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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

É possível a caridade e o amor serem exercidos fora da verdade ?







Por *Francisco José Barros Araújo






Desde sua primeira encíclica, Deus caritas est, o Papa Bento XVI tem salientado como a palavra amor tem sido deturpada em nosso tempos:




“O termo «amor» tornou-se hoje uma das palavras mais usadas e mesmo abusadas, à qual associamos significados completamente diferentes” (Bento XVI, Deus caritas est, n2).















Mais ainda do que abusado, o termo amor foi sendo prostituído em nossos dias. Sobretudo nos sermões e nos comunicados episcopais do pós-Concílio, quando amor passou a ser simples "filantropia".








Como principiou essa prostituição do termo amor?













Como se processou essa deturpação semântica, pensada e planejada, a fim de levar a confundir amor com filantropia ou com mera solidariedade? Como se passou do conceito católico de amor  como virtude teologal da Caridade, até reduzi-lo ao nível puramente animal, depois de o ter feito passar pela confusão de amor com mero sentimento? Certamente, o processo de deturpação do sentido da palavra "amor" foi longo! Bento XVI, em sua aula magistral de Regensburg, apontou a origem de toda a derrocada metafísica na Cristandade com filosofia voluntarista de Duns Scoto:







“De fato, o voluntarismo da filosofia de Duns Scoto fez colocar o querer, isto é, o amor acima do conhecer, iniciando um processo que culminaria no Romantismo e no modenismo atuais.”













Não se pode negar que Pascal e o Romantismo prosseguiram esse processo de deturpação da caridade, amor sobrenatural, desvinculando o querer da conhecimento.É bem conhecida a frase do jansenista Pascal de que “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Para os românticos subjetivistas, o amor era completamente separado da razão. 












Mais ainda, os românticos consideravam que o amor necessariamente devia ser irracional. Devia ser uma paixão desprovida de racionalidade. Devia ser mero sentimento. Por isso Rousseau, para citar um sentimental romântico dos mais explícitos e dos mais conhecidos, o homem devia se deixar levar só pelo coração, pelo sentimento, não pela razão: “Existir, para nós, é sentir; incontestavelmente nossa sensibilidade é anterior à nossa inteligência, e nós antes tivemos sentimentos do que idéias”(Jean-Jacques Rousseau, La profession de foi du Vicaire Savoyard, n0 1036).














Rousseau irá mais  longe ainda em seu repúdio à racionalidade, ao escrever:







“Ouso quase assegurar que o estado de reflexão é um  estado contrário a natureza, e que o homem que medita é um animal depravado” (Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a Origem da desigualdade entre os homens, I Parte, In Os Pensadores, XXIV, Abril Cultural, p.247).






E, no Romantismo alemão, Novalis defenderá a mesma tese irracionalista: 






“O pensamento é apenas o sonho do sentir, é um sentir entorpecido” (Apud Gerd  Bornheim, A Filosofia do Romantismo, in J. Guinsburg, O Romantismo, ed. Perspectiva, Sâo Paulo, 1978, p. 96).






Portanto, o fundamental e o mais precioso seria o sentir. Explicitar seria menos importante do que o sentir. Portanto, um primeiro sentir “vivencial” seria o essencial para a compreensão.







No fim do século XIX, amar  se confundiu com o agir:















1)- Em Blondel, filósofo do Modernismo, o querer permitiria o conhecer. Daí sua defesa da “ação”. Depois dele, houve uma difusão pandêmica do voluntarismo e do puro agir confundido com o fazer.


3)- Sorrel defendeu a ação sindical.


4)- Lenin fez do marxismo uma "ação revolucionária" profissional.


5)- Mussolini exaltou a ação.


6)- Marinetti, nos Manifestos do Futurismo, pediu o incêndio das bibliotecas, cantou o valor do soco, a mística da violência, a força do motor à explosão.







Infelizmente, por culpa da infiltração modernista na Igreja, até nos movimentos católicos triunfou a mística da ação:







A Acão Católica, lançada por Pio XI, fundamentou-se mais no agir do que no conhecimento da verdade. Portanto, mais na ação do que na Fé. E a caridade se transformou em ativismo político. Com o tempo, essa capitulação fez com que os movimentos de ação “católica” acabassem por se unir ao movimento comunista internacional, passando a agir até mesmo na guerrilha marxista, a reboque do Partido Comunista. Ora, é impossível amar sem conhecer. Ninguém pode querer xoró no avesso. Porque ninguém pode conhecer xoró, pois xoró não existe. Imagine-se, então, como seria possível amar, querer xoró, ser inexistente, no avesso?!






É o conhecimento da inteligência que move a vontade a querer. Por isso não pode haver caridade sem a Fé !













