A definição
mais perfeita de eternidade é dada por um pensador cristão do fim do Império
Romano que morreu condenado por Nero, Boécio que morreu na prisão e escreveu A Consolação da
Filosofia. E no capítulo 5 ele define a eternidade como: “a posse total, simultânea e completa da vida
interminável” - Vejam que
beleza de definição. Dá um nó na cabeça à primeira vista, mas veja:“a posse total,
simultânea e completa da vida interminável”. Tentemos
entender porque essa é a definição clássica de eternidade admitida pela maioria
dos pensadores e aprofundada enormemente por São Tomás de Aquino na Suma
Teológica. Como nós podemos
entender a eternidade se a eternidade não nos é dada imediatamente? A eternidade
não é uma evidência para nós! Nós nunca vimos nada que é eterno diante dos
nossos olhos! Nada!
Então como nós podemos conhecer a eternidade?
Conhecendo E EXPERIMENTANDO APENAS o tempo?
São Tomás de Aquino estabeleceu que há três
categorias de medida da duração das substâncias materiais ou espirituais: o
tempo, o evo e a eternidade. O evo é a natureza imutável e a medida de duração
das substâncias espirituais, dos anjos, dos demónios, na teologia cristã medieval.Alguns defenderam
que há múltiplos evos mas São Tomás entendeu que só há um. A luta de São Miguel
Arcanjo empunhando uma espada de fogo contra Satanás não se desenrolou no tempo
mas no evo. Este último é a substância imutável dos anjos e dos astros e, nessa
medida, não comporta antes e depois - a natureza de um anjo não muda nunca, é
intransmutável - mas na medida em que essa substância é dotada de mobilidade ou
de livre-arbítrio e pode desaparecer por vontade de Deus, o Eternamente
Presente, ao evo são aplicáveis o antes e o depois - o anjo pode mudar de
lugar, escolher a sua trincheira de combate, a pessoa humana a quem dar
proteção. São Tomás escreveu:«O evo diferencia-se do
tempo e da eternidade como um intermédio entre ambos. Há alguns que estabelecem
a diferença dizendo: a eternidade não tem princípio nem fim; o evo tem
princípio mas não fim; o tempo tem princípio e fim . Mas trata-se de uma
diferença acidental como ficou dito (artigo 4). «Portanto, se o próprio
evo não está submetido à novidade e à antiguidade, a razão deparar-se.á com o
facto de ser intransmutável; por isso na sua medida não haverá antes nem
depois.» - «Por conseguinte, há que dizer: como se quer que a eternidade é a medida do ser
permanente, quanto mais algo se afasta do ser permanente, tanto mais se afasta
da eternidade. Há certas coisas que se afastam tanto da permanência do ser, que
o seu ser está submetido à mudança, ou é a própria mudança. Por isso são
medidos com o tempo. Isto é próprio de todo o movimento e também é próprio de
todos os seres corruptíveis» - «Por outro lado, há seres que se afastam muito
menos da permanência no ser, porque o seu ser não está submetido à mudança nem
é a própria mudança(...) Isto é o próprio dos corpos celestes cujo ser substancial
é intransmutável.«Algo parecido se passa com os anjos que têm ser
instransmutável submetido à mutabilidade da escolha, algo própria da sua
natureza. Por isso, podem mudar a respeito da sua escolha, pensamento, afecto e
lugar. E podem ser medidos pelo evo, que é o intermédio entre a eternidade e o
tempo» - «O evo é totalidade simultânea, sem embargo
não é eternidade, porque está submetido ao antes e ao depois».Quando lemos a Suma Teológica
de São Tomás ou a Física de Aristóteles percebemos que são de qualidade
superior ao «Ser e o Tempo» de Heidegger, o grande charlatão da filosofia do
século XX.
Assim como
para conhecer um elemento químico simples, temos de partir do composto,
decompondo. Nós só podemos conhecer os elementos químicos simples a partir da decomposição
de elementos compostos, assim também só conhecemos a eternidade a partir da
decomposição do tempo. Então antes de entender e de falar o que é a eternidade,
entendamos o que é o tempo?
Muito bem, o que é o tempo?
A definição
clássica, e aceita por São Tomás e por mim obviamente, é a dada por
Aristóteles:“O tempo é o número (ou numeração,
ou contagem) do movimento segundo um antes e um depois”.Isto é um
tempo! Agora entendamos o que é movimento
para Santo Tomás e para Aristóteles:“Movimento não só aquele
chamado local, mas é também o movimento da geração da corrupção, de envelhecimento,
das mudanças. O cabelo que fica branco é um movimento.Toda e qualquer mudança
corpórea, toda e qualquer mudança mental, é sempre um movimento é um motu, é
uma mudança.”Movimento
(local) e mudança têm o sentido idêntico em Aristóteles e São Tomás.
O tempo é a
medida das coisas que mudam ou se movimentam. É um número. Segundo que o antes
e o depois é simples. Eu vou correr daqui até ali (e morrer por conta da idade,
não?); eu tenho um antes, o iniciar da corrida, e um depois. O número que
indica esse movimento entre o antes e o depois é o tempo.O tempo na
verdade é uma contagem, uma cronometragem. E a medida das coisas que se
movimentam ou mudam é exatamente o tempo, segundo um antes e um depois. Ora,
isso não nasce nessa discussão, mas anteriormente. Deus não se movimenta.Dizia Aristóteles que
Deus é o “primeiro motor imóvel”, que move as coisas sem se mover assim como o
amado move o amante sem se mover, ou poderíamos comparar analogamente assim
como uma beleza de um Ícone, que não se move, e nos move a ele que permanece
imóvel.
Deus, chamado
o primeiro motor imóvel por Aristóteles, o que quer dizer que Ele é
propriamente imóvel em todos os sentidos, não só no sentido de movimento local,
mas no sentido de não sofrer qualquer alteração. Deus não se altera, por isso é
que até os seus decretos são bonitos.Em Deus não há
passado, presente, nem futuro, portanto não há movimento, não há tempo. Em Deus
não há mudança. Ele é imutável, seus decretos são imutáveis e por isso, diz São
Tomás, que Ele não poderia fazer o passado já não ser, ou não poderia mudar a
essência dos entes, exatamente porque suas decisões são instantâneas e
imutáveis. É único, pronto e acabado. Deus é a própria imutabilidade, é a própria
permanência do ser.Se o tempo é
um número segundo o antes e o depois, e esse antes e depois não tem relação só
com esse movimento local, mas com as mudanças substanciais: geração, opção,
envelhecimento, sabedoria, tudo muda. As nossas opiniões mudam. Hoje eu acho
isso, amanhã eu acho aquilo, tudo está em movimento. Ora, em Deus não há isso,
tudo nele é simultâneo, então o tempo não pode ser a medida de Deus, e portanto
não pode o tempo ser uma numeração de algo que na verdade não tem duração. Logo, a
eternidade é a medida de Deus, assim como o tempo é a medida dos entes criados
por Ele. Esse é o primeiro passo, definir o que é a eternidade. Entendido o que
é a eternidade podemos responder, Deus é eterno? Devo dizer duplamente,
primeiro não só Ele é eterno, mas ele é a eternidade. Essa também é uma
discussão sobre os atributos de Deus. Como Deus é. Deus é o único ente que é o
próprio ser.Nós temos ser,
nós temos existência, e podemos perdê-la, e a perdemos. As coisas aparecem na
existência e um dia deixam de ser, não é isso? Mas temos o ser, porque se eu
não tivesse o ser eu não existiria. Deus não tem o ser, Deus é o ser. Nós temos
uma essência. Eu sou homem, isso aqui tem a essência de uma garrafa, toda e
qualquer árvore tem a essência de árvore, todo e qualquer cachorro, tem a
essência cão, a essência canina; ora, Deus não tem uma essência! Deus é a sua essência, e sua essência é ser, é
existir (Javé, ou seja, Aquele que É). Desde a mais
tenra infância até a velhice nós vamos crescendo intelectualmente. Isso é
universal, isso faz parte da vida de cada homem. Ora, vamos crescendo segundo
um passado, um presente e um futuro, não? Ou seja, segundo um antes e um
depois. Mesmo essa realidade que é mais espiritual depende de um antes e um depois
e pode ser enumerada ou cronometrada segundo o tempo. Isso é a realidade não só
de cada homem, de cada animal, mas de cada ente concreto corpóreo ou de
qualquer ente espiritual. mesmo com os anjos.Deus é essa coisa
simultânea, imutável e permanente no ser em todos os sentidos. Não só não tem
corrupção; aliás nem há corpo, não tem matéria, não tem corrupção, não tem
movimento e não tem mudança de pensamento. Veja como é
difícil para nós imaginar aquilo que Aristóteles chamava pensamento de
pensamento, imaginar um pensamento de pensamento que não muda. É instantâneo, é
tudo simultâneo. Tudo! Cada coisa que Deus pensa, faz, cria é simultâneo. (o desejo de Deus já é!).O conhecimento
de Deus não é evidente, obviamente; ele depende de provas, ele depende de
raciocínio. É diferente de quando você vê um triângulo, e é inegável que o
triângulo tenha três lados. Alguém vai negar que um triângulo não tem três
lados? Ele tem que estar fora do seu juízo para negar que o triângulo é
composto de três lados.
Ora, Deus não é evidente. Dizia São Tomás, “fosse
Deus evidente, não haveria Deus”! Claro!
Portanto o
nosso conhecimento de Deus é pelos efeitos. Nós, olhando para a natureza, analogamente
pensamos como é possível que algo que não raciocine — uma árvore não raciocina,
os astros não raciocinam , como é possível que algo não tenha inteligência,
obedeça a uma ordem perfeita?Como é
possível que animais procriem para manter sua espécie? E dizia o velho Platão
lá na Grécia:“A procriação da espécie
é uma imitação da eternidade de Deus”. Os animais
certamente não fizeram uma assembléia e disseram: “- Vamos agora nos perpetuarmos
para imitar a Deus em sua eternidade”. E, no entanto, eles se perpetuam. Coisas
inconscientes. Tem que haver uma inteligência coordenadora disso tudo. Ora, o tempo é a medida segundo o antes e o
depois; o nada não tem antes nem depois; o nada, nada é.
Estamos diante de um tremendo mistério!
Constatável
pela razão, mas explicável só parcialmente pelo nosso próprio intelecto. Assim
como o nosso conhecimento de Deus é pelos efeitos, vendo a natureza pensamos: é
impossível que haja uma natureza tão ordenada, tão regular como a valsa dos
astros no céu, com a ordenação, com a ordem, com que giram em torno de si
mesmos. Com essa ordem é impossível que um dia as pedrinhas implícitas na ínfima
partícula de energia do Big Bang tenham feito uma assembléia permanente e
dissessem: agora vamos pôr ordem no céu e agora deixemos de pôr, e acabemos com
essa porcaria de Universo. É impossível! Há que haver, é preciso ter uma inteligência
superior. Ora, isso é conhecer a Deus pelos efeitos, não pela causa.Quando vemos
alguém assassinar a outro nós sabemos que esse outro morreu porque vimos a
causa, não é isso? Nosso conhecimento desse assassinato se deve e esse conhecimento
da causa. Nós vimos a causa daquele assassinato. Ora, nós não vemos Deus em
causa, mas vemos os efeitos. No caso do assassinato, a gente conhece as causas
a priori. É o chamado conhecimento a priori, da causa para o efeito.Quando nós
conhecemos a Deus pelos seus efeitos é o chamado conhecimento a posteriori,
pelos efeitos para a causa e esse conhecimento não pode ser senão analógico.Deus é a mesma
eternidade e que a eternidade é a medida de Deus, ao passo que o tempo é a
medida de todas as coisas criadas por Ele. Mas digo eu, criou Ele desde toda a
eternidade, e acabei de usar um verbo no passado: “criou”. Eu estou usando uma
referência temporal, marcadores temporais do passado. Não é isso?
Deus fará o juízo final? mas como fará se Ele não
tem presente, passado, futuro e Ele é simultâneo?
Veja é isso
que se chama conhecimento analógico. Mesmo sabendo dessa realidade exatamente
porque nós somos seres imersos no tempo, é que não nos podemos nos referir a
Deus, que é a própria eternidade, se não com pensamentos limitados do próprio
tempo. Só conhecemos a Deus analogicamente. Claro, os mistérios de Deus, o
mistério da Santíssima Trindade, são razões analógicas de fé.Não estou tratando
dos mistérios da fé. Estou falando do que é conhecimento de Deus pela nossa
própria razão. Independentemente, ou quase, da revelação cristã. Ora, e a distância entre o homem e Deus? O que
preencheria esses graus?São exatamente
os anjos. Enquanto nós homens somos os entes fronteiriços entre o espiritual e
o corpóreo, nós estamos na fronteira do visível e do invisível, somos corpo e
alma, é preciso ocupar esse espaço que há entre nós e Deus, que é espírito
puro, perfeitamente puro, sem potência passiva nenhuma e que é a própria
eternidade. Isso é preenchido pelas chamadas substâncias separadas que chamamos
anjos.Na gradação da
criação temos do mais ínfimo grão de areia até o homem num gradação
equilibrada, sutil, de degrau a degrau, depois temos também nas ordens e
hierarquias angélicas, que vai do anjo da guarda aos arcanjos, e daí a Deus.Temos assim
uma ordenação do mais próximo do não-ser que é o grão de areia, até o mais
próximo do ser perfeito, que é o arcanjo. Tudo isso se vê num belo capítulo
segundo São Tomas. Que é chamado entre outras coisas de Doutor Angélico.
Exatamente porque tratou [detidamente] dos anjos. Os anjos embora tenham sido
criados um dia segundo o próprio Gênesis, tudo foi criado em um dia, eles do
pondo de vista do ser também não têm mudança, eles não se corrompem.
Os anjos não
têm a sucessão temporal segundo o que conhecemos como antes de depois. Não se
corrompem, são incorruptíveis. Mas eles têm algo que, sim, implica em um antes
e um depois: é o pensamento. Eles podem mudar de idéia, daí o drama angélico do
início dos tempos com a divisão entre demônios em anjos. Eles podem mudar de idéia,
eles podem errar, e isso implica um antes e um depois, isso implica mudança.Ora, então podemos
definir os anjos como aqueles seres, aqueles entes que segundo o seu ser substancial
não são segundo um antes e um depois, mas cujo pensamento se pode aplicar às
categorias segundo um antes e um depois. Eles não estão imersos no tempo, mas
ao seu pensamento se aplica a medida segundo o antes e o depois, já que podem
mudar.Só Deus é imutável
no mais íntimo do seu pensamento, se é que eu posso dizer o mais íntimo, porque
afinal Deus só tem um pensamento. Deus é o Seu próprio pensamento. E enquanto
Deus tem por medida a eternidade, ou seja, a posse total, simultânea e completa
da vida interminável, têm os anjos por medida a eviternidade, ou seja, aquilo
que por certo ângulo se assemelha a Deus, e a certo ângulo se assemelha ao que
está imerso no tempo. Assim é a eviternidade ou evo; é exatamente a medida intermediária
entre a eternidade e o tempo.Só se aplica
aos anjos o antes, a medida, o número, segundo o antes e o depois quanto à sua
forma de pensar. Quanto à mutabilidade que é própria do seu modo de pensar.
Poderíamos nos estender aqui por muito tempo para ver a diferença entre Deus e
os anjos; é obvio, até porque os anjos foram criados por Deus mesmo, mas isso
basta por hora. Ainda há que concluir o seguinte, e isso se diz a
católicos:Todos temos
que a bem-aventurança — aqui saímos da filosofia e entramos na teologia — é aquela
diferença entre fé e saber, fé e razão.Entramos agora
na fé. Sabemos que o prêmio da bem-aventurança na chamada vida eterna, é a
contemplação da essência de Deus em diversos graus. Desde o mais ínfimo pecador
que foi salvo na última hora até o maior dos santos, até Nossa Senhora e os
anjos.Os anjos também depois
do episódio em que se separaram anjos e demônios, os que não viraram demônios
foram contemplados com a luz beatífica. Esses anjos que já estão sob a luz da
glória e os santos que já estão no céu sob a luz da glória, já não têm
mutabilidade, nem sequer de pensamento. Eles já não mudam de opinião. Porque contemplando
aquilo que é a mesma verdade, já não pode alterar, pois a verdade é imutável!Quando estivermos,
queria Ele que estejamos, diante d’Ele, olhando para a Sua mesma essência, já
não podemos pecar, já não podemos mudar, já não erramos, já nada, porque o
conhecimento da essência de Deus é como um imã de que não podemos fugir. Então
aos que tiverem sob a luz da glória, sejam anjos ou homens, a imitação da
eternidade da sua divindade será infinitamente maior. Mas esse é o que se chama
um dom gratuito de Deus. São Tomás tem cindo vias para provar a existência
de Deus! A terceira
delas que para mim é a mais convincente de todas e é exatamente essa que diz o seguinte:“Tudo quanto
vemos um dia deixará de ser, e não é verdade? Esse copo um dia não deixará de
ser? Nós não deixaremos de ser? A árvore não deixará de ser? A minhoca,
pobrezinha, morrerá? O cachorro do meu amigo não morrerá? Tudo deixará de ser.
