no sagrado magistério.
Para São Francisco, a obediência é mais importante
que a pobreza,porque ele a enxerga como a atitude fundamental de Jesus. Para
ele, a obediência é a conseqüência natural de ver a Deus como "Todo o
Bem". Deus quer nos comunicar todo o Bem e obedecer é acolher todo o Bem
que vem de Deus.
Foi Jesus quem nos trouxe a revelação completa de
que Deus é todo o Bem. Jesus é modelo de como nós devemos ser obedientes,
porque acolheu o Bem sem reservas, e assim nos ensina a viver em plenitude.
Essa é a boa nova.
Ser obediente como Jesus é aprender a "descobrir" o bem que
Deus espalha em nossa vida.
Jesus veio mostrar que temos no céu um Pai cheio de
amor. Ele alimenta os passarinhos, veste de roupas bonitas as flores do campo,
manda o sol e a chuva tanto para os justos como para os injustos, revela aos
pequeninos sabedorias que ficam escondidas aos grandes deste mundo. Ele é o Pai
que nos dá o pão de cada dia e abre para nós as portas do seu Reino. Jesus
vivia dando graças ao Pai e dizendo que estava de acordo com a sua vontade
cheia de amor.
Francisco fala muitas vezes em revelação e em inspiração
Foram revelações para ele, por exemplo, o que
encontrou abrindo o evangelho com Bernardo e Pedro (1Cel 92), assim como
a resposta de Clara e Silvestre a seu pedido de oração. Via em toda parte a
ação de Deus (LM 12. 2). Achava que os frades vinham para a Ordem (RNB
2) ou pediam para ir para as missões (RB 12, 2) por inspiração divina.
Dizia que os candidatos deviam
dispor de suas coisas conforme a
inspiração do Senhor (RB 2, 9). Os superiores deviam agir com os frades
que pecassem como lhes parecesse correspondente
à vontade de Deus (RNB 5), e os missionários teriam que agir como lhes
parecesse mais agradável a Deus (RNB 16,
8).
São Francisco mostrou especialmente em seu Testamento como se
deixava levar por Deus. Escreveu:
"O Senhor me concedeu, a mim, Frei Francisco, começar a fazer
penitência... E o próprio Senhor me levou para o meio dos leprosos... E o
Senhor me deu tanta fé na igreja... Depois o Senhor me deu e me dá tanta fé nos
sacerdotes... E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrava o que eu
tinha que fazer, mas o próprio Altíssimo me revelou... O Senhor me revelou que
dissesse esta saudação... Como o Senhor me deu de dizer e de escrever a Regra e
estas palavras...".
Ser obediente como Jesus é deixar-se atravessar e
conformar pelo Bem que vamos descobrindo. O obediente vai ficando semelhante a
Jesus Cristo.Ser obediente, na visão franciscana, é buscar continuamente - como
pessoas e como fraternidade,qual é a vontade de Deus, que se manifesta por
inspiração, de muitas formas mas principalmente através dos irmãos.
Obedecer é fazer com que a vontade com que Deus ama
seja sentida em toda a obra da criação e passe a ser vida e ação dos seres
humanos na história do mundo em que fomos colocados.
Mas Pasme !!! isso é uma novidade até para os franciscanos de hoje
O grande número de frades que entrou na Ordem levou
a uma perda do espírito por parte de muitos e a um relaxamento da disciplina
fraterna, que não se mantém por leis e coerções, nem muito rebeldias oriundas
de uma pseudo liberdade Cristã.
São Boaventura, ministro geral de 1257 a 1274, chegou a escrever:
"O prelado faz a parte da cabeça no corpo da comunidade. Enquanto
os outros membros se aplicam às atividades próprias de cada um, o chefe preside
e provê a todos, regulando a função de todos os sentidos, governando tudo e
transmitindo sensação e movimento a todos os membros, através das ordens e das
concessões da santa obediência" (De
sex alis seraphim, c. 6. in Opuscula
mystica, Quaracchi 1965).
Ser usado por Deus, não significa ter a aprovação de Deus
I Cor 9,27: “Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que,
depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado...”
E da mesma forma: riquezas, boa condição financeira e boa aparência
também não significam que a pessoa está sendo aprovada.Muitos só atentam para o
exterior, para os dons, para o quanto a pessoa é usada por Deus, mas não
atentam para o caráter de quem está sendo usado por Deus.
Muitos querem ser usados, e desejam isso acima de tudo porque?
Porque ser usado por Deus atrai os “holofotes” para nós, atrai a atenção
das pessoas, atrai o reconhecimento.E é isso que a nossa alma traiçoeira e
enganosa tanto deseja: O reconhecimento das pessoas ao redor, o “aplauso”, o
“tapinha nas costas” como sinal de aprovação.E esquecemos que aplausos nada significam, nem para Jesus, pois a
multidão que o acolheu com Hozanas ao filho de Davi, logo após estavam a
gritar: “ Crucifíca-o !!!”.
Em outras palavras: A nossa carne deseja a vaidade, ela é suscetível a
isso.Mas será que está errado querer ser usado por Deus? Claro que não.
O problema não está em “ser usado”. O problema é quando nós pensamos e
acreditamos que isso é o máximo, que isso nos faz “bons”, que isso nos faz
melhores que os outros, e que isso é tudo que precisamos para sermos aprovados.
Que grande engano cometemos.
“LOUVADO
SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”
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