Depois a Populorum Progressio e a Conferência de Medellin sancionaram a caridade como ação revolucionária.Daí é que nasceu a Teologia da Libertação que confunde redenção católica com “libertação” comunista do proletariado. Essa teologia marxista fez da agitação política “amor”. Confundiu caridade com ação revolucionária e fez de Cristo um rebelde, renegando o redentor e sua Cruz. Nas paróquias menos ideologizadas, o amor passou a ser simplesmente distribuir comida para favelados, a reboque dos revolucionarios. No Brasil, as Campanhas da Fraternidade se tornaram idênticas à filantropia maçônica.Houve até um  Cardeal que lançou uma campanha de coleta de agasalhos para os pobres, no inverno, usando como mote, como canção-símbolo, uma musiquinha completamente pagã que cantarolava satanicamente:






“Quero que você me aqueça nesse inverno,

E que tudo o mais vá para o inferno...”






Versos que se referiam ambiguamente a um amor físico, unido ao desejo de que tudo o mais - “caridosamente” - fosse para o inferno.Hoje, esse amor sem verdade, esse querer sem conhecer, levou ao triunfo do egoísmo e da violência.Que tudo vá para o inferno, desde que eu tenha prazer, como um Cardeal fez cantar nas paróquias.Hoje, tudo está indo “para o inferno”.Ainda que tentem apresentar a Caritas in veritate como continuadora da Populorum progressio,o que só se consegue por meio dos malabarismos mais torcicolosos da hermenêutica fenomenológica moderna, que aprova todas as “leituras” possíveis, ainda que contraditórias , Bento XVI condena, graças a Deus, apesar da hermenêutica, a falsa caridade, o falso amor sem a verdade. Veja-se o que diz Bento XVI em sua última encíclica:







“Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé, através das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade: identifica o seu significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente. A verdade liberta a caridade dos estrangulamentos do emotivismo, que a despoja de conteúdos relacionais e sociais, e do fideísmo, que a priva de amplitude humana e universal. Na verdade, a caridade reflete a dimensão simultaneamente pessoal e pública da fé no Deus bíblico, que é conjuntamente «Agápe» e «Lógos»: Caridade e Verdade, Amor e Palavra”(Bento XVI, Caritas in veritate, n3).

















Não se poderia dizer melhor! Todo o falso amor, que atualmente é ensinado nos sermões, fica condenado por essa palavras de Bento XVI.Nunca se falou tanto de amor, nas homilias. Nunca o amor foi tão esquecido como em nosso dias. Quando muito, amor é emotividade, sentimentalismo, filantropia. Jamais ele se identifica com a verdadeira caridade, que só pode existir com a verdade, isto é, com a Fé.Pois ensina o Apóstolo que: “Sem fé, é impossível agradar a Deus” (Heb.XI, 6).E o Apóstolo diz ainda: “Tudo o que não é segundo a fé, é pecado”(Rom XIV,23). Portanto, que se tenha a coragem de concluir que em nenhuma seita herética pode haver santidade, que é sinônimo de caridade iluminada pela Fé. E toda heresia, negando a Verdade revelada, destrói a Fé. E sem a Fé não há verdadeira caridade. Não há amor. Não pode haver amor e virtude sobrenaturais. É o que ensina São Paulo. Bento XVI corroborando com São Paulo, insiste que a caridade não é sentimentalismo:






“...o amor não é apenas um sentimento” (Bento XVI, Deus caritas est, no  17). E o Papa salienta que os sentimentos vão e vêm, mas a caridade permanece. O verdadeiro amor é constante e fiel à verdade que o gerou.”






E nem a caridade católica é mero assistencialismo:














“Por isso, é muito importante que a atividade caritativa da Igreja mantenha todo o seu esplendor e não se dissolva na organização assistencial comum, tornando-se em uma simples  ONG, a Igreja não é uma ONG”(Papa Francisco na JMJ 2013 no RJ).









Na sociedade moderna - integralmente humanista, isto, é totalmente pagã, pois retirou Deus do centro de tudo ,não há Fé e, portanto, não pode haver verdadeira caridade. Por isso, no mundo moderno não há paz.















E Bento XVI recorda o que, desde o Vaticano II, andava bem esquecido:






“Só a defesa da Verdade permite que haja verdadeira caridade.A caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a sua vida terrena e sobretudo com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira. O amor « caritas »  é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta. Cada um encontra o bem próprio, aderindo ao projeto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projeto que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (cf. Jo 8, 22). Por isso, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade. Esta, de fato, « rejubila com a verdade » (1 Cor 13, 6) (Bento XVI, Caritas in veritate, n1).







Não existe santidade sem caridade. E não pode existir a caridade sem a verdade:

















“Ora, assim como só se pode dar a saúde combatendo a doença, também só se pode defender e ensinar a verdade, condenando o erro oposto a ela. A caridade exige que se critique os erros do próximo e até mesmo que se os condene e que se os castigue. Pois o Catecismo ensina que ensinar os ignorantes e castigar os que erram são obras de misericórdia espiritual, portanto, obras de caridade, de amor verdadeiro.”






“ LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”








*Francisco José Barros Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme diploma Nº 31.636 do Processo Nº  003/17








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2 comentários:

  1. Prezado Prof. Rafael,

    Muito nos edifica saber que nossas postagens contribuem de alguma forma.

    Caso tenha alguma sugestão de matéria, pode nos solicitar que tentaremos atendê-lo

    Shalom !!!

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