Tudo quanto vemos deixará de ser um dia. Agora, diz São Tomás, se tudo quanto
um dia deixará de ser é porque um dia não foi. Você não pode ser eterno para
trás e deixar de ser para o futuro. Ora, tudo quanto vai deixar de ser um dia é
porque um dia não foi. Se tudo quanto existe um dia não foi, é porque um dia
nada existiu.
O nada absoluto é
impossível! porque do nada, nada pode surgir!
É preciso que
haja um ente que sempre tenha sido e que, portanto, tenha tirado o restante do nada;
essa é a explicação, certo?! Essa é a origem da concepção de Deus:Faça um esforço
abstrativo, o nada se criando a si mesmo. É preciso um agente, um motor, algo
que crie do nada. O nada não pode fazer-se em algo, é preciso que algo faça do
nada outra coisa.Sócrates depois
veio com a primeira prova racional e mais sólida da existência de Deus, dizia Sócrates:“Nós vemos que os órgãos
do homem contribuem para sua sobrevivência, vemos que o sol serve para fazer
nascer as plantas, que as plantas servem para alimentar o homem, que os órgãos
do homem se alimentam da planta para fazê-lo pesar. Tudo se destina a um fim,
não é isso?”.O Sol tem
certo vínculo com relação a planta, fazendo-as crescer; a planta tem o fim de
alimentar o homem, e a chuva igualmente; os órgãos alimentam o homem para que
ele possa pensar. Ora, quem criou isso tudo? Só pode ter sido uma inteligência.Eu me lembro que já li
há alguns anos um livro fabuloso. O sujeito dizia que para ele as moléculas
pensam e têm vontade. Isso é fantástico. Então as moléculas reúnem-se em
assembléia permanente e decidem: “Agora eu vou criar o Fulano”, e depois
decidem: “Agora vamos matar esse sujeito que adora o dog alemão.” Não é
possível!Veja a que
ponto de racionalismo chegamos. Você para justificar que não há um Deus que dê
ordem e finalidade as coisas inventa que as moléculas, os átomos, e as células
pensam e têm vontade própria, isso é fantástico! Algum cientista
alguma vez em um laboratório conversou com uma molécula? Trocou um papinho com
ela? Ou seja, beiramos a irracionalidade, a absurdidade mais absoluta com isso.
Para você escapar a essas absurdidades, isso é de bom senso. Não precisa ter
lido a Bíblia, ser cristão, não precisa nada. É de bom senso! E quantos pagãos chegaram a esse bom senso?
É preciso de
uma inteligência ordenadora. Um intelecto divino. Sócrates disse o que eu
acabei de dizer; Platão o chamava-o Demiurgo; Aristóteles o chama o primeiro
motor imóvel; Cícero, dizem, morreu clamando “causa das causas, tenha
misericórdia de mim”. Veio Cristo e todo o pensamento cristão e nada disso se
interrompeu até que entramos num período meio [obscuro] até se achar que as
células substituem a inteligência divina. Que a inteligência celular substitui
a inteligência divina. Se tudo pressupõe
um antes é porque há algo que pôs tudo isso do nada na existência. Porque do
nada, nada se faz por si mesmo.
Esse é um dos assuntos mais delicados! Nós não
podemos remontar ao infinito uma série de causas existenciais!
Nós podemos
teoricamente supor uma sucessão ininterrupta para trás de ovo e galinha?
Poderíamos; o problema é quem pôs o ovo e a galinha no mundo. Você pensar que
sempre houve ovo e galinha sem que ninguém tenha posto no mundo é incorrer em
absurdo. É supor que o ovo se fez a si mesmo, é cair no mesmo problema,
contamos de novo: primeiro é o ovo ou a galinha? E isso não tem mais fim... A
única solução para saber quem veio primeiro o ovo ou a galinha, é saber que
alguém pôs o ovo e a galinha na existência tirando-os do nada.Não podemos
remontar o infinito da série de causas, é preciso haver uma causa primeira
absolutamente imóvel, absolutamente imóvel no sentido de imutável, no sentido
de não-corruptível, no sentido de não-mensurável segundo um antes e um depois.
Mas. Sim. segundo a medida da eternidade, sem o que não se explica a própria
eternidade.Ora, todos
havemos de convir que de tudo quanto conhecemos, inclusive nós mesmos, é
relativo. Não é relativo? Nós somos absolutos? Nós somos donos da nossa
existência? Nós nos damos o ser? Nós podemos impedir a nossa morte? E podemos
ir nesse raciocínio em que tudo quanto é relativo pressupõe o absoluto e tudo
quanto se move pressupõe o imóvel, e tudo o que não se corrompe pressupõe um
incorruptível, e tudo quanto tem ordem pressupõem um ordenador.Tudo quanto
tem fim, pressupõe uma causa final e Deus é a causa final absoluta de tudo,
como eu disse de manhã. Claro, isso é uma explicação sucinta. Só esse tema nós
podemos ficar discutindo, podemos ficar uma no rebatendo na mesma tecla,
apresentando as provas pelos mais diversos ângulos, apresentando as cinco vias
de São Tomás, por exemplo, que são belíssimas. E naturalmente nesse pequeno
tempo estou dando por pressuposto diversos conceitos com os quais alguns de vocês
não têm intimidade. Mas não importa, é assim mesmo! A história pessoal do
saber, o crescimento, o progresso intelectual pressupõe que o primeiro contato
com a verdade seja traumático, seja difícil, seja árduo. Você vai aprendendo
aos poucos. A verdade é uma selva e você vai aos poucos abrindo clareiras nela.Lembrem-se o intelecto humano é progressivo.Ele é passível
de progresso, tanto em termos individuais como em termos coletivos. A história
da humanidade é passível de progresso individual. E exatamente o que estamos
ordenados ao infinito é que somo potencialmente infinitos na própria
inteligência. Claro, só Deus é infinito em ato, de fato. Um ferreiro pode
trabalhar com um número potencialmente infinito de ferramentas. Você pode
imaginar um número infinito de ferramentas à disposição de um ferreiro.Ele, no
entanto, vai realmente trabalhar com esse número infinito de ferramentas?
Impossível. Ele é só potencialmente infinito. A mesma coisa é o nosso
intelecto: é potencialmente infinito, embora nunca vá ser infinito mesmo.
Repetindo o argumento anterior, para que ele seja potencialmente infinito é
preciso que tenha algo que seja infinito.
Sobre o Tempo e a eternidade do mundo — Uma
questão enfrentada por Tomás de Aquino
Recebo de uma jovem
universitária, estudante de Física, a seguinte questão: “Não entendo como pode ser lógico pensar em um universo que sempre
existiu. Disseram-me que S. Tomás falava que não era algo completamente ilógico
pensar nisso. De fato S. Tomás disse isso? Alguns ateus afirmam que o nada é
algo abstrato, que nunca existiu. Então, não fogem da lógica pensarem em
universo eterno?”.Estas perguntas são
profundas e tocam um ponto teológico delicado e de difícil resolução.
Tentaremos responder por partes:
PREÂMBULOS DO PROBLEMA
Antes de tudo, é
preciso entender duas coisas: o que é a eternidade e o que é o tempo. Somente
então se poderá responder se o mundo (tido aqui como o conjunto do universo
criado) é ou não eterno.O tempo, já dizia
Aristóteles, é a medida do movimento segundo um antes e um depois, o que
implica dizer duas coisas, como corolário:
a) Todo e qualquer
tempo tem princípio, meio e fim;
b) Só
pode haver tempo onde há movimento. Mas isto com uma ressalva importantíssima:
o filósofo grego – cuja definição de tempo acatamos – não se referia ao
movimento local, apenas, mas ao movimento em toda a sua abrangência metafísica.
São seis os tipos de movimento divididos em quatro
categorias:
1º. Com relação à
substância, geração e corrupção.
2º. Com relação
qualidade, alteração;
3º. Com relação à
quantidade, aumento e diminuição; e
4º. Com relação ao
lugar, translação.
Pois bem. Em todos
estes casos se dá o trânsito da potência ao ato, ou, em palavras simples, de
uma possibilidade e/ou tendência real a uma atualidade. Por exemplo: a madeira,
quando pega fogo, transitou da potência para assumir a forma do fogo ao ato de
assumi-la efetivamente – e tal movimento pressupôs um tempo para suceder.A propósito, o tempo é justamente isto:Sucessão
cronométrica, medida das coisas que mudam ou se movimentam segundo um antes e
um depois. Destaco isto porque há outros tipos de sucessão (ou de ação) que não
implicam imersão na ordem temporal, como a sucessão evométrica, a que se dá no evo
(o intermediário entre o tempo e a eternidade), e o agora permanente (nunc
stans) no qual se dá o agir divino[1]. Mas este é assunto impossível de
aprofundar nesta breve resposta.
Fiquemos apenas com as características destes três tipos
mencionados de duração:
1)- Na sucessão cronométrica, o móvel altera a
sua disposição entitativa substancial e/ou acidental ao longo do movimento,
como no caso da madeira que corrompeu a sua forma específica para assumir a do
fogo; no do homem cujos órgãos envelhecem até que adoeça e morra; ou ainda no
de um homem que corre e, durante o percurso, flecte e tensiona alguns músculos.
Nos dois primeiros exemplos, a mudança foi substancial; no terceiro, acidental.
Em ocasiões tais, há duração sucessiva, multiforme e finita nas ordens
substancial e acidental – e, por conseguinte, cronológica. É o tempo.
2)- Na sucessão evométrica, o móvel não altera a
sua disposição entitativa substancial, embora transite acidentalmente da
potência ao ato, como no caso do anjo, que, ao entender algo na ordem
natural[2], apenas atualiza um conhecimento virtual que já possuía, graças às
formas inteligíveis infundidas em sua inteligência por Deus. Em resumo, o antes
e o depois do conhecimento natural do anjo não mudam nenhuma de suas
disposições entitativas no tocante à substância, que é imaterial. Mas mudam-nas
quanto aos acidentes. Aqui, portanto, a duração do movimento é simultânea,
uniforme e finita na ordem substancial, porém multiforme e sucessiva na ordem
acidental (conhecimento, operações, amor angélico, ódio diabólico). É o evo, ou
eviternidade.
3)- No agora permanente da ação criadora de Deus não há alteração de
nenhuma ordem, sendo aqui a duração simultânea, uniforme e infinita em sentido
absoluto. Em suma, nem o tempo nem o evo podem ser a medida do Ser divino, pois o
que é ato puro não pode ser medido pelo que tem mescla de potência. E
aqui se dá propriamente a eternidade, a imutabilidade absoluta quanto ao ser –
dado que a ação criadora de Deus acontece sem qualquer movimento na perspectiva
metafísica.
Da eternidade, a propósito, dizia Boécio:
Que é a posse total,
simultânea e perfeita da vida interminável. Perguntando-se se esta famosa
definição é correta (Suma Teológica, I, q. 10, art. 1), Santo Tomás ensina que
se chega ao conceito de eternidade a partir do de tempo, ou seja: chega-se às
essências simples a partir das compostas, dado não termos a intuição direta dos
inteligíveis – chamada por alguns zubirianos, equivocadamente, de “cognição
instantânea”.Observa o Aquinate
não ser possível distinguir um antes e um depois em algo que seja absolutamente
imóvel quanto ao ser, razão pela qual define a eternidade como a uniformidade
do [Ser] que em sentido absoluto está isento de movimento[3].
A partir destas premissas, o conceito de eternidade se
forja em dois vetores:
1)- primeiro, pelo
fato de o eterno caracterizar-se por ser interminável, quer dizer, não ter
princípio nem fim;
2)- segundo, porque
na eternidade assim entendida não pode existir sucessão, sendo ela tota simul
existens.
Estabelecidos estes princípios, vale dizer que o tempo, o evo
e a eternidade são três tipos de duração no ser! E são essencialmente
distintos porque referidos às realidades para as quais servem como medida de
duração, numa escala em que o mais abarca o menos: Deus, substâncias separadas
da matéria e entes compostos de matéria e forma. Neste contexto, o agora (nunc)
do tempo está incluído no agora do evo e no da eternidade; o agora do evo se
inclui no de eternidade; e o agora eterno é a medida de todas as durações,
porque é o horizonte possibilitante delas, a permanência absoluta e infinita no
ser – sem a qual sequer poderia haver durações relativas e finitas. Noutras palavras, não haveria tempo nem evo se não houvesse algo
propriamente (simpliciter) eterno, ou seja, Deus.Outro aspecto
necessário a destacar para responder devidamente à indagação da jovem estudante
de Física é o seguinte: a eternidade, em sentido absoluto, é uma propriedade
exclusiva do Próprio Ser Subsistente, que é Deus. Todas as demais eternidades
serão formalmente uma participação na eternidade divina — caso das almas e dos
anjos. A premissa que serve de base para esta conclusão é a seguinte: como a
eternidade está inextricavelmente unida à imobilidade metafísica, sendo Deus o
único Ente absolutamente imóvel, ato puro sem mescla de potência passiva
alguma, só a Ele caberá ser propriamente eterno. Daí Santo Tomás dizer o
seguinte: na medida em que os entes recebem de Deus algum grau de imutabilidade
(por exemplo: a forma das substâncias separadas da matéria) se diz que
participam de Sua eternidade[4] (quod aliqua ab ipso immutabilitatem
percipiunt, secundo hoc aliqua eius aeternitatem participant).Mais um ponto a destacar - A diferença entre o tempo e a
eternidade:
1º)- A ordem temporal
é a medida do movimento que abarca as substâncias compostas de matéria e forma
e seus respectivos acidentes;
2º)- A eternidade é a
medida da absoluta permanência do ser (mensura esse permanentis).
Assim, o fato de o
tempo ter princípio meio e fim e de a eternidade não ter princípio nem fim será
considerado por Santo Tomás como diferença acidental, porque, ainda na hipótese
de que o tempo não tivesse tido princípio nem pudesse ter fim, como postulavam
os filósofos medievais para quem que o movimento dos céus seria sempiterno,
ainda restaria a diferença de que a eternidade é tota simul existens, o que não
convém ao tempo, devido ao fato de este ser a mensura das coisas que mudam e se
movimentam segundo um antes e um depois.Pois bem, explicados
em linhas generalíssimas o tempo, o evo e a eternidade, voltemos ã pergunta:
não seria absurdo conceber racionalmente a eternidade do mundo?
O QUE SANTO TOMÁS ENTENDE POR “ETERNIDADE DO
MUNDO”, E COMO SOLUCIONA A QUESTÃO?
O problema abordado —
e resolvido brilhantemente — pelo Aquinate no opúsculo De Aeternitate Mundi
contra Murmurantes, estando entre os murmurantes ninguém menos que São Boaventura e agostinianos que, no século
XIII, viam um risco na assimilação de Aristóteles pelo Cristianismo, era o
seguinte:Partindo da premissa
de que a criação é algo que a razão natural pode demonstrar apodicticamente com
razões mais do que suficientes, a pergunta feita por Santo Tomás será a seguinte:“O mundo, ou seja, o incomensurável conjunto de todos os entes naturais
que perfazem o universo, foi criado desde a eternidade ou no tempo? Pode a
razão humana resolver filosoficamente este problema?" - Ora, vimos acima que,
propriamente eterno, só Deus, sendo as demais coisas eternas partícipes da
eternidade divina — sem a qual nada seriam; daí alguns tomistas afirmarem que:“Deus não é apenas eterno, mas é a ratio æternitatis, ou seja, a razão
de ser da eternidade.”Assim, na hipótese de
que o mundo tenha sido criado desde a eternidade, e não no tempo, restará
concluir que ele é eterno por participação. Neste contexto, é importante
ressalvar que em nenhum momento considerou o Aquinate a possibilidade de o
mundo ser eterno simpliciter, pois “se se entendesse que, à margem de Deus, o
mundo pudesse ter existido desde sempre como sendo algo eterno
independentemente d’Ele, isto seria um erro abominável”[5], e nem que fosse
possível um infinito material, intrinsecamente absurdo, dado que o infinito não
pode ser uma magnitude.Reiteremos, portanto, o ponto crucial do problema de
responder — filosófica e teologicamente — à afirmação de Aristóteles de que o
mundo é eterno: ele foi criado no tempo ou desde a eternidade?Nas palavras do Santo
no referido opúsculo, utrum possibile sit aliquid fieri quod semper fuerit, ou
seja: seria possível conceber um ente criado que tenha existido desde sempre?
Isto deixa de lado qualquer dúvida de que se tratasse de mundo eterno em
sentido absoluto; não, não era este o caso, mas sim o de saber se existem
criaturas ab aeterno.
A conclusão do Aquinate no De Aeternitate e noutros
pontos de sua obra é de que:
“A razão não pode concluir com
segurança nem que o mundo foi criado no tempo, nem que foi criado desde a
eternidade. Afirma ele que sabemos, como fiéis católicos, ter sido o mundo
criado no tempo graças ao dado revelado na Sagrada Escritura, mas este artigo
de fé não pode ser demonstrado filosoficamente — como pode sê-lo, por exemplo,
o de que Deus é criador e mantenedor das coisas no ser.”Vale muito a pena ler
este opúsculo, que encontramos na internet em tradução do medievalista Jose Ignacio
Saranyana.Nele, as várias respostas às objeções levam o gênio medieval a concluir
que não repugna à razão pensar que o mundo tenha sido feito desde a eternidade,
nem que tenha sido criado no tempo.Para entender tudo
isso, evidentemente, é preciso ir um além da concepção localista e materialista
que algumas correntes predominantes da física, desde os primórdios do século
XX, foram criando de tempo e de movimento.Em suma, é preciso ir
além da física, ou seja: partir dos princípios universalíssimos da metafísica,
que servem de base para todas as ciências.
NOTA DE REFERÊNCIAS:
1-Citado, entre outros
lugares, em Suma Teológica, I, q. 10, art. 2, ad. 2.
2- Digo conhecimento
natural porque é possível ao anjo receber um conteúdo inteligível absolutamente
sobrenatural, por iluminação divina, por exemplo.
3- “In apprehensione uniformitatis eius quod est omnino extra motum,
consistit ratio aeternitatis”. Cfme. Suma Teológica, I, q. 10, art. 1, resp.
4- “(...) quod aliqua
ab ipso immutabilitatem percipiunt, secundo hoc aliqua eius aeternitatem
participant”. Suma Teológica, I, q. 10, art. 3, resp.
5- De Aeternitate
Mundi, nº 1.
Da Eternidade de Deus - Nesta questão
discutem-se seis artigos:
1. O que é a
eternidade;
2. Se Deus é eterno;
3. Se ser eterno é
próprio de Deus;
4. Se a eternidade
difere do tempo;
5. Se a eternidade
difere do evo e do tempo;
6. Se há só um evo,
como há só um tempo e uma só eternidade.
ART. I – SE É BOA A SEGUINTE DEFINIÇÃO DA
ETERNIDADE: “A POSSE TOTAL, SIMULTÂNEA E PERFEITA DE UMA VIDA INTERMINÁVEL”
(I Sent., dist. VIII,
q. 2, a. 1; De Causis, lect. II).
O primeiro discute-se as objeções assim:
“Parece que não é boa a definição de eternidade, que dá Boécio: a posse
total, simultânea e perfeita de uma vida interminável” [1].
1.Pois,
"interminável" é um conceito negativo. Ora, a negação é própria à
noção de deficiência, que não convém à eternidade. Logo, na definição desta não
deve entrar a palavra interminável.
2. Demais:A
eternidade implica uma espécie de duração. Ora, esta é própria, mais do ser,
que da vida. Logo, a palavra vida não se devia incluir na noção de eternidade,
mas, antes a de ser.
3. Demais:Chama-se
totalidade o que tem partes. Ora, isto não pode convir à eternidade, que é
simples. Logo, é mal aplicada na definição a palavra total.
4. Demais:Nem vários
dias, nem vários tempos podem existir simultaneamente. Ora, na eternidade
distinguem-se muitos dias e tempos, pois diz a Escritura (Mq 5, 2): Cuja
geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade; e (Rm 16, 25): segundo
a revelação do mistério encoberto desde tempos eternos. Logo, a eternidade não
é total e simultânea.
5. Demais:“Todo” é
idêntico a “perfeito”. Ora, se já se incluiu na definição a palavra total, é
inútil acrescentar perfeita.
6. Demais:A posse não
é própria da duração. Ora, a eternidade é uma duração. Logo, não é posse.
SOLUÇÃO:
Assim como devemos partir do simples para chegar ao conhecimento do
composto, assim devemos partir do tempo para chegar ao conhecimento da
eternidade.
Ora, o tempo não é senão o número das partes do movimento, por anterioridade e
posteridade. Pois, como em qualquer movimento, a uma parte sucede outra, pela
enumeração das diversas partes, anteriores e posteriores, apreendemos o tempo,
que não é senão o número do que é anterior e posterior, no movimento. Mas, onde
não há movimento, mas, sempre o mesmo modo de existir, não se pode descobrir
anterioridade e posteridade. Por onde, assim como a essência do tempo consiste
na enumeração do que é anterior e posterior no movimento, assim, a da
eternidade, consiste na apreensão da uniformidade do que está absolutamente
fora do movimento. –– Demais. Consideram-se medidas pelo tempo as coisas que
nele têm princípio e fim, como diz Aristóteles [2]; e isto, porque tudo o que é
movido inclui um princípio e um fim. Logo, o que é absolutamente imutável, não
tendo sucessão, também não pode ter princípio nem fim. –– Assim, pois, por duas
características se conhece a eternidade: o que nela está é interminável, isto
é, não tem princípio nem fim, duas noções que implica o termo, e em segundo
lugar, justamente por não ter sucessão, a eternidade existe total e
simultaneamente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO:(1.Pois,
"interminável" é um conceito negativo. Ora, a negação é própria à
noção de deficiência, que não convém à eternidade. Logo, na definição desta não
deve entrar a palavra interminável):Costuma-se definir o
que é simples, por negação; assim, ponto é o que não tem parte; mas isto não
quer dizer, que a negação seja a essência de tais seres, senão que o nosso
intelecto, apreendendo primeiro o composto, só pode chegar ao conhecimento do
simples, removendo a composição.
RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO (2. Demais - A
eternidade implica uma espécie de duração. Ora, esta é própria, mais do ser,
que da vida. Logo, a palavra vida não se devia incluir na noção de eternidade,
mas, antes a de ser):O que é
verdadeiramente eterno não só é ser, como também vivente; e a vida se estende,
de certo modo, até à operação, mas não ao ser. Ora, a extensão da duração
parece que deve ser considerada relativamente à operação, antes que
relativamente ao ser; e, por isso, o tempo é o número do movimento.
RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO
(3. Demais - Chama-se totalidade o que tem partes. Ora, isto não pode convir à
eternidade, que é simples. Logo, é mal aplicada na definição a palavra total):Diz a definição, que
a eternidade é total, não por ter partes, mas, porque nada lhe falta.
RESPOSTA À QUARTA OBJEÇÃO
(4. Demais:Nem vários dias, nem vários tempos podem existir simultaneamente.
Ora, na eternidade distinguem-se muitos dias e tempos, pois diz a Escritura (Mq
5, 2): Cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade; e (Rm 16,
25): segundo a revelação do mistério encoberto desde tempos eternos. Logo, a
eternidade não é total e simultânea):Assim como a Deus,
embora incorpóreo, a Escritura aplica, metaforicamente, nomes de coisas
corpóreas, assim também à eternidade, que existe total e simultaneamente,
aplica a denominação própria do que é sucessivo no tempo.
RESPOSTA À QUINTA OBJEÇÃO
(5. Demais:“Todo” é idêntico a “perfeito”. Ora, se já se incluiu na definição a
palavra total, é inútil acrescentar perfeita):O tempo pode ser
considerado, em si mesmo, como sucessivo, ou em um dos seus momentos, que é
imperfeito. Ora, a definição diz –– total e simultaneamente –– para excluir o
tempo; e, perfeita, para excluir o momento temporal.
RESPOSTA À SEXTA OBJEÇÃO
(6. Demais:A posse não é própria da duração. Ora, a eternidade é uma duração.
Logo, não é posse):O que é possuído o é
firme e tranqüilamente; e, por isso, para designar a imutabilidade e a
indeficiência da eternidade a definição empregou a palavra posse.
ART. II - SE DEUS É ETERNO?
(I Sent., dist. XIX, q. 2, art. 1; I Cont. Gent., cap. XV; De Pot., q.
3, a. 17, ad 23; Compend Theol., cap. V, VIII).
O segundo discute-se assim: Parece que Deus não é eterno.
1. Pois, nada do que
lhe é feito lhe pode ser atribuído. Ora, a eternidade é feita, conforme a
expressão de Boécio: O momento que passa constitui o tempo; o que permanece, a
eternidade [3]; e Agostinho : Deus é o autor da eternidade. Logo, Deus não é
eterno [4].
2. Demais. – O
anterior e o posterior à eternidade por ela não se mede. Ora, Deus é anterior,
como diz o livro De Causis; e posterior, conforme a Escritura (Ex 15, 18): O
Senhor reinará eternamente e além da eternidade. Logo, ser eterno não é próprio
de Deus.
3. Demais. –A
eternidade é uma espécie de medida. Ora, a Deus não convém ser medido. Logo,
nem ser eterno.
4. Demais. –A
eternidade não tem presente, pretérito, nem futuro, porque existe total e
simultaneamente, como se disse (a. 1). Ora, a Escritura aplica a Deus palavras
que exprimem os tempos presente, pretérito e futuro. Logo, Deus não é eterno.
Mas, em contrário, diz
Atanásio: Eterno Padre, Eterno Filho, Eterno Espírito Santo. [5]
SOLUÇÃO:
A noção da eternidade
resulta da imutabilidade, como a de tempo resulta do movimento, conforme do
sobredito resulta (a. 1). Ora, sendo Deus o ser imutável por excelência, convém-lhe,
excelentemente, a eternidade. Nem só é eterno, mas é a sua eternidade, ao passo
que nenhuma coisa é a própria duração, porque não é o próprio ser. Deus, porém,
sendo o seu ser uniformemente e a sua própria essência, há de, necessariamente,
ser a sua eternidade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO:( 1. Pois, nada do que
lhe é feito lhe pode ser atribuído. Ora, a eternidade é feita, conforme a
expressão de Boécio: O momento que passa constitui o tempo; o que permanece, a
eternidade [3]; e Agostinho : Deus é o autor da eternidade. Logo, Deus não é
eterno [4] ):Pela nossa apreensão
é que se diz que o momento permanente constitui a eternidade. Pois, assim, como
a nossa apreensão do tempo tem a sua causa no apreendermos o fluxo mesmo do
momento, assim procede em nós a apreensão da eternidade, de apreendermos o
momento permanente. E a expressão de Agostinho –– Deus é o autor da eternidade
–– entende-se da eternidade participada. Pois, Deus comunica a sua eternidade a
certos seres, do mesmo modo por que comunica a sua imutabilidade.
RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO(2. Demais. – O anterior e o posterior
à eternidade por ela não se mede. Ora, Deus é anterior, como diz o livro De
Causis; e posterior, conforme a Escritura (Ex 15, 18): O Senhor reinará
eternamente e além da eternidade. Logo, ser eterno não é próprio de Deus):E daqui se deduz
clara a resposta à segunda objeção - Pois, diz-se que Deus é anterior à eternidade,
enquanto participado pelas substâncias materiais; e, por isso, o mesmo livro
diz, que a inteligência se alça ao nível da eternidade. E na expressão do
Êxodo: o Senhor reinará eternamente e além da eternidade –– eternamente é
empregado no sentido de século, como se lê em outra versão. Assim, pois, diz-se
que reinará além da eternidade, porque dura mais que qualquer século, i. é,
além de qualquer duração dada; pois, século não é mais que o período de um ser,
como diz Aristóteles [6]. Ou ainda, diz-se que reina além da eternidade,
porque, se alguma coisa existisse sempre, como o movimento do céu, segundo
certos filósofos, ainda Deus reinaria mais, porque o seu reino existe total e
simultaneamente.
RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO
(3. Demais. – A eternidade é uma espécie de medida. Ora, a Deus não convém ser
medido. Logo, nem ser eterno):A eternidade não é
outra coisa senão Deus. Por onde, diz-se que Deus é eterno, não porque seja, de
certo modo, medido; pois, a noção de medida emprega-se aí só para auxiliar nossa apreensão.
RESPOSTA À QUARTA OBJEÇÃO
(4. Demais. –A eternidade não tem presente, pretérito, nem futuro, porque
existe total e simultaneamente, como se disse (a. 1). Ora, a Escritura aplica a
Deus palavras que exprimem os tempos presente, pretérito e futuro. Logo, Deus
não é eterno):As palavras que
designam os diversos tempos atribuem-se a Deus, porque a sua eternidade os
inclui a todos; não, porém, que ele encerre qualquer variação, que se
desenvolva no presente, no pretérito e no
futuro.
ART. III - SE SER ETERNO É PRÓPRIO SÓ DE DEUS ?
(I Sent., dist. VIII, q. 2, a. 2; IV, dist. XLIX, q. 1, a. 2, qa
3; Quodl., X, q. 2; De Div. Nom., cap.X, lect. III; De Causis, lect. II).
O terceiro discute-se assim: Parece que ser eterno não é
próprio de Deus.
1. – Pois, diz a
Escritura (Dn 12, 3): E os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça,
esses luzirão como as estrelas por todas as eternidades. Ora, não haveria
várias eternidades se só Deus fosse eterno. Logo, nem só ele o é.
2. Demais. – Diz
ainda a Escritura (Mt 25, 41): Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo
eterno. Logo, nem só Deus é eterno.
3. Demais. –– Todo
necessário é eterno. Ora, há muitas coisas necessárias, como p. ex., todas as
proposições demonstrativas. Logo, nem só Deus é eterno.
Mas, em contrário, diz Jerônimo a Dámaso: Só Deus não tem princípio [7].
Ora, tudo o que tem princípio não é eterno. Logo, só Deus é eterno.
SOLUÇÃO:
A eternidade,
verdadeira e propriamente, só a Deus convém; pois resulta da imutabilidade,
como já vimos (a. 1), e só Deus é absolutamente imutável, segundo estabelecemos
(q. 9 a. 2). E, na medida em que os seres dele recebem a imutabilidade, nessa
mesma lhe participam da eternidade. Ora, há certos seres que recebem de Deus a
imutabilidade, de modo tal que nunca mais deixam de existir; e, neste sentido,
a Escritura (Ecl 1, 4) diz que a terra permanece sempre firme. Há outros seres
que, na Escritura, também se denominam eternos, por durarem diuturnamente,
embora sejam corruptíveis; assim os montes chamam-se eternos (Sl 45, 5) e
fala-se dos frutos eternos (Dt 33, 15). Mas, há ainda outros seres, que mais
amplamente participam da eternidade, por terem o ser incorruptível ou mesmo,
além disso, imutável a operação, como os anjos e os bem-aventurados, que gozam
do Verbo; pois, quanto à visão do Verbo, não são mutáveis as cogitações dos
santos, conforme diz Agostinho8. Por isso se diz que os que vêem a Deus possuem
a vida eterna, segundo a Escritura (Jo 17, 3): A vida eterna porém consiste em
que eles te conheçam por um só verdadeiro Deus, etc.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO (1. – Pois, diz a
Escritura (Dn 12, 3): E os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça,
esses luzirão como as estrelas por todas as eternidades. Ora, não haveria
várias eternidades se só Deus fosse eterno. Logo, nem só ele o é):Consideram-se muitas
as eternidades, por serem muitos os que dela participam, contemplando a Deus.
RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO (2. Demais. – Diz ainda a
Escritura (Mt 25, 41): Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno. Logo,
nem só Deus é eterno):O fogo do inferno
chama-se eterno, só por ser interminável. Há, porém, mudança nas penas dos
condenados, como se vê na Escritura (Jó 24, 19): Ele passa das águas da neve
para um excessivo calor. Por onde, no inferno não há verdadeira eternidade, mas
antes, tempo, conforme a mesma Escritura (Sl 80, 16): E durará o tempo deles
por todos os séculos.
RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO(3. Demais. –Todo
necessário é eterno. Ora, há muitas coisas necessárias, como p. ex., todas as
proposições demonstrativas. Logo, nem só Deus é eterno):Necessário significa
um certo modo de ser da verdade, pois esta, segundo o Filósofo [9], está no
intelecto. O verdadeiro e o necessário são, assim, eternos por existirem num
intelecto eterno, que é só o divino. Donde não se segue, que alguma coisa, fora
de Deus, seja eterna (Grifos meus- Ex.: O nada, a escuridão e o frio).
ART. IV. - SE A ETERNIDADE DIFERE DO TEMPO?
(Infra, a. 5; I Sent., dist. VIII, q. 2, a. 2; dist. XIX, q. 2, a. 1; De
Pot., q. 3, a. 14, ad 10, 18; De Div. Nom., cap. X, lect. III)
O quarto discute-se assim: “Parece que a eternidade não difere do tempo.”
1. – Pois, é
impossível existirem duas medidas simultâneas de duração, se uma for parte da
outra; assim, não podem existir simultaneamente dois dias ou duas horas, ao
passo que a hora e o dia são simultâneos porque aquela faz parte deste. Ora, a
eternidade e o tempo existem simultaneamente e ambos implicam uma certa medida
da duração. Logo, a eternidade, não sendo parte do tempo, porque o excede e o
inclui, resulta que este é parte daquela e dela não difere.
2. Demais - Segundo o
Filósofo [10], o momento temporal permanece idêntico a si mesmo na totalidade do
tempo. Ora, isto mesmo é o que constitui a essência da eternidade, a saber,
permanecer indivisivelmente idêntica a si mesma em todo decurso do tempo. Logo,
a eternidade é um momento temporal. Ora, este não difere essencialmente do
tempo. Logo, deste não difere substancialmente a eternidade.
3. Demais - Assim
como a medida do primeiro movimento é a medida de todos os outros, segundo
Aristóteles [11], assim também a medida do primeiro ente há-de ser a de todos
os demais. Ora, a eternidade mede o ser primeiro, que é o divino. Logo, mede
todos os demais seres. E como o ser das coisas corruptíveis é medido pelo
tempo, este ou é a eternidade ou parte dela. Mas, em contrário, a eternidade
existe toda simultaneamente. Ora, no tempo há anterioridade e posterioridade.
Logo, não se identificam.
SOLUÇÃO:
É claro que o tempo
não se identifica com a eternidade. A razão da diversidade deles, porém, alguns
a descobriram em a eternidade não ter princípio nem fim e o tempo tê-los. Mas, esta diferença
é acidental e não essencial, porque, dado que o tempo sempre existiu e sempre
existirá, permanece ainda, admitindo-se a opinião dos que consideram sempiterno
o movimento do céu, uma diferença entre a eternidade e o tempo, como diz Boécio
[12]. Essa consiste em ser a eternidade a medida do permanente e o tempo, a do
movimento; pois, a primeira existe toda simultaneamente e o tempo, não. Se,
porém, considerarmos a diferença referida, relativamente ao medido, e não às
medidas, então a doutrina em questão tem certo fundamento. Pois, só é medido
pelo tempo o que tem princípio e fim temporais, como diz Aristóteles [13]. Por
onde, se o movimento do céu durasse sempre, o tempo não o mediria na totalidade
da sua duração, porque o infinito não é mensurável; medir- lhe-ia, porém, os círculos,
que têm princípio e fim temporais. Podemos ainda descobrir outro fundamento na
opinião que discutimos, relativamente às medidas mesmas, se considerarmos o fim
e o princípio, potencialmente. Pois, mesmo dado que o tempo dure sempre, ainda
assim seria possível descobrir nele princípio e fim, considerando-lhe as
partes, no sentido em que falamos do princípio e do fim do dia ou do ano. Ora,
isto não pode convir à eternidade, embora tais diferenças resultem da diferença
primária e essencial, a saber, que a eternidade existe toda simultaneamente, e
o tempo, não.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO (1. – Pois, é
impossível existirem duas medidas simultâneas de duração, se uma for parte da
outra; assim, não podem existir simultaneamente dois dias ou duas horas, ao
passo que a hora e o dia são simultâneos porque aquela faz parte deste. Ora, a
eternidade e o tempo existem simultaneamente e ambos implicam uma certa medida
da duração. Logo, a eternidade, não sendo parte do tempo, porque o excede e o
inclui, resulta que este é parte daquela e dela não difere):A objeção procederia se o tempo e a eternidade fossem medidas do mesmo
gênero; o que, evidentemente é falso, dadas as naturezas daquele e desta.
RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO(2.
Demais - Segundo o Filósofo [10], o momento temporal permanece idêntico a si
mesmo na totalidade do tempo. Ora, isto mesmo é o que constitui a essência da
eternidade, a saber, permanecer indivisivelmente idêntica a si mesma em todo
decurso do tempo. Logo, a eternidade é um momento temporal. Ora, este não
difere essencialmente do tempo. Logo, deste não difere substancialmente a
eternidade):O momento temporal
constitui um mesmo sujeito, em todo o decurso do tempo, mas não na concepção
racional. Pois, assim como o tempo corresponde ao movimento, assim o momento
temporal, ao móvel. Ora, este é um mesmo sujeito em todo decurso do tempo, mas
muda na concepção racional, segundo está aqui ou acolá. E essa alternação
constitui o movimento, do mesmo modo que o fluxo do momento, enquanto alternado
racionalmente, constitui o tempo. A eternidade, ao contrário, permanece a mesma
quanto ao sujeito e quanto à nossa concepção. Logo, não se identifica com o
momento temporal.
RESPOSTA À TERCEIRA
OBJEÇÃO (3. Demais - Assim
como a medida do primeiro movimento é a medida de todos os outros, segundo
Aristóteles [11], assim também a medida do primeiro ente há-de ser a de todos
os demais. Ora, a eternidade mede o ser primeiro, que é o divino. Logo, mede
todos os demais seres. E como o ser das coisas corruptíveis é medido pelo
tempo, este ou é a eternidade ou parte dela. Mas, em contrário, a eternidade
existe toda simultaneamente. Ora, no tempo há anterioridade e posterioridade.
Logo, não se identificam):Assim como a
eternidade é a medida do ser em si mesmo, assim o tempo é a medida própria do
movimento. Por onde, na medida em que um ser se afasta da existência permanente
e sujeita-se à mudança, nessa mesma se afasta da eternidade e se sujeita ao
tempo. Logo, o ser das coisas corruptíveis, sendo mutável, não é medido pela
eternidade, mas, pelo tempo. Pois, este mede não só o que atualmente muda, mas
também o que é suscetível de mudança e, portanto, mede, não só o movimento, mas
também o repouso, próprio ao ser ao qual o movimento é natural embora não seja
atualmente movido.
ART. V – SE O EVO DIFERE DO TEMPO?
(I Sent., dist. VIII, q. 2, a. 2; dist. XIX, q. 2, a. 1; II, dist. 2, q. 1, a 1; De
Pot., q. 3, a. 14, ad 18; Quodl., X, q. 2).
O quinto discute-se
assim: Parece que o EVO não difere do tempo.
1.Pois, diz
Agostinho, que Deus move as criaturas espirituais no tempo [14]. Ora,
entende-se por evo a medida das substâncias espirituais. Logo, o tempo não
difere do evo.
2. Demais - É da
essência do tempo ter anterioridade e posterioridade, ao passo que a
eternidade, por essência, existe toda simultaneamente, como já dissemos (a. 1).
Ora, o evo não é a eternidade, pois diz a Escritura (Ecle 1, 1), que a
sabedoria eterna é anterior ao evo. Logo, este não existe todo simultaneamente
mas tem anterioridade e, portanto, é tempo.
3. Demais - Se no evo
não há anterioridade e posterioridade, segue-se que nos seres eviternos não há
diferença entre ser, ter sido, ou haver de ser. Ora, como é impossível tais
seres não tenham existido, segue-se que é impossível não hajam de ser, o que é
falso, porque Deus pode reduzi-los a nada.
4. Demais - A duração
dos seres eviternos sendo infinita, na sua continuidade, se o evo existe total e
simultaneamente, segue-se que há seres criados atualmente infinitos, o que é
impossível. Logo, o evo não difere do tempo.Mas, em contrário,
diz Boécio: Tu que fazes sair o tempo, do evo [15].
SOLUÇÃO:
O evo difere do tempo
e da eternidade, sendo o termo médio entre ambos. Esta diferença,
porém, uns a descobrem em que a eternidade não tem princípio nem fim; o evo tem princípio, mas não tem fim; e o tempo tem
princípio e fim. Mas esta diferença é acidental, como já dissemos, pois
mesmo que os seres eviternos tivessem existido sempre e sempre houvessem de
existir; e mesmo que viessem a deixar de existir um dia, o que Deus poderia
fazer, mesmo assim, o evo se distinguiria da eternidade e do tempo.Outros, porém,
descobrem a diferença em que a eternidade não tem antes nem depois; o tempo tem
antes e depois, implicando inovação e antiguidade; e o evo tem antes e depois,
mas, sem renovação e antiguidade.Mas, esta opinião implica contradição, que
manifestamente ressalta, se a renovação e a antiguidade se referirem à medida
mesma. Pois, não podendo ser simultâneos o anterior e o posterior da duração,
se o evo tem antes e depois, é necessário que, desaparecendo uma parte
anterior, sobrevenha, como renovamento, a que lhe sucede; e, desde logo,
haveria no evo renovação, como no tempo. Se, porém, se referirem às coisas
medidas, também daí resultam inconvenientes. Pois, as coisas temporais
envelhecem no tempo, porque têm o ser transmutável; e é dessa transmutabilidade
que resultam o antes e o depois do tempo, como se vê em Aristóteles [16]. Se,
portanto, o sujeito de eviternidade não envelhece nem se renova temporalmente,
é porque tem o ser intransmutável. Logo, a sua medida não tem antes nem depois.Devemos, portanto,
admitir que, sendo a eternidade a medida do ser permanente, na medida em que
uma criatura se afasta da permanência do ser, nessa mesma se afasta da
eternidade. Ora, certas se afastam de modo tal, que o ser delas está sujeito à
transmutação ou nesta consiste. Outras, porém, afastam-se menos, porque o ser
delas nem consiste na transmutação, nem está sujeito a esta; contudo tem a
transmutação adjunta, atual ou potencialmente. E isto bem se vê nos corpos
celestes cujo ser substancial é intransmutável mas tem adjunto o movimento
local. O mesmo se dá com os anjos, que têm o ser intransmutável, mas variável
quanto à eleição, na medida em que isso lhes pertence à natureza; e variável,
ainda, pelos pensamentos, pelos afetos, e a seu modo, localmente. Por isso
medem-se pelo evo, meio termo entre a eternidade e o tempo. Ora, o ser que se
mede pela eternidade, nem é mutável, nem admite nenhuma espécie de mudança;
assim pois, no tempo, há antes e depois; no evo, não há, mas pode vir
conjuntamente com eles; a eternidade não os tem, nem com eles é compatível.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO(1.Pois, diz
Agostinho, que Deus move as criaturas espirituais no tempo [14]. Ora,
entende-se por evo a medida das substâncias espirituais. Logo, o tempo não
difere do evo):As criaturas
espirituais, quanto aos afetos e pensamentos, em que há sucessão, medem-se pelo
tempo; e, por isso, diz Agostinho [17], que ser movido no tempo é ser movido
quanto aos afetos. Quanto ao ser natural, porém, elas são medidas pelo evo. E,
por fim, quanto à visão da glória, participam da eternidade.
RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO
(2. Demais - É da essência do tempo ter anterioridade e posterioridade, ao
passo que a eternidade, por essência, existe toda simultaneamente, como já
dissemos (a. 1). Ora, o evo não é a eternidade, pois diz a Escritura (Ecle 1,
1), que a sabedoria eterna é anterior ao evo. Logo, este não existe todo
simultaneamente mas tem anterioridade e, portanto, é tempo):O evo existe todo e simultaneamente; não é porém a eternidade, porque em
si comporta antes e depois.
RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO
(3. Demais - Se no evo não há anterioridade e posterioridade, segue-se que
nos seres eviternos não há diferença entre ser, ter sido, ou haver de ser. Ora,
como é impossível tais seres não tenham existido, segue-se que é impossível não
hajam de ser, o que é falso, porque Deus pode reduzi-los a nada):No ser do anjo em si
mesmo considerado, não há diferença do pretérito e futuro, senão só por
mutações adjuntas. Mas, quando dizemos que o anjo é, foi ou há-de ser, isso
implica diferença na acepção do nosso intelecto, que compreende o ser angélico
por comparação com as diversas partes do tempo. E quando o nosso intelecto diz,
que o anjo é ou foi, supõe algo de incompatível com a suposição contrária,
mesmo para o poder divino; e quando diz que será, não faz ainda tal suposição.
Ora, o ser e o não-ser do anjo, dependendo do poder divino, Deus pode,
absolutamente falando, fazer com que o ser dele não venha a existir; não pode,
porém, fazer que não exista, existindo; ou que não seja, depois que foi.
RESPOSTA À QUARTA OBJEÇÃO
(4. Demais - A duração dos seres eviternos sendo infinita, na sua continuidade,
se o evo existe total e simultaneamente, segue-se que há seres criados
atualmente infinitos, o que é impossível. Logo, o evo não difere do tempo):A duração do evo é infinita, porque não tem limites no tempo. Por onde,
não é inconveniente existir uma criatura infinita, por não ser limitada por
nenhuma outra.
ART. VI – SE HÁ SÓ UM EVO?
(II Sent., dist. II, q. 1, a. 2; Quodl., V, q. 4; Opusc. XXXVI, De Instant., cap. III).
O sexto discute-se assim: Parece que não há um só evo.
1.Pois, diz o livro
apócrifo de Esdras (III, IV, 40): a majestade e o poder dos evos está em ti,
Senhor.
2. Demais - Gêneros
diversos têm medidas diversas. Ora, certos seres eviternos –– os corpos
celestes –– pertencem ao gênero das coisas corpóreas; outros, porém –– os anjos
–– são substâncias espirituais. Logo, não há um só evo.
3. Demais - Designando
o evo a duração, os seres que têm o mesmo evo têm a mesma duração. Ora, nem
todos os seres eviternos têm a mesma duração, porque uns começam a existir
depois de outros, bem o demonstram as almas humanas. Logo, não há um só evo.
4. Demais - Seres que
não dependem uns dos outros não têm a mesma medida de duração; por isso é que
todas as coisas temporais são medidas pelo mesmo tempo, porque a causa de todos
os movimentos é, de certo modo, o primeiro movimento, medido pelo primeiro
tempo. Ora, os seres eviternos não dependem uns dos outros. Logo, não há um só
evo.Mas, em contrário - O evo é mais simples que o tempo e mais se aproxima
da eternidade. Ora, o tempo é um só. Logo, com maior razão, o evo.
SOLUÇÃO:
Sobre este assunto
houve duas opiniões. Uns dizem que o evo é um só e outros, que muitos. Para
sabermos qual delas é a mais verdadeira, devemos considerar a causa da unidade
do tempo, pois pelo conhecimento do corporal, chegamos ao do espiritual.Assim, uns dizem que
há um só tempo para todos os seres corpóreos, porque só há um número para todas
as coisas numeradas; pois, o tempo é número, segundo o Filósofo [18]. Mas, isto
não basta, porque o tempo não é um número separado da coisa numerada, mas,
nesta existente; do contrário, não seria contínuo, pois a continuidade de dez
braças de pano, por exemplo, não está em um número, mas no pano numerado. Ora,
o número existente nos numerados não é o mesmo para todos, mas cada um tem o
seu.Por isso, outros
querem ver a causa da unidade do tempo na unidade da eternidade, princípio de
toda duração. De modo que todas as durações se reduzem a uma, se lhes
considerarmos o princípio; são muitas, pelo contrário, se considerarmos a
diversidade dos seres que recebem a duração do influxo do primeiro princípio. Outros,
por fim, descobrem a causa da unidade do tempo na matéria prima, sujeito
primeiro do movimento, cuja medida é o tempo. Ora, nenhuma destas duas opiniões
pode ser considerada suficiente, porque seres que se unificam em virtude de um
princípio, ou pelo sujeito, sobretudo remoto, não têm unidade, pura e
simplesmente, mas sobre certo ponto de vista.Por onde, a verdadeira
razão da unidade do tempo é a unidade do primeiro movimento, pelo qual, sendo
simplicíssimo, todos os demais são medidos, como diz Aristóteles [19]. Assim,
pois, o tempo está para esse movimento, não só como a medida, para o medido,
mas também como o acidente, para o sujeito e, portanto, dele recebe a unidade;
ao passo que está para os outros movimentos somente como medida, para o que é
medido; e nem se multiplica com a multidão deles, porque uma medida distinta
pode medir muitas coisas.Isto posto, devemos
saber que houve dupla opinião a respeito das substâncias espirituais. Assim,
uns diziam que todas ou, pelo menos, muitas, no sentir de outros, procederam de
Deus em uma quase igualdade, como ensina Orígenes [20]. Outros, porém, diziam
que todas as substâncias procederam de Deus num certo grau e numa certa ordem;
este foi o sentir de Dionísio [21] que diz haver, entre as substâncias
espirituais e ainda, numa mesma ordem de anjos, primeiras, médias e últimas.
Ora, pela primeira opinião, é necessário admitirem-se vários evos correlativos
aos vários seres eviternos primeiros e iguais. Pela segunda, é necessário
admitir-se um só evo, porque, medindo-se cada ser pelo que é mais simples no
seu gênero, como diz Aristóteles [22], o ser de todas as criaturas coeternas
há-de forçosamente ser medido pelo que o é primariamente, tanto mais simples
quanto mais elevado for. Ora, sendo esta opinião mais verdadeira, como a seguir
se demonstrará, concedemos, no caso presente, que há um só evo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO (1.Pois, diz o livro
apócrifo de Esdras (III, IV, 40): a majestade e o poder dos evos está em ti,
Senhor):Evo é às vezes tomado
por século, período de duração de um ser; e, então consideram-se os evos
muitos, como os séculos.
RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO
(2. Demais - Gêneros diversos têm medidas diversas. Ora, certos seres eviternos
–– os corpos celestes –– pertencem ao gênero das coisas corpóreas; outros,
porém –– os anjos –– são substâncias espirituais. Logo, não há um só evo):Embora os corpos
celestes e os espirituais difiram pelo gênero da natureza, têm, contudo, de
comum, o serem intransmutáveis, e, por isso, medem-se pelo evo.
RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO(3. Demais - Designando
o evo a duração, os seres que têm o mesmo evo têm a mesma duração. Ora, nem
todos os seres eviternos têm a mesma duração, porque uns começam a existir
depois de outros, bem o demonstram as almas humanas. Logo, não há um só evo):Embora os seres
temporais não comecem todos simultaneamente, contudo, todos estão no mesmo
tempo, por causa do movimento primeiro medido pelo tempo. E, assim, todos os
seres eviternos têm um mesmo evo, em virtude do primeiro dentre eles, embora
nem todos comecem simultaneamente.
RESPOSTA À QUARTA OBJEÇÃO (4. Demais - Seres
que não dependem uns dos outros não têm a mesma medida de duração; por isso é
que todas as coisas temporais são medidas pelo mesmo tempo, porque a causa de
todos os movimentos é, de certo modo, o primeiro movimento, medido pelo
primeiro tempo. Ora, os seres eviternos não dependem uns dos outros. Logo, não
há um só evo):Para que várias
coisas tenham a mesma medida, não é necessário que esta seja a causa de todas
aquelas, mas, que seja mais simples que elas.
NOTAS:
1 V De consol., pros.
VI.
2 IV Physic., lect. XX.
3 de Trin., cap. IV.
4 lib. LXXXIII
Quaestionum, q. XXIII.
5 In symb.
6 In lib. I De caelo (lect. XXI)
7 In. Ep. XV
8 XV De Trinitate, c. XVI.
9 VI Metaphys., lect. IV.
10 IV Phys., lect. XVIII.
11 IV Phys., lect. XXIII.
12 De consolat., lib.
V, prosa VI.
13 IV Phys., lect. XX.
14 VIII Super Gen. ad litt., cap. XX.
15 lib. III De
consol., metro IX.
16 IV Phys., lect. XIX.
17 VIII Super Gen. ad litt., cap. XX.
18 lib. IV Physic., lect. XVII.
19 X Metaphys., lect. II.
20 lib. I Periarchon, cap. VIII.
21 Cael. hier., c. X.
22 X Met., lect. II.
A morte de acordo com Tomás de Aquino
No estudo intitulado
“Tomás de Aquino e o nosso tempo: o problema do fim do homem”, o filósofo
Henrique C. de Lima Vaz adverte que a interpretação de uma experiência que
encontrou a sua expressão teórica em textos do passado, pressupõe a
possibilidade de referir essa mesma experiência – e também a sua expressão – ao
presente, no ato da leitura.No caso de Tomás de
Aquino, além dos problemas de hermenêutica suscitados pela tentativa de
interpretação de escritos compostos em época tão distante da nossa, uma atitude
de prudência é aconselhável, se nos aproximamos do Doutor Angélico com o
propósito de vislumbrar a harmoniosa justaposição dos elementos de seu vasto
sistema, no qual cada parte se ordena e é proporcionada a um fim específico, e
cada um desses fins, por sua vez, conduz a outros, no horizonte metafísico que
tem Deus como princípio e fim último de todos os entes.Assim, como metodologia convém seguir o conselho do
próprio Tomás, que, no pequeno texto intitulado “O modo de estudar” (De modo
studendi), recomenda:“os estudiosos não devem pronunciar-se de forma apressada acerca do que
pesquisam”.Feita esta
advertência preliminar, registre-se que o presente estudo sobre a morte em
Tomás de Aquino buscará orientar-se por duas linhas mestras:
1ª)- Uma dessas
linhas parte do movimento que o teólogo dominicano D. M. Chenu apontou no plano
da Suma Teológica: a Prima Pars trata da criação das coisas por Deus;
2ª)- a Secunda Parte refere-se ao retorno de tudo ao seu princípio criador e ordenador, ou seja, o
próprio Deus; e a Tertia Pars estuda as condições cristãs para esse retorno, no
caso particular do homem. O exemplarismo divino e o retorno da imagem (homem)
ao seu modelo (Deus) constituem o eixo dos escritos morais de Santo Tomás, e
veremos como a morte do homem, para o Aquinate, se insere no contexto moral —
que se efetiva a partir dos atos livres do ser humano.Por esta razão, é conveniente destacar que, segundo Tomás de Aquino, o
ato propriamente humano orienta-se pela vontade, a qual é movida pela razão.Sendo assim, como é
natural no homem agir com algum grau de conhecimento do fim em vista do qual
age, de qualquer um dos seus atos só poderá dizer-se “bom” ou “mau” quando for
voluntário, pois uma ação involuntária – não movida pelo apetite racional
(expressão com que o Doutor Angélico designa a vontade) – não pode ser
considerada boa ou má sob o aspecto moral.Aqui nos deparamos
com o cerne desta primeira linha mestra: a morte humana como conseqüência do
mal moral, que a tradição judaico-cristã convencionou chamar de “pecado
original”, um ato de livre escolha para cuja execução houve o concurso da razão
e da vontade.Para Santo Tomás, a vida eterna não é outra coisa senão a
própria bem-aventurança à qual o homem foi destinado por Deus.Contudo, para
alcançá-la, se requer dele a retidão da vontade, que tem a sua consecução na
liberdade e, por isso, o Aquinate afirma que é essencial para qualquer pena (e
a morte, para ele, é uma pena, decorrente do pecado original) ser contrária à
vontade e, por conseqüência, à liberdade, que é o seu sucedâneo.No chamado “estado de inocência original” ao homem foram concedidos os
dons preternaturais que o auxiliavam a evitar os erros e efetivar, a partir do
exercício da liberdade, o seu destino à beatitude eterna, escolhendo os
verdadeiros bens (e dentre estes, a vida, fonte de todos os demais).Pressuposta esta
paradisíaca realidade, perdida com a queda de Adão e Eva, Santo Tomás passa a
distinguir — com relação ao mal do ponto de vista ontológico — entre o mal que
consiste na privação de uma forma (ato primeiro, que é o simples ato de ser de
cada ente) e o mal que consiste na orientação de uma ação (ato segundo,
atinente às intenções).A morte corresponde à primeira dessas distinções, referente à privação
da forma, pois é a privação, no corpo humano, da sua forma substancial: a alma
(anima). É o chamado “mal de pena”.À segunda distinção corresponde o chamado “mal de culpa”,
que é uma desorientação da vontade:Ou seja, quando esta
escolhe pseudos bens, ou bens contingentes, que obstam a consecução da
felicidade perene, embora, sejam portadores de algum quantum de bem e de
prazer, pois todos os entes, pelo simples ato de ser (actus essendi), são
portadores de algum bem e, por isso, são apetecíveis, já que o mal não tem essência, pois é a privação de bem nos entes— e,
por esta razão o mal, em si mesmo, não pode mover o apetite racional da
vontade, pois os homens agem sempre buscando algum bem (real ou aparente) em
suas ações.Neste horizonte
metafísico, cumpre enfatizar que só o que é pode ser apetecível pela criatura
racional que age em vista de um fim que, necessariamente, tenha razão de bem.Na perspectiva da procedência de tudo a partir de Deus,
mencionada acima, dimensionam-se a vida e a morte do homem:Em termos concretos,
o homem vive a partir de sua alma, que é princípio do movimento e primeiro ato natural
de um corpo organizado, a qual procede de Deus, que a cria no momento do
nascimento e não antes, pois, convém-lhe estar unida ao corpo.Assim, vivendo a partir de uma alma incorruptível unida a um corpo
corruptível, o homem morre, de acordo com Santo Tomás, por ter sido incapaz de
manter a justiça original do estado de inocência em que foi criado – no qual
operavam, sob o controle da razão, todas as faculdades da alma sem desordem
alguma.Nesse estado, a
ordenação da faculdade intelectiva da alma ao bem supremo, que é Deus, era
perfeita. A desordem na vontade e o ofuscamento da razão começam com o pecado
original.Nesta perspectiva, a morte do homem é considerada
antinatural:O filósofo salienta
isso frisando que a alma racional, de acordo com a sua incorruptibilidade, está
adaptada ao seu fim específico, que é a bem-aventurança perpétua.Na economia da
salvação das almas e de sua recondução a Deus, insere-se a Encarnação do Verbo,
pois é na pessoa do Cristo (que, por união hipostática, reúne em si as
naturezas humana e divina, deificando a carne pela união com o Verbo) que ao
homem é dada a oportunidade de recuperar a possibilidade de unir-se ao Criador.A segunda linha orientadora deste escrito se configura no
plano ontológico( Do ser):Uma das dificuldades de abordar o tema da morte em filosofia e, mesmo em
teologia, é que se trata do único evento na vida humana não suscetível de se
transformar em experiência. Como frisa Aristóteles, muitas recordações de uma
mesma coisa chegam a constituir uma experiência.Mas como seria possível
recordar de algo irrepetível, justamente o episódio singular que põe fim à
existência?Henrique de Lima Vaz
salienta que duas coisas concorrem para qualquer tipo de conhecimento e,
particularmente, o filosófico:
1)- a anámnesis
(recordação)
2)-a nóesis (pensamento).
Por isso, a morte
pode tão-somente ser pensada, testemunhada, observada, etc., mas nunca será um
experimento, passível de posterior verificação, e isto faz dela,
necessariamente, um mistério para qualquer campo de conhecimento.Na melhor das
hipóteses, o homem está condenado a ter um simulacro de experiência da morte, a
partir da que sobrevém aos seus semelhantes. Como frisa José Ignácio Murillo, a
resposta ao enigma da morte acaba por se dar, geralmente, no âmbito da
religião.Mas isto não implica dizer que a filosofia não possa
dizer nada a respeito do fato inquestionável da finitude da vida. E o Aquinate
o faz:Para Santo Tomás, a
morte pode ser natural com respeito ao corpo, mas não o é com respeito à alma.
Na tentativa de dimensionar o problema da morte humana como sendo a do corpo,
em Tomás de Aquino, lembremos o seguinte:“Ontologicamente, o mal físico que decorre da corrupção do corpo e faz o
homem sofrer e, cujo grau máximo, é a morte, com a conseqüente destruição do
corpo, não é a negação de um bem possível, mas a privação de um bem natural,
isto é, de uma perfeição devida à natureza de determinado ser” - como escreve
Leonel Franca.Por esta mesma razão,
não é um mal físico para uma pedra não ter pernas, pois naturalmente não as
têm. Nela, não ter pernas é negação; mas no homem, não tê-las é privação de um
bem específico, integrante de sua natureza.“A morte não entrou no mundo pela corruptibilidade intrínseca (e
filosoficamente inquestionável) da matéria, mas por uma iniciativa infeliz do
espírito, o qual perdeu o dom de preservar a matéria da corrupção.om relação à incorruptibilidade da alma racional, Santo
Tomás demonstra-a de várias maneiras:
1ª)- Como a partir da
premissa de que nenhuma coisa se corrompe naquilo em que se aperfeiçoa, porque
as mudanças para a perfeição e para a corrupção são contrárias, e a alma humana
se aperfeiçoa pela ciência e pela virtude, às quais tende por natureza; pela
ciência, tanto mais a alma se aperfeiçoa quanto mais considera as coisas
imateriais; e pela virtude, a perfeição consiste em não seguir as paixões
corpóreas, mas em refreá-las.Neste horizonte, ele considera o perfectivo
próprio do homem, segundo a alma, como algo incorruptível, pois a operação
própria do homem é o conhecimento intelectivo, segundo o qual ele se diferencia
dos animais irracionais.“Ora, o conhecimento intelectivo tem por objeto os universais e os
incorruptíveis como tais. Como as perfeições de um ser são proporcionadas aos
sujeitos perfectíveis, também a alma será incorruptível”.
2ª)- O filósofo
medieval argumenta contra os que dizem que a alma separada do corpo não efetiva
nenhuma operação, dizendo que:“há operações da alma humana, como a intelecção e a volição, que
independem daquela situação.”Para Santo Tomás, o
intelecto apreende a coisa abstraindo da matéria, que é princípio da
individuação, o que não acontece com os sentidos, pois estes se referem às
coisas particulares, e o intelecto chega aos universais pela abstração da matéria
individual, pois, enquanto o intelecto elabora o conceito universal de “homem”
e de “cadeira”, os sentidos captam apenas este homem e esta cadeira.
3ª)- Da total
imaterialidade destas duas operações da alma – a intelecção e a volição –, o
Aquinate conduz-nos às substâncias separadas da matéria, como a alma dos homens
e os anjos. A respeito destas últimas, conclui que, se há algo imperfeito em
algum gênero, por prioridade de natureza haverá, antes dele, algo perfeito,
pois o mais perfeito tem prioridade sobre o menos perfeito. No caso dos anjos
ou substâncias separadas, a operação máxima – que é a intelecção – não proviria
dos sentidos materiais, pois os anjos não estão, substancialmente, unidos a
nenhum corpo.Um conjunto de
artigos da Suma contra os Gentios conduz à demonstração da incorruptibilidade
das substâncias intelectuais, a partir de várias premissas, assim como do fato
de serem tais substâncias subsistentes. Assim, por exemplo, como o sensível é
objeto próprio dos sentidos, o inteligível é objeto do intelecto. Assinala
Tomás de Aquino, neste contexto, que os sentidos podem corromper-se pela
excelência do seu objeto, como acontece com o olho humano, ao contemplar um
objeto excessivamente luminoso. Entretanto, o intelecto jamais se corrompe pela
excelência do objeto inteligível, mas, ao contrário, aperfeiçoa-se, sendo o
inteligível a própria perfeição do intelecto.Todavia, como a
substância intelectual, no caso do homem, está unida ao corpo, alguns filósofos
anteriores ao Aquinate pensaram que todas as operações da alma humana fossem
comuns às operações do corpo, ou ainda que a união corpo/alma não era
substancial, mas acidental — como Platão nos induz a concluir, com a famosa
proposição de que:“A alma se encontra no corpo como o piloto em seu navio e, por isso, a
alma apenas se serve do corpo — como faz o piloto com o navio, no sentido de que
este o conduza ao seu fim.”
4ª)- Tem-se aqui um
esboço sumário da doutrina tomista sobre a morte humana50, a qual se respalda
na perspectiva teológica — a da morte como decorrência do pecado original — e
se consuma na análise da estrutura ontológica da alma racional, em duas (dentre
as várias) obras em que Santo Tomás aborda o tema, com diferentes demonstrações
acerca da impossibilidade de sua extinção, pelo fato de ser intrinsecamente
incorruptível e subsistente.
Com relação ao destino da alma, após a morte?
O tratado
escatológico desenvolvido no início da escolástica mostraPedro Lombardo (†
1160) conferindo o definitivo direito de cidadania em seu sistema doutrinal
teológico. Apesar de que, neste início da Escolástica o interesse maior era
pelos temas da ‘criação e redenção’, fazendo com que o debate sobre as coisas
últimas nos seja apresentado apenas por certo número de frases isoladas. Os
primeiros passos nesse rumo, da definição de um tratado sobre a escatologia,
são dados por Honório de Autun († 1152), Robertus Pullus († 1147/50) e Hugo de
São Vítor († 1141). Em sua obra principal, De sacramentis christianae fidei,
Hugo de São Vítor tentou, desenvolver a idéia de um grandioso Reino de Deus,
superior a todos os regimes deste mundo. Com o passar do
tempo, os estudos avançam e começam surgir inúmeras sentenças relativas aos
éschata, sendo, uma das mais determinantes, a sentença de Simão de Tournai
(†1201), o primeiro a questionar sobre os argumentos apresentados pró ou contra
a concepção da unidade do homem, tendo, como ponto comum a imortalidade da
alma, por ser dado revelado, quanto a considerar-se a ressurreição como um
acontecimento de ordem natural. Excetuando Pedro de Cápua(†1242), todos os
outros teólogos, dessa época, afirmam o caráter miraculoso da ressurreição, e o
dado principal é a referência cristológica, à luz da qual se observa a
ressurreição. Também, aqui, nos defrontamos com a causa da fé e da
recompensa. O problema é expressamente levantado e solucionado na
Summa anônima “Breves Dies hominis” (1195-1210):“A ressurreição de
Cristo, embora não seja causa efficiens de nossa ressurreição, se insere na
relação cristológica, pois a ressurreição de Cristo é o pressuposto
absolutamente indispensável, a condição de possibilidade, a causa sine qua non
de nossa ressurreição”. Se os homens não
ressuscitassem, a paixão de Cristo seria inútil. Idéia também, a que coordena
entre si sacramentos e escatologia. Já, Guido de Orchelles († 1225/33) aborda
os temas escatológicos num apêndice à sua doutrina sacramental. E, na Summa
Aurea deGuilherme de Auxerre († 1231), intitula seu tratado sobre os Novíssimos
De sacramentorum effectu, sive de resurrectione. Aqui o pensamento vale-se,
imediatamente, à coordenação entre ressurreição e eucaristia, já formulada em
Santo Irineu († 202). Infere-se claramente
aqui a veritas humanae naturae, que se define a partir do corpo ressuscitado.
Segue-se daí uma recíproca relação entre antropologia e escatologia,
apresentada por Pedro de Cápua († 1214). A gênese histórica de tal questão
apresenta problemas e dificuldades que remontam à própria patrística. A
afirmação “os mortos ressuscitam” é sempre recebida com reservas profundas.O que sustentava a
zombaria e provocava a rejeição era sobretudo a convicção de uma identidade e
integridade do ressuscitado ou do corpo da ressurreição. E, Pedro de Cápua
ilustra a “veritas humanae naturae” empregando o conceito de “integritas” ou
“puritas” do homem. Claro que esse postulado da integridade da natureza humana
é formulado em referência ao estado da transfiguração do homem e, assim,
motivado em chave antropológica e se amplia até apreender aquilo que essencialmente
pertence à real corporeidade e vida plena do homem. Na Alta Escolástica, São Tomás de Aquino († 1274) diz,
que:“a ressurreição exige a integridade do homem”.E quais seriam os
elementos essenciais que garantam a realidade da alma e a vida do homem. Santo
Tomásrecorre ao princípio aristotélico da “anima forma corporis”: A alma se
exprime na matéria, tanto na condição gloriosa como na da peregrinação. A
integridade da natureza humana é exigida pela mesma justiça enquanto o homem
inteiro em todos os seus membros deve ser premiado ou castigado, prêmio e
castigo que ele mereceu também com o concurso do corpo. Os corpos deverão ser
perfeitos também porque a divina Sabedoria há de se manifestar na ordem da
matéria, para que através da perfeição do corpo transpareça a beleza e para que
o louvor a Deus se traduza também na esfera material, no ser e agir do
corpo.Para Tomás de Aquino
é inconcebível perfeição que não signifique também realização definitiva do
próprio corpo. O motivo, em última análise, que está por trás, a estas
reflexões sobre a perfeição do homem transfigurado, é de natureza claramente
teológica, e se fundamenta naquele Deus que leva a plena realização a obra de
suas mãos. A motivação escriturísticas poderia achar-se em Dt 32,4: “Ele é o
rochedo, perfeita é a sua obra, justos, todos os seus caminhos; é Deus de
lealdade, não de iniqüidade, ele é justo, ele é reto”. Então, para uma
melhor compreensão, podemos dizer que a temática (da escatologia) no primeiro
período da Escolástica, assinala dois tipos de solução:
1)- Numa primeira
tendência, representada por Hugo de São Vítor († 1141), Roberto Pullus (†
1147/50), Roberto de Melun († 1167), Pedro Lombardo († 1160) e Pedro de
Poitiers († 1215), compreendem a ressurreição como “revivificação do corpo”. A
ênfase aqui posta no corpo humano, pode assumir, a idéia de uma ressurreição
compreendida também em sua dimensão física e corporal. Roberto de Melun,
insiste notavelmente, na transfiguração do corpo e apresenta o motivo do
sentido, pois está, ligado à ressurreição de Cristo. Quando se acentua a função
do corpo, torna-se também mais agudo o problema de suasubstância, identidade e
integridade.
2)- Um segundo grupo
de pensadores, ainda deste primeiro período da escolástica: Simão de Tournai (†
1201), Radulfus Ardens († 1200), Alano de Lille († 1204), Pedro de Cápua (†
1214), Estevão Langton (†1228), Guido de Orchelles († 1225/33) e Guilherme de
Auxerre († 1231), entendem por ressurreição a reconstituição do homem. A morte
é interpretada como dilaceração da unidade que existe entre corpo e alma, e,
por conseguinte coincidindo com o fim do homem. Ressurreição significa reunião
do corpo com a alma, e reconstituição do homem.
Como observamos em Alano de Lille, o homem não ressuscitaria, caso o
corpo e a alma não ressurgissem: “A ressurreição é a reunificação do corpo com
a alma, os quais foram separados com a morte”. Gilberto de La Porré, ou
Poitiers (†1154), diz que com a ressurreição, esse homem que a morte destruíra
começa agora a existir de modo totalmente novo e é capaz, com sua natureza
íntegra, de contemplar a Deus. Deste modo, entendemos, que a doutrina de uma
morte que fosse capaz de destruir o homem inteiro não acha acolhida nos
primeiros escolásticos. Estes afirmam, em harmonia, a idéia de que a alma
espiritual continua sobrevivendo após a morte do homem; a seus olhos a
imortalidade da alma é uma verdade inalienável, que faz parte do próprio
patrimônio da Revelação.
Já na Alta Escolástica, Tomás de Aquino († 1274), diz que a alma se une,
na ressurreição, com qualquer matéria, que obviamente se apresenta apenas no
estado de matéria segunda, mas que na ressurreição da nova forma é matéria
prima e pode ser transmudada em matéria segunda que agora se estrutura
diferentemente da anterior. Temos assim de novo o mesmo corpo e o mesmo homem.Na morte o substrato
material do homem se transfere para uma matéria segunda, que apresenta
formações diversas das antecedentes. Para a alma, todavia, ele é, porém sempre
forma prima. O que a matéria prima nos mostra é apenas pura potentia, sem
qualquer ulterior determinação. Os pensadores
medievais em geral concordam em afirmar um crescimento na bem-aventurança,
motivada pela participação do corpo no estado glorioso; mas divergem as
opiniões assim que se aborda o problema do como se deve interpretar essa
intensificação. Podemos sem dúvida pensar que essa idéia do aumento intensivo
da felicidade eterna, mediante a união da alma com o corpo, se integre no grupo
das opiniões sustentadas pela escola franciscana. Em linha geral a Alta
Escolástica admite um aumento tanto extensivo como intensivo da beatitude por
causa da ressurreição.Bento XII († 1342) na Bula Benedictus Deus, de 1336, afirma claramente
uma intensificação substancial do estado de glória e de pena, no último
dia. Seguindo a tradição
do Início da Escolástica, os mestres da Alta Escolástica colocam o tratado
sobre a escatologia no final de seu sistema. Concretamente, isto significa que
a escatologia se une à doutrina dos sacramentos.Pedro de Poitiers num contexto
histórico-salvífico e cristológico, entendia os sacramentos como a via que
conduz os membros até onde a Cabeça já se encontra. Nos sacramentos via ele
também o início da atividade que o Ressuscitado exerce em relação a nós todos.Guilherme de Auxerre, qualifica a ressurreição como “effectus
sacramentorum”. Tomás de Aquino, vê nos sacramentos os “signa prognostica
praenuntiativa futurae gloriae”. E, descrevendo a eficácia da unção dos
enfermos, exprime-se Alberto Magno († 1280) deste modo: “Através da Unção,
somos conformados ao Ressuscitado”. João Capréolo († 1444) nos ilustra as conseqüências a que
leva essa perspectiva:“O efeito principal a que tende o
sacramento da ‘Unção’ não é revigorar o homem em face dos assaltos da última
hora e nem tampouco reduzir a culpa ou a pena pelos pecados veniais cometidos,
mas sim prepará-lo para a glória do corpo e da alma. E isto mediante a
eliminação dos resíduos do pecado, que impedem a aceitação da glória e a
destinação da alma e do corpo a ela”. A mesma naturalidade
com que a “teologia dos sacramentos” utiliza elementos escatológicos, reaparece
igualmente na “teologia da Graça”. Quando se olha para a Graça, pensa-se na
Glória. Boaventura († 1274) resume essa dimensão escatológica da Graça nas
palavras “Gratia est similitudo gloriae”. Também das referências à consumação
definitiva, podemos concluir o papel de primeira importância que o éschaton desempenha
na teologia fundamental.Aqui não se vê a Deus
somente como causa eficiente e exemplar de toda a criação, mas também como o
fim para o qual vai tendendo. Interessante, a este propósito, a transposição
que achamos no Compendium theologiae, de Tomás, onde se insere a escatologia na
doutrina da criação. De importância fundamental é a ligação que se estabelece
entre escatologia e cristologia:A escatologia acaba
absorvida pela cristologia, a tal ponto que muitas vezes não se consegue
compreender, do modo como é formulado um tema, se o objeto se refere a um
problema cristológico ou escatológico. A ressurreição do Senhor se torna assim
o ápice da cristologia e ponto de partida da escatologia. Sobre o CORPO E A ALMA ESPIRITUAL,Tomás aborda a questão
em diferentes escritos - Suma contra os Gentios, Capítulo LXXIX - “Corrompido o corpo, a alma não se corrompe:”
1. Depreende-se
claramente do acima exposto que se pode demonstrar que a alma humana não se
corrompe, após a corrupção do corpo. Com efeito, foi acima demonstrado (c. LV)
que toda substância intelectual é incorruptível. Ora, foi também demonstrado
que a alma humana é uma certa substância intelectual (c. LVIss). Logo,
necessariamente a alma humana é incorruptível.51
2. Além disso,
nenhuma coisa corrompe-se naquilo que constitui a sua perfeição, porque as
mudanças para a perfeição e para a corrupção são contrárias. Ora, a perfeição
da alma humana consiste em certa abstração do corpo. Com efeito, aperfeiçoa-se a alma humana pela ciência e pela virtude,
pois, pela ciência, tanto mais é aperfeiçoada quanto mais considera as coisas
imateriais, e a perfeição da virtude consiste em o homem não seguir as paixões
corpóreas, mas em refreá-las e temperá-las pela razão. Logo, a corrupção da
alma não consistirá em ela separar-se do corpo.
3. Porém, se se
afirmar que a perfeição da alma consiste em sua separação do corpo segundo a
operação, e a corrupção na separação segundo o ser, não se objeta corretamente.
Com efeito, a operação da coisa demonstra a sua substância e o seu ser, porque
toda coisa opera enquanto ser e a operação própria da coisa segue-lhe a
natureza. Por isso, não é possível ser aperfeiçoada a operação de uma coisa se
não é segundo a perfeição de sua substância. Ora, se a alma aperfeiçoa-se na
sua operação por deixar o corpo, a sua substância incorpórea não ficará menos
perfeita no ser por ter deixado o corpo.
4. Além disso, o
perfectivo próprio do homem segundo a alma é algo incorruptível, pois a
operação própria do homem, enquanto homem, é o conhecimento intelectivo,
segundo o qual ele se diferencia dos animais, das plantas e dos corpos inertes.
Ora, o conhecimento intelectivo tem por objeto os universais e os
incorruptíveis como tais. Como as perfeições de um ser são proporcionadas aos
sujeitos perfectíveis, também a alma humana é incorruptível. Tem-se
aqui um esboço sumário da doutrina tomista sobre a morte humana (Com
respeito à morte dos animais irracionais, o ponto de vista de Santo Tomás é
totalmente diverso, pois a alma deles, para o Angélico, não sendo capaz de
efetivar nenhuma operação sem a intermediação de algum órgão corporal, é
necessariamente, mortal, e se extingue juntamente com o próprio corpo);que
parte de uma perspectiva teológica — a da morte como decorrência
do pecado original —
e se consuma na análise da estrutura ontológica da alma racional, em duas
(dentre várias) obras em que Santo Tomás aborda o tema, com diferentes
demonstrações acerca da impossibilidade de sua extinção, pelo fato de ser ela
intrinsecamente incorruptível e subsistente.Em
resumo, fomos criados para ser eternos, ou seja, para participar da eternidade
de Deus, e perdemos tal prerrogativa pelo pecado. Por outro lado,mesmo com o advento do pecado, a nossa
alma, por ser ontologicamente incorruptível, não pode morrer, não pode ser
alijada do ser, a menos que Deus de
potentia absoluta a
aniquile. A questão é saber se o seu destino final será de beatitude ou de
sofrimento eternos.
Creio na Ressurreição da Carne!
Eu, por minha parte, confessa Santo Inácio de Antioquia:“Sei muito bem e nisto ponho a
minha fé que, depois da Sua Ressurreição, o Senhor permaneceu na Sua carne. E
assim, quando Se apresentou a Pedro e aos companheiros, disse-lhes: Tocai-Me,
palpai-Me e compreendei que não sou um espírito incorpório. E prontamente
tocaram-No e acreditaram, ficando persuadidos da Sua carne e do Seu espírito
(…). Mais ainda, depois da Sua Ressurreição comeu e bebeu com eles, como homem de
carne que era, embora espiritualmente estivesse feito uma coisa com Seu Pai.”(Santo
Inácio de Antioquia – Carta aos Esmirna, III, 1-3 – Padres apostólicos – Paulus
–)Vemos pelos
Evangelhos que Cristo ressuscitou à muitas pessoas, mas Sua Ressurreição difere
das outras, segundo São Tomás de Aquino, porque Cristo por ser Deus e Homem,
ressuscitou pelo Seu próprio poder. Sua divindade em nenhum momento se separou
nem de Sua alma, nem de Seu corpo. Cristo ressuscitou para uma vida gloriosa e
incorruptível e foi em virtude de Sua Ressurreição que todos ressuscitaram:
"Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram... assim
como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida" (1Cor
15,20-22).(Exposição sobre o Credo – São Tomás de Aquino - )
Sua ressurreição é
para nós motivo de júblilo, de esperança e estímulo para vivermos na santidade,
esperando o dia de estarmos com Ele, também vivos na glória. ”Não tardes na
conversão para o Senhor, e não a delongues dia por dia ”(Ecle 5,8).“ Cremos n’Aquele que dos mortos ressuscitou
Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por nossos pecados e ressuscitado para
nossa justificação”(Rom 4, 24-25). “Porque a morte veio por um homem, por um
homem também virá a ressurreição dos mortos “(1 Cor 15,21).Nele, os cristãos
"experimentaram... as forças do mundo que há de vir" (Hb 6,5) e suas
vidas são atraídas por Cristo ao seio da vida divina "a fim de que não
vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por
eles" (2Cor 5,15). A união entre Cristo
e os cristãos, como membros de um mesmo corpo, onde Cristo é cabeça, constituem
um único organismo. Por isso quando se afirma a Ressurreição de Jesus, é
necessário afirmar a ressurreição dos justos, daqueles que morreram na graça de
Deus. Jesus por ser o novo Adão mereceu a ressurreição de todos.”A Ressurreição de
Cristo produziu a ressurreição dos nossos corpos, quer porque foi a causa
eficiente deste misterio, quer porque todos devemos ressuscitar, a exemplo do
Senhor. Deus se valeu da humanidade de Seu Filho como de instrumento eficiente.
Por conseguinte, a Sua Ressurreição foi um instrumento para conseguir a
nossa”.(Catecismo Romano, I,6,13).A ressurreição
passou, então, a ser o centro da nova fé e tornou-se o arremate de todo edifício
doutrinal da Igreja Santa e Católica e mais tarde São Paulo vem afirmar:
"Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, vã é a nossa fé”. (I
Cor 15,14)Para entendermos como
se dá a ressurreição de nossa carne após a morte, no dia final, temos que compreender
como Deus, nosso Pai, nos constituiu, e o fez de uma forma maravilhosa, já que
somos obra de Suas mãos santíssimas e feitos à Sua imagem e semelhança.O homem é uma ponte entre o mundo do espírito e o da matéria,
formado de corpo e alma:A alma do homem é
espírito, de natureza similar ao anjo; o seu corpo é matéria, similar em
natureza aos animais. Porém, o homem não é nem anjo nem animal. É um ser à
parte por direito próprio, um ser com um pé no tempo e outro na eternidade. Os
filósofos definem o homem como "animal racional", o que indica que
sua alma é espiritual; e animal, o seu corpo físico.
O corpo e a alma não
se unem de modo circunstancial. Foram feitos um para o outro, fundem-se,
compenetram-se tão intimamente que, ao menos nesta vida, uma parte não pode
existir sem a outra.A maravilha de nosso
corpo mostra o poder e sabedoria de Deus. Mas ele é nada comparado com a
magnitude da alma que é como dizemos, um espírito: é um ser inteligente e
consciente, invisível e imaterial, não se divide, pois é uma substancia
simples, portanto é imortal.Quando nosso corpo estiver tão prostrado pela doença ou pelas lesões que
não possa continuar a sua função, há a separação da alma e do corpo, o corpo
cai na corrupção e a alma o abandonará – é a morte.Mas a alma espiritual
não morre, pois não pode ser destruída ou danificada. Ela depois do julgamento
particular a que passará todo homem após sua morte, recebe o prêmio – por ter
buscado a graça e uma vida santa de boas obras – ou a condenação – por não ter
aceitado a Cristo e Sua morte, rejeitando até o fim sem arrependimento algum, a
graça que Deus com tanta liberalidade dispôs para que esta vivesse eternamente
em Sua presença.A Igreja se preocupou em nomear o 11 artigo do Credo
como:” Creio na Ressurreição da Carne”, para rebater a heresia de Himeneu e
Fileto:“O qual afirmavam eles que,
quando a Escritura falando da ressurreição, não era para entender a
ressurreicão corporal, mas da espiritual que faz ressurgir, da morte do pecado,
para a vida da graça e inocência. O artigo do Credo portanto, exclui este erro
e confirma a realidade da ressurreição corporal (Catecismo Romano 11 artigo –
II – c – pag. 179).O Apóstolo Paulo nos diz que o "corpo semeado na
corrupção, há de ressurgir incorruptível", (Icor 15,42).Os escritores
eclesiásticos afirmam a reesurreição do corpo para se unir à alma, pois seria
contrário à natureza, que as almas ficassem eternamente separadas, já que sendo
imortais pendem naturalmente a se conservarem unidas ao corpo.São João Crisóstomo, em sua homilia ao povo de Antioquia,
nos diz que:“a justiça divina também é um fator importante para se entender este
assunto."Deus, justo juiz, estabeleceu penas para os maus e prêmios para
os justos. Tendo o corpo servido ao homem como instrumento de prevaricação ou
de santidade, devem participar dos premios ou dos castigos das almas, na
proporção dos crimes ou das virtudes, que houverem praticado. "(Io
Chrysost Hom. 13 )
Quem irá ressucitar?
Nos diz São Paulo que
“assim como todos morreram em Adão, todos serão vivificados em Cristo”( I Cor
15,22). Todos, bons e maus hão de ressurgir dos mortos, mas nem todos terão a
mesma sorte, “os que praticaram o bem, ressurgirão para a vida, os que
praticaram o mal, ressurgirão para a condenação”(Jo 5,29).Os que morreram em
Cristo, nos diz São Paulo," ressuscitarão primeiro, e os que ficam serão
arrebatados, por sobre as nuvens, para ir de encontro a Cristo nos ares”(I Tes
4,16).Santo Ambrósio nos diz:“Nesse arrebatamento
sobrevirá a morte. À semelhança de um sono, a alma se desprenderá para voltar
ao corpo no mesmo instante. Ao serem arrebatadas morrerão. Chegando, porém,
diante do Senhor, novamente receberão sua almas, em virtude da própria presença
do Senhor, porquanto não pode haver mortos na companhia do Senhor”( Aug. de
Civ. Deis XX 20)Os corpos dos ressuscitados terão propriedades, à
semelhança do corpo glorioso ressuscitado de Cristo:Portanto ser-lhe-á
restituído tudo o que pertença a integridade da natureza, os dons, as
excelências do homem como tal.Santo Agostinho descreve-nos essa transformação
de uma maneira interessante:"Nos corpos, diz ele, não
restará então nenhuma deformidade. Era alguém muito nutrido e cheio de corpo,
não retomará o mesmo volume. O que excede as proporções, é considerado
supérfluo. Ao contrário, tudo o que velhice ou doença destruírem no corpo, será
refeito pela divina virtude de Cristo. Tal acontece, por exemplo, com quem for
de excessiva magreza, porque Cristo não Se limita a ressuscitar o corpo, mas
repõe ao mesmo tempo o que [nele] definhou com as privações desta vida". (
Aug de civ. Deis XXII 19 ss).Tudo em nós será
restaurado à semelhança de Cristo, já que a ressurreição faz parte das grandes
obras de Deus, em pé de igualdade com a própria Criação . Deus fez tudo
perfeito no começo e tudo será perfeito no final.Santo Agostinho afirma que:“não só aos mártires acontecerá
estas maravilhas, mas a todos. Os mutilados, os degolados, todos terào
restituídos seus corpos, mas terão as
marcas tal qual ficou em Cristo a marca dos pregos."São Tomás na Exposição ao Credo diz que:“Porque os corpos serão incorruptíveis e imortais, não terão necessidade
de alimento, nem usarão do sexo. Lê-se: na ressurreição nem os homens terão
mulheres, nem as mulheres terão maridos,mas serão como Anjos de Deus no Céu (Mt
22,30).”Quanto à idade aparente (acidental),dos corpos
ressurretos, diz São Tomás de Aquino que todos ressurgirão na idade perfeita: aos
trinta e dois anos:A razão disto é que, os que ainda não atingiram esta idade, não chegaram
à idade perfeita, e, os velhos, já a ultrapassaram. Eis porque aos jovens e às
crianças será acrescido o que falta, e, aos velhos, restituído. Lê-se:
"Até que cheguemos todos ... ao homem perfeito, na medida da plenitude da
idade de Cristo" (Ef 4,13).Quanto aos maus, este
também recuperarão seus membros, ainda que lhes caiba a culpa da amputação. Só
que quanto maior for a restituição, maior serão os tormentos, pois ela não lhe
acarreta felicidade, mas dores sem fim.Todos, bons ou maus, serão imortais após a ressurreição, pois por
Cristo, pela Sua Cruz a morte foi vencida, foi o ultimo inimigo a bater.Mas os corpos dos justos terão como que adornos lhes
conferindo uma nobreza a que nunca sonharam neste mundo:impassibilidade,
sutileza (ou penetrabilidade), agilidade e claridade. Pois bem, os corpos dos
justos serão transformados e glorificados segundo o modelo do Corpo de Cristo,
o que nos faz exultar e querer a todo custo a vida diante de Deus.
Entre os dons dos corpos ressuscitados dos santos ,
segundo São Tomás e o catecismo Romano, estão:
1)- Impassibilidade:
Dom especial cuja virtude é impedir que os corpos sintam qualquer dor,
sofrimento ou incômodo. “Semeia-se o corpo na corrupção, diz oApóstolo, e
ressurgirá na incorruptibilidade” (I Cor. XV, 42). A impassibilidade não é
comum aos condenados, cujos corpos podem, apesar de imperecíveis, podem padecer
de todas as formas de sofrimento, pois optaram livremente neste estado
imperfeito.
2)-Claridade: Dom
especial pelo qual os corpos dos Santos refulgirão como o sol. Esta claridade é
um certo resplendor comunicado ao corpo pela suma bem-aventurança. Diz Nosso
Senhor: “Os justos resplandecerão como o sol, no Reino de seu Pai” (Mat. XIII,
43). Esse é o dom que às vezes o Apóstolo chama de “glória”.Mas não devemos
crer que todos sejam dotados da mesma claridade, como o serão da mesma
incorruptibilidade. O fulgor do corpo ressuscitado será proporcional à santidade
da alma. Diz São Paulo: “Uma é a claridade do sol, outra a das estrelas. Com
efeito, uma estrela difere da outra em claridade. Assim acontecerá na
ressurreição dos mortos” (I Cor XV, 41-42). Esta claridade é um certo
resplendor comunicado ao corpo pela suma bem aventurança da alma. Vem a ser a
participação da felicidade, de que goza a própria alma, pois nela recai uma
parcela da felicidade divina
3)- Sutileza: O corpo
ficará inteiramente sujeito ao império da alma, prestando-lhe serviço, e
executando suas ordens com prontidão. “Semeia-se um corpo animal, ressuscitará
um corpo espiritual” (I Cor. XV, 44). É bem notar que a sutilidade, de modo
nenhum, implica que o corpo ressuscitado deixe de ser matéria para se converter
em espírito; é matéria autêntica, contudo matéria mais intensamente penetrada
pelo espírito; o que quer dizer: enriquecida de qualidades mais nobres dos que
as que possui atualmente. A expressão paulina “corpo espiritual” não significa
senão corpo de matéria em que o Espírito Santo expande plenamente a vida e
glória de Deus. Explica Santo Agostinho:“Assim como o espírito, servindo à carne, é, com razão, dito carnal,
assim a carne, servindo ao espírito, é adequadamente chamada espiritual, não
porque se torne espírito, como julgam a alguns baseados em I Cor. XV...; mas
porque se sujeitará ao espírito numa suma e admirável prontidão para
obedecer... removido todo sentimento de dor, toda corruptibilidade e lentidão.
Não somente o corpo não será tal como é agora no melhor estado de saúde, mas
nem mesmo tal como foi nos primeiros homens antes do pecado.” (De civ. Dei 13,
20).
4)- Agilidade: Devido
ao dom da sutileza, poderão se mover para onde a alma queira. No Cristo
ressuscitado tem-se claro exemplar de tal prerrogativa: com admirável facilidade
o Senhor se transpunha de uma região a outra da Palestina.
Em conclusão:
Verifica-se que os
quatro dotes distintivos dos corpos gloriosos derivam da perfeita harmonia que
reinará entre carne e espírito no estado de consumação. A alma do justo, tendo entrado
definitivamente no seu lugar de criatura sujeita ao Criador, aderindo a Deus
com toda inteligência e afeto, será grandemente dignificada: adquirirá sobre os
seres inferiores, a começar pelo próprio corpo, o domínio que em vão ela
procuraria obter rompendo os seus vínculos de sujeição ao Senhor; doutra parte,
por esse domínio que sobre o corpo exercerá a alma, o próprio corpo está
nobilitado.O primeiro homem, cobiçando dignidade e poder independentimente de Deus,
perdeu todos os dotes, preternaturais e sobrenaturais, de que gozava no
Paraíso;(Telepatia,bilocação,não sujeitar-se a gravidade,etc...) ora, eis que
na restauração de todas as coisas Deus Se dignará não propriamente restituir os
dons perdidos, mas ultrapassá-los, concedendo à criatura humana prerrogativas
muito superiores às do primeiro Paraíso.Ao contrário, os
corpos daqueles que tiverem recusado a restauração trazida por Cristo, isto é,
os corpos dos réprobos, que sofrerão as penas eternas, os seus corpos segundo
São Tomás, possuirão quatro qualidades más:
1)- Serão obscuros, conforme se lê: Os seus rostos serão como
fisionomias inflamadas (Is 13,8) serão como imagens hediondas do mais
deplorável estado de alma.
2)- Serão passíveis, mas jamais corrompidos, pois arderão
para sempre como que num fogo e nunca serão consumidos: "Os vermes nunca
morrerão nos seus corpos, e o fogo neles nunca se extinguirá" (Is
66,24).Crassos, resistentes aos impulsos da alma.
3)- Serão pesados, porque as almas estarão como que
acorrentadas:" Para prender os seus reis com grilhões" (SI 149,8).
4)- Finalmente, os corpos e as almas serão, de certo
modo, carnais:"
Os animais apodrecerão nos seus excrementos" (Jl 1,17).Sào passíveis de
dor.Em uma palavra, serão
expressão fiel da horrenda situação produzida na alma pelo ódio a Deus e as conseqüências
lógicas e naturais de seu afastamento:“Virá o dia da retribuição, quando os corpos ressurgirão e o homem
inteiro receberá o que merecer... Assim como muito difere a alegria dos que
sonham da alegria dos que estão acordados, assim grande diferença haverá entre
a felicidade dos mortos e a dos ressuscitados; não porque as almas dos defuntos
sejam induzidas em ilusões como as que dormem, mas porque uma coisa é o repouso
das almas separadas dos corpos, outra coisa é a glória e a felicidade das almas
unidas aos corpos celestes" (Santo Agostinho, Serm. 280, 5).
Podemos depois de
todo o exposto, dar graças a Deus que não nos deixou na ignorância, já que Ele
não esconde Seus mistérios aos pequenos. Pois quantos neste mundo tem perdido a
vida pelo desconhecimento de tão grandes bens?
ADENDO DE “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS” SOBRE A CONDENAÇÃO FEITA PELA CONGREGAÇÃO DA DOUTRINA DA FÉ À
ESCATOLOGIA DE *RENOLD BLANK:
Em síntese: O autor
trata da morte, do purgatório, da ressurreição dos corpos e do juízo final
propondo suas próprias idéias que ele procura fundamentar na Escritura e na
Tradição.Não leva na devida
conta o Magistério da Igreja. Apresenta assim uma obra imaginosa e “simpática”
porque dissipa o que possa impressionar negativamente um leitor não iniciado em
Teologia.Renold Blank é autor
bem conhecido no Brasil por seus escritos referentes a escatologia. Um dos mais
expressivos do seu pensamento é intitulado “Escatologia da Pessoa” ([1]),
adotado como manual de estudantes em certos institutos. O livro destoa de
quanto a Igreja ensina sobre tais assuntos e merece sérias restrições, que
passamos a propor.O tema central do
livro é a morte; a esta se associam, na mente de Blank, lições antropológicas,
o conceito de purgatório, os de juízo final, da ressurreição corporal, do
inferno e do céu. Tudo isto teria lugar na hora da morte do indivíduo.
O conteúdo do livro - Um tema básico para R. Blank é a
antropologia:
“O autor julga que corpo e alma não se separam nem são distintos entre
si”.A clássica concepção
segundo a qual corpo e alma são duas substâncias incompletas que se unem para
realizar um todo substancial é tida como dualista, oriunda das escolas
filosóficas gregas pré-cristãs; a matéria seria má e o espírito, por si mesmo,
bom.“Para a Bíblia, o homem é uma unidade que não pode ser dividida em dois
princípios, chamados corpo e alma. Conseqüentemente também não é possível que,
na morte, uma alma se separe do corpo” (p. 81).Em conseqüência,
quando uma pessoa morre, morre tudo o que ela é, não resta em vida a alma
espiritual, que, na clássica teoria, é imortal.E, para que não haja hiato entre
a morte e a ressurreição, esta ocorre logo depois da morte, efetuando uma
personalidade idêntica à falecida, mas com forma corpórea invisível aos nossos
olhos.Para Renold Blank Já que, ao falecer, o indivíduo entra logo na
eternidade, ele presencia imediatamente o juízo final sem ter que esperar, pois
não há futuro na eternidade.Para Renold Blank na
hora da morte, Deus dá ocasião a cada um de afirmar sua fé e entregar-se ao
Senhor; caso o indivíduo aceite essa dádiva de Deus, ele faz aí seu purgatório,
repudiando tudo o que ele reconhece ter sido menos correto em sua vida
terrestre; assim chega a pessoa ao seu estado definitivo, configurando-se
plenamente ao projeto de Deus; em virtude dessa “metamorfose” a pessoa ganha o
céu; caso não aceite a oferta da graça divina, será o inferno. R. Blank dá a
entender que a misericórdia de Deus superará as resistências do homem, fazendo
que ele aceite a graça da conversão, sem o que lhe tocará o inferno ou a eterna
separação de Deus.Eis em poucas palavras o pensamento de R. Blank no livro
citado - Reflitamos a propósito, analisando atentamente:
Corpo e alma
Temos abordado este assunto repetidamente em PR.
Façamo-lo brevemente a seguir:A distinção entre
corpo e alma é clássica no pensamento cristão. Já os judeus distinguiam dois
elementos componentes do homem: o corpo ou eventualmente o cadáver, que era
sepultado no túmulo dos pais, e um núcleo da personalidade que sobrevivia
adormecido na região subterrânea dita kai scheol. Sob o influxo da filosofia
grega, essa dualidade passou a ser dita “corpo e alma” (soma e psyché); ambos
são criaturas boas de Deus que as fez complementares entre si. É necessário
distinguir bem.
a)- Dualismo: dois
princípios antagônicos entre si – o que não é bíblico.
b)- Monismo: um só
princípio, como admitem Blank e sua escola.
Entre os dois
extremos há a dualidade, que admite dois princípios distintos entre si e
separáveis, como corpo e alma, feitos não como antagônicos, mas como
complementares.O fato de que a
filosofia grega já no século V a.C. falava de corpo e alma, não quer dizer que
esta teoria seja pagã ou falsa. Ela foi incorporada ao pensamento cristão desde
cedo e recebeu de S. Tomás de Aquino a sua formulação própria derivada da
teoria do hilemorfismo:“Se não há alma espiritual no homem distinta do corpo, o ser humano é um
bloco material que poderia ser assemelhado a um macaco aperfeiçoado”.
Tempo e eternidade
A alma humana que deixa o corpo quando este não lhe
oferece mais as condições de exercer suas funções vitais, não entra na
eternidade:Esta não tem entrada; é a posse simultânea de todo o ser vivente; só
Deus é eterno e vive a eternidade, porque Ele não teve começo nem terá fim; a
alma humana tem começo, mas não terá fim; ela é, portanto, imortal e vive o
chamado “evo”. Este é o “tempo psicológico”, no qual há uma sucessão de atos da
inteligência e da vontade.Aliás, às pp. 246s do
seu livro, R. Blank parece cair em contradição consigo mesmo, professando a
teoria clássica dual. Com efeito, à p. 246 refere-se aos que morrem em pecado grave
sem arrependimento e diz:“É com estas imagens que se pode tentar descrever a situação de morte
sem ressurreição em Deus”.À p. 247 do livro de Renold Blank lê-se:“Todo ser humano pode vivenciar tal situação na morte, pois como ser
espiritual, o âmago da pessoa não pode morrer. Sem a ajuda de Deus, porém, esse
ser interior também não pode sair de sua situação estática de morte, onde nada
mais poderá ser mudado”.Estes dizeres afirmam
que no homem existe um ser espiritual que não morre nem ressuscita
gloriosamente, mas continua a viver afastado de Deus. A incoerência de Blank
nesta passagem bem manifesta quanto distante da realidade é o monismo
“corpo-alma” professado pelo autor.
Juízo final
Se após a morte já
não existe a categoria “termo” e na eternidade não há futuro, compreende-se
que, para Blank, o ser humano falecido e ressuscitado já contempla, logo depois
de morrer, o juízo final da história.Esta afirmação é
totalmente inconsistente, pois quem morre em 2008, por exemplo, como poderá contemplar
irmãos que ainda não nasceram em 2010 ? e, por conseguinte, não têm um teor de
vida a apresentar ao Juiz universal ?... Este postulado
errôneo é conseqüência da não distinção entre evo e eternidade. Não cabe dentro
de um raciocínio sereno e objetivo.
Purgatório
Segundo Blank, se
alguém não consegue no decorrer desta vida realizar plenamente o projeto que
Deus lhe traçou desde toda a eternidade, na hora da morte Deus lhe dá a graça para
atingir a plena realização de sua existência.Diz Blank:“Na morte Deus oferece à pessoa humana aquilo que lhe falta. Deus quer
acrescentar a graça àquilo que lhe falta; está disposto a oferecer ao homem de
graça, também na morte tudo aquilo que este lhe ficou devendo…(?)... Fica
dentro da liberdade humana aceitar ou não esta proposta” (p. 202s).Tal graça é dada a todos - justos e pecadores - podendo ser a graça da
conversão do pecado grave para o estado de filho de Deus. Para todos, é um
processo doloroso, pois significa a destruição definitiva do homem velho, com
seu egoísmo, sua vaidade, seu orgulho… Esta purificação nada tem que ver com
uma câmara de tortura cósmica, onde os pecadores são purificados pelo fogo ou
por outros meios.“A última conversão na morte é um ato doloroso, de maior ou
menor intensidade. Na linguagem tradicional, ela foi denominada o Purgatório”
(p. 208s)...Quem aceita tal graça na hora da morte vai para o céu, quem não a
aceita, vai para o inferno.
Estas ideias podem ser muito interessantes, mas não correspondem
à doutrina oficial da Igreja, que pode ser assim resumida:
1)- Todo pecado,
mesmo depois de perdoado pelo sacramento da Penitência, deixa no indivíduo as
suas raízes, a tal ponto que, mesmo muito arrependido, o pecador pode voltar (e
muitas vezes volta) a cometer os mesmos pecados.
2)- Ora, somos
chamados a ver Deus face-a-face - o que implica total pureza de alma, pois
perante Deus não pode subsistir a mínima sombra de pecado. Por conseguinte, o
pecador, mesmo já absolvido, terá que eliminar as raízes do pecado que lhe
restam, ou nesta vida (mediante a ascese) ou na vida póstuma (no Purgatório)
sem fogo nem diabinhos, mas numa atitude profunda de repúdio a qualquer traço
de pecado; esta purificação é póstuma; durará mais ou menos do evo, de acordo
com o maior ou menor arraigamento do pecado.
3)- A conversão do
pecador pode ocorrer imediatamente antes da morte, mas não após a morte.Blank
não se refere às impurezas que impedem de ver Deus face-a-face; encara o
purgatório de modo diferente da visão clássica, preocupado que está com a
afirmação de que há salvação para os mais endurecidos pecadores, que na hora da
morte recebem a graça de um novo “purgatório” relâmpago por Blank concebido.
Juízo de Deus
Ao falar de Deus como
Juiz, R. Blank imagina-o sempre misericordioso e pronto para perdoar. Na
verdade, muitos textos bíblicos abonam esta concepção (ver SI 51; 103; Os 11…),
mas não se podem esquecer outras passagens bíblicas em que o Senhor exerce a
justiça (cf. entre outros segmentos os capítulos de Jr 1 -17, em que o Senhor
prediz a vinda dos babilônios a Judá para punir o povo idólatra).Com outras palavras diz Blank:“Na morte, o homem se
encontra com Deus… Jesus, porém, é aquele que sempre interveio em nome de todos
os que fracassaram, Aquele que veio para salvar, e não para condenar, Aquele
que exige de seus discípulos que eles perdoem sempre” (p. 179). Mais, diz o
autor: “O grito pela justiça é motivado pela atitude farisaica… É muito
interessante constatar que o grito pela justiça divina se ouve sempre na boca
dos piedosos, nunca dos pecadores. São sempre os bons cristãos, os que
freqüentam as missas dominicais, os fiéis aos mandamentos e as leis que exigem
justiça” (p. 186).É o fato de Deus ser
Amor-Justiça que dissipa a idéia de Deus ser “Papai Bonachão”, o Deus socorrista,
o Deus que abona a permissividade dos costumes, pois este mesmo Deus em Cristo
disse a Santanás: “Afasta-te!!! E não converte-te,e ainda mais: Apartai-vos de
mim, vós que praticais a iniqüidade, e ide para o fogo eterno...”
Inferno de Blank
Eis como Blank conceitua
o inferno:“Situação impossível e contraditória em sua essência. Uma morte viva
consciente, sem a mínima possibilidade de poder providenciar uma saída pelos
próprios recursos, entorpecido e fixado em si mesmo.São imagens paradoxais que
contêm exatamente os elementos daquilo que as transcrições tradicionais chamam
de “inferno” (p. 246).Renold Blank pergunta se existe realmente alguém em
estado de pecado endurecido que se condene a ficar longe de Deus?Enfatiza o amor de
Deus, que não deveria suportar o sofrimento de uma criatura sua por tempos sem
fim. Pergunta também se a justiça de Deus não é diferente daquela dos homens
(haja visto a parábola de Mt 20, 1-16, que na verdade não quer insinuar
diferente conceito de justiça).
Em suma, o autor diz
tudo o que pode para insinuar que os pecadores mais empedernidos podem chegar a
salvação na hora da morte, contrariando o que a palavra de Deus, magistério e a
Tradição afirma:
Ora,para o inferno só vai quem livremente por suas ações e opções
fez por onde merecê-lo.A minha vida de Cristão não gira em torno do medo do
inferno, mas em servir a Deus que tanto nos tem agraciado sem merecimento algum
de nossa parte.Se o inferno não existe, seria justo pecadores arrependidos e sem
arrependimento estarem juntos e receberem a mesma recompensa? Na Divina comédia de Dante na entrada da Porta do Inferno está a
frase: “ Deixa aqui fora toda tua esperança...” Dirá, porém, o
incrédulo: “Onde está a justiça de Deus ao castigar com pena eterna um pecado
que dura um instante?”E como, responderemos: como se atreve o pecador, por
orgulho em manter-se num prazer egoísta e momentâneo, a ofender um Deus de
majestade infinita?
Ora, a resposta é simples!
1)-
É eterna, porque a relação TEMPO E ESPAÇO já não existe na ETERNIDADE, pois
entramos em estado eterno de decisão que tomamos no TEMPO DA GRAÇA E PACIÊNCIA
DE DEUS de amizade ou inimizade com Deus.
2)-E
porque o réprobo jamais poderá prestar satisfação e arrependimento por sua
culpa. Nesta vida, o pecador penitente pode satisfazer pela aplicação dos
merecimentos de Jesus Cristo; mas o condenado não participa desses
méritos,porque não se arrepende, e só pode haver perdão e reconciliação onde há
arrependimento e desejo de reconciliação de ambas as partes, pois existe o
desejo de perdoar e reconciliar-se da parte de Deus, porém, não há da parte dos
réprobos, e, portanto, não podendo por si satisfazer a Deus, sendo eterno no
pecado, e sem arrependimento eterno, também eterna deve ser a conseqüência de
sua livre opção (Sl 48, 8-9).
3)-
“Ali a culpa disse o Belluacense, poderá ser castigada, mas jamais
expiada” (Lib. II, 3p), porque, segundo Santo Agostinho, “ali o pecador é
incapaz de arrependimento”.E ainda que Deus quisesse perdoar ao réprobo, este
não aceitaria a reconciliação, porque sua vontade obstinada e rebelde está
confirmada eternamente no ódio irreconciliável contra Deus, é aquilo que Cristo
chamou de Pecado imperdoável contra o Espírito Santo.Imperdoável porque não
existe arrependimento.
4)- Disse o Papa Inocêncio III: “Os condenados não se humilharão; pelo
contrário, crescerá neles(Na evolidade) a perseverança no ódio”. São Jerônimo
afirma que “nos réprobos, o desejo de pecar é insaciável” (Pr 27, 20). A ferida
de tais desgraçados é incurável; porque eles mesmos recusam a cura (Jr 15,
18).”
5)-
Ora a própria justiça divina permite este livre arbítrio: Pois existiria
castigo pior a um réprobo que passar a eternidade na presença de um ser que ele
odeia infinitamente e irrevogavelmente ?
Céu de Blank
Céu é plenitude da
vida, reencontro com os parentes e amigos falecidos, marcado pela união íntima
com Deus. Blank é sóbrio e correto ao falar do céu. Apenas se lhe pode observar
que seria mais adequado falar da visão de Deus face-a-face como primeira fonte
de bem-aventurança e, só depois, mencionar o reencontro com familiares e
amigos. O livro termina recomendando a responsabilidade de cada indivíduo frente
ao curso da história universal. É preciso “que o amor seja posto em prática em
vez de ideologia de ameaça” (p. 318).
Conclusão
O livro de R. Blank é
todo inspirado pelo desejo de dissipar o medo que freqüentemente as pessoas têm
da morte e do além.A intenção é muito boa, mas para atingir tal efeito, não é necessário
construir uma nova escatologia imaginosa e infundada na Escritura e na Tradição
(por mais que Blank queira assim fundamentá-la).Os fundamentos errôneos de Blank são:
1) a não distinção
entre corpo e alma, separáveis entre si .
2) a não aceitação de
um meio-termo entre tempo e eternidade chamado “evo”.
Ora a razão filosófica
exige estas distinções e não somente ela, mas a fé as propõe. Com efeito, a fé as professa
conforme Carta da Congregação para a Doutrina da Fé publicada e comentada em PR
238/ 1979, pp. 399ss e PR 239/1979, pp. 456ss. Concluímos dizendo em forma de oração:
"Bendito seja Jesus, nosso Senhor,
que nos mereceu o céu e que nos chama à vida juntamente com Ele. É preciso
tirar bons frutos deste conhecimento, rejeitando a todo instante o pecado que
nos alicia, mata e nos afasta de Deus, buscando solidamente o bem, na esperança
de uma futura ressurreição" - Amém!
“Se enxerguei além dos
outros, não foi por mim mesmo, mas porque estava no ombro de gigantes...”
*Renold Blank é licenciado em Letras, pela Universidade de Fribourg, na França, e em Filosofia, pelas Faculdades Associadas Ipiranga. É graduado em Teologia, pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção. Obteve na Universidade de Fribourg o título de mestre em Teologia. É também doutor em Teologia Dogmática, pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção, onde hoje é professor. Atua também como professor no Instituto Teológico de São Paulo, no Instituto Teológico Pio XI, no Centro Latino-Americano de Parapsicologia de São Paulo e na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. É autor de Deus na história: centros temáticos da revelação (São Paulo: Paulinas, 2005), Consuelo para quien está de luto (Bogotá: Paulinas, 2006) e Ovelhas ou protagonistas? A igreja e a nova autonomia do laicato no século 21 (São Paulo: Paulus, 2006), entre outras obras.
Blank comenta a questão de que "se há ou não vida ou algo do gênero após a morte? Em termos simples, na morte a alma não pode se separar do corpo; isso é impossível. Isso é provado cientificamente pela neurobiologia e pela ciência antropológica. Então, se a alma não pode se separar do corpo, não há reencarnação”, afirma Blank.
BIBLIOGRAFIA:
-Santo
Tomas de Aquino, Suma de Teologia, I, Parte I, Cuestion 10, Sobre la eternidade
de Díos, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 2006
-COSTA, Ricardo da (coord.). Mirabilia 11 Tempo e Eternidade na Idade Média Tiempo y Eternidad en la Edad Media – Time and Eternity in the Middle Ages Jun-Dez 2010.
-Perrgunte e Responderemos - Dom Estevão Bittencourt - OSB.
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Incrível, preciso concluir a leitura, mas desde já muitíssimo obrigado pelo texto.
ResponderExcluirExcelênte texto. Parabéns pela brilhante contribuição.
ResponderExcluirParabéns! Muito elucidativo. Verdadeiramente Católico!
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